Fui arrebatado por uma leveza, depois de consumado o coito, olhei, candidamente, para a minha parceira, e ela ofereceu-me um sorriso matreiro. Acariciámo-nos, permanecíamos ali estendidos dentro da nossa nudez, deitados de costas para a vida, no colchão macio, que suportava o peso do nosso prazer .
Depois de um prolongado silêncio, quebrado de vez em quando, pelo meu arfar, ela balbuciou, de mansinho:
- Quero mais!
- Mais o quê? – questionei, incrédulo.
- Quero que me comas outra vez - ripostou ela impassível
- Oh, querida, terminamos agora - defendi-me.
Beijei-a, longamente, para compensar a sua insatisfação. Deixei-lhe de costas e procurei adormecer. Ela ainda sussurrou mil palavras de amor, antes de eu embarcar no meu sono.
Despertei, quando o meu braço descobriu a ausência dela na cama. Não me lembro se sonhei. Espreguicei-me, antes de abrir completamente os olhos. Busquei-a por cada canto do quarto, e nada. Levantei-me preguiçosamente, vesti as cuecas e saí do quarto.
Encontrei-a a preparar o pequeno-almoço, abracei-a, as suas costas contra o meu peito depois beijei-a, ela continuava completamente nua. Meimuna soltou-se levemente e caminhou em direcção ao quarto de banho, deixou o seu odor impregnado na cozinha . Nem o cheiro dos manjares em preparo ofuscavam a sua fragrância excitante.
Segui-a. Redescobri-a, através do envidraçado translúcido da banheira. Engoli a sua nudez e entesei-me. Penetrei na banheira, afaguei-lhe as costas contra o meu peito, senti o seu arfar, minhas mãos seguraram-lhe os seios.
Trocámos carícias. As minhas mãos viajaram pelos contornos do seu corpo, até acender o fogo das nossas entranhas. Depois, ela inclinou-se ligeiramente para a frente, levantei-lhe a perna esquerda e apoiei-a na borda da banheira, seu rabo abundou minha região pélvica, penetrei-a suavemente, ela libertou um gemido que me encheu de prazer. Vigiei, durante certo tempo o seu êxtase pelo número de gemidos que ela emanava. Depois perdi a conta, quando a volúpia tomou conta de mim, já gemíamos em uníssono.
Depois de extasiados, sentámo-nos à mesa, para desfrutar dos manjares, saboreei um pedaço de mandioca cozida com manteiga, e beberiquei o meu chá Gurué ainda quente.
O toque do meu telemóvel soou no quarto e quando me predispunha a alcançá-lo deixou de soar. Então, o som de entrada de uma mensagem de texto fez-se ouvir. Apressei-me a terminar o pequeno-almoço, e fui buscar o celular. “Tou chegar” lia-se na mensagem enviada pelo taxista que eu amiúde recorria para visitar Meimuna. Já passava das 10h da manhã e meu voo estava marcado para às 11h30.
Vesti-me precipitado, ela ajudou-me a arrumar a bagagem, ficámos ambos aguardando a chegada do taxista. Despedia-me dela, com um beijo prolongado e entrei para o táxi.
O taxista imprimiu velocidade ao seu veículo, contornou todas as curvas do bairro, com perícia, na corrida que fazia para chegar a tempo ao aeroporto.
Precipitei-me numa correria, para alcançar o balcão do check-in, que estava prestes a encerrar. Logo depois embarquei.
A aeronave despegou-se do solo e entranhou-se nos céus. Senti momentaneamente saudades de Meimuna.
A minha longa estadia na cidade de Nampula, com o propósito primário de fazer prospecção de mercado para posterior investimento teve resultados positivos. E para incentivar minha permanência na cidade, conheci Meimuna.
A viagem de pouco mais de duas horas estava quase no fim. A aeronave iniciou a descida em direcção ao aeroporto internacional de Maputo.
Desembarquei, recolhi a minha bagagem e caminhei em direcção ao átrio do aeroporto.
- Seja bem-vindo, meu amor! Clamou Júlia, minha esposa.
- Olá, pai! Cumprimentou a minha filhota de cinco anos.
