A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), que junta os bispos católicos do país, considera que o "esquecimento" da população de Cabo Delgado, norte do país, pelos poderes estatais é uma das causas do conflito armado na região.
"A causa de tanto sofrimento tem raízes profundas no tempo em que a população foi esquecida", refere a CEM, em nota pastoral divulgada ontem, após a primeira sessão ordinária do organismo.
A violência em Cabo Delgado está a infligir "atrocidades" às populações perante a incapacidade do Governo moçambicano de travar a ação dos grupos armados que protagonizam ataques na província, observa a CEM.
"Os nossos corações estão cheios de tristeza por saber de tantas atrocidades que se praticam na vossa província", afirmam os bispos católicos moçambicanos.
A violência em Cabo Delgado está a obrigar crianças a andarem no mato e a procurar refúgio fora de casa, sem comida nem nenhum meio de subsistência e com o coração amargurado, assinalam.
A CEM enaltece a solidariedade de muitas famílias que vivem em zonas seguras, que chegam a acolher nas suas casas mais de 20 pessoas obrigadas a fugir do conflito armado na província de Cabo Delgado.
"Este acolhimento generoso por parte da população, que por vezes não tem recursos suficientes para ela mesma, ensina-nos o que significa amor e solidariedade, chama atenção e nos impele a participar neste dever de ajudar quem como vós está em tão grande necessidade", lê-se na carta pastoral.
A CEM avança que está empenhada em mobilizar ajuda dentro e fora do país para a assistência humanitária às vítimas da violência armada na província de Cabo Delgado.
Na nota, os religiosos elogiam o bispo de Pemba, capita de Cabo Delgado, Luiz Fernando Lisboa, pelo seu constante alerta para a difícil situação em que vivem as populações da província, devido ao conflito armado.
Cabo Delgado, província moçambicana onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 211 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.(Lusa)
Moçambique já conta com oito casos de internamento, devido à infecção pelo novo coronavírus. De acordo com as autoridades sanitárias, de terça para quarta-feira, houve registo de mais seis internamentos nos hospitais nacionais, sendo que um se encontra a receber Cuidados Intensivos por estar numa situação crítica.
Segundo a Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, quatro pessoas estão internadas na cidade de Nampula, três na cidade de Maputo e uma na província de Sofala.
Na conferência de imprensa desta quarta-feira, Marlene informou que o país registou mais 13 casos positivos de infecção pelo novo coronavírus, totalizando um cumulativo de 651 casos positivos, desde a eclosão da doença em Março último. Os casos detectados resultaram do rastreio de contactos e da vigilância activa nas unidades sanitárias.
Dos 13 infectados, um está na província de Cabo Delgado, oito na província de Nampula, três na província de Maputo e um na cidade de Maputo. Destes, sete são do sexo masculino e entre eles há um menor de idade e dois idosos. Todos estão em isolamento domiciliar.
Rosa Marlene disse ainda que as autoridades da saúde registaram, de terça para quarta-feira, mais nove casos totalmente recuperados de Covid-19, sendo que seis estão na província de Cabo Delgado, dois na província de Sofala e um na província de Maputo. Todos são moçambicanos e, destes, cinco são do sexo masculino. Assim, o país já conta com 169 pessoas recuperadas da doença. (Marta Afonso)
Apenas 39% da população moçambicana conhece os sintomas do novo coronavírus. Os dados foram fornecidos, esta quarta-feira, pelo Director de Informação do Instituto Nacional de Saúde (INS), Rufino Carlos Gujamo, durante a Conferência Científica sobre a Covid-19 em Moçambique, organizada por aquela instituição pública.
Gujamo, que falava sobre o “Impacto da comunicação na resposta à Covid-19 em Moçambique”, explicou que os dados foram constatados durante um estudo realizado pelo telefone em todas as províncias do país, entre os finais do mês de Maio e princípio do mês de Junho, no qual descobriu-se ainda que no meio rural há menor conhecimento sobre a doença que no urbano.
