Hoje, na AR, o deputado da Renamo, António Muchanga, voltou a “brilhar”. Mas ele só faz sua passeata acutilante porque a Frelimo se demitiu de fiscalizar o Governo e se abalou do prato da balança dos contrapesos necessários ao peso do executivo e do judiciário. No parlamento, a bancada da Frelimo é uma nulidade circense. Um grupo actuando completamente desfasado das aspirações da sociedade. O discurso do grupo parlamentar da Frelimo sobre as “dívidas ocultas” não tem pensamento nem ideologia. É politiquice de mau gosto, a táctica da avestruz, como mostrou o penoso discurso do deputado Francisco Mucanheia. Tiros no pé que certamente sairão caros em ano eleitoral.
Mas o grupo parlamentar da Frelimo é apenas a imagem mais penosa de um partido que deixou de discutir o país para se preocupar apenas com a discussão de tachos entre pares e o comércio de influências entre suas famílias mais notáveis em busca da impunidade e da protecção recíproca.
A presença de Beatriz Buchili hoje na AR era uma oportunidade para a Frelimo mostrar que está disposta a sacudir a poeira de muitos anos mergulhado na complacência com a corrupção e com um sector de justiça amorfo, cujo estado é tão lastimável que nem os esforços mais recentes chegam para nos atiçar a chama da esperança. A actual reação penal contra a roubalheira deve ser aplaudida mas ela ainda não provou nada. Só com condenações transitadas em julgado poderemos lograr cantar hossanas. Mas até aqui, nada feito!
Ao longo dos últimos anos a inércia foi tanta que, agora, com este súbito despertar, há novos temores no firmamento: uma percepção de que essa mesma inércia sedimentou e escondeu doses enormes de incompetência. E o risco subsequente, cada vez mais perceptível, é o de termos hoje uma justiça que se quer impor fazendo tábua rasa das liberdades e garantias constitucionais dos cidadãos. Eis o risco, repito, o risco de anos sem fim de desinvestimento num sector essencial para o nosso progresso colectivo – e esse desinvestimento teve como objectivo último garantir a im(p)unidade das franjas de rapina da Frelimo, mergulhadas numa cultura de tráfico de influências nos negócios do Estado e repartição de comissões ilegais como modo de vida.
Hoje, nem o pesadelo das “dívidas ocultas” muda a política da Frelimo. Seus deputados e militantes não percebem que já deviam ter abandonado a cegueira política e barricarem-se em defesa da sociedade. E defender a sociedade é tudo o que se pode fazer para granjear as simpatias dessa mesma sociedade, que hoje, como trágica alternativa, se acoita no demagogo deputado da Renamo, António Muchanga (que recentemente perdeu as eleições municipais na Matola por um voto e remeteu-se a um silêncio estranho) para ser o veículo derradeiro das suas demandas.
Ou seja, a sociedade decidiu canalizar para o deputado Muchanga todas as suas mágoas; é ele quem as transporta na AR, tornando-se a voz da transparência e da boa governação, ele que nem tem créditos firmados nessas matérias; é apenas um vozeirão cacofónico que apela às massas. Tal como Julius Malema na África do Sul, que vezes sem conta é usado por militantes do ANC para criticar políticas do ANC, em Moçambique é Muchanga quem faz o expediente de muitos militantes da Frelimo que não se reveem no registo insosso da sua bancada no parlamento e na deriva do governo do dia.
Por outras palavras, boa parte das demandas que Muchanga faz não são genuinamente do seu campo político. São as agendas do progresso, que a Frelimo abandonou. No parlamento, Muchanga capturou partes relevantes do discurso e da agenda que a Frelimo finge ter mas navega nos antípodas. E isto é uma grande tragédia para um partido que continua alimentando a passeata solitária do deputado.
