Vi hoje com muito agrado uma petição do causídico e activista social Custódio Duma, dirigida à Procuradoria-Geral da República, a exigir uma investigação séria e independente da violência policial, que tem estado a acontecer um pouco por toda a cidade e Província de Maputo, por causa das manifestações convocadas por Venâncio Mondlane, candidato presidencial suportado pelo Partido PODEMOS. No artigo, Custódio Duma faz o apelo na qualidade de primeiro Presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos de Moçambique.
Escreve Duma que o atropelamento brutal, violento e covarde de uma manifestante, na quarta-feira, em plena Avenida Eduardo Mondlane, no centro da capital do país, por um blindado das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), foi o “pico” de uma “onda crescente de violência”, perpetrada por agentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
O apelo do Advogado Custódio Duma reflecte muito bem o desejo de boa parte da sociedade moçambicana, de que a Polícia actue dentro dos limites da lei e com a devida proporcionalidade. De facto, os casos de cidadãos baleados com arma de fogo, como resultado destas manifestações, começam a assumir contornos alarmantes. Nisto, estamos juntos.
Entretanto, não é sobre isto que quero falar.
Na mesma quarta-feira, primeiro dia da terceira etapa, da quarta fase das manifestações convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane, circulou um vídeo em que uma cidadã é obrigada, sob ameaça dos manifestantes, a parar a sua viatura, estacionar e ir tomar café, porque eles tinham ordens do “PRESIDENTE”, segundo as quais, ninguém deveria circular. Outro vídeo que me deixou chocado é de duas jovens mulheres, membros da Polícia da República de Moçambique, cercadas por uma dezena de jovens, obrigadas, intimidadas e coagidas a segurar cartazes com dizeres a favor do candidato Venâncio Mondlane, enquanto caminhavam. Uma situação humilhante e degradante.
Pelas redes sociais, circulam inúmeros vídeos de crianças e adolescentes que colocam barricadas nas estradas, para impedir a livre circulação dos cidadãos. No meio de tudo isto, estas acções são acompanhadas de uma dose muito grande de violência psicológica sobre aqueles que ousam desafiar as decisões do “Presidente”. Sem falar, claro, nas acções de vandalismo contra lojas, estabelecimentos públicos e, mais recentemente, ataques a postos policiais, que resultam na posse de armas nas mãos de civis.
No meio deste processo, os cidadãos de Maputo e Matola estão entregues à sua sorte, até que alguém ponha fim a este espectáculo degradante da nossa sociedade.
Se para os casos de violência policial, os nossos activistas de plantão, incluindo a Ordem dos Advogados de Moçambique, são céleres a emitir comunicados de condenação e a pedir investigações sérias, no caso da violação dos direitos civis dos cidadãos, por parte dos apoiantes de Venâncio Mondlane, o silêncio é confrangedor, assustador e até cúmplice. Não sei se por medo de perderem popularidade, já que é mais fácil “bater” no Estado, ou, se é porque realmente a defesa dos direitos dos cidadãos de Maputo e Matola não lhes interessa. Em todo este processo de manifestações, assistimos de forma clara à presença de crianças e adolescentes, que são usadas para atirar pedras, proferir insultos, queimar pneus, vandalizar lojas, sem que ninguém diga uma única palavra. Onde estão as organizações da sociedade civil.
Não conheço muito bem o Dr. Custódio Duma. Tive oportunidade de conversar com ele apenas uma vez, na casa de um amigo em comum e fiquei com a sensação de estar diante de um homem decente, cumpridor da lei, amante de Moçambique e, acima de tudo, de um acérrimo defensor dos Direitos Humanos, aliás, a sua carta à PGR demonstra muito bem isso.
É por isso que lhe escrevo, para pedir-lhe que seja igualmente defensor dos milhares de moçambicanos que, nas Cidades de Maputo e Matola, estão privados de exercer os seus mais básicos e elementares direitos, incluindo o direito de ir e vir. Muitos concidadãos são forçados a parar e aderir às manifestações de forma involuntária, muitos são obrigados, sob coacção, a cantar ou a executar um determinado acto a favor do candidato Venâncio Mondlane, para poderem seguir viagem ou evitar ter as suas viaturas vandalizadas, ou ainda, simplesmente ao direito de terem uma opinião contrária à dos manifestantes.
