O Director-Geral Adjunto do Instituto Nacional de Saúde (INS), Eduardo Samo Gudo, alerta para a possibilidade de o Sistema Nacional de Saúde (SNS) colapsar, caso os cidadãos não implementem rigorosamente as medidas de prevenção emanadas pelas autoridades de saúde nacional e internacional. O alerta foi lançado na passada segunda-feira, durante a reunião entre o Governo e parceiros de cooperação internacional, que visava estudar as melhores formas de o país combater os efeitos do novo coronavírus.
Segundo Eduardo Samo Gudo, o maior problema a ser enfrentado no combate à pandemia do Covid-19 reside no impacto da rápida transmissão do vírus. “O que acontece é que se o número de indivíduos que adquirir a infecção for muito alto, num período muito curto, colapsa o sistema. Primeiro aspecto que hoje já se entende muito bem”, avançou o especialista em Imunologia e Virologia.
“O segundo são os que têm doença leve. São aqueles que fazem isolamento domiciliário. Parece-nos ser uma boa notícia saber-se que a maior parte dos indivíduos tem uma doença leve, mas tem um problema nestes casos leves e que estamos aprendendo com outros países. É que há dificuldades em assegurar que estes indivíduos com doenças leves cumpram com as medidas de prevenção”, acrescentou.
De acordo com a fonte, 15% dos tratamentos dos indivíduos infectados pelo Covid-19 requerem internamento, mesmo que a doença não seja crítica, e apenas 5% das pessoas é que requer ventilação forçada. Entretanto, a maior parte das doenças é leve.
Na apresentação, que durou cerca de 12 minutos, Samo Gudo defendeu que o nosso país, por ser um dos últimos países a reportar casos, “tem uma janela de oportunidades”, que é o de ter aprendido com os outros países do mundo que já controlaram ou que continuam a registar casos.
Samo Gudo explicou ser necessário que a implementação das medidas de prevenção, por todos, seja rigorosa. “Estes 80% de doenças leves merecem muita atenção porque existe dois tipos de países, um onde as medidas foram tardias e relaxadas e os países onde as medidas foram muito rigorosas e antecipadas”, sublinha.
O Director-Geral Adjunto do INS explicou ainda a questão do perfil epidemiológico e as implicações para Moçambique, com principal destaque para as faixas etárias, tendo avançado que grande parte da população moçambicana ronda até os 50 anos de idade, mas cuja letalidade é muito baixa. Porém, frisou que por questões de comportamento constitui um maior desafio para o sector de saúde em comparação com os idosos, onde a taxa de letalidade é muito alta em função dos outros países.
O especialista reforçou a necessidade de se prestar maior atenção para os idosos, mesmo que os dados estatísticos revelem a existência de poucas pessoas nesta faixa etária, pois, são eles que acabam tendo doenças graves e posterior morte, por serem aqueles que padecem de outras efermidades.
Samo Gudo avançou ainda que, embora Moçambique tenha uma população jovem, o problema está em assegurar que indivíduos de zero aos 10 anos de idade cumpram com as medidas recomendadas, assim como o tipo de mensagem a investir, que é passada e qual deve ser a principal faixa etária.
O outro aspecto elencado é a urbanização, uma vez que África é o continente menos urbanizado, uma informação que para o combate ao Covid-19 pode ser boa, embora constitua um desafio, uma vez que o nível de formação das pessoas residentes nas zonas rurais é muito baixo, pelo que se deve adequar a informação para estas pessoas.
Eduardo Samo Gudo explicou também que o coronavírus não aparece num momento em que os sistemas de saúde já estão preparados. “Eles aparecem quando os sistemas de saúde já estão congestionados e criam sobrecarrega maior dos sistemas, mesmo tendo uma letalidade menor, eles encontram um sistema que tem outras letalidades muito grandes com outras doenças”, afirmou, sublinhando haver necessidade de se continuar a garantir o tratamento das pessoas com malária, tuberculose e HIV/SIDA.
Para Samo Gudo, se demorarmos com a implementação rigorosa das medidas de prevenção, anunciadas pelo Chefe de Estado, o sistema entrará em colapso. “Se não agirmos juntos, rápido, coordenados e se todos nós não estivermos envolvidos e engajados não teremos sucessos”, rematou a fonte. (O.O.)