A primeira vez que apareceu escrito em forma de lei, O Direito, foi no Código de Hamurabi – de onde a lei do talião foi a mais famosa do código.
Para muitos, Elias Dhlakama é apenas irmão de Afonso, também Dhlakama, o falecido líder da RENAMO. É uma irmandade despoletada em forma de propaganda política da FRELIMO e de Filipe Nyusi quando, só em 2015, Elias foi promovido a dois cargos de relevo nas Efe-A-Dê-Eme: em Fevereiro, promovido a comandante do comando de reservistas e, em Setembro, promovido da patente de coronel para brigadeiro. De resto, foram duas cerimónias pomposas e mediáticas vistas por alguns analistas como arranjo de cavalheiros. Golpe político.
Fora isso, Elias não passa de um profeta bíblico que significa "Jeová é meu Deus" que tenta a todo custo infiltrar-se e benzer a RENAMO. Elias não passa de uma menina mimada que não ajuda a escolher o feijão, nem a acender e a soprar o fogão, mas que aparece, fazendo aquele sorriso administrativo, na hora de comer.
As pessoas perguntam onde andava o Elias quando o Afonso era perseguido e emboscado? Onde andava o Elias quando o Bissopo era atacado e espancado? Onde andava o Elias quando o Ossufo era seviciado? Onde andava o Elias quando a Ivone (sua legítima sobrinha) era ameaçada de morte (graças à arma que encravou)? De que lado estava o brigadeiro Elias Dhlakama quando o deputado Armindo Milaco dava o peito às balas da ofensiva do regime?
Elias Dhlakama pode até concorrer à presidência da RENAMO em Janeiro, mas para granjear simpatias, dentro e fora do grupo, tem de comer muito feijão, como se diz por aqui. O atual contexto político do país requer da RENAMO um líder que conhece e que seja conhecido nas duas hostes: a militar e a diplomática. Mais do que conhecido que seja reconhecido. Um militante de peito aberto. Um peito sem colete a prova de balas. Ao Elias, eu só olho. É uma missão penosa. Não será fácil convencer e vencer em 45 dias que restam. Não é fácil apagar a ideia de que Elias estava desde 1992 nas Efe-A-Dê-Eme comendo a vida com a colher grande. O difícil mesmo é comparar-se ao seu falecido irmão Afonso que preferiu morrer na selva da Gorongosa a viver refastelado na capital às custas do Estado, tudo em nome da democracia e do povo. Enfim, o que os membros da RENAMO querem hoje é um líder que não morreu ontem por mera sorte. Não querem apelidos, muito menos carreira militar formal. Quando precisamos de sal não adianta trazer açúcar, diz o ditado.
- Co'licença!
Publicado em 03-12-2018
*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!
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No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.
Ontem, para lograr entrar em Palma, os “insurgentes” usaram uma tática. Bloquearam o cruzamento de Pundanhar para impedir que as FDS se reforçassem com tropa instalada em Mueda e atacaram a aldeia de Manguna. Porquê Manguna? Porque daqui o único sentido de refúgio da população seria correr em debandada para Palma. Desde há uns meses que Palma é quase que uma vila e sitiada – e só entra lá quem tenha consigo uma espécie de “guia de marcha”. Com tiros no ar e gente em fuga, esses procedimentos são letra morta.
Foi justamente isso que aconteceu. Por volta das 16 horas, os atacados de Manguna estavam a chegar a Palma com suas trouxas. Era uma situação de emergência...Devido ao ataque, as FSD foram mobilizadas para Manguna, deixando Palma de portas abertas e com proteção diminuída. Os terroristas tinham-se infiltrado no seio dos fugitivos de Manguna, entrando também em Palma com suas mochilas armadas. Dentro de Palma, abriram as mochilas, sacaram das armas e desataram a atacar alvos militares e civis.
O centro dos combates localizou-se na zona da Igreja Católica. Desconhece-se ainda a magnitude dos danos e perdas humanas e de um propalado ataque ao balcão do BCI. Ontem, por volta das 16 horas, a rede da Vodacom foi cortada. Tudo feito milimetricamente. Houve disparos contra a uma avioneta que descia para o aeródromo local.
Hoje, por volta das 10 horas da manhã, quem estivesse refugiado no principal hotel da cidade (que possui um heliporto) podia ouvir tiros dispersos. Estima-se que pouco mais de 100 terroristas estiveram envolvidos neste ataque, cujas características mostram que foi planeado com muita antecedência e... inteligência militar.