Como pode ver meu caro Duma, estamos neste momento sujeitos à vontade dos manifestantes e da sua liderança, sem observância de nenhuma salvaguarda legal, que nos garanta o direito de seguir as nossas vidas de forma normal. O medo e o pânico a que os cidadãos da Cidade de Maputo e Matola estão sujeitos colocam em causa os seus direitos, deveres e liberdades fundamentais. Este não é o tipo de Estado de Direito Democrático que queremos construir.
Nas suas próprias palavras, quero dizer ao Caro Duma: “Não agir diante destas situações seria negligenciar o nosso compromisso com os princípios fundamentais consagrados na Constituição da República e nos tratados internacionais dos quais Moçambique é signatário. Este é um momento decisivo para reafirmar o nosso compromisso como nação de proteger os direitos fundamentais de todos os moçambicanos”.
“Vamos fazer diferente, para obter resultados diferentes”.
Victor Nhatitima
Ontem (20/08/2024), quando cheguei a casa por volta das 15:30, fui informado, que uma equipe de inspeção da EDM tinha estado lá pela manhã. Perguntei qual teria sido o resultado da inspeção, ao que não obtive respostas pois, segundo me informaram, a equipe iria voltar, porque precisavam aprofundar a inspeção, porque segundo eles, havia alguma anomalia com a nossa instalação.
Os últimos anos de Governação, tem sido marcado por um conjunto de desafios de natureza Económica, Política e Social, que geraram um conjunto de impactos negativos na reputação do Governo de Moçambique a nível interno e externo e na relação com seus principais stackholders institucionais.
Os sucessos alcançados por Moçambique no período entre 2004 e 2014, no que diz respeito a consolidação Paz e do crescimento económico, derivados essencialmente pela descoberta e exploração de recursos minerais, colocaram o País no mapa internacional, como um caso de sucesso.
Nos últimos anos, um conjunto de temas, relacionados com os danos causados pelas inundações, secas, as Dividas Ocultas, a tensão político militar no teatro operacional norte, o TSU, a greve dos médicos, dos profissionais de saúde, os raptos e outros assuntos, tem gerado sucessivas crises na Governação, criando danos a imagem e reputação do Governo de Moçambique, tanto ao nível interno, como a nível externo.
Apesar dos esforços do Governo, para manter processos de comunicação com os seus stackholders, identificamos áreas específicas com oportunidades significativas para avanço, onde, o Governo de Moçambique pode melhorar as suas capacidades de comunicação.
É meu entender que as sucessivas crises governamentais e as dificuldades que o Governo tem encontrado para contar a sua narrativa e mitigar o impacto das crises sobre a sua reputação, destacam a necessidade de uma reflexão profunda sobre o papel e a contribuição da comunicação no sucesso da governação.
O actual modelo de comunicação do Governo, com foco na informação, nos órgãos de informação, e em modelos unidirecionais de comunicação, não mais atende as actuais necessidades de comunicação do Governo e de seus principais stackholders.
O cenário actual é caracterizado por uma multiplicidade de públicos, que apresentam características novas e distintas, que demandam informação sobre as actividades do governo e sobre os quais a sua acção governativa pode gerar impactos sociais, económicos e tecnológicos, geradores de tensões.
Este novo cenário, demanda ou requer do Governo, a adopção de uma nova abordagem de comunicação fundada na construção de relacionamentos sólidos entre o Estado, a População e a esfera mediática.
Para que este novo paradigma de comunicação seja efectivo, é importante que a comunicação governamental, seja entendida como uma ferramenta estratégica para consolidação do estado de direito e democrático, através da promoção de um diálogo construtivo entre os cidadãos e os órgãos do poder do Estado, e entre os cidadãos entre si, sustentada pelos princípios do direito à informação e pelo dever dos governantes de informar, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para concretização destes objectivos e desenvolver um novo paradigma de comunicação governamental, penso ser fundamental adoptar as seguintes acções estratégicas:
É importante que os profissionais das relações públicas sejam capazes de inserir a comunicação governamental num processo produtivo, com a implementação de programas inovadores e eficazes de comunicação, tendo em vista um entendimento cordial entre a classe política e os públicos-alvo, colocando desta forma, as relações públicas como o motor de toda a máquina de comunicação ao nível da GOVERNAMENTAL, pois as suas práticas imprimem dinamismo institucional, funcionando como principal indicador do posicionamento de imagem e de ideologia, numa altura em que as disputas políticas pelo poder são cada vez mais acirradas.
