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segunda-feira, 14 junho 2021 09:06

Carta de uma "instruenda" em Matalana para o mundo

Escrevo esta missiva numa altura em que a nossa "casa" está em "chamas". Escrevo para dizer que o "nosso modus vivendis em Matalana" foi exposto ao público e ao mundo. A humilhação e a violação constante dos nossos direitos em nome da preparação para um "futuro melhor" e protecção e segurança da pátria veio à tona.

 

Não escrevo para me justificar e muito menos expôr tudo, mas para dizer que Matalana é onde meus sonhos foram colocados à prova. Aqui em Matalana, ser mulher com atributos é um pesadelo (...) "todos querem passar por ti, se não é por bem será por mal. Como foi com a Mbyte, menina linda lá das bandas de Bajone, na Maganja da Costa, rosto de actriz Indiana, corpo desenhado que nem uma guitarra descrita na música ‘Ana parece novela’ de Matias Damásio”.

 

O sonho da Mbyte era fazer parte da polícia e um dia ser Comandante-Geral da corporação. Tão jovem e habilidosa, o pecado dela foi ser admitida em Matalana e o instrutor "Muthu" dizer que esta seria minha por bem ou por mal. Aquilo foi o fim para ela. Mbyte voltou grávida e está infectada. Hoje pensa em tirar e desistir da vida. Mesmo com tantos conselhos de nós as amigas, ela diz que a família não lhe aceita, porque desonrou a mesma. Mesmo quando diz que foi violada por várias vezes pelo instrutor, a família não entende.

 

Escrevo este ensejo para revelar que (in) felizmente os instrutores e nem os meus colegas pensaram em tocar-me porque dizem que tenho postura de comando ou o famoso “vilão Fenda”, o homem que violentou o actor Jean- Claude Vandamme. Porque eu não mostro os meus dentes para ninguém, que minha bunda é rija que nem a pata da “galinha do mato”. Que eu venço todos os homens nos treinos, seja em artes marciais, tácticas operativas, resistência ou qualquer outro exercício. Eles têm medo de mim.

 

Mas hoje quando vejo que algumas passaram por um total inferno. Anteciparam um projecto de vida que não tinha chegado a hora. Trocaram de sonhos forçosamente, devido à gula excessiva dos inspectores M Pino, Choquito ou Tembesi. Penso que estou num lugar errado. Penso que eu tinha que fazer algo. Mas não fiz! Mas de repente, surge uma voz no fundo dos meus tumultuosos pensamentos e diz: continue para que faças o diferente. Para que defendas todas as mulheres vítimas de qualquer tipo de violência.

 

“Fiques para que o mal não vença o bem. Para que a fisionomia da mulher não alimente apetites insanos e competitivos dos homens. Só cabe a pessoas como tu colocarem a ordem nas fileiras. A usarem do lado bom da formação e instrução para servir a nação”, diz-me a tal  voz.

 

Escrevo esta carta para dizer que em Matalana também tem mulheres diferentes que não são preguiçosas e de uso descartável. Escrevo este ensejo para revelar que as anteriores 15 e as actuais nove são uma gota no oceano dos horrores que ocorrem em Matalana, Muinguine, Montepuez, Mueda, Nacala, nas esquadras, comandos, ministérios afectos e outros locais, onde mulheres que querem a farda têm passado.

 

Texto de imaginação, mas inspirado em factos reais.

O Tribunal Administrativo emitiu ontem um comunicado de meia dúzia de parágrafos bastante redondo. Um "peipa" maningue poético e nutrido de parábolas. Um pacote de português embrulhado e fino que nada diz. No tal comunicado entitulado "processo de averiguação das dívidas contraídas pela PROINDICUS, EMATUM e MAM", o Tê-A diz que somente vai-se pronunciar sobre este assunto se essas empresas apresentarem as informações que foram ocultadas durante as investigações levadas a cabo pela Kroll. Na verdade, os Juízes do Tê-A estão a dizer qualquer coisa como: para não andarem a dizer por aí que nós não estamos trabalhar, nós preferirmos confirmar na primeira pessoa que não estamos a trabalhar mesmo. Como quem diz não é com essas vossas dívidas escondidas que vão nos fazer transpirar logo com esse calor do fim de ano.

 

De resto, é um documento despropositado e inoportuno. Um documento desfocado. Um documento imbuído de devaneios. Oco. Um festival de cobardia e ausência de tomates. Um desfile de ociosidade. Todos sabemos que nem o Tê-A nem a Pé-Gê-Ere tem tacto suficiente para tocar neste assunto. Ninguém quer pôr o guizo ao gato. Isso está claro. Agora, não precisa inventar. Esse teatro é desnecessário. A propósito, quando é que vocês também vão pedir mais gorduras para as vossas mordomias? Nada de vergonhas... Podem pedir também. Nós vamos pagar. Estamos aqui para isso. O que é que a gente não paga!?

