Nyongo & companhia é um problema de Ossufo Momade. Junta Militar da RENAMO é um problema da RENAMO. Não são assuntos da nação. São assuntos caseiros da RENAMO. São assuntos de indisciplina. São assuntos de falta de respeito entre generais do mesmo exercíto. São assuntos de hierarquia.
Nyongo é um assunto intestinal característico da RENAMO. Não é um assunto para Nyusi viajar às matas da Gorongosa, procurar um tronco seco para sentar e tirar foto e negociar um novo Dê-Dê-Ere e um acordo de paz paralelo. Nyusi tem muita coisa para fazer, uma delas é preparar a sua campanha.
Nyongo é um teste à diplomacia de Ossufo Momade. É um teste à capacidade de diálogo da RENAMO. É agora que Ossufo Momade deve mostrar o que aprendeu com Afonso Dhlakama. É agora que vamos saber quantos sapos Ossufo Momade consegue engolir.
Trabalho de Nyusi não é mediar traições nos casamentos, falta de pagamento de dízimos na igreja ou excesso de auto-golos no Moçambola. Nyusi não está disponível para qualquer vertebrado paulado. Este país não é só RENAMO e suas pancadas. Existem outros assuntos também pertinentes. Temos os insurgentes que precisam de mais atenção e análise. Temos a reconstrução pós-Idai que clama por mais sinergias. Temos uma parte do país a viver em 2040 que urge devolver. Temos leões virando veganos que precisam de um estudo sério. Temos o Chang que precisa de embarcar. Temos as eleições já à porta que necessitam de preparo. É tanta coisa urgente que deviamos deixar o Nyongo com o seu Momade.
Um coisa é certa: o slogan "com a FRELIMO e Nyusi Moçambique avança" nunca fez tanto sentido quanto está fazendo agora. O nível de desorganização da RENAMO é impressionante. A falta de agenda, então nem se fala. Quando a RENAMO não tem inimigos externos trata de arranjar internamente. Quando não tem pessoa para morder por perto, a RENAMO morde-se sozinha como um cão raivoso.
Por incrível que pareça, a RENAMO não consegue aproveitar os piores momentos do seu adversário. Nem consegue aproveitar os excelentes quadros de que dispõe. Quanto mais bons quadros ganha, mais maluco fica. É pior que os Mambas. Pelo menos Mambas perdem no minuto 92. Esses perdem antes mesmo do jogo iniciar. Quando o adversário está a aquecer, eles já marcaram uma dúzia de auto-golos bonitos de calcanhar, de cabeça, de biscicleta, de ancas. Nunca vi gajos que não mudam.
A RENAMO acredita que as dívidas ocultas vão votar a seu favor. A RENAMO pensa que decepcionar-se com a FRELIMO significa automaticamente voto para si. Puro engano! Procurem voto! Parem de atrapalhar e de se atrapalhar! Parem de fumar suruma molhada!
Entretenham-se com os Nyongos da vida, mas, faxavor, deixem o Nyusi preparar a sua vitória retumbante, asfixiante, qualquerizante, abusante e envergonhante!
- Co'licença!
Matematicamente falando, todos nós contribuímos para o bem-estar emocional dos nossos gatunos. Graças às dívidas ocultas, os nossos gatunos de estimação conseguiram boas mulheres. Boas damas. Muitos até casaram. Para ser mais franco, todos nós financiamos a felicidade destes compatriotas.
Financiamos, com dois bilhões e meio de "galinhas", a compra de Bi-Eme-Dablius, Mercedezes, Rolls Royces, Maserates, Ferraris, etecetera, para as "beibis" dos nossos estimados gatunos. Isso sem contar com aluguer de jactos e mansões para "férias" e lobolos. É bem possível que sem aqueles dólares o "love" não acontecesse.
Então, é bom que vocês, nossas cunhadas de estimação, nunca se esqueçam de nós. A malta também é da família. A malta é a peça fundamental das vossas paixões milionárias. Esses "Bi-Eme-Dablius" modelo "Eksi-six", essas mansões, essas roupas, aquelas viagens, aqueles lobolos cheios de cerejas que vos deram de presente saíram dos nossos bolsos. Aliás, ainda estão a sair dos nossos bolsos... à força. Não estamos a conseguir pagar, mas, pelo bem-estar emocional dos nossos gatunos, estamos a pagar assim mesmo à rasca.
Por isso, exigimos mais respeito de vocês nossas cunhadas. Quando encontrarem a vovó Aissa no mercado do Fajardo, com sacos de alface e couve na cabeça, parem e deem-lhe uma boleia nesse Bi-Eme. É uma das contribuintes da vossa felicidade. Está a rochar para pagar essa viatura aí. Não se façam tipo não sabem!
Os filhos que nasceram e os que vão nascer desse namoro financiado pelo povo são nossos sobrinhos também. Ensinem-lhes a nos respeitarem também. Somos todos primos, titios e avôs deles. Estamos todos a pagar as mensalidades dos colégios deles. Tivemos que deixar os nossos filhos em baixo das árvores para pagarmos os ar-condicionados desses nossos sobrinhos de estimação. Somos muito generosos.
O povo merece uma tatuagem nas vossas coxas. Compramos ambientes climatizados e jantares afrodisíacos. Compramos colchões medicinais e cobertores macios. Compramos enzoys e gonazololos. Compramos de tudo para proporcionarmos noites mágicas. Podemos dizer com firmeza que somos os donos dos vossos orgasmos.
