Depois de um longo período de ausência por conta do avanço da pandemia do COVID-19, a época 2019-20 da Liga Inglesa regressa às telas dos telespectadores da SuperSport na DStv e GOtv com dois jogos em atraso na Quarta-feira, 17 de Junho de 2020.
O Arsenal desloca-se ao Etihad Stadium para enfrentar o Manchester City. Os Gunners entram no confronto em nono lugar na tabela classificativa (os líderes Liverpool tem mais do que o dobro de pontos), mas pretendem ganhar impulso depois de uma vitória por 1 x 0 sobre o West Ham United, rival de Londres, no último confronto antes da suspensão da liga.
Enquanto isso, o City encontra-se relativamente seguro no segundo lugar, mas espera conquistar os três pontos e garantir que o Liverpool não consiga garantir o título da Premier League na sua primeira partida frente ao Everton no próximo fim-de-semana.
A estrela argelina dos Citizens, Riyad Mahrez, espera que a equipe possa retomar ao ponto em que parou (cinco vitórias em seis partidas em todas as competições) quando a temporada foi suspensa:
"Acho que fomos bons [antes do intervalo]", explicou. "Eu não diria que estávamos no nosso auge, mas foi bom. Vamos treinar novamente e voltar porque parou para todos, não apenas para nós. Vai levar tempo para voltar e ser como antes, mas é o mesmo para todas as equipas. ”
A outra partida de reabertura do campeonato inglês nesta quarta-feira é um confronto importante para o Aston Villa, ameaçado de descida, que receberá o Sheffield United em Birmingham. Os Lions temiam uma descida para a 2ª liga, caso a temporada fosse cancelada, mas esse jogo oferece a oportunidade de subir até o 16º lugar.
"Acho que foi muito importante para todos os jogadores - era hora de voltar", disse o medio brasileiro do Aston Villa, Douglas Luiz. “Paramos por dois meses. É importante continuar novamente. É importante para nós jogadores voltar aos treinos e à nossa rotina. "
No entanto, os Blades, comandados pelo astuto treinador Chris Wilder, tem sido uma das equipas sensação da temporada e pode passar para o quinto lugar se somar os três pontos e garantir uma vaga na luta para a qualificação para a próxima edição da Liga Europa.
Não perca a conclusão da época de futebol de 2019-20 na DStv e GOtv.
Calendário de Jogos e detalhes de transmissão - 17 Junho 2020
Quarta-feira 17 de Junho
Aston Villa x Sheffield United – Em Directo no SuperSport Maximo 360, 19:00
Manchester City x Arsenal – Em Directo no SuperSport Maximo 1, 21:45
MobileCare, Pagalu e Zinwe são as três startups escolhidas pelo júri para representar Moçambique na final regional do Desafio de Inovação da SADC, em finais de Junho corrente. MobileCare, startup orientada para a prestação de serviços de seguro a custo reduzido, é vencedora na categoria acessos a serviços básicos.
A Pagalu é vencedora para a categoria identidade financeira digital e tem destaque por resolver um problema que envolve plataformas de pagamentos. Este serviço permite, entre outros aspectos, alcançar o conceito de “open banking”, banco aberto, ou sistema aberto de dados bancários, que é parte da tecnologia financeira, relativo a um conjunto de regras sobre o uso e partilha de dados/informações financeiras entre instituições.
Por sua vez, na categoria financiamento para Pequenas e Medias Empresas (PME's), destaca-se Zinwe, ideia de negócio que permite o crowdfunding, obtenção de capital para iniciativas de interesse colectivo, através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, que possibilita a ligação para investidores de PME's, no âmbito do acesso aos serviços financeiros.
Pela distinção nacional, as startups vencedoras receberão 1.000 USD, apoio de experts, através de sessões de business advisory e mentoria para estarem melhor preparadas para a final regional do desafio, onde poderão ganhar até 5.000 USD, e acesso a um programa de incubação internacional.
Tauanda Chare, fundador do MobileCare Insurance, expressou o seu agrado pela distinção e realça que a sua ligação é com África, pois, a MobileCare traz soluções para todos os mercados africanos, reduzindo a desigualdade no acesso a serviços de seguros, garantindo serviços de administração fúnebre digital e reduzindo a dívida induzida pela morte em famílias africanas.