Esta é a grande tristeza que vivemos hoje em Moçambique: a Frelimo abandonou completamente o discurso crítico construtivo dando lugar ao triunfo do populismo do bota-abaixo destrutivo encarnado pelo senhor Muchanga. E, numa sociedade sem diversão, as picardias de Muchanga contra o novo-riquismo torpe da Frelimo assente no roubo ao Estado fazem um número pleno. Todo mundo exulta...e exalta! Nas redes sociais a farra é de arromba. A política, essa passa ao lado. Ninguém está interessado em construir uma sociedade sã. É o descalabro em que vivemos. Dum lado, a avestruz embrenhada em seu refúgio; doutro um vozeirão destrutivo. E uma plateia aplaudindo! Comédia ou tragédia? (Carta)
É preciso que se diga: Paulo Vahanle superou Manuel Tocova no que diz respeito à des-governação do Conselho Autárquico de Nampula. Infelizmente, Vahanle conseguiu esta proeza. Pelo menos no tempo de Tocova éramos notícia. Pelo menos o mundo sabia que Nampula tinha um edil que não batia lá muito bem.
Montanhas de lixo, moscas e cheiro nauseabundo, buracos em tudo quanto é estrada e vendedores de rua nos passeios é o apanágio. Aliás, os vendedores agora já não vendem apenas nos passeios, vendem também nas estradas. A Avenida do Trabalho, por exemplo, entre os Cê-Efe-Eme e a padaria Nampula, é um mercado grossista de vegetais. No ano passado, levantei esta inquietação num debate radiofónico da Ere-Eme e o representante do município disse que a edilidade não podia tirar os vendedores daqueles locais em respeito aos direitos humanos. Dizia ele que tirar as pessoas dali seria negar-lhes o direito à vida. Aí é!?!
Olha, é preciso que se diga sem politiquices nem subterfúgios: o cota Vahanle não está a ver "guemi". Aliás, se me disserem que tio Vahanle ainda não tomou posse, eu vou acreditar. Isto não pode ser gestão de quem já tomou posse. Se tomou, então, tomou pouco... não tomou bem. As obras de Amurane ruíram. Nampula perdeu o brilho que tinha. Já não se fala de Nampula como se falava. Nampula hoje se parece com uma cidade vítima de ciclone.
Paulo Vahanle tem o azar (que também pode ser sorte) de ter entrado no poder depois de terem passado por aqui o Mahamudo Amurane e o Manuel Tocova. O famoso e o famigerado. Ambos elevaram Nampula a um nível antes visto: um, pela boa gestão pública e outro, pela má gestão. Mas, pelo menos, Tocova conseguiu levar Nampula a grandes manchetes nacionais e internacionais.
Em pouco tempo de governação, Tocova foi mais notícia de capa do que Guebuza em dois mandatos. Isso é obra! E neste aspecto em particular, Tocova é melhor que Vahanle. Tocova ficou presidente, demitiu, nomeou, assinou cheques, mostrou arma, foi preso, foi julgado, foi condenado, bazou à parte incerta, deu entrevistas tipo Dhlakama, regressou à parte certa, "faleceu" politicamente e virou lenda. No tempo de Tocova nós tínhamos certeza que o "nosso presidente" estava aqui... a fazer m*rdas, mas sabíamos que estava aqui. Agora, Vahanle não aparece... nem para pedir socorro.
Tio Vahanle, arregace as mangas! Não precisa fazer grandes acrobacias, mas mostre que está aqui com o povo. Não precisa fazer tudo ao mesmo tempo, mas mostre que tem ideias e tem vontade de fazer. Diga "axinene-ari-vava!" e mostre que valeu a pena a confiança. Apareça! Não se acanhe! Comunique! Busque a fórmula de Amurane!
Estamos atentos como sempre. Assim como estão as coisas não dá.
- Co'licença!
(outro prisma sobre o IDAI)
O ponto de partida para que quase todos os quadrantes do mundo, hoje, preocupem-se com o meio ambiente, foi a Revolução Industrial ocorrida no final do século XVIII. Com a evolução da indústria na diáspora europeia, coadjuvada pela frenética pressão das ideias liberais e de acumulação do capital, abriu-se um precedente na história da deterioração dos ecossistemas pela acção humana. A contaminação de rios e do ar por poluentes; o despejo de produtos químicos nocivos; o smog em Londres, conhecido como "a névoa matadora" e, mais à frente, os bombardeamentos atómicos das cidades de Hiroshima e Nagasaki, realizados pelos Estados Unidos contra o Império do Japão; foram acontecimentos que, pela magnitude do seu impacto, fizeram brotar a consciência sobre a necessidade de se assumir uma forma de estar dos países sem, no entanto, prejudicar as gerações vindouras.