A factura é altíssima. Uma factura de umas dívidas ocultas sexualmente transmissíveis. Dói. Dói, mas vale a pena. A felicidade destes gatunos é um imperativo nacional, e nós fizemos a nossa parte.
- Co’licença!
Queria escrever-te uma carta de amor, daqui onde me encontro contemplando o mar da minha imaginação, mas estou vazio por dentro, encharcado pela demora do teu beijo. Estou por de cima da calçada. Desesperado. Ardem-me por dentro as palavras sufocadas neste caminho que já não sei para onde vai. Quero gritar e sinto medo do desiquilíbrio. Faltam os carrimões, e não tenho nada nas mãos senão o formigueiro criado pelas incertezas. Se eu cair para este lado, serei devorado pelas chamas. Se cair para aquele lado, a almofada do meu corpo serão os corpos frios das serpentes. E agora, meu amor!
Este silêncio está-se tornando um sismo. Cada vez que tento a repetição das canções buriladas pela solidão, para ver se espanto a ansiedade que me caustica, a minha voz vacila mais profundamente. Não oiço nada. Nem o murmúrio do mar. Nem o vacalizar inaudível do meu próprio coração. Nem nada. O que sinto são as espigas de aço. Perfurando-me. Danificando-me a alma ardente do teu amor. Acho que tudo isto é a chegada do fim.
Não saio da calçada. Não consigo sair. Cada vez que tento, aumentam as labaredas do silêncio que me lavra. Sem misericórdia. Vejo os corvos rindo-se de mim neste momento em que desejo escrever-te a carta que pode ser a derradeira. Não oiço nada, meu amor. Nem o cantar sinistro do vento que muda o rumo das gaivotas. Mas eu mantenho nas mãos o papel e a caneta, sem a certeza de nada. Aliás a única certeza que tenho é de que vou ruir. Essa é a única certeza que eu tenho.
Meu amor! Até o blues, que sempre me fortificou em noites de medo, silenciou-se. Era o blues que me inspirava, e agora não consigo escrever nada. Nem uma carta para ti. Estou aqui de cócoras, como um guarda-redes de hóquei em patins, e o meu stick é a caneta que trago numa mão, entretanto sem conseguir riscar o papel que seguro noutra mão. Tremo nos fundamentos do meu ser. O vento está quase a derrubar-me. Sibila as estrofes do inferno, com garrafas explodindo sangue no lugar de champanhe.
E agora, meu amor! Agora que o silêncio se transformou em sismo! E agora! Resta-me esperar pelo destino que o vento vai-me dar. Se me empurrar para este lado, serei devorado pelo fogo. Se me empurrar para aquele lado, também serei devorado pelo fogo. O pior é que nem posso fugir.
Meu amor!
Essas boladas das dívidas ocultas, Odebrecht, Embraer, I-Ene-Esse-Esse e quejandos são novidade para nosoutros. Os Changs, Leões, Setinas, Zuculas, Helenas e filhos&esposas limitada não são de hoje. Estavam mesmo aqui ao lado maracutaiando e comendo a vida com colher grande e sendo aplaudidos.
O pior é que os acólitos do sistema faziam cortinas de ferro na mídia à essas roubalheiras a troco de vinhos e promessas de cargos. Alguns são esses académicos que hoje acordam publicando cartas de indignação extemporâneas.
Dizia eu, os gatunos de amanhã estão hoje na forja sendo esculpidos. Posso garantir que amanhã um ministro vai entrar na "djela" por conta dessa bolada de camiões de transporte de passageiros que foram apresentados na semana passada. Aquilo é bandidagem fria e seca. Só não vê quem não quer. Aquilo não difere das dívidas ocultas. Aquelas carroças não diferem daquelas pranchas de surf adquiridas para pescar atum no mar-alto que hoje desfalecem inertes ali no porto.
Os mesmos acólitos que hoje defendem que aquelas carroçarias são uma grande súbida na vida dos moçambicanos, amanhã estarão envergonhados quando os nomes dos mentores desta iniciativa estiverem em parângonas na imprensa como arguidos. Foi assim com as dívidas ocultas. O grupo que ontem defendia, na imprensa, as boas intenções dos termos de referência daquele negócio, hoje é o primeiro a dizer que o pepino podia ter sido um pouco mais fino.
Não estou a dizer que a população não devia usar estes camiões. Nada disso! Só estou a dizer que colocar uma tomada e internet no "mai-love" não devia ser motivo de júbilo. Não devia ser algo de pompa com ministro a dar a cara. O governo pode dar mais do que isso. O governo pode melhorar as vias de acesso e pode oferecer melhores carros. O governo pode melhorar a mobilidade do cidadão.
Estes camiões são uma vergonha. Não se deve elitizar sofrimento. Nos anos 90 andavamos naquilo e os governantes andavam em Peugeot-504 (que era muito!). Hoje que os governantes andam em últimos gritos de carros com cara de avião o povo não pode ser prendado com apenas uma tomada para carregar celular no mesmo pobre e desconfortante "mai-love". Se se investigar os contornos daquele negócio, vão-se encontrar outros Changs, Nhangumeles, Ndambis, Pearses, Privinvests e companhia.
Aquilo é mafia pura. É uma guengada. É prova de um crime público que vamos testemunhar amanhã. É sempre assim. "Ai-am-telingue-yu!"
- Co'licença!