Vários armadores de pesca nacionais que operam ao longo do banco de Sofala opõem-se ao exercício da actividade pesqueira, durante o período de veda, pelos seus colegas chineses. Estes últimos são acusados de invadir as 12 milhas da zona protegida do banco de Sofala, para além de utilizarem materiais de pesca proibidos tanto dentro de Moçambique como internacionalmente. Outra acusação que pesa sobre os armadores pesqueiros chineses é a de usarem redes de pesca triplicadas, o que lhes permite capturar todos os recursos marinhos ao longo do banco de Sofala.
Armadores nacionais ouvidos pela “Carta” lançam o alarme: nos próximos dois anos, se o cenário continuar, peixe e mariscos vão desaparecer das águas do banco de Sofala. Ao que “Carta” apurou, os alegados desmandos protagonizados pelos armadores de pesca chineses atingiram o cúmulo quando, no passado dia 05 de Abril, eles declararam, junto da inspecção provincial de Pescas, terem capturado 18 toneladas de camarão, uma quantidade inalcançável, a não ser que parte dela tenha sido capturada antes da abertura da época pesqueira, que arrancou oficialmente no passado dia 01 de Abril. A declaração foi feita por armadores da embarcação MAANG CHING SHYANG.
Um especialista na matéria, que falou à nossa reportagem, disse que as 18 toneladas declaradas só poderiam ter sido pescadas no período de um mês, ou em 20 dias no mínimo, independentemente da qualidade do material utilizado, ou seja, só demonstra que a pesca foi efectuada durante o período de veda.
Por causa da alegada protecção de que os armadores pesqueiros chineses gozam em Moçambique, os seus barcos continuam a operar impunemente ao longo do banco de Sofala. De acordo com informações a que tivemos acesso, os fiscais que se “atrevem” a instaurar processos contra armadores de pesca chineses sujeitam-se a ameaças, o que os leva a ‘fechar os olhos’ perante os desmandos dos prevaricadores. Em contrapartida, os moçambicanos que exercem a mesma actividade, sobretudo os pescadores artesanais, ao mínimo deslize estão sujeitos a sanções.
Uma das técnicas usadas pelos chineses é a de trabalhar com armadores nacionais artesanais, para poderem retirar do mar maior quantidade de pescado. Actuando dessa forma, conseguem vender clandestinamente uma parte do pescado obtido em parceria com os moçambicanos. A outra parte, que só pertence aos armadores de pesca chineses, é toda comercializada na China e noutros países.
Pescadores contactados pelo nosso jornal na cidade da Beira não esconderam a sua insatisfação por, segundo eles, a sua actividade laboral ao longo do banco de Sofala estar ameaçada. Falaram de embarcações chinesas que invadem zonas protegidas, por aparentemente não existir uma fiscalização eficiente no banco de Sofala, o que, conforme nos apercebemos, deve-se à falta do material por parte da Inspecção.
Na opinião vários armadores de pesca nacionais, o banco de Sofala, à semelhança do que acontece noutras regiões marítimas de Moçambique, foi assaltado por embarcações da China com ‘apadrinhamento’ das elites políticas moçambicanas. A isso junta-se uma alegada gestão danosa pela administração central do sector das pescas, que tem concedido facilidades aos armadores chineses, a ponto destes pescarem em zonas proibidas usando barcos com motores de 1000 cavalos, que certos países não admitiriam.
Tentativas da “Carta” em ouvir o Director Provincial das Pescas em Sofala, Carlos Sendela, sobre este assunto, redundaram no fracasso por alegadamente ele não ter tempo. Eis a resposta que Sendela nos deu: “Nestes dias não será possível (um encontro) porque estou sem tempo (…)”. Mesmo assim, nas próximas edições prometemos voltar à carga sobre o assunto das pescas ao longo do banco de Sofala e no país em geral. (Omardine Omar)
Contra todas as críticas de economistas e do sector produtivo no país, o Banco de Moçambique (BM) voltou a colocar em leilão do tipo B mais Bilhetes de Tesouro (BT). A medida é contestada por limitar a possibilidade da redução das taxas de juro, encarecendo assim os custos para as empresas que pretendam reinvestir e expandir os seus negócios, para além de tornar caro o crédito às famílias.