A nível nacional, o Financial Sector Deepening Moçambique (FSDMoç) e a ideiaLab são as entidades responsáveis por implementar este desafio, e garantiram a formação dos participantes para aprimorarem as suas ideias de negócio e trazerem soluções significativas para África no seu todo.
Para Sara Fakir, Co-fundadora e Executive Catalyst da ideiaLab, “a experiência do Desafio de Inovação da SADC constituiu um enorme aprendizado para todos os participantes, incluindo para nós ideiaLab. Devido à conjuntura actual, vimo-nos obrigados a migrar o bootcamp para o mundo digital, e chegados à final nacional não podíamos estar mais felizes pelas soluções apresentadas e pelo feedback dos participantes, que para nós são todos vencedores.”
Recorda-se que, em Moçambique, 29 empreendedores foram seleccionados e, através de formações e sessões de mentoria, tiveram a oportunidade de melhorar os seus modelos de negócios. Com o apoio da ideiaLab, os jovens empreendedores receberam formação intensiva para desenvolverem os seus produtos e melhorarem a experiência dos seus usuários com base no perfil dos seus clientes, bem como para melhor estruturarem e apresentarem os seus negócios.
“Tivemos o privilégio de levar o Desafio de Inovação às finais do país e a grande final regional em um ambiente online ou virtual. A COVID-19 fez a busca por soluções que impactam e melhoram a vida das pessoas nos nossos países, tanto mais importantes na necessidade de relevância quanto aplicáveis ao nosso 'novo' ambiente”, afirma Robert Jones, Especialista em Inclusão Financeira da FinMark Trust (FMT), que liderou as competições no país e a mudança para um ambiente virtual.
O mesmo entusiasmo sobre a competição é partilhado por Esselina Macome, Directora-Geral do Financial Sector Deepening Moçambique, que pela relevância do desafio, tendo em conta os objectivos traçados, assegurou que o FSDMoç, acolheu de bom grado a iniciativa e vislumbra nas startups seleccionadas na final nacional uma oportunidade de trazer soluções inovadoras para África.(Carta)
“Cabo Delgado também é Moçambique” é o nome de uma campanha implementada por 500 jovens moçambicanos, que teve seu início esta segunda-feira e que se irá prolongar até à próxima quinta-feira, 17 de Junho.
Segundo Aly Caetano, Coordenador da campanha, a acção visa apoiar as vítimas dos ataques e deslocados da guerra que se vive na província de Cabo Delgado, promover a solidariedade nacional, criar uma plataforma de apoio às vítimas e despertar a solidariedade internacional. Sublinha que a ideia é criar uma única plataforma de canalização dos apoios às pessoas afectadas pelos ataques que, desde 2017, têm destruído vidas e sonhos.
Caetano disse que, a nível do país, existem brigadas de coordenação, assim como algumas associações internacionais. Referiu que os apoios estão a chegar e que pretendem fazê-los chegar a todos os centros de acomodação e distritos, onde se encontram os deslocados de guerra.
A campanha, que está a ser levada a cabo nas redes sociais, devido à pandemia da Covid-19, já vai na sua quarta edição e, de acordo com a fonte, está a ser bem recebida e desenvolvida, uma vez que o conflito já dizimou mais de mil pessoas, para além de ter criado mais de 250 deslocados.
Em conversa com a “Carta”, Caetano defendeu a necessidade de se melhorar a prestação de informação sobre Cabo Delgado e permitir que se crie uma plataforma conjunta com as Organizações da Sociedade Civil, de modo a se organizar e promover a transparência informativa sobre a real situação que se vive naquele ponto do país. (O.O.)
O Conselho de Administração da BIOFUND aprovou, nesta segunda-feira, um Plano de Emergência no valor de cerca de 3 milhões de USD para ajudar na mitigação dos impactos económicos provocados pela Covid-19 no sector da conservação.
O apoio destina-se à manutenção de 950 postos de trabalho, dos cerca de 1600 fiscais do sistema nacional das áreas de conservação, de modo a garantir a preservação da biodiversidade do país, numa altura em que os impactos económicos da pandemia da Covid-19 atingem seriamente o sector da conservação.