Os mercenários da DAG foram envolvidos nos combates, lançando bombas contra os terroristas. Hoje, um helicóptero da DAG, de 6 lugares, começou a evacuar as cerca de 200 pessoas que receberam a guarda do referido hotel para o acampamento da Total em Afungi. São os expatriados quem tem acesso aos voos, mas também moçambicanos funcionários da banca. Esta tarde, o exército mandou reforços de Maputo para Palma, incluindo fuzileiros navais. Carta obteve estes detalhes de várias fontes. (M. Mosse)
É do conhecimento de que “tempo é dinheiro” e por isso é também sabido de que é necessário “correr para ganhar tempo”. Neste entendimento, aposto que quem tenha ganho mais tempo terá tirado mais vantagens para lograr os seus objectivos pessoais e até corporativos. Concorda? Eu concordo e faz muito sentido. Aliás, e para citar um exemplo corriqueiro, a ambulância quanto menos tempo perde no trânsito, mais tempo sobra para salvar o doente. Contudo, e como não há bela sem senão, também discordo e acho que o princípio não faz nenhum sentido quando o assunto são os governantes da Pérola do Índico. Já explico e vou ser breve porque preciso de ganhar tempo antes das 13 horas.
Desde que me conheço noto que os nossos governantes ganham muito tempo, tanto em afazeres do serviço como nos da vida privada. Por exemplo, e é só um cheirinho: eles não esperam; não ficam na fila; não “respeitam” os sinais de trânsito; nada começa sem a presença deles ( os outros que se atrasem ou gastem o tempo); e também nada acaba sem a saída deles. Alguém pode justificar de que este comportamento não é dos dirigentes, mas uma exigência do Protocolo do Estado. Tudo bem e acredito que o Protocolo do Estado tenha sido concebido no espírito de que “tempo é dinheiro” e de que os nossos dirigentes precisam de “correr para ganhar tempo” e assim poderem resolverem os problemas que apoquentam o povo que são muito e corpulentos. .
Dito isto, reitero que o princípio faz muito sentido, sobretudo em países subdesenvolvidos como o caso de Moçambique, justificando assim que os seus dirigentes precisem de mais tempo face aos problemas dos respectivos países. No entanto, infelizmente, e para fechar, também reitero que discordo e que o princípio não faz nenhum sentido, pois o tempo que é ganho (e que não é pouco) pelos dirigentes da Pérola do Índico não tem surtido o efeito (de desenvolvimento) desejado para o país. E isto, é caso para dizer: tempo ganho em vão!
PS: Aproveito a deixa do texto e partilho em seguida uma preocupação de uma amiga ocidental: ela não compreende como a África (Moçambique) é atrasada se no compasso da dança, o africano (moçambicano) acompanha sempre os passos no tempo certo da música. Talvez esteja aqui uma saída para o problema do “tempo ganho em vão”, pois não são mais ou menos minutos da música que são determinantes para o passo certo, mas sim que o passo seja (e bem) feito no tempo certo.
"Antes de ser um excelente profissional seja um bom ser humano" – Andreia Lecathy
Escrevo esta missiva numa altura em que a humanidade está diante de mais uma guerra mundial. Uma guerra bacteriana que está atacando a todas e a todos. Que mata sem piedade. Explode com a insanidade e alimenta a desumanidade. A Covid-19! Está a despir todos os sistemas de saúde.
As camas hospitalares já não chegam para os pacientes que a cada minuto e dia tendem aumentar e alguns morrem nas filas de hospitais ou à procura de oxigênio. Todos os dias famílias conhecidas e anónimas choram por um ou mais entes queridos "assassinados pelos canhões da Covid-19"… Precisamos ser conscientes para combater este inimigo comum.
Os médicos, os nossos anjos fiéis, soldados valentes. Com parcos recursos combatem dia e noite na linha do tiro. Travam batalhas épicas contra o maior aliado do anjo da morte da actualidade – a Covid-19. A grande esperança é salvar vidas, mas algumas se vão pela escassez de medicamentos, intensidade de actuação do vírus no organismo ou mesmo por chegada tardia nos locais de internamento e automedicação!
Os dias são difíceis. A incerteza de viver mais um dia agudiza-se. As condições de trabalho são milandrosas. A busca pela salvação de vidas, acaba terminando na contaminação de quem procura arduamente tirar os estilhaços do vírus do corpo dos infectados. Cuja algumas infecções ocorreram devido a estupidez humana, em não acreditar que a Covid-19 existe e mata.
Numa guerra como esta e sem fronteiras, os nossos maiores protectores são os médicos e outros trabalhadores do sector de saúde que dia e noite arriscam suas vidas para salvar as outras. Vê colegas tombarem nas matas hospitalares, mas mesmo assim não desistem. O "direito à vida" é o primeiro e universal, salvar vidas a cada dia é uma missão divina e da humanidade irreversível, irrecusável e filantrópica.
Os profissionais de saúde são na sua maioria, os mais altruístas, filantrópicos e empáticos do mundo, porque ajudam todos sem olhar a sua proveniência, cor da pele, partidária ou condição financeira – o importante é salvar vidas! Embora em certos momentos, a missão acaba sendo confundida por alguns com outros papéis nocivos a sociedade, como a corrupção, nepotismo e ligações com redes suciosas que alimentam o mercado negro do sector de saúde.