Houve entre os anos 1970 e 1990 uma série de acordos, convenções e leis, que surgiram com a finalidade de tornar o crescimento económico menos nocivo ao meio ambiente. Este assunto beliscou atenção de ambientalistas como Rachel Carson e da comunidade científica que preocupada com único objecto de estudo (meio ambiente), concluiu que o principal factor da deterioração da atmosfera é a acção humana com foco na industrialização. Ela é responsável pelo acelerado aquecimento do planeta dada a alta concentração de gases do efeito estufa – dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). A grande herança destas acções nocivas foi a destruição da camada de ozono que traz os perigosos raios ultravioletas do Sol que atingem a superfície da Terra. Acções nocivas dos países do ocidente tiveram impactos sobre o meio ambiente em solo africano. Evidências mostram que, sendo África o continente que se localiza nos dois principais hemisférios, quer a destruição do ozono, quer a o agravamento do efeito estufa, têm impactos directos sobre sua temperatura e afectam a saúde, o meio de vida, a produtividade agrícola, a disponibilidade de água e a segurança geral do povo africano. Sobem os níveis do mar pelo aquecimento global e, por conseguinte, ocorre a erosão costeira. As secas, o stresse causado pelo calor e as enchentes levaram à redução da produtividade nos campos de cultivo e na pecuária. As doenças trazidas pelo aumento da temperatura, ilhas de calor e pela baixa qualidade do ar. Estes problemas causados à agricultura e pecuária por conta da agressão aos ecossistemas pelo ocidente abriram outro precedente em África. Os povos africanos, sobretudo os rurais, passaram a exercer maior pressão sobre o meio como queimadas descontroladas à busca de alternativas de subsistência. Isto pressupõe que os fenómenos atmosféricos que assolam África pela sua vulnerabilidade, não teriam igual impacto se os países ocidentais industrializados não tivessem indiscriminadamente agredido o meio ambiente ao longo da história.
Sucede que várias conferência já foram realizadas sobre o meio ambiente e desenvolvimento. Desde o “Eco-92” ao COP21, os países industrializados vem prometendo ressarcir aos países de economias periféricas pela noção do impacto das suas acções sobre os estados afectados sem quaisquer culpas. A Agenda 21 que estabelece a pertinência de cada país comprometer-se a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual organizações e todos os sectores da sociedade poderiam encontrar soluções para os problemas ambientais, não mereceu o devido respeito se observarmos o que a história registou enquanto atitude por parte de quem realmente tem obrigações. Os países do "primeiro mundo" não ressarciram os periféricos. As acções observadas, mais do que serem insuficientes e incomparáveis às enxurradas de doações à Notre-Dame que quase se engasga pelo entulho pecuniário, quando deviam ter um carácter de cumprimento de obrigação, vestiram traje de filantropia. A honestidade intelectual manda dizer que Moçambique é parte integrante dos povos afectados pelas acções dos países ocidentais industrializados. Recentemente, em Março de 2019, Moçambique foi violentamente atingido pelo ciclone IDAI que se mostra até hoje com sinais indeléveis. Das reacções vindas do exterior, sobretudo dos países industrializados, tiveram na íntegra uma catalogação altruísta. A honestidade, justiça e “desbranqueamento” da história não foi tão forte ao ponto de nenhuma força externa ter feito menção ao cumprimento de dever.
Ora, este tratamento dividiu opiniões na esfera pública. Uns prestaram vénia à atitude e outros como o escritor angolano José Agualusa assumiram tal atitude como algo que não estivesse além das obrigações dos países industrializados. Uma espécie de reconciliação com a história. É precisamente esta posição de Agualusa com qual me identifico, a dívida ocidental que nunca foi paga à “plebe” e o injusto “ruído” da filantropia.
Circle Langa
Aqui na Zambézia queremos gajos com essa quantidade de arrogância desse tal de Awade. Aqui trata-se arrogância e estupidez. Entra arrogante sai humilde, entra estúpido sai inteligente. Precisam-se Awades aqui para um tratamento eficaz. Ficar aqui um mandato inteiro é obra, pode ser nomeado ministro no mandato seguinte.