Precipitámo-nos em direcção à casa, numa marcha lenta, condicionada pelo tráfico típico de Maputo. Minha filha disparava mil perguntas sobre a minha estadia em Nampula. No semblante de Júlia podia-se notar a felicidade que sentia por eu estar de volta. Foi um mês de ausência ditada pela imposição laboral.
Entrosei-me com a família numa animada brincadeira, por vezes com gracinhas oferecidas por Cármen, minha filha, outras vezes com carícias a minha esposa.
O meu calor emprestou à casa o ambiente masculino, deixando o lar coberto de uma redoma de paz.
Jantámos cedo, levei Cármen para o seu quarto, abri o seu livrinho de estórias, li com entusiamo, não demorou a adormecer.
Recolhi para o aposento conjugal e encontrei minha esposa trajando lingerie vermelho novo que lhe assentava no corpo, de forma majestosa, arrebatando completamente o meu ser. A luz das velas projectava o seu corpo numa das paredes do quarto animando mais o ambiente íntimo.
Segurou-me e conduziu-me à cama, acariciou-me, retribuí beijando-a. Olhou-me, com meiguice, despiu-se e deitou-se de costas na cama. Meus olhos vagaram pelo seu corpo. Também despi a peça de roupa interior que trajava e nu abracei-a. Continuámos a acariciar-nos. Percebi que minha parceira usufruía de volúpia quando segurou meu membro viril.
Quando entendi que meu falo não reagia aos estímulos proporcionados pela minha esposa, levantei-me e servi uma taça de champanhe. Depois de consumir três taças num trago, voltámos a trocar carícias. O falo recusava-se categoricamente a falar o que quer que fosse. Ela tentou todas as formas que conhecia para me proporcionar uma erecção, mas nada, nada mesmo!
Quando percebi que não tinha como ganhar uma erecção, aleguei que a viagem e o excesso de trabalho me conferiam aquele estado. Da nossa relação marital de pouco mais de dez anos era a primeira vez que algo do género acontecia.
Embebedei-me, para resgatar a auto-confiança que pudesse conferir-me o domínio e logo encontrar o estímulo para concretizar o coito. Nada acontecia. Senti-me desfalecer e horas depois, quando despertei, o sol já brilhava. Senti uma ligeira dor de cabeça. Olhei para o relógio, já se passavam das 10h. Minha esposa já tinha saído para o emprego e levado a minha filha à creche.
Precipitei-me nos preparativos, para ir ao meu posto de trabalho. Tinha uma reunião com os meus superiores. Momentaneamente a minha mente projectou a imagem de Meimuna, com todos os atributos femininos típicos daquela criatura extasiante.
Voltei à realidade, e lembrei-me do meu acto desastroso na noite passada, clareei a mente, e parti para o trabalho.
Levei a reunião a bom porto com a apresentação do relatório.
Já meio aliviado de trabalho, avancei em cogitações, para descortinar a disfunção eréctil da noite anterior. Hospedei-me num café da cidade. A manhã ia sendo consumida pela azáfama da urbe, com múltiplos sons de carros em suas correrias desenfreadas, à mistura com as sirenes de escoltas tentando romper o congestionamento de trânsito.
Mais uma vez, o rosto de Meimuna assaltou a minha mente. Desta vez ela apresentava-se trajando uma capulana multicolor e tinha o semblante mascarado com msiro¹. Desnudei-a quase telepaticamente, entesei-me, esbocei um sorriso de satisfação, afinal não era nada de grave.
Podia procurar compensar a Júlia mais logo.
O som polimórfico do meu telemóvel fez-se ouvir e na pequena tela surgiu o nome Dr. Amaral Muende, o cognome que havia atribuído a Meimuna.
- Anselmo você tesde que jegou não tiz nata, esdou com muiida sautate – rematou ela, eufórica, catapultando o seu sotaque emakwa².
- Olá, querida, muito trabalho aqui – repliquei, animado, por ouvi-la
- Quanto vens endão faser apresentação e petito? – lembrou-me da promessa que a fizera.
- Deixa-me terminar o trabalho por cá e logo venho – ripostei, para acalmá-la.
