O aumento do lixo no mar, a pesca ilegal e a falta de uma estratégia de exploração marítima sustentável estiveram no epicentro das principais intervenções durante a abertura da Conferência Internacional “Crescendo Azul”, que arrancou, esta quinta-feira (23 de Maio), em Maputo.
O Presidente da República, Filipe Nyusi, disse que o lixo plástico tem sido uma ameaça para o governo moçambicano que, desde 2017, aprovou uma política do mar com o objectivo de impulsionar o desenvolvimento sustentável.
Segundo Nyusi, em Moçambique, mais de 60 por cento da população vive ao longo da zona costeira e, devido ao lixo de plásticos no mar, espécies como camarão, caranguejo, lagostas, entre outras podem estar ameaçadas. Nyusi lembrou ainda que Moçambique tem 2700 km de costa, mas as mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade, facto que passou a ser uma prioridade do governo. Realçou a necessidade de racionalização dos recursos marinhos como forma de catapultar a economia azul sustentável.
Para Danny Foure, Presidente das Seychelles, país-modelo no que concerne a “economia azul”, a nível da África o uso racional dos recursos marinhos permite que as futuras gerações possam privilegiar-se dos mesmos.
Foure afirmou ainda que, desde que o seu país passou a gerir devidamente os recursos marinhos, o angariou mais de 24 bilhões de USD, facto que, segundo o dirigente, é visível nas comunidades. Revelou também que a segurança dos recursos marinhos é importante para o desenvolvimento da economia azul.
O outro aspecto igualmente apontado pelo estadista para o desenvolvimento da economia azul é investir na ciência e tecnologias marítimas para impulsionar a economia. Assegurou que o seu país investiu mais de 22 milhões de USD em tecnologias para melhorar o sistema pesqueiro, facto que tornou as Ilhas Seychelles um modelo a seguir neste sector.
Enquanto isso, a Ministra do Mar de Portugal, Ana Paula Vitorino, defendeu que num mundo onde existe uma partilha dos mares, é importante verificar dar atenção à exploração desenfreada do Mar. O lixo no mar e a pesca ilegal constituem, na sua óptica, um grande problema para os países banhados pelos oceanos.
A constatação de Vitorino foi realçada por Carlos Martinho, Ministro do Mar de Angola, que falou da necessidade de os governos implementarem reformas no sistema pesqueiro, para combater a pesca ilegal e insegurança marítima. Em Angola, referiu o conferencista, houve vários avanços nos últimos anos.
António Sanchez, Embaixador da União Europeia, em Moçambique, realçou que cabe a todos gerir os recursos marítimos e combater a pesca ilegal, a insegurança marítima e a pirataria, realidade que já levou aquela organização do “velho continente” a adotar medidas e legislações para proteger os oceanos e o seu mundo.
Sanchez defendeu que, para criar se uma economia azul sustentável é importante a participação de todos, e advertiu que “uma boa política dos oceanos depende dos governos”.
Num outro desenvolvimento, o representante da EU em Moçambique disse que aquela organização vai lançar um projecto de pesca, apicultura e agricultura, avaliado em 40 milhões de Euros, nos próximos anos.
Por sua vez, Mark Lundell, representante do Banco Mundial em Moçambique, defendeu que “em cada 10 famílias, uma pratica a pesca, facto que deve levar os governos a preocuparem-se com a protecção dos oceanos.
Lundell disse que 80 por cento dos bens, a nível do mundo, são transportados através dos oceanos, assim como estima-se que 30 por cento dos recursos marinhos estejam a ser perdidos, devido à sobrepesca e ao lixo que abunda nos oceanos, estimado em 150 milhões de toneladas. Espera-se que, nos próximos 10 anos, 100 milhões de toneladas de lixo invadam os mares.
Lundell defendeu ainda que só com uma racionalização da gestão dos recursos marinhos é que se pode alcançar os objectivos da agenda global deste milénio. (Omardine Omar)
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) diz estar num bom caminho a preparação da XII Cimeira “Estados Unidos da América-África”, um evento a ter lugar, na capital moçambicana, entre os dias 18 e 22 de Junho próximo.
A informação foi partilhada, esta quarta-feira (22), em Maputo, pelo vice-presidente da Mesa da Assembleia da CTA, Prakash Prehlad, momentos após a visita do embaixador dos EUA em Moçambique, Dennis Hearne, àquela instituição.
