Analistas defenderam à Lusa que o magnata norte-americano dos casinos Sheldon Adelson, que morreu hoje aos 87 anos, foi um dos principais visionários que transformaram Macau naquilo que é hoje: a capital mundial do jogo.
“Pouco menos de um ano depois de Stanley Ho, morreu outro visionário”, afirmou à Lusa o advogado Pedro Cortés, sócio da Rato, Ling, Lei & Cortés – Advogados, escritório que presta consultoria na área do jogo.
Se Stanley Ho, que morreu 98 anos em maio de 2020, é considerado o pai dos casinos em Macau, Sheldon Adelson é quase incontestavelmente o homem que mais revolucionou a indústria do jogo após a sua liberalização em Macau, a partir de 2002.
“Macau deve muito daquilo em que se transformou ao senhor Sheldon Adelson, que recebeu em dobro aquilo que deu à Região”, frisou o português.
“Morreu um dos grandes nomes da indústria que, a par de Steve Wynn, ajudou a mudar a face de Macau depois de 2002”, reforçou, referindo-se aos dois grandes magnatas do jogo norte-americano com propriedades em Macau.
A história do fundador da operadora de jogo e resorts integrados Las Vegas Sands a Macau inicia-se com a abertura, em 18 de maio de 2004, do hotel-casino Sands Macao, na península de Macau.
Contudo, foi no istmo entre as ilhas da Taipa e Coloane que o filho de um motorista de táxi e de uma gerente de uma loja de tricô marcou o seu nome na história de Macau: em 2007 é inaugurado o ‘The Venetian Macao', com cerca de três mil quartos de hóspedes, é o maior casino do mundo e chegou a ser o sétimo maior edifício do mundo em área útil.
Quando confrontado com água e terrenos pantanosos, Adelson dirigiu a sua empresa para construir terrenos onde não havia nenhum, empilhando areia e assim "transformou a zona do istmo, com muitos a não acreditar na visão que teve para a indústria”, lembrou o advogado português.
À inauguração do ‘The Venetian Macao' seguiu-se a transformação deste terreno, outrora pantanoso, na ‘meca mundial dos casinos’ com dezenas de hotéis-casinos a serem construídos nos anos que se seguiram nesta área, que agora é apelidada de 'Cotai strip'.
Também o especialista em Gestão Internacional de 'Resorts' Integrados da Universidade de Macau Glenn McCartney nomeia Sheldon Adelson como “uma figura central em Macau”, pela visão e legado que “transformaram o território” na capital mundial do jogo, mas também num dos principais centros de turísticos do mundo, já que normalmente acolhe (antes da pandemia) cerca de três milhões de visitantes por mês.
“Nunca esqueceremos as suas contribuições para o desenvolvimento de Macau, que remontam à sua corajosa visão de criar a Faixa de Cotai. O seu investimento em Macau, a sua indústria, o seu povo e a sua comunidade mudaram, literal e figurativamente, a paisagem da nossa cidade de mais do que uma forma”, lê-se no comunicado da Sands China, empresa de Macau cuja maioria do capital é a Las Vegas Sands.
“O The Venetian Macao' criou um marco incontornável e icónico em Macau, incluindo uma das maiores instalações de convenções e exposições na Ásia. Esse sucesso abriu o caminho para os outros empreendimentos turísticos integrados no Cotai, e a transformação de Macau num centro mundial de turismo e lazer”, acrescentou o grupo, recordando que após o “O The Venetian Macao' o grupo construiu ainda o Four Seasons and The Plaza Macau, que foi seguido pelo Sands Cotai Central e The Parisian Macao.
Apesar de Sheldon Adelson ter iniciado a sua riqueza nos Estado Unidos, foi através dos seus investimentos em Macau que a sua fortuna explodiu. Os casinos em Macau geraram 63% da receita da empresa, que foi de 13,7 mil milhões de dólares (11,5 mil milhões de euros), seguidos de Singapura, que representaram 22% da receita do ano passado, e só depois os dos Estados Unidos.
Macau, capital mundial do jogo, é o único local em toda a China onde o jogo em casino é legal e obteve em 2019 receitas de 292,4 mil milhões de patacas (cerca de 31,1 mil milhões de euros).
“A verdade é que ganhou mais em Macau do que em Las Vegas desde 1988 quando adquiriu o Sands por 184 milhões de dólares”, defendeu Pedro Cortés.
Apesar da sua morte, defendeu Glenn McCartney, o legado de Sheldon Adelson vai continuar em Macau até porque está para breve a inauguração de mais um resort integrado do grupo, o Londoner em Macau, que representou um investimento total de 2,2 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros).
O fundador do império de casinos Las Vegas Sands e principal financiador do Partido Republicano, Estados Unidos, Sheldon Adelson, morreu hoje de madrugada, aos 87 anos, vítima de cancro, anunciaram a sua mulher e a empresa.
Filho de imigrantes judeus, criado com dois irmãos numa quinta de Boston, tornou-se, na segunda metade da sua vida, num dos homens mais ricos do mundo.
Em 2018, a revista Forbes classificou-o como o 15.º homem mais rico dos Estados Unidos, com uma fortuna estimada em 28,8 mil milhões de euros.
“Se fizermos as coisas de forma diferente, o sucesso segue-nos como uma sombra”, afirmou em 2014, durante uma conferência para a indústria de jogos, em Las Vegas.(Lusa)