-Está pem, amor, peijo.
Senti no tom da sua voz a felicidade que a minha promessa fizera, mas que eu não tinha nenhuma intenção de cumprir.
Agora, cogitava na minha intenção de proporcionar a Júlia uma noite recompensadora, depois do desastre da anterior. Minha esposa foi tomada de dupla surpresa. Fui encontra-la, no seu trabalho, ofereci-lhe um buquê de rosas e tulipas. Comentários abonatórios foram disparados pelos colegas. Vi um largo sorriso moldar o seu rosto. Isto era só o introito da missão compensadora que eu tinha para ela.
Rumámos por uma via desabitual, enquanto o aparelho sonoro do carro reproduzia uma música romântica.
- Para onde vamos, amor? - questionou Júlia animada.
- Espera, para ver.
Vislumbrámos a fachada principal do hotel “paraíso” de quatro estrelas, quase em simultâneo.
Entreolhávamo-nos e ambos sorrimos. Era o hotel em que tínhamos passado a nossa noite de núpcias.
Alcançámos a recepção. Solicitei a chave do quarto cinco, o mesmo da nossa noite de lua-de-mel. Caminhámos de mãos dadas. O mobiliário rústico do quarto emprestava um ambiente íntimo. Tomei a iniciativa, despindo-me, minha parceira imitou-me, avancei com os preliminares, procurando criar o clímax necessário.
A minha manifesta vontade de materializar o coito redundou em mais um fracasso, o meu membro viril recusou-se mais uma vez a desafiar a força da gravidade e posicionar-se na horizontal.
- Isso acontece, meu amor! - afirmou Júlia procurando acalentar o meu espírito atormentado.
Desisti da minha empreitada sexual, refugiei-me no bar do hotel, e só depois de suficientemente embriagado é que me juntei à minha esposa.
Os dias que se sucederam foram de tentativas de tratamentos convencionais e tradicionais, que redundaram em fracasso absoluto, remetendo-me a uma total depressão.
A minha psico-libertação sucedeu, depois de muita insistência de Estêvão, um amigo próximo, para que conversássemos, pois há muito que não púnhamos o papo em dia.
Expus-lhe a minha incapacidade de levar a bom porto a cópula com a minha parceira.
- Desde que voltei da minha última viagem de Nampula, que não consigo nada. Relatei,
desabafando.
- Diz-me o que aconteceu lá. – Questionou curioso, Estêvão.
-Nada de especial, conheci uma macua, e tive uma relação amorosa.
- Oh, ohh! – meu amigo, aí poderá estar a causa do mal – Ela poderá ter-te engarrafado.
- Não acredito nisso – rematei, pouco convicto – Claro que lhe prometi que me casaria com ela, mas não passava duma falsa promessa.
- Meu amigo, um conselho, volta para lá, e resolve o assunto com essa mulher.
Aventei a possibilidade de rumar de volta a Nampula, não custava tentar, custaria sim a passagem aérea e a estadia, para tirar a limpo o pressuposto avançado pelo meu amigo.
Quando a aeronave entrou no espaço aéreo da província de Nampula, senti um movimento estranho na zona pélvica.
“Iniciamos a descida em direcção ao aeroporto de Nampula, a temperatura exterior é de 27 graus Celcius”. O comandante desacelerou a aeronave, baixou a altitude, o sinal de apertar os cintos acendeu, a assistente de bordo emitiu o pedido de apertar os cintos. Continuava tenso e o meu membro viril permanecia erecto. O avião aterrara por volta das17h. A temperatura exterior revigorou-me. Sentia-me um homem completamente novo.
- Foltaste padrão! - conferiu o taxista quando me reviu.
Entrei para o táxi, que se dirigia em direcção ao hotel onde eu ficara da última vez. Corrigiu-o dizendo-lhe o nome de um hotel de três estrelas onde ficaria desta vez.
- Vem buscar-me às 18h- anunciei.
Não avisara a Meimuna da minha vinda, queria surpreendê-la. Descansei no hotel, aguardando a hora de visitá-la. Busquei meditabundo uma explicação, para a anomalia que se operava com o meu falo.