Por: Victor Nhatitima
Consultor I Gestor de Comunicação e Relações Públicas
Especialista em Gestão de Projectos Socias
Membro Fundador da APRPM – Associação de Profissionais de Relações Publicas de Moçambique
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Sempre que uma crise governamental se instala, analistas e comentadores de política apontam falhas na comunicação governamental. Foi assim com as crises de aumento do pão, do aumento do preço dos combustíveis, dos transportes e até da insurgência em Cabo Delgado. Mais recentemente, foi o caso das cheias na Província da Maputo e agora a greve dos médicos e dos funcionários de saúde, que mais uma vez colocam a Comunicação Governamental sobre escrutínio publico, afirmando que a comunicação governamental é deficitária.
No Programa Noite Informativa da STV (20.08.2023) Moisés Mabumba e Samuel Simango, falando sobre a Greve dos Médicos e dos Funcionários da Saúde, destacam a fraca capacidade comunicativa do Governo, como um dos principais factores que tem contribuído para o extremar de posições entre as partes e para o agravamento da CRISE.
As sucessivas crises pelo que o Governo vem passando nos últimos tempos, levantam a necessidade de uma reflexão sobre o papel e a contribuição da comunicação na governação, se tomarmos em linha de conta, que não é possível dissociar a comunicação da acção governativa, uma vez que uma governação de sucesso é aquela que coloca o cidadão no centro da sua acção.
As deficiências de Comunicação do Governo, não podem ser sustentadas por um princípio de incompetência ou de incapacidade dos gestores de governamentais de gerir seus processos de comunicação. há vários factores de carácter estratégico e operacional, que tem contribuído para uma comunicação deficiente do GOVERNO, com impacto negativo sobre sua capacidade de estabelecer relacionamentos, resolver conflitos e proteger sua reputação.
Não pretendo fazer uma discussão teórica sobre o conceito de Comunicação Pública ou Governamental, mas perceber, quais os factores que fazem com que a Comunicação Governamental seja deficiente e apontada como um dos elos mais fracos da Governação, sempre que crises acontecem.
O PAPEL E O VALOR DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
Um ponto importante e fundamental para a compreensão do papel da comunicação e sobre sua importância para as organizações, é que elas, devem em primeiro lugar, ser entendidas como parte inerente à natureza das organizações, pois, estas, são formadas por pessoas que se comunicam e se relacionam entre si e que, por meio de processos interativos, viabilizam o sistema funcional para sua sobrevivência e cumprimento dos objetivos organizacionais num contexto de diversidades e de transações complexas.
Apesar de percebermos que a comunicação é imprescindível para as organizações, muitas, particularmente em Moçambique, continuam a enfrentar desafios importantes no que tange a sua aplicação. O maior constrangimento para o sucesso da comunicação nas instituições publicas e governamentais em moçambique, tem haver com o papel e posição que lhe é destinada.
No início da década 1990, a caminho do Seculo XXI, A comunicação deixou de ser vista apenas como ferramenta de gestão táctica e passou a ser considerada área estratégica nas organizações. Assim, no contexto atual não há como pensarmos comunicação senão de forma estrategicamente planejada, fundamentada nos valores corporativos e focada no cumprimento dos objetivos de negócios das organizações. No caso do sector público a ideia central é a mesma.
Infelizmente muitas organizações e gestores de organizações ainda não perceberam a importância e papel que a comunicação deve desempenhar em suas organizações. Em muitas organizações, principalmente nas organizações governamentais, a comunicação ainda desempenha um papel marginal, sem nenhum valor estratégico. Ou seja, a comunicação é vista por boa parte das nossas organizações e seus gestores, como uma área meramente de apoio, de gastos, de produção de materiais (camisetes, bonés) atendimento a imprensa, organização de festas corporativas, Dia da Mulher, Dia do Trabalhador entre outras. Esta visão reducionista do papel e da função da comunicação e das relações publicas nas instituições, constitui em si, um grande entrave ao crescimento das organizações.
Organizações de sucesso, pensam a comunicação de forma estratégica e organizada. Se no passado pensávamos que o sucesso das organizações resultava apenas da gestão adequada dos recursos financeiras e materiais, hoje, o sucesso das organizações depende muito mais da qualidade das relações que elas estabelecem, seja a nível interno ou externo.
