Antonino Maggiore*
Trabalhamos todos os dias para tornar a parceria União Europeia – União Africana (UE - UA) mais forte e mais próxima dos povos de África e da Europa. O nosso contacto diário é prova de que a relação entre a Europa e África é feita de laços humanos, culturais, geográficos e económicos sem paralelo, e não de encantamentos, promessas e afirmações. Na 6ª Cimeira União Europeia - União Africana, em Fevereiro de 2022, mais de 80 líderes de África e da Europa reuniram-se em Bruxelas para adoptar uma agenda ambiciosa e reforçar uma parceria de paz, segurança, solidariedade e prosperidade baseada na igualdade, no respeito e na compreensão mútua.
A Europa e a África precisam uma da outra para dar uma resposta sólida e duradoura aos desafios globais e comuns que nos afectam a todos, desde as alterações climáticas à paz e segurança ou ao desenvolvimento económico. A parceria entre a União Europeia e a União Africana, assente no diálogo e no multilateralismo, é orientada para soluções e olha para o futuro.
A Europa e a África são ambas partes interessadas num sistema internacional baseado em regras e multilateral. A UE e os seus Estados-Membros foram dos primeiros a manifestar o seu pleno apoio à integração da UA no G20; a UE apoia África nas suas ambições de se tornar um ator mundial chave. Juntas, a UA e a UE podem ser pilares na defesa de um mundo assente em regras, em que a soberania, a integridade territorial e o direito à autodeterminação sejam salvaguardados.
A União Europeia está profundamente empenhada na segurança e prosperidade dos seus vizinhos, uma vez que esta é também uma condição para a nossa própria segurança e prosperidade, e esforçamo-nos por ser um parceiro fiável e previsível. Em tempos de crescente insegurança alimentar a nível mundial, a UE mantém o seu compromisso de facilitar a exportação de cereais e outros produtos agrícolas da Ucrânia. Gostaríamos de repetir que, desde o primeiro dia, a UE isentou os produtos alimentares e os bens de produção agrícola (incluindo os fertilizantes) das sanções impostas à Federação Russa. Em complemento à Iniciativa para os Cereais do Mar Negro, a UE criou os Corredores de solidariedade UE-Ucrânia, através dos quais quase 61 milhões de toneladas de cereais saem da Ucrânia por via terrestre. Embora seja frequentemente referido que apenas uma pequena percentagem dos produtos agrícolas exportados pela Ucrânia chegou directamenteaos consumidores africanos, os efeitos económicos combinados da iniciativa relativa aos cereais do Mar Negro e dos Corredores de solidariedade resultaram numa diminuição de 23% do índice de preços dos cereais no mercado global.
Olhando para além da necessidade imediata de atenuar a volatilidade dos preços dos géneros alimentícios no mercado mundial, a União Europeia terá mobilizado, até 2024, quase 7 mil milhões de euros para melhorar a segurança alimentar em África; mais de 3 mil milhões de euros já foram desembolsados. Este montante inclui as contribuições da UE para o Fundo para a Redução da Pobreza e o Crescimento do FMI. Outras iniciativas, como a Aliança para o Cacau Sustentável (UE, Costa do Marfim e Gana), estão a reforçar a resiliência dos sistemas alimentares e a sustentabilidade das cadeias de valor agrícolas.
Para reforçar as infra-estruturas de qualidade, e tal como acordado na 6ª Cimeira UE-UA, serão mobilizados até 2027 cerca de 150 mil milhões de euros de investimentos em África no âmbito da estratégia "Global Gateway Investment". Estes investimentos já estão em curso e a União Europeia está a traduzir os compromissos assumidos na Cimeira em realidade. No Quénia, apoio à instalação de fibra ótica e ao desenvolvimento de um sistema de autocarros rápidos em Nairobi. No Burkina Faso, a UE é o principal parceiro dos projectos de electrificaçã
Os resultados concretos e tangíveis estão à vista. Confirmam que a União Europeia é o principal parceiro de África a todos os níveis, no comércio, nos investimentos e no desenvolvimento. A Europa tem sido e continuará a ser um parceiro de longa data de África - a recente renovação do acordo com os países de África, das Caraíbas e do Pacífico, em vigor desde 1975, é apenas mais uma demonstração do nosso empenho.