 

- Co'licença!

 

Publicado em 28-12-2018

 

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No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

quinta-feira, 10 junho 2021 09:35

Luísa Diogo: o contratorpedeiro de Nhabulebule

O meu interesse por Luísa Diogo não será movido propriamente por uma obsessão, mas por um sentimento de que ela é um farol de outra luz, é isso que eu sinto. A minha relação com esta mulher não passa de um amor platónico, é por isso que mantenho a expectativa encandescente de vê-la no cume. Na verdade ela está lá, mas há quem a quer fazer passar por uma simples lamparina colocada por debaixo da mesa, Luísa nasceu para luzir, e muitos têm medo desse foco intenso de luz.

 

Em 2010, à caminho de Cabora-Bassa, passei por um lugarejo chamado Nhabulebule, e disseram-me que é ali onde nasceu essa manhúngwè, sem que os seus pais soubessem que estavam dando à luz um astro que brilharia na turbulência das nuvens. Luísa significa “guerreira gloriosa”, “combatente famosa” ou “célebre nas batalhas”. Então, com este nome, o bebé que nascia não tinha outro caminho que não fosse o das montanhas de pedra, onde vai cintilar com um cajado invisível, mas que existe. Nas nas suas mãos.

 

Os algozes da Luísa Diogo têm em mente que é preciso barrá-la antes que faça estragos. Também sabem que a uma “guerreira gloriosa” não se demove, não há qualquer possibilidade nesse sentido, é por isso que não dormem quando pensam nela. O pior é que Luísa está pronta a sorrir em todos os momentos, mesmo estando no cadafalso, é isso que lhes atemoriza. Nunca veio cá fora pedir seja o que for, “combatente famosa” não pede, pois sabe que ainda não chegou o tempo da última passada. A passada crucial!

 

Em Nhabulebule não há nyau (dança contestatária dos povos shewa), Luísa Diogo não contesta, usa as asas de águia que trás por dentro para se manter nas alturas onde os pequenos jamais chegarão. Ela será para sempre o paradigma dos nyúngwès e de todos os povos de Tete e de todos os moçambicanos que defendem essa utopia de um novo amanhecer. No coração da Luísa, todas as dores vão esbater-se.

 

Mas eu falo de tudo isto pelo amor platónico que nos liga, a mim e a Luísa, e ela nem sabe que a amo. Nunca me importei que ela saiba ou não, o que conta é que neste meu devaneio, veja essa mulher com sorriso escancarado, planando como a própria águia de Nhabulebule. É essa a minha imaginação.

quarta-feira, 09 junho 2021 07:34

Çinçeramente

(P)Ora, (p)ora, a PRM apreendeu cerca de 1400 sacos de "Mbangui" proveniente do Malawi, tendo a África do Sul como destino  [Aqui sempre é assim, a droga nunca nos pertence, mas ela cá está, e de forma abundante]. É muita alegria, dizia, muita suruma! E o debate tem sido em torno da legalização, ou não, devemos legalizar ou continuar a desperdiçar uma erva que movimenta biliões, mundialmente,  anualmente?  E parece que a erva será incinerada, para ser esquecida, como os dois fugitivos que transportavam os pulmões do Bob Marley e The Wailers, rumo a terra do Ramaphosa. Deviam convocar a população para presenciar esse “Mbang-mento”, para  ver e sentir o fumo de modo a  saber se será ,de facto, "Mbangui", ou se não estarão a queimar folhas de mandioqueira. Çinçeramente

 

MISAU, parabéns por colocarem ordem na casa. Finalmente ninguém poderá proibir a um jovem de se fazer ao hospital, de calções, chinelos e interior... Aquilo era um tremendo  absurdo!

 

-  Sr. Doutor, perdi uma perna, por favor, estou a perder sangue!

 

-  Primeiro vá para casa pôr calças, depois volte para vermos esse problema".

 

- E se eu morrer pelo caminho?

 

- Pelo menos estará bem vestido!

 

Çinçeramente.

 

"Moçambique entre os cinco países com maior índice de novas infecções em HIV/SIDA". Covid-19 veio com tudo e acabamos nos esquecendo que um exterminador já cá estava.  Nem com aquele encerramento de pensões, onde se pensava, até a cabeça doer de tanto pensar,  quando as coisas apertaram, houve  redução. Estar nesse Top 5 é mau, tão mau quanto o nosso sistema de transporte.  O teu rodízio de “My Love” é seguro? Isso dá de pensar … Çinçeramente

 

Mozão esteve a inaugurar  a Estação de Tratamento de Água  de  Sabié, cuja construção anda na casa dos 220 milhões de USD (incluindo rede de distribuição). Foi categórico, o Mozão, com uma linguagem Sustenta, terra-terra, hídrica, dizia, típica: " Não vai faltar água no Grande Maputo, Durante 1 ano". E ponto final! Ninguém poderá vir dizer que não tem feito cuidados higiénicos e afins por falta de água. Agora, Mozão, é conseguir que esta gente não desperdice... Educação ambiental é assunto sério, mas ainda estamos a debater rasteiras  e, antes, foram as "Max Saias"... Çinçeramente