O estudo, realizado em quatro línguas (Emakhuwa, Xichangana, Xisena, Português), revelou também que os indivíduos mais privilegiados têm mais conhecimento sobre os sintomas da doença, sobretudo, os residentes na zona urbana, com idades compreendidas entre 25 e 34 anos de idade.
“Relativamente ao conhecimento sobre a Covid-19, foi constatado que 64% das pessoas conhecem ou sabem algo sobre os sintomas, 52% sabem o que fazer em caso de registo de sintomatologia. Entretanto, temos uma redução significativa para cerca de 39% das pessoas que têm conhecimento sobre os sintomas e, simultaneamente, o que fazer em caso de registo de sintomas”, explicou a fonte.
Segundo o Director de Informação do INS, a pesquisa revelou também que 40% da população não tem menor conhecimento sobre a lavagem das mãos, utilização da máscara e distanciamento social.
De acordo com Gujamo, a pesquisa recomenda a necessidade de se focar no meio urbano e na população de baixa renda, pois, o cenário é mais crítico neste grupo, pelo que é importante pensar nas estratégias que possam ir de encontro com esta camada. Disse ainda ser necessário maximizar-se as oportunidades que as tecnologias de informação fornecem para a disseminação da informação.
“Deve-se pensar no meio rural, nas suas características próprias e recursos disponíveis. É necessário pensar em soluções mais criativas para fazer chegar a informação a essas populações e aí a Rádio Comunitária deve ser maximizada na sua utilização, veiculando conteúdos em várias línguas. No meio urbano devem ser maximizadas as plataformas digitais”, defendeu Gujamo.
Por seu turno, Anabela Massingue, jornalista da Sociedade do Notícias, falou da necessidade de se aproveitar o privilégio concedido pelas Tecnologias de Informação porque esta doença veio ensinar que o futuro está nos meios de comunicação. Só eles podem ajudar na preparação da sociedade moçambicana e na divulgação de assuntos relacionados à doença. (Marta Afonso)
Depois de, na semana finda, terem sido apreendidos, no Posto de Fiscalização de Dondo, 13 camiões, transportando diversas espécies de madeira ilegal, neste domingo, o Comité de Gestão de Recursos Naturais (CGRN) da região de Manejo, no distrito de Marínguè, província de Sofala, apreenderam mais um camião carregado de madeira ilegal, da espécie “panga-panga”.
De acordo com o Presidente do CGRN, Lamisane Mainato, a operação foi realizada pelos fiscais baseados naquela região, depois de o condutor do camião não ter apresentado os documentos da madeira que transportava. A fonte explicou que os fiscais arrastaram o camião até ao Posto de Fiscalização de Nhamapadza, porém, chegando ao local, o motorista do veículo colocou-se em fuga, deixando para trás três comparsas seus que se encontram detidos.
Segundo Mainato, foi destacada uma equipa dos Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAE) de Marínguè para fazer a cubicagem dos toros apreendidos para posteriores procedimentos. O contrabando de madeira aparentemente havia sido estancado no país, porém, aos poucos a narrativa vem desmoronando, devido a situações que se assistem em Cabo Delgado, Zambézia, Manica, Tete e Sofala. (Carta)
“Do el dorado do gás ao caos – quando a França empurra Moçambique para a armadilha do gás” é o título do mais recente relatório lançado pela organização “Amigos da Terra Internacional”, que aborda várias matérias sobre a situação de Cabo Delgado.
O documento, de 38 páginas, defende, entre outros pontos, que “a prioridade do exército não é proteger as populações civis”. Segundo o estudo, “enquanto os ataques dos insurgentes forçam os habitantes da região de Cabo Delgado a deixar os seus lares, as comunidades concentradas em torno da Península de Afungi receiam fugir das suas aldeias, com medo que a Total ou um dos seus sub-empreiteiros aproveite a sua ausência para se apoderar das suas terras. Foi isso mesmo que aconteceu na aldeia Milamba, aquando de um ataque em Janeiro de 2019, perto de Maganja, a 7 Km do Parque de Afungi”.
