A Amnistia Internacional (AI) voltou hoje a acusar os grupos armados que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado e as forças governamentais moçambicanas de violações dos direitos humanos na província do norte de Moçambique.
"Centenas de civis foram mortos ilegalmente em Moçambique pelo grupo armado conhecido localmente como ‘Al-Shabab', pelas forças de segurança governamentais e por uma empresa militar privada contratada pelo Governo", referiu a organização não-governamental (ONG), num novo relatório sobre o conflito armado no norte de Moçambique.
O relatório, intitulado "O que Vi foi a Morte: Crimes de guerra no Cabo Esquecido", é baseado em entrevistas com 79 deslocados de 15 comunidades afetadas pelo conflito desde março do ano passado, período em que os rebeldes protagonizaram um grande ataque à sede da vila de Mocímboa da Praia.
Embora nunca tenha oficialmente confirmado, segundo a Amnistia Internacional, o Governo moçambicano terá contratado a "Dyck Advisory Group" (DAG), uma empresa militar privada sul-africana, para fazer face às incursões dos grupos armados.
"Os operacionais da DAG dispararam metralhadoras dos helicópteros, lançaram granadas de mão indiscriminadamente contra multidões e dispararam também repetidamente contra infraestruturas civis, incluindo hospitais, escolas e habitações", referiu a organização, citando 53 testemunhas.
"Os residentes de Cabo Delgado estão encurralados entre as forças de segurança moçambicanas, as milícias privadas que estão a lutar ao lado do Governo e o grupo de oposição armada conhecido localmente como 'Al-Shabab’", comentou Deprose Muchena, diretor da AI para a África Oriental e Austral, acusando as três partes cometeram "crimes de guerra, causando a morte de centenas de civis".
A ONG de defesa dos direitos humanos apontou, a título de exemplo, um vídeo que circulou em setembro mostrando homens com fardas militares a espancarem uma mulher que caminhava sozinha, nua, e que depois acabam por abater pelas costas, enquanto fugia, com várias rajadas de metralhadora.
No caso, o Governo defendeu sempre que as imagens tinham sido "fabricadas" pelos insurgentes, considerando que as pessoas que aparecem no vídeo não são das Forças Armadas moçambicanas.
A organização pediu que o Governo investigue urgentemente os alegados "crimes de guerra", alertando que as autoridades não estão a conseguir garantir a segurança dos cidadãos naquela região.
"A Amnistia Internacional apresentou anteriormente provas de tentativas de decapitação, tortura e outros maus-tratos de prisioneiros, o desmembramento de alegados combatentes do 'Al-Shabab', possíveis execuções extrajudiciais, e o transporte e descarte de um grande número de cadáveres em aparentes valas comuns", acrescentou a AI.
A violência armada na província do norte de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.
A violência surgiu em 2017, algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico depois de 2019, mas a origem dos ataques continua sob debate.(Lusa)
Três pessoas perderam a vida e outras ficaram feridas, em resultado de um ataque terrorista levado a cabo pelos insurgentes à sede da Localidade de Quirinde, localizada no Posto Administrativo de Quionga, no distrito de Palma, norte da província de Cabo Delgado.
De acordo com as fontes, o ataque teve lugar na última sexta-feira passada, tendo causado uma nova avalanche de deslocados, que procuram abrigo junto de seus familiares, residentes na vila-sede daquele distrito.
Refira-se que no passado dia 19, também sexta-feira, o grupo terrorista atacou a sede do Posto Administrativo de Quionga, junto à fronteira com a Tanzânia, tendo matado quatro pessoas. Aliás, as fontes acreditam que seja o mesmo grupo que tenha atacado Quirinde.
Sublinhar que o ataque ocorrido no distrito de na aldeia Luneke, a 10 Km da vila-sede do distrito de Nangade, causou a morte de quatro pessoas, de acordo com as nossas fontes. (Carta)
O julgamento de 12 iranianos acusados pela justiça moçambicana de terrorismo, inicialmente marcado para quinta-feira, foi adiado, devido à falta de tradutor, disse hoje à Lusa fonte do Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado, norte do país. A mesma fonte avançou que os 12 cidadãos do Irão falam persa e só podem ser julgados na presença de um tradutor, porque as audiências são dirigidas em português.
Em finais do ano passado, o Ministério Público moçambicano acusou os 12 iranianos de apoiarem os grupos rebeldes em Cabo Delgado, norte do país, mantendo-os em prisão preventiva. O grupo foi detido em dezembro de 2019, numa embarcação carregada de armas ao largo da baía de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.
O Ministério Público acusa-os de terrorismo, associação para delinquir, porte de armas proibidas e crime de organização contra o Estado, ordem e tranquilidade públicas, segundo informação citada hoje pela Rádio Moçambique. Aos arguidos é também imputado o crime de tráfico de droga, porque foram encontrados na posse de uma tonelada de heroína.
De acordo com a argumentação do caso, os 12 iranianos pertencem a uma organização terrorista e iam abastecer com armas e munições os insurgentes que têm atormentado a região. O grupo transportava na embarcação metralhadoras AK47, caçadeiras, pistolas e munições, binóculos, uma motorizada e um cartão de crédito.