Pensar estrategicamente a comunicação, significa planear e organizar o processo de comunicação ao nível da organização. Significa, buscar resultados a longo prazo e as melhores acções para garantir o cumprimento dos objectivos estratégicos da organização. pensar estrategicamente a comunicação ao nível da organização, significa, posicionar a função no contexto da organização, dando-lhe acesso directo ao sistema administrativo, permitindo que ela (comunicação) possa assessorar a Direcção da empresa, avaliando seus objectivos e fazendo recomendações sobre como a área pode contribuir para esses objectivos; contribuir para analise de planos dos planos de negócios das empresas, identificando problemas e oportunidades para área de comunicação e estabelecendo programas para minimizar situações indesejadas e maximizando situações positivas; antecipar do ponto de vista de comunicação situações que possam vir a causar impactos negativos sobre a organização e acima de tudo, desenvolver a função de forma planeada e integrada as demais áreas da organização.
Do ponto de vista da governação, pensar estrategicamente a comunicação, que ela deve acompanhar todos os processos de governação, através de um processo de planificação e organização das suas actividades de modo que os governantes consigam dialogar com os seus públicos distintos.
Significa ainda que, os planos de governação como por exemplo o PES – Plano Economico Social ou Programa Quinquenal do Governo, devem definir a comunicação como uma ferramenta estratégica para a sua implementação e sucesso.
Numa analise rápida do Programa Quinquenal do Governo 2020-2024, no Pilar II: Promover a Boa Governação e Descentralização, define a boa governação como “A boa governação refere-se a mecanismos, processos e instituições, sobre os quais os cidadãos e grupos sociais articulam interesses, exercem os seus direitos, cumprem as suas obrigações e medeiam as suas diferenças. A boa governação visa garantir a transparência e participação de todos, providenciar a eficácia e eficiência na prestação de serviços ao público” para tal, recomenda no ponto (V) dos objectivos estratégicos, para garantir a consolidação da boa governação e da descentralização, que o Governo, “assegure serviços de comunicação social e informação de qualidade”.
Se a prioridade do governo é promover a boa governação e a descentralização, então, do ponto de vista de comunicação, o seu objectivo estratégico, deveria estar orientado para o desenho e elaboração de uma política e estratégia de comunicação, que contribua para garantir a consolidação da boa governação e da descentralização. Mais ainda, a política e estratégia de comunicação do Governo deve estar igualmente orientada para garantir o cumprimento do Plano Quinquenal do Governo.
GESTAO DA COMUNICACAO GOVERNAMENTAL
Em moçambique, a gestão comunicação governamental é da responsabilidade do Gabinete de Informação de Moçambique (GABINFO). Subordinado ao Gabinete do Primeiro-Ministro, esta entidade, tem tutela sobre todos os organismos estatais e órgãos de comunicação públicos, presta assessoria ao executivo em questões específicas da área da comunicação, promovendo, entre outros, a divulgação e acesso à informação sobre as actividades governamentais. Compete igualmente ao GABINFO o registo e licenciamento dos meios de comunicação social.
Se olharmos atentamente para as atribuições do GABINFO, facilmente percebemos que estamos perante a uma organização que tem na sua génese, a gestão do relacionamento entre o Governo e os Órgãos de Comunicação Social com foco num modelo de “informação pública”, caraterizado como jornalístico, que dissemina informações relativamente objectivas por meio dos media em geral e dos meios específicos de comunicação.
Não existe um investimento no relacionamento proativo e permanente com públicos estratégicos. mais importante, falta-nos uma visão estratégica e directrizes da comunicação governamental, para garantir o cumprimento dos objectivos e do programa de governação.
O GABINFO precisa de uma vez por todas, assumir um papel estratégico, na Gestão da Comunicação Governamental e servir para prever e mitigar situações de crise, gerir relacionamentos e não apenas fazer comunicação ou campanhas sobre as realizações do Governo. Enquanto o foco do processo de comunicação governamental estiver fundado no modelo de comunicação unidirecional, as crises irão continuar a acontecer e a qualidade de resposta do Governo, continuará baixa, pois será sempre reactiva.
A semelhança do GABINFO, a maior parte das instituições publicas e ou governamentais, tem o foco dos seus processos comunicacionais orientados para gestão do relacionamento com a imprensa. Nossos governantes estão preocupados com aquilo que se diz sobre eles e sobre suas instituições nos órgãos de comunicação social e não com a construção de relacionamentos com seus principais stackholders.
Este modelo, prioriza acções de comunicação mais “táticas”, as acções tem um carater reativo e visam essencialmente proteger os executivos contra os ataques da imprensa, produzir Relatórios Boletins Informativos, Spots Publicitários Comunicados de Imprensa, entre outros instrumentos de comunicação unidirecionais, em detrimento de um pensamento estratégico e bidirecional, como recomendado.