No que respeita à paz e à segurança, apesar das múltiplas crises em todo o mundo, a UE manteve o seu apoio à UA e às operações de apoio à paz lideradas por África. Mais uma vez, isto traduz os compromissos assumidos na 6ª Cimeira UE-UA em acções. Para o período de 2022-24, estão a ser atribuídos 600 milhões de euros a estas missões através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (EPF), complementando o apoio ao abrigo de outros instrumentos de desenvolvimento. Um exemplo é o apoio da UE à missão africana de transição na Somália (AMISOM/ATMIS), que ascende a 2,7 mil milhões de euros desde 2007. As onze missões de formação e assistência no continente, incluindo para Moçambique através da Missão de Formacao Militar da União Europeia (EUTM), são outro testemunho do apoio da UE aos objectivos de paz e segurança dos parceiros africanos. A África tem sido e continuará a ser uma área fundamental de operações com o apoio do EPF. Prevê-se que o compromisso total da Equipa Europa para as iniciativas de Prevenção de Conflitos, Mediação, Paz e Segurança a nível nacional e regional ascenda a 1,5 mil milhões de euros entre 2021 e 2027.
Enquanto outros procuram dividir, a UE, na sua parceria com África, procura concretizar e promover a cooperação. Os compromissos assumidos por alguns países não resistem ao teste do tempo. Em contrapartida, a UE e os seus Estados-Membros têm investido sistematicamente em África e facilitado o acesso com isenção de direitos aduaneiros às exportações africanas para a UE.
Como sinal tangível da nossa vontade de estabelecer uma parceria que beneficie África concretamente, 33 dos países africanos menos desenvolvidos beneficiaram do regime aduaneiro mais favorável, eliminando os direitos aduaneiros e as quotas para todas as importações de mercadorias - excepto armas e munições. Actualmente, a UE é de longe o principal parceiro comercial do continente africano, com um volume total de 268 mil milhões de euros em 2021 e90% das exportações africanas a entrarem na União Europeia com isenção de direitos aduaneiros. A UE sente-se encorajada pelo potencial da ZCLCA e tem vindo a apoiá-la desde o início, contribuindo com conhecimentos especializados, capacidade institucional e intercâmbios sobre os ensinamentos colhidos, numaabordagem Equipa Europa.
A UE tem a sua quota-parte de responsabilidade no aquecimento global e está a investir fortemente para reduzir as emissões na Europa, mas também está ao lado dos países que são vítimas ou sofrem as consequências do aquecimento global e precisam de apoio na sua transição climática. Apoiamos a iniciativa da Grande Muralha Verde da União Africana para a adaptação às alterações climáticas com 700 milhões de euros e somos a força motriz por detrás da decisão de atribuir 100 mil milhões de dólares americanos em direitos de saque especiais (ou contribuições equivalentes) aos países mais vulneráveis, particularmente em África. A Cimeira para um novo pacto financeiro global, realizada em Paris no final de Junho, na qual participaram 25 Chefes de Estado africanos, juntamente com os líderes da UA e da UE, contribuiu efectivamente para alcançar esse objectivo e abriu caminho para a próxima Cimeira Africana sobre o Clima, a realizar no Quénia em Setembro. Graças ao Quadro Comum do G20 e do Clube de Paris, foi alcançado um acordo sobre o tratamento da dívida da Zâmbia, um passo histórico para aquele país e para o povo zambiano.
Em todos estes desenvolvimentos, a Europa está a mostrar resultados. O financiamento global para a cooperação para o desenvolvimento da Equipa Europa aumentou quase 30% em 2022 a nível mundial, com a ajuda da UE a África a aumentar 11% para o período 2021-2027, em comparação com 2014-2020.
Enquanto trabalhamos na organização da próxima reunião Ministerial entre a União Africana e a União Europeia, na qual faremos o balanço das nossas realizações conjuntas até à data, queremos reafirmar a nossa determinação e empenho permanentes em reforçar a nossa parceria solidária com África, a fim de contribuirmos juntos para a paz, a segurança e a prosperidade mundiais.
*Antonino Maggiore é Embaixador da União Europeia em Moçambique
Faz parte de uma constelação indelével, que tornaráInhambane um importante alfobre destinado a produzir jogadores de futebol que deixarão marcas profundas nos campos e na memória. E em cavaqueiras sem fim.
Pode ser que o seu nome tenha se circunscrito em pequenos limites, mas quem esteve nesses lugares vai se lembrar certamente das tardes e noites de glória em que Nando Guihoto ocupava o lugar dos esteios, transmitindo confiança não só aos seus companheiros, como aos adeptos que sentiam neste homem, um reduto sólido. Capaz de anular a cascata dos avançados e colocar em delírio o campo inteiro.
