Na minha terra há duas classes sociais, a plebe - o povo, e os aristocratas - os burgueses vampiros. A primeira é composta por míseros mortais que vivem expectantes na utopia de um futuro melhor prometido pelos neocolonialistas, que é a segunda classe; Essa segunda classe é composta por imortais encantadores dos distraídos, que se valem da sua épica história de bravura que excomungara o colono do nosso solo pátrio, pérola do Índico, autrora, província ultra-marina. Pecou a elite libertadora, quando deixou a sua bravura, prevaricar a tal ponto de não ser brava suficiente, para expulsar o colono com o respectivo colonialismo, como já foi referido pelo Kubaliwa. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e as coisas, e essa bravura, não resistiu a coerência deste adágio, ao se transformar, de bravura patriótica em Neocolonialismo.
Desde que Kubaliwa se foi, anda uma lufa-lufa aqui que não se entende, inesgotáveis rumores, um deles é de que ele se foi, mais deixou os tomates, porque entendera que a sua missão não tinha chegado ao fim ainda. Algumas línguas dizem que o Nuvunga se apoderou desses tomates, mas cá entre nós, isso não passa de calúnia e difamação dos seus detratores, pois dentre o povo, ninguém consegue ser ameaça maior, ou seja, calcanhar de aquilis para os vampiros que ele. Prova bastante de que os que ele tem são funcionais e lhe conferem arcabouço suficiente, para enfrentar um Sistema encorporado numa governação criminosa. A ser verdade que Nuvunga tenha se apoderado dos tomates, seria por mera ostentação e vaidade. Outras línguas, e não poucas, dizem que os tomates andam ai espalhados entre os jovens, daí esse prenúncio de movimentos primaveris revolucionários, essa irreverência no confroto ao Establishment político por parte deles. Por incrível que possa parecer, há quem diga que viu os tomates com as manas Mambire e Quitéra, pode uma coisa dessas? Ahhh..porque sem tomates ninguém teria a ousadia que elas tem. Mas cá por mim, se elas precisassem de tomates comprariam no supermercado.
O outro rumor é de que o advogado do Sistema, EV, quando tomou conhecimento do fatídico sucedido com o Herói do Povo, o que foi parido de novo e nomeado Edson Mandela, o filho da mãe para os políticos, correu até a casa enlutada, como que para dar as condolências, ludibriou os presentes agoniados entre choros e prantos, e de forma subtil arrancou-os na mesma subtileza com que a Dalila arrancou os cabelos de Sansão, pois neles estava a força que o tornava diferenciado entre os homens. Em posse dos mesmos, foi barganha-los, por uma garrafa de Dom Barril. Ganha azo esta narrativa, por ele ser sobejamente conhecido como fã confesso do vinho.
Seja quem for que tenha se apoderado desses místicos tomates, não muito valor agregará seja sociedade civil, assim como a classe política, mais do que agregaria Ossufo Momade, se tivessem caído nas suas mãos. Uma prova inequívoca, de que o líder da segunda força política, carece desses tomates, é o facto de que desde que começou o seu consulado na perdiz, os Vampiros estão mais sanguinolentos, e vivem sugando o sangue do povo como nunca antes, e nada lhes acontece, até as eleições Distritais que foi um combinado legislado, não mais se vão cumprir, e tudo acontece sob um olhar impávido e sereno do leniente chefe, que muito pouco de lider têm, e de toda cúpula de uma pséudo-oposição, factor inflamatório dos abusos do regime, que mesmo ouvindo o brado de clamor do povo pelas vias de acesso, eis que lhe oferece Portagens.
Para essa crueldade, criaram a fraudulenta REVIMO, que para nada serve, se não para agravar a carestias de vida aqui no país de Pandza, e Novunga, no pleno exercício da sua cidadania, faz mais oposição ao regime do que toda oposição junta, sem querer descurar o trabalho assinalável que tem sido desenvolvido pelo Mondlane, o Venâncio, que é deveras um político cientista, que em cada intervenção sua, alarma a mamã Bias e reduz a insignificância a gang da camaradagem.
Me admira a ousadia dos vampiros, capturaram a pérola do indico, mudaram a ordem natural do estado do direito, multiplicaram os viventes de Gaza, criaram os postos de Recenseamentos nos domicílios dos Camaradas em exclusivo para Camaradas, levantaram um pseudo-sacerdote na comissão, tal como fará o anti-cristo, para lhe branquear as trambiquices. Assim o poder não mais Emanará do Povo, e no dia do voto, o povo irá as urnas por mera formalidade, pois, para se perpetuarem no poder, bastar-lhes-á a “Benção do sacerdote”, o voto dos camaradas, e do povo parido matematicamente em Gaza.
É esperançoso ver um povo sonâmbulo, dar sinais de estar desperto, pois aquele que descobriu as mentiras da verdade, disseminou a sua descoberta, e o povo anémico não mais ingenuamente se oferecerá por sustento aos vampiros. A Coisa é tão sinistra que até as mamanas que viviam expectantes da época eleitoral, para venderem a alma por uma capulana estampanda com o rosto do sanguinolento Drácula, ousam a olha-lo, olho no olho e dize-lo com toda contundência “¹A ntiro wa wena e matximba”.