Segundo a BIOFUND, numa primeira fase, o fundo, não reembolsável, será disponibilizado a operadores de conservação privados para cobrir o pagamento de três a seis meses de salário aos fiscais, sendo que, adicionalmente, será disponibilizado outro fundo para cobrir os fiscais das áreas actualmente cobertas pelas receitas da Administração Nacional das Áreas de Conservação.
Na segunda fase, destaca a fonte, serão concessionados apoios reembolsáveis e não reembolsáveis para o pagamento de salários e outras formas de apoio às áreas de conservação.
Refira-se que o novo coronavírus afectou, no nosso país, significativamente as áreas do turismo, da restauração e hoteleira. De acordo com dados recentes, mais de 22.000 pessoas, que trabalham para entidades de recreação e turismo, perderam os seus empregos.
Entretanto, a BIOFUND sublinha que a redução de pessoal efectivo na linha da frente não pode ser opção para o Sistema Nacional das Áreas de Conservação, pois, sem o corpo de fiscais, o abate de espécies faunísticas ameaçadas e o corte ilegal de madeiras preciosas pode voltar a subir a níveis ainda mais altos do que os que conhecemos num passado recente. (Carta)
Volvidos mais três meses de ausência devido ao avanço da pandemia da COVID-19, as emoções da La Liga 2019-20 estão de volta às telas dos telespectadores da SuperSport na DStv e GOtv, com os jogos da 28ª rodada, que se estendem da quinta-feira, 11 de Maio à Domingo, 14 de Junho de 2020, sendo esta é uma excelente notícia para os subscritores da DStv e GOtv. A SuperSport é sua casa do futebol e o melhor lugar para ver toda a acção do mundo.
Os jogos serão disputados a porta fechada e haverá rigorosa adesão aos protocolos de higiene. O retorno do futebol na Espanha é um alívio para os fãs do 'bom futebol' que estão sedentos desde a interrupção de todas as principais ligas ao redor do mundo em março.
O primeiro jogo que marca este retorno é o derby de Sevilha também conhecido como o El Gran Derbi, que marca a visita do Real Betis ao Sevilha, no Estádio Ramon Sanchez Pizjuan, na noite de quinta-feira, 11 de junho.
As duas equipes estão experimentando momentos diferentes, enquanto os Los Nervionenses buscam garantir uma classificação entre os quatro primeiros e um lugar na Liga dos Campeões da UEFA na próxima temporada, os Los Verdiblancos tentam se colocar no meio da tabela e permanecerem à margem da tabela.
O Sevilha derrotou o Real Betis por 2-1 quando as equipes se encontraram no Estádio Benito Villamarin em novembro de 2019, com golos de Lucas Ocampos e Luuk de Jong. Concluir uma 'dobradinha' da La Liga sobre seus rivais odiados seria uma grande conquista para o técnico Julen Lopetegui, enquanto os torcedores africanos esperam ver o marroquino Youssef En-Nesyri continuar sua excelente forma.
Por outro lado, com o regresso da La Liga,a atenção volta para a disputa do título entre os líderes, e o actual campeão Barcelona e os caçadores mais próximos (dois pontos atrás), o Real Madrid. O Barça entrará em ação no sábado à noite, quando se deslocar ao Iberostar Estadi para enfrentar os candidatos a descida, o Maiorca, e tentar reivindicar uma vitória e pressionar o Real, que deve esperar até domingo à noite para responder com uma partida em casa contra o Eibar.
Outro jogo não menos importante, o Atlético de Madrid, abrirá a acção no domingo à tarde com um confronto de testes com o Athletic Bilbao no emblemático San Mames Barria. Os visitantes precisarão de três pontos para reviver seus esforços para terminar entre os quatro primeiros e garantir que retornem à Liga dos Campeões da UEFA na próxima temporada.
Nossos espectadores no DStv e no GOtv podem estar preparados para ver todas as suas estrelas favoritas do continente africano a dominarem os campos da La Liga em toda a Espanha!