Nando forjou-se no bairro Santarém, onde nasceu numa família humilde. Jogou futebol de brincar no Bángwè, um campo espontâneo que arrecadava jovens em euforia, uns para jogarem e muitos outros movidos pela vontade de assistir à partidas empolgantes que terminavam em apoteose, com Nando Guihoto a brilhar entre os melhores.
Até aqui era apenas conhecido e aplaudido no bairro onde serácelebrado como um pequeno deus, que tinha do outro lado um outro pequeno deus, o Chumbo Lipato, avançado desconcertante jogando descalço em tardes de ovação, para no fim regressar-se à casa sem nada nas mãos, mas com o coração cheio de proezas que impulsionavam a malta a festejar a existência em todas as oportunidades.
E o Nando estava ali, no Bángwè e no bairro Santarém, à espera, sem saber que estava à espera, do toque do sino para que passasse a outros patamares. É assim que, de forma desinteressada e imperceptível, entra suavemente, quase subtilmente, no Grupo Desportivo de Inhambane e mistura-se com outros jogadores de eleição, que vão emprestar ao campeonato provincial de futebol, um ritmo que podia estar perto do cume.
O Nando, de cá de fora, como pessoa, era o mesmo que ia às quatro linhas, um homem desprovido de soberba, porém com dureza visível no olhar de felino e no peito aberto pronto para a defesa e para o ataque, costas ligeiramente cu
Mas como é inesperada a vida, Nando Guihoto morreu de morte anunciada. Nos últimos anos parecia um sonâmbulo andando pelo bairro sem falar com ninguém, exibindo o seu corpo atlético, mas já emagrecido pelo sofrimenro de proveniência desconhecida. Falava sòzinho - ou com os seus demónios – vocalizando para dentro de si mesmo, por vezes soltando um berro que ninguém entendia.
A última vez que vi o Nando Guihoto, vestia uns calções rotos que pareciam uma saiota, não tinha camisa, deixando à vista de todos, por conseguinte, um tronco nu bem desenhado. Não resisti em pronunciar seu nome em voz alta, Nando.......! E Nando ouviu-me. Olhou profundamente para mim e não disse nada, prosseguindo sua caminhada cujo destino nem ele sabia, se calhar já tinha chegado, onde esperava que a sua carcaça que ainda deambulava pelas ruas e pelos becos, voltasse ao pó. Para ele descansar.
No dia seguinte após aquele encontro, recebi a notícia: Nando Guihoto morreu!
Causou bastante estranheza ao juiz gringo o facto de o nosso compatriota Chang ostentar no seu CV uma pós-graduação da Universidade de Londres e, no entanto, declarar que “não falo inglês, mas entendo”. Indignação natural e racional. Não é somente o juiz americano que está indignado, estão muitos de nós, pelo menos os aparentemente mais racionais, indignados e atônitos. Uma pós-graduação não é um grau qualquer, mediano: nem é uma licenciatura, ou bacharelato. É um grau acima de um outro grau académico, muitas vezes o mestrado e, some times, o doutoramento. É uma espécie de especialização num campo de saber específico. Geralmente, confere mais conhecimentos acima de conhecimentos superiores, confere conhecimentos muito mais aprofundados ainda. Na maioria das situações, quem anda em pós-graduações está familiarizado com a língua de Shakespeare. Muitas vezes. Não todas as vezes! Okay, podia não ser o caso da nossa “caixa negra” do maior calote da nossa história. Como o de muitos de nós. Mas, a coisa fica incompreensível, muito suspeita mesmo, quando tal pós-graduação é feita nada mais, nada menos que no coração da língua shakespeariana: Londres! Como é possível obter-se um grau desta envergadura numa instituição que opera em inglês sem falar inglês? Onde grandiosa parte da bibliografia é em inglês? Onde as aulas, os papers, os seminários, as conferências, ou seja, toda a interação é em inglês?
Alguma coisa errada não está certa aqui, como costumamos dizer! Das duas, uma: ou Chang faltou à verdade para com o juiz, fala inglês, mas prefere expressar-se e receber as mensagens na língua que domina, sobretudo nas circunstâncias em que se encontra, de preso. Fosse este o caso, o shop stick podia ter sido mais preciso, indicando ao juiz que dada a situação em que se encontra preferia comunicar-se justamente na língua em que se sente mais à vontade. Ou, efectivamente, ele não fala inglês e ponto final; portanto, falou a verdade!