De acordo com os pesquisadores, no referido ataque, em que não foram mobilizados soldados, com o argumento de que estes estavam encarregues de proteger as instalações de exploração de gás, a comunidade fugiu para Palma e a empresa Portuguesa BTP Gabriel Couto, contratada pela Anadarko (depois Total), aproveitou a oportunidade para tomar posse das terras e começar as obras de construção do aeródromo.
Para os “Amigos da Terra Internacional”, “quase todos os campos militares identificados pela Justiça Ambiental ficam perto das terras alocadas as dos agentes contratados pela Total – o que demonstra bem que o exército moçambicano dá prioridade à protecção das populações. Nada de novo, uma vez que uma parte dos salários das forças especiais é paga pelas grandes empresas de exploração de gás”.
De acordo com a organização, as Forças especiais moçambicanas não só são omnipresentes em torno da península de Afungi, mas também garantem a protecção dos representantes das empresas que se reúnem com as comunidades – presença essa que as populações entendem como forma de intimidação para evitar que expressem as suas preocupações. Com a aceleração dos ataques, o exército moçambicano recrutou um número maciço de jovens soldados que enviou para Cabo Delgado sem qualquer formação, mas dotados de uma forte sensação de poder.
A organização avança que os soldados não são pagos atempadamente nem providos dos devidos abastecimentos alimentares, observou-se que as populações civis já foram vítimas de vários roubos. As mulheres estão especialmente em risco, ameaçadas, por um lado, pelos grupos insurgentes – registaram-se vários casos de rapto – e, por outro, pelo exército – muitas foram vítimas de abusos sexuais por parte dos soldados, mas têm medo de denunciá-los. (Carta)
Moçambique registou mais um óbito por coronavírus, aumentando para quatro o número total de vítimas mortais, desde o diagnóstico do primeiro caso no país, em Março último. A vítima mortal é um menor de seis anos de idade, que esteve internado nos Cuidados Intensivos do Hospital Central de Nampula, no dia 21 de Maio, com sintomas de insuficiência cardíaca.
Segundo a Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, o doente veio transferido do distrito de Mogovolas e a amostra para o teste de Covid-19 foi colhida no dia 26 de Maio, sendo que o resultado foi reportado como positivo no dia 30. Após o tratamento e avaliação clínica, explica a Marlene, a criança teve alta no dia 02 de Junho (terça-feira da semana passada) com recomendação para segmento em ambulatório, porém, acabou perdendo a vida nesta terça-feira (16 de Junho), no seu domicílio.
Na conferência de imprensa concedida esta terça-feira, a Directora Nacional de Saúde Pública revelou ainda o registo de mais 29 casos positivos, que resultaram de 682 testes, aumentando para 638, o número total de casos, sendo que 576 são de transmissão local e 62 importados, sobretudo da vizinha África do Sul.
De acordo com Rosa Marlene, os cidadãos diagnosticados de segunda para terça-feira são moçambicanos, sendo que um está no distrito de Cuamba, província do Niassa; dois na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado; 14 na cidade de Nampula, província de Nampula; três na província de Tete; cinco na província de Maputo; e quatro na cidade de Maputo. Destes, 18 são do sexo masculino, havendo também três menores de 14 anos de idade e quatro de cidadãos com mais de 65 anos de idade.
Segundo a Directora Nacional de Saúde Pública, os casos resultam da vigilância activa e do rastreio de contactos e os pacientes encontram-se todos em isolamento domiciliar.
Entretanto, para além do óbito e os 29 casos diagnosticados, as autoridades da saúde registaram de segunda para terça-feira mais três recuperados, sendo que dois encontram-se na província da Zambézia e um na província de Tete. Todos são moçambicanos (duas mulheres e um homem) e elevam para 160 o número total de recuperados no território nacional.
Referir que até esta terça-feira o país contava com 470 casos activos, sendo que 201 estão na província de Nampula e 106 na província de Cabo Delgado. Assim sendo, as duas províncias são responsáveis por 307 casos ainda activos no país. (Marta Afonso)