“A quase um mês da realização do evento, podemos dizer que o nível de preparação ronda nos 70 por cento”, afirmou Prehlad.
Em termos de espectativas, a fonte afirmou que a cimeira poderá ser o revirar da apreciação que os doadores têm, especialmente os americanos, em relação ao país e que podem passar ao mundo a imagem de que Moçambique é um bom destino de investimento.
Prehlad disse ser prematuro saber quanto é que os investidores norte-americanos poderão investir, após saberem das oportunidades de negócios no país, mas afirmou que, para além do sector do gás, a CTA poderá aconselhar investidores daquele país a olharem também para a agricultura.
“Como sabe, um dos sectores basilares da CTA e do Governo é a agricultura. O objectivo é permitir que a agricultura atinja o limiar do desenvolvimento para que as suas mais-valias alavanquem os outros sectores da economia”, justificou a fonte.
Das mais de 1.500 pessoas esperadas na cimeira, Prehlad disse haver perspectiva de quase 500 empresários norte-americanos que participem da cimeira. A nossa fonte não precisou, porém, quantos empresários moçambicanos já confirmaram presença, pelo que “em tempo oportuno a CTA vai pronunciar-se”.
Para o embaixador dos EUA em Moçambique, Dennis Hearne, a realização da conferência no país mostra a “maturidade potencial” de Moçambique como um destino importantíssimo de investimento para comércio externo e os EUA estão muito animados e entusiasmados para participar dessa cimeira de alto nível.
A Cimeira “EUA-África” é uma conferência importante para promover negócios e investimento dos EUA, em África, sendo que o Corporate Council on África (CCA) é considerado a principal associação comercial daquele país com enfoque na conexão de interesses comerciais entre a maior economia do mundo e o continente africano.
Por se tratar de um evento de alto nível, o evento é organizado para além da CTA, pelo Governo de Moçambique, em parceria com o Corporate Council on África.
As áreas de enfoque do CCA cobrem mais de 20 sectores, sendo de destacar os seguintes ramos: agricultura e agro-negócios, energia, infra-estruturas, segurança, saúde, finanças, turismo, telecomunicações e tecnologias de comunicação e informação. (Evaristo Chilingue)
Desde 2007, o ano em que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) reverteu para o Estado moçambicano, com a compra de 85 por cento das acções, a empresa já entregou um total de 33.337 milhões de Mts ao tesouro nacional. A informação foi partilhada, na última segunda-feira (20 de Maio), pelo Administrador Financeiro da empresa, Manuel Gameiro, aquando do evento de disponibilização oficial dos 2,5 por cento das acções, das 7,5 que serão vendidas em Operação Pública de Venda (OPV) na bolsa local.
Gameiro explicou: “se se usar uma taxa de câmbio média anual para o mesmo período, o valor da contribuição significa um pagamento acima de 650 milhões de USD, o que representa cerca de 80 por cento daquilo que a empresa custou ao Estado moçambicano aquando da aquisição dos 85 por cento”. Para Gameiro, o nível de contribuição da HCB para o crescimento económico do país explica-se pela sua robustez financeira.
Embora a empresa tenha registado uma redução da quantidade de energia vendida nos últimos anos, devido à fraca produção (no ano passado vendeu 12.352 GWh contra 12.491 GWh vendidos em 2017) por efeitos da seca, as receitas da empresa registaram um crescimento substancial em 2018, tendo-se situado em 22.340 milhões de USD, correspondentes a um incremento de cerca de 43 por cento se comparado com o ano anterior.
“Tal resultou da combinação de um conjunto de factores, como o incremento da eficiência, controlos e também de uma negociação com muito sucesso com a ESKOM [empresa pública de electricidade da África do Sul], para o incremento da tarifa em 46 por cento”, explicou Gameiro.
A robustez financeira da HCB é também reflectida ao nível do balanço da empresa. Dados partilhados por Gameiro demonstram que a HCB tinha, até o ano passado, 59.962 milhões de Mts de total de activos (fixos e circulantes), contra 5.711 milhões de Mts de passivos. Ainda no ano passado, a empresa possuía 54.252 milhões de Mts em capitais próprios, contra os 50.787 milhões de Mts que detinha em 2017.