Encontrei Meimuna submersa nos seus afazeres domésticos.
- Ishhh, amor xecaste nem afisaste! - exclamou ela surpresa.
Catapultei-me para ela, como que arrebatado por uma força suprema, carreguei-a e a pousei no banco do lava-loiças. Meu órgão genital serpenteou entre as suas coxas até alcançar a vulva, senti suas matunas³ enroscarem meu pénis, um baque forte sacudiu meu peito, ela soltou um gemido.
- Ahhh!- libertou-se ela.
- Ohhh – repliquei, eufórico.
Depois de extasiados, ela perguntou-me:
- Vais me cazar?
-Sim caso-me, sim – redargui completamente relaxado.
¹ m’siro- No Norte de Moçambique e principalmente na Ilha de Moçambique, as mulheres usam diariamente uma pasta branca no rosto, uma máscara de beleza natural.
² emackwá– língua falada na província de Nampula
³ matunas – alongamento do clítoris efectuado pelas mulheres do centro e norte de Moçambique.
“Decidi que não posso e não farei campanha pelo ANC de Ramaphosa. Não é o ANC ao qual me juntei. Seria uma traição fazer campanha pelo ANC de Ramaphosa. A minha consciência não permitirá isso”
Jacob Zuma citado por Carta de Moçambique
“As fissuras que se foram criando no seio do ANC nunca tiveram impacto imediato, mas, a médio prazo, fazem-se sentir. É o caso de Malema. Se não tivesse convicções próprias, este partido já não existiria no plano político da África do Sul, contudo, depois de muito tempo, começa a fazer e criar problemas ao ANC. Lembrar que Julius Malema foi o Presidente da Ala Juvenil do ANC quando deixou o ANC e goza de muita popularidade. A questão que se coloca é: estará em condições Jacob Zuma de lutar para colher frutos daqui a 10 anos, ou seja, quando tiver qualquer coisa como 92 anos! Não me parece e pode ser o fim de uma carreira política com muitos solavancos à mistura”
AB
O Antigo Presidente do ANC e da África do Sul, Jacob Zuma, foi quase sempre uma figura controversa no seio do próprio ANC. Nascido a 12 de Abril de 1942, Jacob Zuma filiou-se ao Partido ANC aos 17 anos, ou seja, em 1959. Em 1963, integra o braço armado do ANC, Umkonte Wa Sizwa e, no mesmo ano, é preso a tentar sair do País, com mais 45 camaradas e recrutas do ANC. Acusado de conspirar contra o Governo do Apartheid, foi condenado a 10 anos de prisão, que cumpriu em Robben Island, no mesmo local onde Nelson Mandela se encontrava a cumprir a sua pena.
Saiu da prisão em 1973 e, entre 1973 e 1975, esteve na frente interna de mobilização de membros do ANC em Kwazulo Natal, sua terra natal. Em 1975, foge e exila-se no exterior e, entre os países onde mais viveu nesse período, destaque vai para a Swazilândia, Moçambique e Zâmbia, para além de outros onde desenvolvia as actividades do seu partido. Regressou à África do Sul em 1990, quando, o então Presidente da África do Sul, Frederik de Klerk decidiu não criminalizar as actividades políticas do ANC e de outras organizações.
Jacob Zuma viria a presidir o ANC em Dezembro de 1994 e, entre 1999 a 2005, serviu a nação sul-africana como vice-Presidente do País, sendo o Presidente Thabo Mbeki. A 02 de Junho de 2005, o Tribunal associa o vice-Presidente Jacob Zuma ao escândalo de Armas em associação ao empresário Schabir Shair, um escândalo que o viria a perseguir pelo período subsequente.
Contudo, Jacob Zuma foi sobrevivendo de julgamento em julgamento e, a 26 de Abril de 2009, ganha eleições com maioria absoluta, o que lhe possibilitaria ascender ao cargo de Presidente da África do Sul, tomando posse a 09 de Maio de 2009. A 07 de Maio de 2014 é reeleito Presidente da África do Sul e, a 13 de Fevereiro de 2018, após deliberação interna, o ANC exige a renúncia de Zuma, sem, no entanto, definir uma data para o cumprimento desta decisão.