 

Campeonato Africano de Futebol de Praia! Parabéns aos nossos bravos rapazes, pese embora tenham "morrido" na praia!? Segundo lugar, bem, vamos ao mundial que vai decorrer na  Rússia, em Agosto, aposto, com olhos sonhadores, A.K.A 1400 Sacos!? Pelo sim, pelo não, uma coisa é certa, sabemos jogar descalços, na areia, pelo que devemos despejar carradas de areia no Estádio Nacional do  Zimpeto, no Estádio da Machava, no Conselho Municipal da Cidade de  Maputo, no Ministério dos Transportes e Comunicações, nos Correios de Moçambique, criar um Instituto Nacional Para a Proteção da Areia da Praia, para ficarmos Sidaticos, “I mean”  galácticos!? Tanta coisa turva, e afinal, o problema, são as chuteiras? Çinçeramente.

 

Até para semana. Sem Camisa? Já é Inverno, e a vida é fria, cuide - se!

 

Palávras-Chave: Mbangui, Legalizar, Mbangui, Legalizar, Mbangui, Legalizar, Carradas, Areia,  praia.

 

Çinçeramente

Em Moçambique, existe uma outra violência e tão ou menos cruel que a da insurgência terrorista: a violência das expectativas criadas pelas promessas de desenvolvimento. Hoje à Norte (com a TOTAL), ontem ao Centro (com a VALE) e antes à Sul (com a MOZAL e a SASOL). Isto para falar do que vem de fora. E cá dentro: o Plano Prospectivo Indicativo (PPI), o Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARPA) e o programa SUSTENTA, a mais recente menina dos olhos do governo, para citar alguns exemplos. Destes, dos gerais aos específicos, uns até sucumbiram à nascença. Consta que na altura da apresentação do PPI, o programa que venceria o subsdesenvolvimento em 10 anos (1980-1990), o então Presidente Samora Machel, sem que se tivesse apercebido que o microfone estava ligado, dasabafara para o colega de lado, na mesa do presidium, algo como “Isto não vai dar em nada”. E assim continua.

 

Certamente, ao vivo e a cores, o leitor esteja a perceber o ponto e eu não me importaria a ficar por aqui Porém, antes que termine, segue uma estória que me arrepia, sempre que a recordo. Foi nos tempos do PARPA, a primeira década do século em curso, e convidara um amigo a participar em sessões de divulgação e capaciação sobre o PARPA que eram organizadas, passe a semelhança, por uma Organização Não Governamental (ONG) da praça. Era o papo do momento e ele, prontamente, concordara, tendo participado de forma pontual, assídua e activa em todas as sessões, que decorriam das 12 às 14 ou das 18 às 20 horas. Embebecido pelos propósitos e conteúdos do PARPA e das sessões e ainda pelo ambiente optmista criado por este saudoso documento, o meu amigo deixara de provindenciar – nos períodos das sessões – a sua habitual e caliente companhia que a sua então namorada tanto adorava. Esta, obviamente insatisfeita, e não sei por que cargas de àgua, dizia para ele abrir o olho, pois estava a ser enganado e a servir a agenda de outros. "A da ONG, a do governo e a dos parceiros" segundo as suas próprias palavras.

 

Na altura, 2006/7, eu não levara a sério estas sábias e proféticas palavras. Contrariamente, o meu amigo levara e tratara de demovê-las e, pelos vistos, com sucesso, pois a namorada passara a participar, entusíasticamente, nas sessões. Um convicente “Juro amor que desta vez o país saírá da pobreza” fora tão amoroso e profundo quanto os afectivos e eficazes beijos de Domingo à tarde, na beliche do "Tangará" - o lar de estudantes do campus da UEM.

 

Há dias, e a propósito de mais uma fracassada expectativa de desenvolvimento, com a saída daTOTAL (ainda que não clara e sem que os famosos biliões caíssem nos cofres do Estado ou nos bolsos dos que já se entricheiravam nas galerias do Orçamento do Estado), o meu amigo ligou-me do exterior - agora vive fora de tão zangado com as infelizes promessas de desenvolvimento - e confessou o quanto se sentia cruelmente violentado e, recordando da então namorada, ainda confessou que se sentia tão amargurado por a ter contariado.

 

“Ela estava certa!". Assim, e bem arrependido, o meu querido amigo dera por terminada a chamada e eu, subscrevendo-o, por terminado o texto, mas antes uma dúvida: existirá alguma possibilidade jurídica para uma providência cautelar contra as recorrentes e inglórias promessas de desenvolvimento? Se não, é também uma outra (e cruel) violência!