Este é o quarto mês consecutivo do ano em que o Banco Central faz “ouvidos moucos” e leiloa títulos da dívida pública e sem se referir ao propósito da medida, nomeadamente se é para a condução da política monetária, o que para os críticos seria ideal, ou se visa financiar a despesa pública, o que é criticável.
No comunicado que emitiu na última sexta-feira (12), o BM diz que o leilão é dirigido a instituições financeiras não monetárias, nomeadamente sociedades financeiras de corretagem, corretoras, gestoras de fundos de pensões e de investimento, bem como empresas seguradoras. (Evaristo Chilingue)
O maior avião do mundo em envergadura voou neste sábado (13) pela primeira vez sobre o deserto de Mojave, na Califórnia (EUA). A máquina, baptizada de Stratolaunch, tem 117 metros de uma ponta da asa à outra - maior que um campo de futebol oficial (até 110 metros). O avião foi desenvolvido pela empresa de mesmo nome e quebra um recorde de 71 anos, que pertencia anteriormente ao hidroavião Hughes H-4 Hercules. Este possuía 98 metros de envergadura, e voou pela primeira vez em 1947.
O Stratolaunch possui um comprimento de 73 metros, do nariz à cauda. A Stratolaunch é uma empresa criada em 2011 por um co-fundador da Microsoft, Paul Allen (1953-2018). Segundo a empresa, o objetivo é que o avião funcione como uma plataforma móvel para o lançamento de satélites. A ideia é baratear o lançamento, reduzindo custos em relação aos foguetes lançados do solo.
O aparelho consiste em duas máquinas gêmeas, sustentadas por seis motores a jato. Neste sábado, ele voou durante duas horas e meia sobre o deserto, atingindo velocidades de 274 km/h e a altitude de 4.572 metros. O piloto, Evan Thomas, disse a jornalistas que a experiência foi "fantástica" e que "na maior parte do tempo, o avião voou como previsto". Neste voo inaugural, a equipa avaliou a performance do aparelho e sua manobrabilidade. O pouso ocorreu sem incidentes, segundo a empresa. No seu site, a Stratolaunch diz que o objetivo é tornar "o acesso à órbita terrestre tão rotineiro quanto pegar um voo comercial é hoje".
"A asa central reforçada suporta múltiplos veículos de lançamento de satélites, cujo peso pode chegar a mais de 220 toneladas", diz uma nota publicada pela empresa. O bilionário britânico Richard Branson, dono da companhia Virgin Galactic, também está desenvolvendo um veículo parecido, cujo objetivo é lançar satélites a partir de uma grande altitude. (Carta)
A Chevron, uma das maiores petrolíferas dos EUA, “engoliu” a Anadarko na quinta-feira, mas a imprensa norte-americana enfatiza que a operação foi decidida principalmente para ela adquirir os interesses da Anadarko no gás de xisto e no petróleo do Golfo do México. Os interesses da Anadarko no gigantesco campo de gás do Rovuma são apenas uma pequena parte do acordo. Apesar deste facto, o CEO da Chevron, Michael Wirth, disse à CNBC que "a Anadarko tem um grande projeto de GNL (Gás Natural Liquefeito) em Moçambique, que se encaixa perfeitamente no nosso portefólio. Acreditamos que o GNL é um bom negócio a longo prazo, pois procura por um ‘mix’ energético mais limpo, particularmente para a geração de energia".