A Covid-19 despiu o sistema de saúde e as políticas de um sector que carece de reformas e investimentos em todos os países em que os dirigentes passaram anos renegado o seu papel na sociedade porque viajavam para outros países, onde gastavam para seu o plano de saúde e da família, o valor de um Posto de saúde organizado, condigno e em óptimas condições para servir uma comunidade.
"Depois" que a Covid-19 abrandar ou ser derrotada, o prémio nobel da paz deverá ser atribuído a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou para alguém da classe, em representação de todos aqueles que sem provas de balas combateram abnegadamente nesta guerra mundial que eclodiu em Wuhan, na China em 2019 e infelizmente acabou se espalhando pelo mundo inteiro.
Os médicos derrotaram os profetas e negacionistas que nos últimos tempos alimentavam suas contas com promessas de curas de tudo até de resistir a morte. A pandemia demonstrou que os profissionais de saúde devem ser equipados como um exército devidamente treinado. Devem ser reconhecidos em todos aspectos sociais, culturais e económicos.
A Covid-19 provou que não existe uma vida mais valiosa que a outra. Que a maior conquista de um governo é a protecção da vida dos seus concidadãos perante uma invasão de um inimigo letal como a Covid-19.
As lutas travadas pelos médicos do meu país e do mundo merecem ser exaltadas e reconhecidas. Os médicos, enfermeiros, serventes e outros trabalhadores do sector da saúde são os nossos anjos fiéis e verdadeiros cultores da paz, não é por acaso que as cores de uniformes usadas por eles sejam brancas, azuis e verdes.
Ode aos nossos anjos fiéis!
Imperium magistratus valorem sanitas operarios samariam et obsidebat eam[2].
Sempre que venho cá fora, nos últimos dias, a sensação de que vivo no paraíso avoluma-se. Cada um tem o seu paraíso, ou o seu inferno, e eu moro nesta pequena casa sem muro de vedação, onde as plantas silvestres, por aqui chamadas de espinhosa, sempre bem podadas, é que me proporcionam a privacidade, cercando os meus aposentos. Sinto-me livre aqui, como estes pássaros que chegam e cantam todos os dias sem excepção, na copa das minhas árvores de fruta, canções indescritíveis e profundas.
Já abdiquei da televisão no período entre as cinco da madrugada e às oito. Gosto de ouvir rádio como o Fernando Manuel que agora vive de sons, mas nas manhãs desligo-o e nem escuto o Jornal da Manhã da Rádio Moçambique porque quero desfrutar da música dos pássaros que acordam em simultâneo com o raiar do sol. São eles que me trazem as lembranças do passado, as imagens de um tempo que não volta mais. Mas é este silêncio que me faz feliz, que me permite ouvir cada detalhe do crepitar dos cristais invisíveis da vida.
Marcelo Panguana tem participado, sem ele saber, na fortificação dos fundamentos da minha solidão. Quer dizer, o cântico das rolas que chegam a poisar no chão do meu quintal sem receio de mim ao entardecer, lembram-me o livro cujo título é “Como um louco ao fim da tarde”, do Panguana. E eu sempre repito sem me cansar esse verso para dentro de mim quando vejo aquelas aves tímidas no último voo para o repouso dos ninhos, “como é belo o cantar das rolas ao fim da tarde”! São estas imagens que dão sentido à minha vida, incluindo a luz intermitente dos pirilampos que inundam o meu espaço nas noites.
Houve tempos em que eu acordava e logo a seguir queria sair, entregar-me às ruas e às pessoas, andar por aí sem destino, sem me importar com o relógio, adorava a pândega. Porém, agora sou a antítese desse homem, quero estar apenas comigo e as minhas lucubrações sem fim. É verdade que cortaram-me as asas como ao belo “mugubani” de Salimo Mohamed, e eles pensavam que assim, sem as asas, desceria ao precipício das dores, metira! Eu tenho as asas por dentro. Tenazes. A solidão tornou-se para mim um importante trapézio, eleva-me ao infinito.
Ainda há dias chegou aqui a minha filha e disse, papá sempre sozinho! E eu respondi, não estou sozinha, minha filha! Não vês estes pássaros todos? Não ouves essas músicas maravilhosas que cantam para mim?
Estávamos na varanda, o melhor lugar da minha casa, assistindo às aves que saltitam de ramo em ramo, outras descendo para tomarem banho de areia num espectáculo que se renova todos os dias para gaúdio de mim. Outros pássaros beijam-se em celebração ao amor e eu digo para dentro de mim, como é lindo!
E eu nem dou pelo tempo a passar, estes momentos são tão envolventes e tão absorventes e tão inexplicáveis que não me oferecem outro caminho que não seja o de agradecer a dádiva de estar aqui, o resto não me interessa, nem a televisão, nem a rádio, nem os jornais, nem os smartfones. Basta-me este zoo!