Entretanto, o cenário actual caracterizado por impactos sociais, económicos e tecnológicos geradores de tensões, exige a adopção de novas posturas a comunicação ao nível das organizações. Seu papel deixa de ser meramente reativo e unidirecional e passa a ser estratégicos e orientado para uma diversidade enorme de públicos, mostrando aa relevância da comunicação e a necessidade de sua administração.
Porque o modelo actual não satisfaz de forma efectiva as necessidades da governação, para que a comunicação Governamental seja eficaz e excelente, deve o GABINFO ampliar o seu campo de acção, deixando de lado a logica de assessoria de imprensa, passando a incorporar na sua actuação uma logica de “comunicação” que tem como foco:
É importante que se repense o papel do GABINFO, dotando-lhe de maior capacidade operacional, técnica e humana para que efectivamente se torne a agência de comunicação do Governo. Precisamos de uma discussão abrangente sobre o tipo de comunicação que pretendemos a nível governamental. de olhar para a qualidade e a formação dos actores ou fazedores de comunicação, de olhar para os desafios que o país enfrente hoje e perceber qual é e deve ser o papel da comunicação. Acima de tudo, precisamos de buscar um modelo de comunicação que se adequado ao novo paradigma de Governação: A descentralização.
O PERFIL DOS PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
Não menos importante do que dar o devido valor a comunicação e as relações publicas, nas organizações, o perfil dos profissionais e suas competências, desempenham um papel de igual importância, para o sucesso da comunicação ao nível das organizações. A competência e iniciativa profissional são também de extrema importância para a excelência de comunicação, uma vez que o profissional de comunicação deve ser aquele que viabiliza a convivência permanente entre a inovação e a rotina, a evolução e o retrocesso, a estabilidade e a instabilidade, a regeneração e a inércia (Gonçalves, 2013: pp. 65-66).
Segundo Margarida Kunsch, as Relações Publicas lidam directamente com a organização e seus públicos “promovendo e administrando relacionamentos e muitas vezes, mediados conflitos, valendo-se para tal, de estratégias e programas de comunicação, de acordo com diferentes situações no ambiente social e corporativo”.
Nessa perspetiva, Kunsch (1997) identifica o profissional de relações públicas como sendo o elemento mais indicado para exercer essa tarefa, uma vez que o seu campo de acção está direcionado para a análise dos planos da organização, identificando problemas e oportunidades.
É importante que os profissionais das relações públicas sejam capazes de inserir a comunicação governamental num processo produtivo, com a implementação de programas inovadores e eficazes de comunicação, tendo em vista um entendimento cordial entre a classe política e os públicos-alvo, colocando desta forma, as relações públicas como o motor de toda a máquina de comunicação ao nível da organização, pois as suas práticas imprimem dinamismo institucional, funcionando como principal indicador do posicionamento que qualquer organização deve ter em termos de imagem e de ideologia, numa altura em que as disputas políticas pelo poder são cada vez mais acirradas.
Entretanto, em Moçambique, talvez porque derivado do modelo de comunicação unidirecional e orientado também pelo perfil funcional do GABINFO, uma boa parte dos gestores de comunicação das instituições governamentais, são efetivamente jornalistas, e não gestores de relações publicas com uma visão ampla dos processos de comunicação organizacional e corporativo orientados para construção de relacionamentos entre a organização e seus públicos. Não quer isto dizer, que Jornalistas não podem trabalhar comunicação organizacional. É preciso enquadrar devidamente o papel dos jornalistas e do jornalismo, dentro da estrutura de comunicação de uma organização, para não criar desvios, no foco de actuação de tais estruturas.
Por :
Consultor | Gestor de Comunicação, Relações Publicas, Relações Externas e Governamentais
Especialista em Gestao e Elaboração de Projectos
Membro Fundador da APRPM – Associação dos Profissionais de Relações Publicas de Moçambique
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Enganem-se aqueles que pensaram que esta é uma crítica a quem está a gerir o processo de apoio às vítimas das cheias nos últimos dias. Não, esta não é uma crítica, é sim uma reflexão sobre a forma como as nossas instituições públicas lidam com situações adversas. Está de parabéns o INGD pela rápida resposta e assistência às populações carenciadas, mesmo com insuficiência de meios e de fundos. Estão de parabéns as centenas de indivíduos que, de forma anónima, despretensiosa e altruísta dão tudo de si para apoiar os seus compatriotas. Mas não deixo de pensar que falhamos. Sim, falhamos mais vez. Falhamos quando, de forma recorrente, não conseguimos minimizar o impacto destes eventos sobre as nossas populações.
