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quinta-feira, 02 dezembro 2021 15:20

Agualusa estreia-se na fotografia com “O Mais Belo Fim do Mundo”

“É uma noite improvável em que inauguro uma exposição de fotografia”. Foi deste modo, inusitado, que José Eduardo Agualusa, terminou a sua intervenção, ontem, ao final da tarde, no Camões - Centro Cultural Portugal, em Maputo, na cerimónia de inauguração da sua exposição de fotografia intitulada ''O mais belo fim do Mundo”.

 

De facto, o ineditismo da situação, levou-o a afirmar: “Estar aqui, em Maputo, a inaugurar esta exposição de fotografia foi algo que nunca imaginei.” Depois, explicou a génese de “O Mais Belo Fim do Mundo'': “É uma história de amor pela Yara – a sua mulher. A maior parte destas fotos e destes poemas foram feitas durante o período em que a Yara estava grávida da Kianda. Durante esse tempo, fui fazendo estas imagens e escrevendo estes versos. Mas revela também o meu amor pela Ilha de Moçambique. Eu conheci a Ilha da melhor maneira possível, através dos seus poetas. Rui Knopfli, Nelson Saúte, Mia Couto e, muito mais lá para trás, Camões, Bocage, Tomás António Gonzaga. A Ilha para mim é um território de poesia.”

 

Para o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura, “O Mais Belo Fim Do Mundo” é uma celebração da amizade construída através do amor à língua portuguesa. “A língua viaja pelo mundo e com ela também o amor à palavra, tão presente na plasticidade da língua portuguesa, em todos os continentes. Nesta iniciativa são apresentados dois momentos que têm em comum a fotografia de José Eduardo Agualusa.”

 

Efectivamente, A mostra homenageia claramente duas expressões artísticas: a literatura, obrigatória em Agualusa, e a fotografia, aliás expostas em sala distintas. Na primeira sala encontramos rostos de escritores lusófonos com as quais a objectiva de José Eduardo Agualusa se cruzou ao longo dos anos durante encontros literários nos quais o escritor participou. É a lusofonia com todo o seu peso: Inês Pedrosa, João Tordo, João Lopes Marques (Portugal); Tatiana Salem Levy, Fabrício Carpinejar (Brasil); Ana Paula Tavares, Kalaf Epalanga (Angola), Mia Couto, Ungulani Ba Ka Kossa, Paulina Chiziane (Moçambique); Luís Cardoso (Timor), são alguns deles. Na segunda sala, mais resguarda, as fotos da Ilha de Moçambique, a preto e branco acompanhadas por legendas poéticas, bem à maneira daquele pedaço de terra.      

 

Já antes, o amigo Mia Couto, havia tomado a palavra para dizer que conhecera o escritor angolano em Cabo Verde, há mais de 30 anos, por ocasião de um encontro de escritores. Mia, já nessa altura observou a originalidade de Agualusa na fotografia. “O Zé não tirava fotografias, como todos nós fazemos. Ele não fazia esse registo turístico, essa colecção de memórias que os visitantes habitualmente fazem. Ele fazia bem mais do que isso. O que ele espreitava naquela lente só ele é que podia ver. O Zé não fotografava, fazia fotografia, que é outra coisa.” E acrescentou: “Na imagem que o Zé fazia havia um mar que era mais feito de céu do que de água, havia uma terra que era mais feita de gente do que de chão. É muito curioso que este mesmo Zé regresse à fotografia a partir de outra ilha, que é a nossa Ilha de Moçambique. É como se ele nunca tivesse saído desse lugar de ilhéu, espantado a ver o mar.”

 

O escritor moçambicano vê ainda outra coisa em ‘O Mais belo Fim do Mundo’: “Há qualquer coisa nestas imagens que prolonga aquilo que ele faz, como se ele escrevesse agora com outra grafia, feita de luz e sombra. Não é por acaso que esta exposição tem o nome do título do seu último livro. Há aqui uma recreação nova da fronteira entre mar e céu, uma fronteira em que apenas os barcos, os peixes e os viajantes podem conhecer. Não são fotografias, são histórias, são declarações de amor à Yara, à Kianda, conversas secretas com os habitantes da Ilha. Estas fotografias precisam de ser lidas e não apenas vistas. Precisam de ser escutadas porque há aqui uma voz que anuncia esse lado de escritor que o Zé, quando fotografa, não revela aquilo que num primeiro olhar podemos ver.  Quase nunca revela o rosto de quem é fotografado. O escritor deixa essa função, de preenchimento do rosto, da feição, a quem está a ler o livro.”

 

Refira-se que ‘O Mais Belo Fim do Mundo”, estará patente, com entrada livre, até ao dia 12 de Fevereiro de 2022, excepto entre 18 de Dezembro e 15 de Janeiro, período em que o Centro se encontra encerrado para férias.

 

Amanhã, sexta-feira dia 3, no mesmo espaço, entre as 17h00 e as 19h00, irá decorrer uma venda de livros e sessão de autógrafos com a presença do autor.  (Carta)

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