A violência armada na província nortenha de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, já provocou 670 mil deslocados, anunciaram as Nações Unidas na mais recente atualização de dados compilados pelas agências humanitárias. Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019. (Lusa)
O grupo terrorista, que semeia luto e dor em alguns distritos da província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, estão cada vez mais próximos da vila-sede do distrito de Nangade. Na manhã desta quinta-feira, o grupo atacou a aldeia de Luneke, que se localiza a cerca de 10 Km daquela sede distrital.
As fontes não reportaram o tipo de dano (humano e/ou material) que a ofensiva tenha causado, mas garantem que já se observa uma avalanche de pessoas a abandonarem aquela aldeia e outras circunvizinhas com destino à vila-sede do distrito de Nangade.
Aliás, na passada terça-feira, os terroristas raptaram, na aldeia Mitope, em Nangade, seis civis (três homens e igual número de mulheres), tendo decapitado todos os homens. As vítimas, contam as fontes, regressavam das suas machambas.
Refira-se que o ambiente de insegurança, que continua a verificar-se na região, levou as Forças de Defesa e Segurança (FDS) a cancelarem as escoltas militares que garantiam o abastecimento logístico à vila-sede do distrito de Palma. Depois de uma longa espera, os camiões carregados de alimentos acabaram sendo encaminhados ao distrito de Mueda. (Carta)
Numa estória com contornos de insubordinação e desobediência no cumprimento das ordens emanadas pelo Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS), a Polícia da República de Moçambique (PRM) deteve, há dias, na província de Nampula, um ex-membro do grupo terrorista (que actua na província de Cabo Delgado), que ter-se-ia rendido às autoridades em Janeiro último, no âmbito do perdão anunciado pelo Chefe de Estado aos jovens recrutados para integrar o grupo.
Trata-se de Momade Amir, de 36 anos de idade, que ministrava aulas de Educação Física na Escola Secundária de Namitoria, distrito de Angoche, zona costeira da província de Nampula, que se rendeu às autoridades em Janeiro deste ano, após ter integrado aquele grupo em Março de 2020.
Aquando da sua entrega, lembre-se, os Comandantes Provinciais da PRM de Nampula e Cabo Delgado apresentaram o ex-terrorista à comunidade, tendo garantido que o mesmo voltaria ao convívio familiar, pois, gozava do perdão do Comandante-em-Chefe das FDS.
Lembre-se que Filipe Jacinto Nyusi prometeu, no passado dia 11 de Janeiro, no seu regresso da Tanzânia – onde efectuara uma visita de trabalho a convite do seu homólogo, John Magufuli, para discutir a situação dos ataques terroristas em Cabo Delgado – perdoar os jovens moçambicanos recrutados pelos terroristas, caso mostrem o seu arrependimento pelos crimes cometidos.
Entretanto, o “perdão” de Momade Amir durou poucos dias. De acordo com fontes familiares, Amir terá desaparecido misteriosamente da comunidade, tendo causado preocupação junto da população que chegou a pensar que o mesmo tinha regressado às fileiras dos terroristas. Mas, não.
Segundo Zacarias Nacute, porta-voz da PRM, em Nampula, o indivíduo foi “neutralizado” pela Polícia e “devolvido” à província de Cabo Delgado para, alegadamente, dar lugar a investigações, tendo em conta que é o ponto onde têm acontecido os ataques terroristas”.
A fonte garantiu que a família terá sido notificada sobre o paradeiro do seu ente-querido. “A família foi notificada. Eles já devem saber que todos os trâmites legais serão levados a cabo para a responsabilização dos actos cometidos e foi informada que o caso seria tratado em Cabo Delgado”, confirmou Nacute. (Carta)
O grupo terrorista, que semeia dor e luto nos distritos da zona centro e norte da província de Cabo Delgado, atacou, na manhã da última terça-feira, uma posição das Forças de Defesa e Segurança (FDS), “estacionada” na localidade de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, tendo saqueado diferentes produtos alimentares e diverso equipamento militar. De acordo com as fontes, não houve vítimas mortais, contabilizando-se apenas um ferido (membro das FDS).
Ainda no mesmo dia, os terroristas atacaram a aldeia Namili, no distrito de Mocímboa da Praia. Aqui também não há relato de vítimas mortais, apenas de saque de produtos alimentares da população. Fontes locais garantem que esta era a única aldeia habitada naquela região do país, cuja vila-sede está sob controlo dos insurgentes desde Agosto de 2020.
Sobreviventes relatam situações de fome nas bases dos insurgentes
Fontes da “Carta” garantem que o controlo do abastecimento logístico dos insurgentes, por parte das FDS, está a criar bolsas de fome nas bases do grupo terroristas, originando novos ataques às posições das FDS e às aldeias que continuam “intactos” nos distritos mais afectados pela insurgência.
Aliás, três raparigas que fugiram de uma das bases dos insurgentes contaram à “Carta” haver fome severa nas bases destes, havendo dias em que se passa apenas uma refeição e outros em que as panelas sequer chegam a ser colocadas no lume.
Referir que o vice-Chefe do Estado Maior-General da Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Bertolino Capitine, disse, há dias, parafraseando o ex-Chefe do Estado Maior-General das FADM, Eugénio Mussa, falecido no passado dia 08 de Fevereiro, ter chegado a hora de se destruir os “contra-pátria”, pois, “já existe o material necessário para que a grande festa ocorra”. (Carta)