Como se pode depreender, Jacob Zuma é uma figura relevante no Xadrez político do ANC e da África do sul. Desde jovem, dedicou-se à causa da Nação e, a par disso, também foi fazendo vários atropelos à ética e moral interna no ANC. Foi, igualmente, cometendo crimes de vária índole e muitas das coisas não cabem nesta reflexão e, porque podem esvaziar o papel desta figura como militante Anti-Apartheid, decidi não trazer aqui.
A minha reflexão cinge-se noutro ponto: o que estará se passando mesmo no seio do ANC? Esta é, na minha opinião, a primeira pergunta que se deve fazer, sabido que, há menos de um mês, outro veterano do ANC declarou-se incompatível com a actual conduta deste partido, QUE APELIDAM DE ANC DE Ramaphosa! Será? Mas, olhando para os países africanos no geral, sobretudo, aqueles que ascenderam à independência com base na Luta de Libertação Nacional, aí se inclui a África do Sul, embora se saiba que a luta do ANC foi contra o regime segregacionista do Apartheid.
Jacob Zuma não encontra espaço, dentro do ANC, para ajudar a endireitar aquilo que ele próprio chama de ANC de Ramaphosa! Ou pura e simplesmente, ele não quer, de certa forma, ajudar a limpar porque os “Louros” seriam colhidos por Ramaphosa, que parece seu “inimigo” de estimação. A crise no seio do ANC pode derivar do facto de alguns aparecerem como muito ricos e outros mais pobres no seio do mesmo grupo, ou seja, a luta me parece mais de divisão de poder económico do que propriamente uma luta por diferenças na direcção do partido mais antigo na nossa região.
A luta interna no seio do ANC, que extravasa o espaço interno, pode ser mau exemplo para as restantes formações políticas da região e da África no geral. Parece-me estar a gerar a incapacidade de, entre camaradas, sentarem e resolverem as diferenças. A forma desprezível como Ramaphosa se pronunciou à saída de um outro veterano do ANC pode sugerir o fim destes partidos históricos de África. Aliado a isso, estes partidos já não se reúnem como faziam Samora Machel, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda, Robert Mugabe, Samo Juma e outros. Esses dirigentes encontravam espaço de análise sobre como geriam as suas organizações. Hoje, as coisas parecem mudar, o pior é que é para o pior!
Adelino Buque
Tudo o que vou dizer aqui, pode parecer repetitivo, mas a vida é isso mesmo, um eterno recomeço. Estaremos sempre nesse ciclo sem fim, procurando a perfeição, ou seja, parafraseando o poeta Kalungano, a perfeição é como o sol, quanto mais nos aproximamos dele, mais ele se afasta. Mas é aí onde mora a beleza da existência do homem, que não cessa de procurar a luz.
Pois é! Eu não sei exactamente se a arte é a luz em si, ou é um simples interruptor. O que sei, porém, e não terei dúvidas sobre isso, é que sem a arte jamais seremos alguma coisa. O próprio ser humano é uma obra de arte. O universo, dentro do qual correm os rios e os mares e reverberam as cores do arco-iris e ouve-se a música dos pássaros, tudo isso é uma obra de arte, então significa que esta exposição que se estende diante de nós, vem nos lembrar o valor da arte e dos artristas que a corporizam.
“Geração Wagaya” não pode ser apenas um slogan, é mais do que isso, é um grito. É um rito. “Geração Wa Gaya” é poesia. E o poeta não se cansa de voar, nem que as pessoas não se importem com a leveza insuperável das suas asas. O artista plástico é igualmente assim, ele não espera. Plana constantemente. Você é que tem de esperar pelo comboio, nem que a espera seja longa. E vai ser um regalo contemplar estas obras todas que nos são aqui presentes, passando por elas, mais a alma do que olhos.
Sim, é necessario voltar a dizer que aqui neste estendal temos pintura, escultura de madeira, cerâmica e desenho, tudo isso amanhado por mãos delicadas que tratam os materiais como se acariciassem a parte mais macia da mulher. Ou ainda, mesmo quando o artista usa o formão ou o martelo para fazer com que a madeira respire, fá-lo com amor para que haja orgasmo.