Não perca a conclusão da temporada de futebol de 2019-20 na DStv e GOtv. Visite www.dstv.com e www.gotvafrica.com para se inscrever ou actualizar e junte-se à emoção. E enquanto estiver em movimento, você pode assistir aos jogos através do DStv Now.
Quadro de jogos
Quinta-feira, 11 Junho
22:00: Sevilla v Real Betis – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
Sexta-feira, 12 Junho
19:30: Granada v Getafe – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
22:00: Valencia v Levante – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
Sábado, 13 Junho
13:00: Espanyol v Deportivo Alaves – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
17:00: Celta Vigo v Villarreal – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
19:30: Leganes v Real Valladolid – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
22:00: Mallorca v Barcelona – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 e SuperSport Select 4
Domingo, 14 Junho
13:00: Athletic Bilbao v Atletico Madrid – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 and SuperSport Select 4
19:30: Real Madrid v Eibar – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 and SuperSport Select 4
22:00: Real Sociedad v Osasuna – Directo na SuperSport 7, SuperSport Maximo 1 and SuperSport Select 4
O Eugénio Lisboa faz hoje 90 anos (25 de Maio). É, indubitavelmente, uma das personagens marcantes no contexto da literatura moçambicana e portuguesa. Foi, no tempo anterior à Independência, uma das mais assertivas e viperinas vozes, das poucas, melhor dizendo, que campeavam no domínio da imprensa cultural e do cosmopolitismo que a então cidade de Lourenço Marques, de alguma forma, arremedava, e que valiam a pena cultivar.
Conheci-o na mesma ocasião em que a Noémia de Sousa me levou aos ombros do Rui Knopfli, nos corredores da Gulbenkian, em Fevereiro de 1989, aquando do mítico I Congresso de Escritores de Língua Portuguesa. Tinha, já na altura, uma imensa admiração pela sua língua afiadíssima. Lera-o, pela primeira vez, no prefácio, avinagradíssimo, que redigira para o Mangas Verdes com Sal do Knopfli. Dali para os dois volumes, em nome próprio, da Crónica dos Anos da Peste foi um passo. Isto num tempo em que ler, ou melhor, ater- se ao que um escol de antigos lourenço-marquinos debitara, quer em verso ou em prosa, poderia configurar crime de lesa-pátria. A revolução era disjuntiva e não permitia ter ou olhar ou praticar alguma “tolerância”, à falta de melhor termo, sobre essa época e as suas personagens.
Eu andava abduzido pela descoberta juvenil que fizera ao ler O Reino Submarino do Rui Knopfli e estava-me nas tintas para os ditames da revolução. Aliás, quando retornámos daquela viagem a Lisboa, na qual abraçámos, sem rebuços, o Knopfli, o Lisboa, a Glória de Sant´Anna, entre outros, redigi, nas páginas da Tempo, onde coordenava a “Gazeta”, o meu entusiasmado panegírico ao poeta de O País dos Outros. O Sérgio Vieira, que promovera um almoço para o rescaldo da viagem – fora o nosso chefe da comitiva – só não vociferou muito mais porque eu tinha o respaldo da Fátima Mendonça e a compreensão e cumplicidade do José Craveirinha.
Craveirinha nunca enjeitou estes velhos companheiros da tertúlia, pese embora, no final das contas, ele regressasse para o subúrbio, enquanto eles habitavam a Polana. E tive do mestre da Mafalala inúmeros depoimentos que satisfaziam a minha curiosidade, quase pueril, sobre esta geração. A Noémia, a quem o Lisboa dedica, no aludido prefácio, alguma mofina poética, não tinha por eles nenhum ressentimento. Aliás, ela compreendia a minha paixão knopfliliana e foi ela quem me levou a conhecê-lo. Malicioso, com um sorriso mefistofélico, este virou-se para o Lisboa e disse-lhe com ênfase: “Noémia de Sousa!”
Nesse mesmo ano, o Eugénio Lisboa foi a Moçambique, depois de se ter visto na contingência de abandonar o país onde nascera, nos tempos em que decorria uma revolução, um tempo em que ele classificaria como “verdadeiro vento de loucura destruidora”, nas páginas das suas vastas e saborosas e não menos avinagradas memórias Acta Est Fabula.