O acordo da compra da Anadarko pela Chevron deverá ser fechado no segundo semestre do ano, mas ainda precisa da aprovação dos acionistas da Anadarko. Na quinta-feira, a Chevron comprou toda a empresa por 65 dólares por acção, 39% acima do valor de mercado. Também tomou mais de 15 bilhões de USD da dívida da Anadarko. Mas, apesar de o preço de oferta exceder o valor do mercado de cada acção, muitos comentaristas disseram que, dado que a Anadarko estava tão subvalorizada, foi uma “pechincha”. As acções da Anadarko caíram de 75 USD no ano passado para 42 este ano. Portanto, lances alternativos agora são possíveis. A Bloomberg informou que a Occidental Petroleum havia oferecido mais de 70 USD por acção pela Anadarko e poderia fazer lances novamente.
Michael Wirth, que assumiu a chefia executiva da Chevron há 14 meses, anunciou uma expansão agressiva no gás de xisto no Texas e no Novo México. Assim, a razão principal da compra da Anadarko é adquirir grandes áreas de gás de xisto desta empresa. Aliás, a Anadarko estava entre as maiores operadoras de gás de xisto do Texas e desenvolveu uma capacidade de processamento na região que, segundo Wirth, era particularmente atraente. Além de ter terras de gás de xisto adjacentes, as duas empresas têm áreas adjacentes de produção de petróleo no Golfo do México.
A perfuração de xisto - extração de petróleo e gás de formações rochosas - transformou os EUA num exportador daqueles dois hidrocarbonetos. Pequenos perfuradores independentes foram pioneiros na produção de xisto nos EUA. Mas a indústria refinou tecnologias como fraturamento hidráulico (“fracking”) e perfuração horizontal, e agora pode extrair petróleo e gás de áreas enormes de um único ponto central, fazendo com que seja sensato fundir blocos de concessão. O acordo faz da Chevron uma das três grandes gigantes do petróleo, atrás apenas da Exxon Mobil e da Shell.
"Nós gostamos de Moçambique", diz o chefe da Chevron
Com o negócio consumado, Moçambique espera um encaixe substancial em impostos sobre ganhos de capital (as chamadas mais-valias), mas deve aguardar uma longa negociação. Basicamente, a Chevron avançou no negócio por causa de interesses na América; será preciso determinar quanto dos 33 biliões de USD correspondem aos interesses da Anadarko em Moçambique e quanto da dívida de 15 bilhões está ligada ao projecto de liquefação do gás do Rovuma. Dado que a aprovação da transação entre a Chevron e a Anadarko ainda vai levar meses, o encaixe do imposto sobre ganhos de capital só poderá acontecer em 2020 ou 2021.
A Anadarko é a operadora da Área Offshore 1 da Bacia do Rovuma e planeia construir uma fábrica gigante de liquefação de gás. Para o efeito, a Anadarko assinou recentemente grandes contratos com compradores asiáticos e esperava-se que anunciasse sua decisão final de investimento (FID) ainda este mês.
Comentadores nos EUA ofereceram pontos de vista diferentes sobre o impacto da compra da Chevron em Moçambique. Wirth disse ao Wall Street Journal: "Nós gostamos do recurso de Moçambique". Isso sugere que a Chevron vai querer garantir o início da produção de GNL em 2024, como planeado, para ter o gás no mercado antes da concorrente Exxon Mobil, que também terá as suas próprias instalações de liquefação de gás na península de Afungi.
Outros comentaristas apontam para possíveis problemas com a rival Exxon Mobil, que também compartilha um dos campos de gás com a Anadarko. Isto é conhecido como "straddle": as licenças de exploração foram emitidas para offshore de Cabo Delgado numa altura em que, por definição, nada era conhecido sobre o que existia. Verificou-se que um único campo de gás abrangia as áreas de exploração da Anadarko (Área 1) e ENI (Área 4). Foi necessária uma longa negociação para definir como o gás será compartilhado. A Exxon Mobil assumiu a função de operadora da Área 4 da ENI. (Joe Hanlon)
Em Março último, os preços de produtos e serviços aumentaram drasticamente na cidade da Beira, conforme indicam dados do Índice de Preços no Consumidor (IPC), do Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
O IPC diz que a capital de Sofala registou no mês passado uma inflação (desagregada) de 2,87%, seguida de Maputo (0,18%) e Nampula (0,17%). Em termos gerais, no mês de Março, o país registou um aumento do nível de preços na ordem de 0,67%, contra 0,32% no mês anterior.