Falhamos quando do ponto de vista de comunicação quase ou nada foi feito, para alertar as populações sobre a severidade das chuvas que se abalaram sobre nós. Falhamos quando, de forma preventiva, poderíamos ter reduzido o número de pessoas afectadas por estas chuvas. Alguns podem dizer e perguntar? Era possível parar a chuva, a água ou que os rios transbordassem. Não, claramente que não, mas claramente era possível reduzir o impacto estes eventos sobre as populações.
No caso particular do INGD, a sua visão determina ou orienta a actuação dos seus colaboradores, para a “A institucionalização e consolidação, a todos os níveis, de uma postura preventiva e proactiva de gestão do risco de desastres, perante um cenário irreversível de mudanças climáticas”. Esta visão do INGD coloca na génese da sua actuação a necessidade de uma resposta proactiva aos vários eventos que ocorrem ou possam ocorrer. No meu entender, proactividade significa agir por antecipação. Portanto, significa que, porque já tínhamos conhecimento antecipado da possibilidade de ocorrência destes eventos, havia necessidade de desenvolver um trabalho aturado de sensibilização, envolvendo vários meios de comunicação, para convencer as populações a retirarem-se das zonas de risco, minimizando assim o impacto e a severidade dos fenómenos.
Ao postular uma visão orientada para uma postura preventiva e proactiva de gestão do risco de desastres, alicerçado nos princípios definidos pelo Marco de Acção de SENDAI, que coloca o foco da acção dos países na redução do risco de desastres e não apenas a resposta aos fenómenos, podemos considerar a comunicação como uma ferramenta estratégica para o alcance dos objectivos definidos pelo Marco, na medida em que ela antecede a ocorrência de um desastre, uma vez que permite o repasse de informações com foco na minimização dos riscos.
Nesta perspectiva, a comunicação torna-se crucial para reduzir a vulnerabilidade e motivar as pessoas a actuar na redução dos riscos de desastres, enquanto desempenha um papel fundamental no processo de formação de uma cultura de redução de desastres, através de um conjunto de actividades que podem ser realizadas no período pré-desastre, com impacto directo nos resultados a alcançar. A minha análise não é sobre a actuação específica do INGD do ponto de vista de comunicação, mas é de forma geral sobre o posicionamento das instituições públicas moçambicanas, do ponto de vista de comunicação. Não podemos continuar a ter Gabinetes de Comunicação, que tem como finalidade primária produzir camisetes, bonés, capulanas para datas festivas, produzir e distribuir comunicados de imprensa para órgãos de comunicação. Grande parte das crises reputacionais pelas quais passam as nossas instituições nos últimos anos são derivadas de um problema de comunicação ou da gestão da comunicação. Basta lembrar o recente caso do porta-voz do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, que é o reflexo daquilo que não se pode fazer do ponto de vista de relacionamento com os meios de comunicação, acredito que muitos colegas meus irão usar ou já usam aquela situação como um estudo de caso, nas suas formações ou aulas sobre os “dos e dont’s” na relação com os meios de comunicação social.
Reconhecemos o excelente progresso que o Governo tem demonstrado, na forma como interage com os seus stackholders, mas também é preciso ser-se honesto e assumir que há áreas específicas com oportunidades significativas para avanço, onde o Governo pode melhorar as suas capacidades de comunicação. Precisamos pensar e refundar a actuação dos nossos Gabinetes de Comunicação ou o papel e o lugar da comunicação nas instituições públicas. É preciso que as instituições públicas e não só olhem para comunicação como uma ferramenta estratégica, como um elemento importante para o alcance dos seus objectivos estratégicos.
Num contexto em que as organizações têm de lidar com os avanços tecnológicos, multiplicidade de actores (públicos), com necessidades e condições sócio-psicológicas diferenciadas, que demandam por maior informação, transparência, as organizações, através dos seus gabinetes ou departamentos de comunicação, devem revolucionar a forma como lidam com seus processos de comunicação, porque um dos atributos fundamentais de instituições de sucesso reside na sua capacidade de comunicar de forma eficaz e da ligação que estabelecem com as suas partes interessadas, tanto internas como no exterior. Mais uma vez, não se trata de uma crítica leviana, mas sim uma pequena reflexão que tem como propósito fundamental contribuir para a comunicação e os profissionais de comunicação tenham a devida valorização ao nível das organizações e desta forma contribuam para o fortalecimento das nossas instituições.
1 Especialista e Consultor de Comunicação