Como a primeira pressuposição não está formulada pelo nosso compatriota diante do causídico americano, é preferível, para nós, narradores, considerar a segunda: Manuel Chang esteve na Universidade de Londres, fez lá pós-graduação, mas não fala inglês, só entende! Fiquemo-nos por aí e trabalhemos com esta proposição.
Se é isto, o país está cheio de Manuéis Changs. Temos Changs aos magotes! Que escrevem no currículo uma coisa e no concreto, na vida real, são outra diferente. Muitos têm no CV que falam esta e aquela língua, mas em situação real nada daquilo é. Nos CV falam inglês, falam e escrevem muito bem, excelentemente, o portugues, francês, etc., mas, no concreto, inverdades autênticas. Nos papéis são isto mais aquilo, mas, no concreto, zero de zero. Auto-intitulam-se isto mais aquilo e no momento da verdade não conseguem demonstrar. Ouvimos e vemos compatriotas e compatriotas exibirem nos CV graus de PhD’s, de mestrados, mas no seu dia-a-dia não têm uma alocução a esse nível, muito menos obra ou postura condizentes. Estamos cheios de pessoas que foram estudar algures e de lá trouxeram e exibem graus e graus, economistas, cientistas, isto e aquilo, mas, pouco fazem perceber do que dizem possuir.
E, como somos fraquinhos no que diz respeito ao scouting, muitos destes changs são colocados em posições estratégicas do desenvolvimento do país e os resultados são os que conhecemos. Sorte a nossa. Até já tivemos mais, tivemos gente que nem sequer se lembrava da universidade em que alegadamente estudaram, tipo Neves Pinto Serrano (paz à sua alma)!... - os mais velhos lembram-se e bem dele.
Pelo que não vale de nada rirmo-nos de Chang da nossa desgraça, ele não é o primeiro nestas proezas e nem é único que foi estudar para a Universidade de Londres e não sabe falar inglês!
ME Mabunda
No Niassa aconteceu isto, de acordo com relatos que recebi. Que partilho aqui, ipsis verbis, e comento logo seguir:
Saudações .
Informo V.Excia, que no âmbito da actividade de carácter operativo levada a cabo pelo Gabinete Provincial de Combate a Corrupção de Niassa, foram encontrados em flagrante delito, quando eram 17 horas do dia de hoje (19.07.2023), nas ATM's dos bancos BCI e Millenium BIM, três agiotas em pleno acto de levantamento de valores monetários.
Conduzidos a 1a Esquadra para efeitos de detenção, constatou-se no acto de revista que os mesmos estavam munidos de um total de 413 cartões pertencentes a diversos particulares, emitidos pelas instituições bancárias BCI, Millenium BIM, ABSA, entre outras.
Na posse dos mesmos foram encontrados valores monetários num total de 255.700,00 MT (duzentos e cinquenta e cinco mil e setecentos meticais), 5 bilhetes de identidade, 1 cartão de eleitor e 1 carta de condução, igualmente pertencentes a particulares.
De momento os mesmos encontram-se detidos.
As ordens”
Eis o meu comentário:
É incomum! Os gabinetes anti-corrupção têm brigadas operativas? Como assim? Andam a detectar a corrupção na rua? Exceptuando casos de extorsão policial ou das inspecções do Estado (aqui no seguimento de uma denúncia), é raro detectar corrupção na rua. É uma empreitada difícil. E geralmente o próprio conceito penal só é aferido depois de uma investigação preliminar (se é abuso de cargo ou peculato, por exemplo).
A não ser que a nossa Anticorrupção tenha umas ferramentas mágicas para descobrir, na rua, que uma troca comercial é corruptiva. Ferramentas ainda mais sofisticadas para descobrir que um levantamento em ATM encerra corrupção, por natureza uma transação escondida, que é feita por debaixo da mesa.
É claro, pode tratar-se de matéria criminal, este caso do Niassa, mas da alçada do SERNIC. Estas brigadas operativas de anti-corrupção são um “non sense”. E bizarras, porque seus carros não estão descaracterizados. Ostentam a sigla da Anti-Corrupção, em letras garrafais, logo um incentivo para afugentar o agente de trânsito que extorque um condutor.