Em termos de rácios financeiros, a autonomia financeira da empresa subiu para 90 por cento em 2018, contra 86 por cento de 2017. A solvabilidade situou-se nos 9,5 por cento, em 2018, contra 6,2 por cento registados no ano anterior. (Evaristo Chilingue)
Moçambique deverá receber cerca de 95 mil milhões de USD nos próximos 25 anos em receitas vindas dos investimentos das multinacionais na exploração de gás natural, mais de sete vezes do valor do PIB atual. O valor de 95 mil milhões de USD, resulta da soma dos 46 mil milhões de dólares de receitas do consórcio liderado pela Exxon Mobil, anunciados na semana passada pelo Governo, aos 49 mil milhões de USD que o Governo tinha, em Junho, anunciado que iria receber durante a vigência dos contratos, de acordo com a agência de informação financeira Bloomberg.
Os projetos das companhias petrolíferas no norte do país têm o potencial de transformar a economia moçambicana, tornando o país, a par do Qatar, no maior exportador de gás natural do mundo.
O país, com um PIB atual de cerca de 15 mil milhões de dólares, tem estado em negociações com os credores da dívida pública e dos empréstimos escondidos para renegociar a dívida oculta, ao mesmo tempo que avalizou a participação da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos nos consórcios, com um valor de 2,25 mil milhões de dólares.
Na semana passada, o Governo moçambicano aprovou o Plano de Desenvolvimento do projeto Rovuma LNG, liderado pelas petrolíferas Eni e Exxon Mobil, para explorar gás natural na zona Mamba da Área 4 ao largo da costa norte. Trata-se do terceiro plano de exploração de gás, maioritariamente para exportação, aprovado para a bacia do Rovuma e que deverá catapultar o Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano para novos máximos a partir da próxima década.
"A aprovação do plano de desenvolvimento marca mais um passo significativo para se chegar à Decisão Final de Investimento (DFI) e ao início da construção ao longo do corrente ano", disse o presidente da ExxonMobil Development Company, Liam Mallon.
O mesmo consórcio - Mozambique Rovuma Venture (MRV), que integra a portuguesa Galp - já tinha anunciado em 2017 a DFI para a zona Coral Sul da Área 4, onde o gás natural vai ser extraído através de uma plataforma flutuante a partir de 2022.
A diferença está nas quantidades: enquanto a plataforma vai fornecer 3,4 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás liquefeito, da zona Mamba vão sair em simultâneo cerca de 4,5 vezes mais, ou seja, 15 mtpa, previsivelmente a partir de 2024/25.
"Os contratos de compra e venda de 100% da capacidade das fábricas", que em conjunto rondam aquele valor, "foram submetidos ao Governo de Moçambique para aprovação", acrescenta o comunicado do consórcio divulgado na semana passada.
"A produção estimada do bloco da Área 4 irá gerar benefícios substanciais para Moçambique e para os parceiros" do consórcio, disse hoje Alessandro Puliti, administrador de Desenvolvimento, Operações e Tecnologia da Eni.
O plano de desenvolvimento "descreve o compromisso de formar, desenvolver e empregar força de trabalho nacional e disponibilizar gás para apoiar a industrialização de Moçambique", acrescenta.
Neste aspeto, durante a fase de produção, o projeto Rovuma LNG espera fornecer ao país cerca de 17.000 toneladas por ano de gás de petróleo liquefeito (GPL) a partir dos recursos da Área 4 - o que representa atualmente 50% das importações de GPL de Moçambique.
Esta contrapartida "irá melhorar drasticamente o acesso a energia", acrescenta o consórcio.
Os parceiros da Área 4 planeiam também distribuir cerca de 5.000 fogões a gás na área de Afungi, província de Cabo Delgado, onde está a ser construída a 'cidade do gás', onde vão ficar instaladas as fábricas e demais infraestruturas - para substituir a queima da lenha. A Área 4 é operada pela MRV, uma 'joint venture' copropriedade da ExxonMobil, Eni e CNPC, que detém 70 por cento de interesse participativo no contrato de concessão para pesquisa e produção naquela área. A Galp, KOGAS e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos de Moçambique detêm, cada uma, 10% de interesse participativo.
A ExxonMobil vai liderar a construção e operação das unidades de produção de gás natural liquefeito e infraestruturas relacionadas em nome da MRV, e a Eni vai liderar a construção e operação das infraestruturas 'upstream', ou seja, de extração do gás dos depósitos subterrâneos (jazidas), debaixo do fundo do mar, até à superfície, para depois ser conduzido até à fábrica.