Ao ler estes volumes destas vastas memórias, percebi melhor aquelas ácidas palavras dedicadas aos tempos em que viveu “dias trágicos, em que se assistiu, impotente, à destruição vertiginosa de um país”. Não tenho nenhum embuço em reconhecer que o Lisboa, como tantos outros, viveram estas agruras e sobre eles se praticou alguma (muita) injustiça.
Alguns deles, e o Lisboa por certo, tinham a ciência de que a circunstância histórica iria alterar-se. E seria-o dramaticamente. Avulta, aliás, o poema “Winds of change”, do Knopfli. A impreparação com que os moçambicanos quitariam, historicamente, um novo país para governar, deveria assacar-se, no meu entendimento, ao regime colonial que manteve, obscura e relutantemente, um povo deseducado, impreparado e vocacionado para o improviso. O disparate seria óbvio. Não intuir isso, ou não compreender isso, é que me espanta ainda hoje. Como é que queriam que o fosse?
Não sou daqueles que ainda hoje querem determinar o nosso infortúnio encontrando subterfúgios no nosso passado colonial. Longe disso. Mas tenho para mim que manter um povo sem educá-lo, sem prepará-lo, sem cultivá-lo, sem promover uma elite culta e treinada não permite, por mágica, encontrar soluções que sejam ou estejam à altura das nossas melhores expectativas. Disto isto, sou até capaz de assentir no seguinte: não obstante, aquele primeiro governo estava ou tinha melhor preparação do que muitos ulteriores, não havia, contudo, na sociedade, uma base que o sustentasse. Dos ulteriores, furto-me aqui de dizer seja o que for.
Quando o Eugénio Lisboa revisita a “capital da memória”, como Maria de Lourdes Cortez haveria de designar a capital moçambicana, encontra uma nova geração de escritores, que está nos antípodas das certezas revolucionárias e fazem dele e de outros da sua geração e condição seus concidadãos no país das letras.
Foi nesta ocasião que o entrevistei para a revista Tempo e falámos, longamente, de quase tudo: o pai, que fora funcionário dos Correios, da sua infância, da ida para Portugal para cursar Engenharia, de Portalegre, o encontro com José Régio, o regresso, a Escola Industrial onde lecionou Electrotecnia e Mecânica, a colaboração no “Diário de Moçambique”, no “Paralelo 20” e, mais tarde, na “Voz de Moçambique”, publicações de onde iria resgatar textos que fariam parte do seu livro Crónica dos Anos da Peste, título sugerido pelo Rui Knopfli, a partir das “Crónicas dos anos da peste” que o Lisboa publicava então. Falámos do seu tempo na Beira, do “Notícias da Beira”, do Cine-Clube de Lourenço Marques onde se viam filmes marcantes, dos soviéticos Eisenstein ou Pudovkin, do polaco Wadja, entre outros. Falámos de Jorge de Sena. Da Associação dos Naturais de Moçambique. Abordei as polémicas com Alfredo Margarido ou Rodrigues Júnior. Quis saber mais sobre Caliban, Knopfli, Grabato Dias. Falámos do Rádio Clube e da memória do poeta Reinaldo Ferreira, que morreu a 30 de Junho de 1959. Nesse ano, Knopfli publicou O País dos Outros e começa a amizade entre ambos e do Eugénio com Carlos Adrião Rodrigues, um brilhante e culto advogado, que um dia disse uma das frases mais luminosas: “Craveirinha e Knopfli, o verso e anverso de uma poesia em evolução”. Cito-a de memória. Falámos da sua paixão pelo teatro, ele lembrou Sara Pinto Coelho, a mãe do meu saudoso amigo Carlos Pinto Coelho, que dirigia um programa de teatro no Rádio Clube, onde o Lisboa iria promover Racine, Régio, Montherlant, Ibsen. Falámos das suas empreitadas poéticas e do seu retorno a Moçambique, vastamente cartografado nas suas memórias.