De acordo com o IPC, as divisões de alimentação e bebidas não alcoólicas, bem como de habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis, foram as que maior agravamento de preços registaram, tendo contribuído com 0,36% e 0,23% positivos, respectivamente.
O IPC refere também que “na análise da inflação mensal por produto destaca-se a subida de preços do tomate (10,6%), consumo de electricidade (21,7%), carvão (6,3%), cebola (6,5%), feijão manteiga (4,4%), couve (4,6%) e consultas em clínicas (5,1%) que no total da inflação contribuíram com cerca de 0,55% positivos”.
No mesmo período de 2018, o IPC diz que o país registou um aumento de preços na ordem de 3,41%, e que as divisões de transportes, assim como da saúde, em termos homólogos tiveram maior variação de preços, com 6,42% e 6,39%, respectivamente.
Quanto à inflação acumulada, os dados do IPC indicam que no primeiro trimestre de 2019 o país registou um aumento de preços na ordem de 1,63%. Desagregando, a cidade da Beira foi a que teve o maior aumento do respectivo nível geral de preços, com 4,13%, seguida das cidades de Maputo (1,26%) e Nampula (0,65%). (Evaristo Chilingue)
Por causa dos estragos causados pelo ciclone IDAI no Centro do país, particularmente na capital de Sofala, Beira, os panificadores desta cidade não têm tido mãos a medir para garantir o fornecimento de pão às famílias, tendo em conta que toda a cadeia de produção daquele alimento básico ficou afectada.
Neste momento, os panificadores da Beira queixam-se dos elevados custos no fabrico do pão para satisfazer os consumidores daquela segunda maior cidade moçambicana. Como resultado dos danos provocados pelo IDAI, actualmente na Beira e no distrito de Dondo só funcionam 10 das 32 panificadoras lá existentes, cujos proprietários são membros da Associação Moçambicana dos Panificadores (AMOPAO), delegação de Sofala.
De acordo com Mohammad Wassim, delegado provincial da AMOPAO em Sofala, os elevados custos que o fabrico do pão implica devem-se ao facto de a maioria dos panificadores ainda não dispor de energia eléctrica, sobretudo na Beira. Wassim disse que na falta de electricidade os panificadores têm como alternativa os geradores, que para poderem funcionar precisam de combustível, ou recorrem à lenha, cuja preparação implica custos relacionados com o aluguer de motosserras. “Mas os que têm energia eléctrica queixam-se de esta ser muito cara, desde que houve um aumento da tarifa a partir do dia 01 de Março último”, afirmou Mohammad Wassim.
A farinha de trigo, principal matéria-prima no fabrico do pão, também passou a ser mais cara depois do IDAI. Segundo o delegado da AMOPAO na província de Sofala, antes do dia 14 de Março um saco de trigo custava 1.450,00 Mts, mas agora custa 1.680 Mts. Para este aumento, os fornecedores da farinha de trigo apresentam como justificação os elevados custos no transporte do produto, uma vez que as moageiras na Beira deixaram de funcionar por terem ficado danificadas pelo ciclone.
Mohammad Wassim acrescentou que “para além desses factores, na cadeia de produção do pão houve outros produtos cujos preços também subiram”. Citou como exemplos os fermentos, vitaminas e saco plástico, afirmando, no caso deste último, que “apesar de existir no mercado nacional é importado”. Face aos custos no fabrico do pão, que resultam em prejuízos no negócio dos panificadores, Wassim defende ser legítimo um reajuste do preço daquele alimento básico. Adiantou que o aumento no preço do pão é uma proposta que vem sendo apresentada pelos panificadores desde há sensivelmente dois anos, e que agora tornou-se uma “necessidade” devido aos efeitos do ciclone IDAI. (Evaristo Chilingue)