Esse Awade precisa de umas penicilinas de humildade do Mano Mané. Mano Mané trata de problemas de arrogância governativa aguda e vai pôr esse aí na linha em dois tempos. Com umas ampolas de anti-arrogância esse Awade fica bom num instante. Mano Mané não prescreve medicamentos para você ir comprar na farmácia, não... ele já anda munido com os fármacos na "topela" para você engolir aí mesmo ao vivo, em praça pública, sem água, em dose única.
Por aqui já passaram governadores e comandantes da Polícia com arrogância para dar e vender com bacela, mas voltaram bem mansinhos com o rabo entre as pernas. Havia um "gover" que só passava o tempo a transpirar a careca. O homem apanhava febres todos os dias das sete-e-meia às quinze-e-meia. Afinal, eram sintomas de perda forçada de arrogância. Hoje é um ministro "exemplar". Perguntem a dona Verónica.
Mas é o quê mesmo?! É Awade para cá, é Awade para lá. Esse Awade é bruto mais que quem? Esse é moleza, mandem-no cá pra zona. Temos vacina antirrábica para ele... essa raiva passa. Não será um Awade que vai-nos custar. Aqui já matamos leão com carolo, tivemos a primeira república militar e agora estamos a desenhar "casas modelo" para todo o país. É Zambézia aqui.
- Co'licença!
Não precisamos de despejar – do camião basculante que somos - sobre a cabeça deles, o graniso das nossas dores acumuladas. Bastam as palavras buriladas nas canções que ainda vamos cantar. Não precisamos irmãos, de acender os pneus da nossa revolta nas ruas construídas com o sangue dos nossos antepassados e com o nosso sangue também. Nem de lançar o fogo sobre as viaturas espampanantes que eles compraram com as feridas da nossa fome. Nada! Vamos deitar as lanças ao chão e preparar os nossos corpos para a dança porque a noite está a chegar ao fim. Está a amanhecer.
Somos o feixe da lenha cortada nas matas sugadas pela cobiça sem fim. Ninguém nos quebrará. À um feixe não se quebra. Somos a avalancha que está a vir e eles estão com medo. Tremem nos poros da insensatez. Estão constantemente a mergulhar as pálpebras do coração frio no vinho tinto alagado de sangue. Estão de alaia numa vigilância vã, porque a casa deles não tem a guarda da razão. Mas o maior medo que lhes habita é das canções que ainda vamos cantar nas praças, agradecendo o raiar do Sol que terá chegado para todos.
A melodia das canções compostas nas nossas frustrações, e a força premonitória que elas irão transportar, vai-lhes penetrar como lâminas implacáveis, cortando-lhes aos pedaços o coração que nunca tiveram. Muitos deles fugirão daqui para lugares onde jamais encontarão a paz. Outros ficarão escondidos em buracos reais e imaginários. Temerão as suas próprias sombras e chegarão ao ponto de não saber se estão vivos ou se estão mortos. Outros ainda optarão pelo suicídio. Mas tudo isso será o claro sinal de que a noite para nós terá chegado ao fim.
Nós não somos a albufeira. Somos o rio em si que vibra, lançando para as margens toda a escória. Hevemos de oferecer flores aos pombos nesse dia que está perto, e a melancolia da rolas, nesse mesmo dia, vai ressurgir retumbante nas nossas vozes. Cantaremos canções antigas do Machongueze, que usava o seu pànkwè para dar vazão aos sentimentos. Profundos. Entretanto calcinados pela megalomania deles. Cantaremos, irmãos, nesse dia que está perto, a música de Salvador Maurício, “Os ratos roeram tudo/Amor acabou/Tristeza ficou/A vida caíu na miséria”.
As praças estão à nossa espera para nos acolher no testemunho das estátuas. Onde acamparemos dias e dias cantando em homenagem ao amanhecer. Ao fim da noite. Estaremos lá sem armas porque a violência não faz parte da nossa formação. As nossas armas são as palavras interrompidas pelas balas e pelas marretas e pelas poções de veneno. São essas palavras feitas canções que levaremos às praças nesse dia que está perto.