"Este é o terceiro plano de desenvolvimento aprovado neste quinquénio para viabilizar a exploração sustentável das enormes reservas de gás natural descobertas na Bacia do Rovuma", disse então o ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela.
Além dos dois investimentos de exploração de gás na Área 4 (plataforma flutuante na zona Coral Sul e furos na área Mamba), a petrolífera Anadarko lidera um projeto de exploração da Área 1 cuja decisão final de investimento vai ser anunciada a 18 de junho, em Maputo. "Queremos que o empresariado moçambicano e os moçambicanos sejam os principais beneficiários", concluiu. (Lusa)
O Banco Mundial e os seus parceiros, nomeadamente, Suécia e Noruega, irão conceder 87.6 milhões de USD para o financiamento do Programa Nacional de “Energia para Todos”, lançado em Novembro do ano passado, pelo Presidente da República. Deste valor, 82 milhões são provenientes do Banco Mundial, cujo acordo será celebrado, na tarde desta quarta-feira, com o governo moçambicano, através do Ministério da Economia e Finanças. O remanescente será desembolsado pelos dois parceiros.
O Programa Nacional de energia para Todos foi lançado pelo Chefe de Estado moçambicano a 12 de Novembro último, tendo como objectivo principal assegurar que todos os moçambicanos tenham acesso à energia até ao ano de 2030, como preconizam os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, de que o país é subscritor.
De acordo com o comunicado enviado à nossa Redacção, pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia, o valor coberto por estes acordos representa a parte inicial do total de 200 milhões de USD que os parceiros se predispuseram a disponibilizar para o arranque da implementação do Programa, que tem como as principais agências implementadoras a Electricidade de Moçambique (EDM) e o Fundo de Energia (FUNAE). (Carta)
A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), com mandato de organizar, gerir e manter um mercado secundário de valores mobiliários centralizado, espera que a Oferta Pública de Venda (OPV) dos 7,5 por cento da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) torne mais robusto o principal indicador do mercado bolsista, a “capitalização bolsista”.
A espectativa foi manifestada, na última segunda-feira, pelo PCA da BVM, Salim Valá, durante o lançamento da OPV da HCB.
“Com a operação, a BVM vai aumentar, sem dúvidas, a capitalização bolsista, a liquidez no mercado, o volume de transacções, vai atrair ainda novos investidores e vai despertar também o interesse de outras empresas pelo mercado de capitais”, afirmou Valá.
Dados facultados pelo PCA da BVM referem que a “capitalização bolsista” situa-se, neste momento, a um nível de 90.640 milhões de Mts (aproximadamente 1.409 milhões de USD), o que representa cerca de 9 por cento do PIB.
“O volume de negócios da BVM está no patamar de 3.309 milhões de Mts, o número de títulos cotados é de 152 na BVM, temos o índice de liquidez de 3,88 por cento”, destacou Valá, para demonstrar o optimismo da instituição que dirige em relação aos ganhos da OPV da HCB.
Ainda em relação às vantagens, o PCA da BVM disse, igualmente, que a pretensão de obter uma elevada dispersão accionista e a procura pela maior inclusividade dos cidadãos, a OPV dos 7,5 por cento da HCB vai trazer para a Bolsa muito mais investidores moçambicanos, principalmente por arrastamento.
“Há também uma perspectiva pedagógica emanante a esta operação. Muitos moçambicanos estão ávidos em comprar acções da HCB. Com a operação vão aprender como investir em bolsa, como comprar acções de uma empresa cotada em bolsa”, acrescentou o gestor máximo da BVM.
Por ser vantajoso para as empresas, o PCA da BVM usou da ocasião para instar as empresas a listarem suas acções na instituição para se beneficiar de ganhos “visíveis e tangíveis”. “Não faz sentido que, das 100 maiores empresas que operam, em Moçambique, apenas três estejam cotadas na BVM. Temos de mudar esse cenário”, criticou a fonte.
Para comprovar a pouca aposta dos investidores nacionais na BVM, Valá recorreu ao segundo relatório de Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP), apresentado, recentemente, que refere que, quando a BVM foi criada, em 1999, foi feita uma análise e foram identificadas 17 empresas, de um porte tal e com condições que poderiam nela estar listadas, mas em pleno 2019, a instituição conta com apenas oito empresas.
“Contudo, nós estamos a trabalhar de forma arrojada para trazer estas empresas para BVM”, garantiu Valá, mostrando optimismo com os ganhos que a instituição tem vindo a registar. (Evaristo Chilingue)