E os nomes dos artistas que nos convocam a este acto de contemplação, de sentimento, de absorção espiritual, devem ser mencionados em voz alta para que sejam conhecidos pelos flamingos que esgravatam as amêjoas aqui mesmo ao lado, na nossa baía. É extraordinariamente cativante ver esses pássaros pernilongos procurando o alimento com as patas. Parecem dançar. Uma dança desconhecida.
Então vamos nomea-los, para que os espíritos se regozigem deles: António Marcelino Costa, Azevedo Munhaua, Adil, Anselmo Razão, Matomo, Nhambo, Arão Buque, Mujime, Sebastião Matsinhe, Amilton Massicame, Nélio Guambe, Lizy Guambe.
São 47 obras expostas numa mostra que orgulha a cidade de Inhambane. Aliás esta é uma das várias etapas de um percurso que começou há mais de dez anos. Quer dizer, os artistas desta terra juntam-se aos finais de ano e exibem os seus trabalhos, também como forma de presentear os turistas e não só, agraciarem os manhambanas vivendo numa cidade que infelizmente está em estado de degeneração histórica.
Recorde-se que nos primeiros cinco anos deste projecto de sonho, havia muita intensidade, mas é preciso manter esse entusiasmo. Exposições desta natureza serão o outro lado dos nossos pulmões espirituais. Queremos continuar a respirar.
Mas para que este movimento não desvaneça, os artistas, mais do que nós outros que só estamos aqui para apreciar e sentir a leveza e profundidade de uma obra de arte, precisam de um incentivo impresicindível que é a mola de impulsão e essa mola de impulsão chama-se dinheiro, para que eles continuem a criar. É aqui onde são chamados os mecenas e os próprios dirigentes do Estado, que podiam comprar um quadro e deixá-lo na recepção para que a arte triunfe, e os artistas vivam, mais do que sobreviver.
Estão de parabéns todos os artistas que dão corpo a esta mostra e ao projecto Geração Wagaya.
*Apresentação da exposição “Geração wagaya” a decorrer na cidade de Inhambane, de 12 de Dezembro a 12 de Janeiro, na Casa da Cuktura
O governo, através do Ministério da Defesa Nacional, submeteu ao Parlamento uma proposta de reforma legislativa do Serviço Militar Obrigatório (SMO), ora aprovada, na qual propõe o aumento do seu tempo mínimo de cumprimento, passando dos actuais dois para cinco anos.
Isto de aumentar o tempo lembra-me uma sugestão de um meu professor finlandês de física, no ensino pré-universitário. Ele, alegando que os alunos repetentes eram bem-sucedidos no ano seguinte, propora o aumento da carga horária semanal das aulas de física, passando de duas (90mn) para quatro (180mn) aulas.
Assim, para o meu professor, o problema estava na carga horária dos alunos que requeriam mais tempo de aprendizagem. Daí, teorizando, subjaz de que “Para um aluno deficitário atingir bons resultados escolares requer a duplicação do padrão da carga horária das aulas”.
Neste contexto, será que a constatação e recomendação do meu professor de física têm enquadramento na proposta avançada pelo governo? Por hipótese: o que não se consegue em dois anos - militares com a compleição física e mental de elevada prontidão – será possível em cinco anos?
Quero acreditar que uma avaliação ou estudo precedeu e alimentou a proposta do governo. Se o problema identificado, e a superar, for o de ter militares nos termos acima, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) deveriam prescindir de aumentar a carga horária, que aliviaria os escassos recursos do Estado, e no lugar que adequassem as formas/estratégias de recrutamento.
Nesta linha de raciocínio, uma proposta para a reforma legislativa do SMO passaria pelo recrutamento nos Gyms (ginásios/academias) que pululam nas cidades moçambicanas. Aqui a matéria-prima, incluindo para reservistas e instrutores, já está trabalhada (e ociosa) e pronta para ser limada e usada na prevenção e combate aos males que afectam a segurança do país, particularmente o combate ao terrorismo.