É claramente uma questão que pode ser revista: corrupção não é contrabando ou tráfico de drogas. É corrupção. Um crime subtil, uma troca escondida ou um desvio comportamental, dissimulado. Em suma, uma complexidade que em Moçambique se tornou tristemente endêmica. (MM)
O inimigo, entenda-se adversário, quando te elogia, deves rever as tuas posições, quando te ataca, significa que estás no bom caminho”
Adaptado das frases de Samora Moisés Machel, 1º Presidente de Moçambique.
“As palavras proferidas por Carlos Fernando, membro da Renamo e Presidente da Comissão da Polícia Municipal e Fiscalização de Nampula, constituem uma ameaça à integridade física do cidadão Celso Correia e, por conseguinte, merecem intervenção da PGR para se aclarar o que pretende dizer com aquelas palavras e, por via disso, prevenir-se um mal maior. A Renamo é um partido político relevante no xadrez político nacional. A Renamo tem história e responsabilidades neste país e, por isso, não deve ser representada por pessoas juniores na Política. Carlos Fernando deve “crescer” internamente, depois é que virá fazer pronunciamentos públicos, do contrário, a Renamo estará perdida”.
AB
Se dúvidas existiam, é altura de sossegar os membros do partido Frelimo, quanto à escolha, para a Província de Nampula, do membro da Comissão Política do Partido, Celso Correia. Os pronunciamentos do senhor Carlos Fernando, membro do Partido Renamo e Presidente da Comissão da Polícia Municipal e Fiscalização, revelam falta de sossego daquele partido na Província de Nampula. Estou em crer que Carlos Fernando terá sido o porta-voz do mal-estar interno na Província.
Até porque devo recordar que Celso Correia disse de viva voz que, nas eleições autárquicas de 11 de Outubro de 2023, a Frelimo pretende ganhar em todas as Autarquias e, sobretudo, recuperar as Autarquias que estão a ser governadas pela oposição. Aliás, para um destacado membro sénior de um partido político, se traçasse objectivos abaixo desse, não mereceria confiança dos seus colegas do partido. Ouviu-se isso da senhora Margarida Talapa na Beira muito recentemente, pelo que esse objectivo é, acima de tudo, da Frelimo no dia 11 de Outubro de 2023.
Mas também é preciso que se diga que, ao fazer esse pronunciamento, Carlos Fernando se revelou um júnior em política e, se a ideia é do partido, então a Renamo está numa situação em que precisa de um “marinheiro” profissional, porque se revela amadora, o que não é admissível para um partido da dimensão da Renamo, com histórico e capital interno que possui. Num caso destes, seria aconselhável que alguém com maior credibilidade interna, local ou nacional, aparecesse a desculpar-se do amadorismo político manifestado nesta intervenção de Carlos Fernando.
Para piorar, Carlos Fernando faz uma campanha antecipada, quando profetiza que o cabeça-de-lista da Frelimo não irá passar em Nampula. Mais ainda, apela para um voto “tribal” esquecendo que o senhor também é natural de Nampula e, por conseguinte, é Macua, salvo se Carlos Fernando pretende classificar os Macuas por categorias de originalidade, o que, certamente, não só seria sujeito à intervenção de instituições de direito, como poderia colocar a Renamo numa situação embaraçosa. Afinal, a Lei não permite o uso da tribo por estes momentos e tão pouco apelo a um voto “tribal”.
A Renamo, na Cidade de Nampula, ajudou a elevar a fasquia popular do senhor Celso Correia, se bem que não precisava disso. Mas hoje é inegável que Celso Correia é o nome mais falado por ocasião das Autarquias de 11 de Outubro de 2023, fruto do amadorismo político do senhor Carlos Fernando e da cúpula local da Renamo em Nampula. A constituir-se ameaça para o círculo eleitoral mais populoso do País, Celso Correia mostra-se relevante no xadrez político nacional e, provavelmente, a própria Frelimo não tivesse consciência desse capital político do Correia. Afinal, diz-se que “os olhos de fora vê melhor que os de dentro”.
Resvalando para os aspectos de legalidade, eu penso que a Procuradoria Provincial de Nampula, senão mesmo a Procuradoria-Geral da República, deveria já ter ouvido Carlos Fernando para aclarar as suas declarações sobre como chegaria a deixar o senhor Celso Correia “sem dentes” e ou “encaixotado”. A PGR não deve entrar no jogo político, deve agir em função de defesa de legalidade. Se a ameaça à morte é um crime, então, o que espera para compreender melhor sobre as palavras proferidas por Carlos Fernando, sabido que comanda uma Força Paramilitar naquele pedaço geográfico!
Adelino Buque