Jubilaremos como David, engrandecido pela sua humildade. Somos o rastilho da paz, aceso para explodir na dinamite do amor. Somos a catarata das águas que beberemos daqui a pouco nesta longa espera. Nesta longa luta das mentes onde passamos a vida toda na penumbra. Fazendo corte aos abastados sentados por sobre os lombos da nossa desgraça. Mas essa longa noite está chegando ao fim, irmãos. Está a amanhecer.
O meu livro teve o seu lançamento na passada 2a feira, no auditório do BCI, com a sala preenchida com imensos amigos, os grisalhos ganharam por larga maioria. Senti-me feliz com a presença dos meus companheiros da Associação Académica, dos grandes escritores Luís Bernardo Honwana e João Paulo Borges Coelho, de personalidades por quem tenho enorme respeito (Rui Baltazar, Magid Osman, Hélder Martins, José Norberto Carrilho), de colegas e, sobretudo, de tanta gente amiga da minha geração. Foi uma cerimónia simpática, com bonitos discursos de José Furtado, em representação do BCI, de Nelson Saúte, o meu editor, de Calane da Silva, que fez uma generosa apresentação do livro (discursos em anexo).
José Furtado foi pródigo em dar-me títulos elogiosos (professor, director, bastonário, especialista), até falou do surgimento de um romancista (lamento desiludi-lo). E confessou não ter resistido a pugnar por um final feliz para aquela empolgante história de amor. Estamos de acordo, sou sempre pelo final feliz, como nos bons tempos de Hollywood (a história de amor tem um final feliz; mas a história maior?).
O Nelson fez uma confissão diferente: No início de 2018, o Álvaro perguntou-me se eu poderia ler o livro dele. Confesso que fiquei sobressaltado. Para além de o ler, ele quereria que eu o editasse. Quando criei a Marimbique, há mais de 15 anos, perseguiu-me um objectivo simples: publicar os livros de que gostasse. Ora, quando um amigo, que se estreia, nos entrega um original, coloca-nos perante um embaraço: e se o livro for mau? Como se diz a um amigo que o livro que nos confia não merece o nosso entusiasmo? Felizmente para mim, o Nelson achou que o livro passava, foi a minha sorte porque é um magnífico editor, à moda dos bons editores ingleses. Ele falou, a dado ponto das infindáveis correcções do autor, que me lembrou um poeta célebre que se transformava num terror para os editores pois que, sempre que tinha provas para rever, devolvia-as num livro praticamente novo. O Nelson não sabia que o meu nome do meio é Picuínhas.
No seu discurso, disse coisas que para mim também são muito importantes:
A escola, a universidade e os meios de comunicação deixaram de ser lugares e circunstâncias de promoção do gosto pela leitura. Existem gerações inteiras que fazem cursos universitários sem terem lido ou praticado o hábito da leitura de livros, de todo o género de livros. Leram fotocópias, escarrapacharam os artigos que viram na Internet e que copiam para as suas dissertações enganosas. … Vejo com dramatismo esta situação. Que futuro se pode haurir de um país que se afunda na ignorância e na incultura?
O Calane também fez muitos elogios na sua cuidada e pormenorizada análise de “Um Rapaz Tranquilo”, considerando-o simultaneamente como um diário memorialista, um romance e um texto epistolar, saudando-me pela coragem na abordagem deste tema de pluralidades ideológicas e identitárias, de memória, de retrato e análise de bons e maus momentos por que passou o país e suas gentes no antes e no depois da conquista da independência, um tema tratado com minúcia e sem rodeios.
Eu fui o último a falar, numa intervenção sem gravata. Contei do porquê do livro, fiz os agradecimentos devidos – não por serem da praxe mas porque eram sentidos – e disse umas piadas sem muita graça. Também assinei autógrafos. E o meu estimado Notícias publicou uma extensa reportagem sobre o lançamento, graças ao Leonel Matusse.
Apesar do cuidado posto na revisão, o livro ainda tem erros, já tem uma errata. Agradeço que me vão informando do que forem descobrindo ao longo das vossas leituras.
E pronto, o capítulo literário da minha vida está encerrado, não vos maço mais com “Um Rapaz Tranquilo” e as minhas memórias imaginadas.