Em resumo, e se a justificativa for a robustez: o que as FDS projectam alcançar em cinco anos os Gyms têm-lho feito eficientemente em cinco meses. Daí o título: “Atenção FDS: há matéria recrutável nos Gyms da cidade”.
Nando Menete publica às segundas-feiras
PS: Na base da teoria avançada pelo meu professor de física procede a saga de alguns líderes africanos, e não só, por um terceiro mandato fora do padrão constitucional estipulado.
“Max Tonela remove obstáculos na exportação do feijão bóer para Índia
O Ministério da Economia e Finanças, sob liderança de Max Tonela, emitiu esta quinta-feira (14) um Despacho Ministerial em que delibera pela remoção de obstáculos que se colocavam à exportação de feijão bôer para a Índia, instruindo a Direcção-Geral de Alfândegas (DGA) para autorizar todas as operações de exportação a partir dos Portos da Beira e Nacala.”
Este é o trecho de uma notícia que vai ser hoje tema em muitos jornais na praça.
Max Tonela está com boas intenções, creio, como é seu apanágio. Alguma mídia local insinuava há dias que, na esteira deste imbróglio, Tonela estava impotente perante a DGA.
O problema, segundo temos estado finalmente a apurar, é que a suspensão das exportações não foi uma decisão unilateral das Alfândegas; não tive a ver com questões de procedimentos aduaneiros. A DGA está a cumprir uma decisão judicial, designadamente do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo.
“Carta” ainda não viu o aludido Despacho. A informação foi revelada pela CTA. O seu Presidente, Agostinho Vuma, exultou com o Despacho. Ele apelou a DGA e o Tribunal Administrativo a acatarem o Despacho, reza o noticiário.
Não compreendo como é que um Tribunal deve seguir ordens ministeriais.
Outra informação estranha: a CTA diz que há cerca de 150 mil toneladas de feijão bôer “encalhadas” em Nacala. Há bem pouco tempo, um grupo empresarial, que reclama a abertura da exportação fora de um Concurso lançado em Março e que no âmbito do qual esse mesmo Grupo exportou milhares de toneladas, alegava que tinha em armazéns, retidas, cerca de 300 mil toneladas. Nada mais inverossímil!
“Carta” sabe que neste ano, de Moçambique já foram exportadas 180 mil toneladas e a produção nacional da leguminosa preferida dos indianos, não ultrapassa as 220 toneladas. Isto está documentado!
Ou seja, a quantidade ainda não exportada é de cerca de 50 mil toneladas.
Esta saga do feijão boer está cheia de inverdades. Aos poucos, “Carta” vai contribuir fornecendo aos leitores uma perspectiva mais global sobre o dilema, ouvindo todas as partes e fazendo o necessário contraditório!
Em 1996, por razões similares as que caracterizam o histórico da gestão das eleições no país, o governo de Moçambique concessionou, por 10 anos, a gestão das alfândegas a uma firma britânica denominada “Crown Agency”.
Em 2006, volvidos os 10 anos da concessão, o governo retomou o controlo da gestão das alfândegas, tendo ainda avaliado positivamente os resultados obtidos. Concorreram para tal as reformas e melhorias feitas a ponto de os britânicos terem conseguido ampliar, consideravelmente, as receitas alfandegárias.
Lembrada a solução “Crown Agency”, e face ao caótico histórico da gestão eleitoral em Moçambique, tal exige que se active o modo concessão, desta vez para o processo de gestão eleitoral nos termos e condições a serem definidos. Urge!
De contrário - mantendo o modus faciendi - vai o aviso à navegação: esperar por eleições, livres, justas e transparente em Moçambique será o mesmo que “Esperar que um rio corra ao contrário” (i).
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(i) Entre aspas as palavras de um antigo chefe tribal índio que em discurso de resistência, diante de mais uma invasão das suas terras pela colonização branca, disse ao seu povo: “Esperar que quem nasceu livre se contente em ser aprisionado e que lhe seja negada a liberdade de ir para onde quiser, é como esperar que um rio corra ao contrário.” (In Público, Domingo, 10 de Dezembro de 2023, P.2, Crónica de Graça Castanheira).