Uma entrevista não dá para tudo, mas aquela é uma primeira arqueologia literária que eu estabelecia com ajuda de um dos protagonistas da cena literária no meu país antes do advento da independência. No volume III da Acta Es Fabula iria encontrar pormenores e detalhes que iriam satisfazer a minha gulosice pela nossa história literária. Craveirinha, disse-o, deu-me, nas nossas longas conversas, depoimentos inesquecíveis dessa fase. O Eugénio Lisboa escreveu páginas fascinantes sobre essa época. Sobretudo do seu magistério soberano. Tive o benefício de o ouvir, também, no contacto pessoal, muitas vezes. E sinto-me grato. Para sempre.
A primeira vez que fui a Londres foi a convite do King´s College por sugestão do Lisboa. O Hélder Macedo acolheu a ideia e aquela viagem, de 1992, foi marcante. Não apenas em termos literários. O Lisboa sugeriu-me um roteiro por museus e o Knopfli iniciou-me no jazz. Fui certa ocasião seu hóspede, como fora do Rui. Lembro-me sobretudo da sua mulher, Maria Antonieta, cuja morte, em 2016, está na origem de um livro dilacerante e desolador: o Epílogo da Acta Est Fabula. A sua mulher era de uma grande elegância. Nunca terei palavras para lhe agradecer a forma como me recebeu e me tratou em sua casa. Da sua empatia e simpatia sempre.
Quando organizei a reedição dos cadernos Caliban pedi-lhe, há 30 anos, colaboração, e o Eugénio foi prestimoso. Quando organizei a antologia da poesia moçambicana Nunca Mais é Sábado, pedi que ele a fosse apresentar. Discordou de mim nos critérios, criticou a presença de certos nomes, debitou o seu mítico vinagre. Não poderia ser de outro modo. Ali estava o Lisboa de sempre: desassombrado e espírito independente, viperino. Afinal, fora esse mesmo Lisboa que concitara o meu entusiasmo ao ler aquelas páginas lancinantes que precedem o belíssimo Mangas Verdes com Sal. Não concordei com ele, nem tinha que concordar. Cada um de nós tem a sua perspectiva histórica e cultural das coisas. Uma antologia, creio eu, não é apenas o escol dos prodigiosos. Cabem todos, sobretudo de uma nação em formação. Aliás, num texto que eu redigi sobre o Fonseca Amaral também discordei profundamente do Lisboa quanto ao papel das ciências exactas na grandeza da poesia. Creio que a poesia, a grande poesia, vem de outras galáxias. Mas hoje não me quero ater às minhas discordâncias com ele. Antes pelo contrário.
Diria dele o que ele disse do Alberto de Lacerda aquando da visita do poeta de Exílio a Moçambique nos anos 60: “Conversar com ele era um prazer interminável e inesgotável. Era prodigiosamente culto, assassinamente observador, genialmente parcial, guloso de literatura, de pintura, de música, de escultura e de liberdade. Era um dos poucos génios da arte de conversar, que até hoje conheci. Diz um provérbio qualquer que não se deve falar a não ser que, com isso, se faça melhor do que o silêncio. A conversa do Alberto melhorava extraordinariamente o silêncio.” Com o Lisboa é isto que acontece.
As conversas em Londres, nas poucas vezes que lá o visitei, em Maputo, sobretudo na casa do saudoso José Soares Martins, e foram algumas essas ocasiões, em Lisboa, na sua casa ou em casa do Rui Knopfli, são inesquecíveis. Falasse ele do Gide ou do Montherlant, dos seus gatos e dos filmes que vira, era sempre avassalador, brilhante, luminoso, espantoso.
Não o vejo há anos, mas tenho notícias dele, ou através da Fátima Mendonça ou do Álvaro Carmo Vaz, meu autor e amigo. Leio-o, sim. Não tenho aqui a sua obra ensaística, essa tenho-a em Moçambique. Leio as suas memórias e os seus diários. Continuo a ler com a mesma admiração e espanto com que o lia há décadas quando o descobri. Leio-lhe menos a poesia. Nesse domínio ele está menos protegido pelos deuses. Quanto ao mais, tem uma informada e sedutora escrita ensaística, exibe um aparato e uma erudição, a sua língua é sempre afiada, o que para mim é um tónico. Vivemos um tempo medíocre e é uma redenção ler o Eugénio Lisboa, que sempre cauterizou e com ele tenho aprendido a prosseguir este mesmo desígnio.
Cidade do Cabo, 25 de Maio de 2020