Essa coisa de estado de direito democrático, tornou-se numa utopia, a semelhança das ideologias Marxistas Leninista, que infelizmente de algum modo, sempre fundamentaram a condução do nosso estado, muito por conta da génese do partido do governo do dia. São desculpáveis os nossos lideres por isso, ninguém tinha esperimentado algo melhor ou diferente, para puder entender que essas teorias esquerdistas filosóficas da escola de Frankfurt, só tem involucro apetecível, e nada de proveitoso capaz de potenciar o desenvolvimento social, político, económico efectivo de uma nação.
Do que vivi nesta vida, já mais esperaria ver, nem no meu mais terrível pesadelo, o júbilo e os aplausos efusivos dos “subalternos” camaradas, quando o chefe máximo, foi anunciar na casa do povo, o não pagamento do 13º. Como que um vampiro diante de um barril de sangue, assim foi a celebração dos avermelhados representantes do povo, arregimentados pelo povo, mas que vivem prestando vassalagem ao executivo, mesmo quando este anuncia uma desgraça para o povo. Nunca fez tanto sentido o dito pelo Kubaliwa "...Não querem saber de ti, não querem saber de ti, vampiros, os vampiros...!"
Disse mais, que ele era da geração dos que primeiro perdiam a vida e só depois a esperança. Deveras é preciso muita esperança para não desfalecer num lugar onde a ditadura do voto é que rege o legislativo, onde os tentáculos do executivo alcançam e subjugam o judiciário, tornando-o num baluarte dos seus intentos maquiavélicos.
Portanto, não sendo de Noronha, mas lhe fazendo a vez, digo não a África, mas a terra do Pandza, Surge et Ámbula!
Minha Mãe África
Cresço nos teus doces braços
Eu sou criança africana
Não apenas porque nasci em África
Tampouco porque vivo em África
Não pela minha ascendência
E muito menos pela minha descendência
Eu sou criança africana
Porque estou imbuída da cosmovisão ontológica
Vivo seus valores
Vivo seus sabores
Vivo seus oderes
Vivo seus aromas
Vivo seus sentidos
Ohhh mãe África
Ohhh mãe grande, misteriosa, mística e valorosa
És um mistério para uns
És misticismo para outros
E és valorosa para os seus, porque na maternidade
Transmites vida, esperança e liberdade
És o berço da humanidade
És sabia e coerente
Por conseguinte és fraternidade
E a sua história não mente
Ainda que por vezes te deixaste violar pelo chicote colonial
Te permitiste ocupar e dominar ao sabor da pólvora
Por agendas de guerras, exploração e pilhagem
Ainda que tudo isso te tenha acontecido
Não deixaste sua essência desaparecer
Depois da longa noite escura
A longa noite da escravidão e desumanização
Não permitiste que aos seus filhos faltasse identidade
Não deixaste que fosse violada a sua dignidade
Ainda que a mesma identidade seja hoje questionada, vilipendiada e insultada
A sua dignidade, generosidade e grandeza estão aqui
Para mostrar e ensinar ao mundo que não se negoceia a cultura, os valores e muito menos a humanidade
Humanidade, respeito, verdade, compaixão, honestidade, harmonia, equilíbrio, justiça e alteridade
São algumas das qualidades e atributos que a ti pertencem
Ainda que te julguem mais pela emoção em detrimento da razão, és genuína, valente e verdadeira
Mãe África
Acorda e brilha para si
Acorda e valoriza-te
Acorda e recupere o seu lugar outrora usurpado e arrancado
Recupere seu lugar primordial no cento da humanidade
Mostre seu poder e sua luz a toda criança africana.
Feliz 16 de Junho
Hélio Guiliche
O jovem trazia moedas na mão esquerda, dirigiu-se a uma banca que vende géneros alimentícios e pediu parcos produtos que pagou imediatamente, entregando o dinheiro com a mesma mão esquerda, num inadmissível gesto na juventude da minha geração, era má aducação. O homem que estava do outro lado do balcão é idoso, provavelmente da idade do avô deste rapaz, por isso merecedor, logo a partida, de respeito. Chocou-me a situação, então decidi intervir.
Chamei o miúdo que olhou para mim com desdém. Saudei-o e ele simplesmente não respondeu, logo percebi que devia ter cuidado, estava diante de um desconhecido e que agora de perto mostra ser possuidor de um potencial agressivo. Mesmo assim não desisti do propósito que me levou a chamá-lo. Repreendi-o dizendo que não ficava bem entregar seja o que for a alguém com a amão esquerda, sobretudo quando a pessoa que vai receber é mais velha que nós.
O jovem virou-me as costas com desprezo e prosseguiu a sua caminhada sem me dizer uma única palavra, e eu caí de cangalha no espírito, não por ele ter-me ignorado, mas por estar mais do que claro que temos aqui uma criatura que estará a crescer mal formada como pessoa, e como ele, existem intermináveis legiões assim no nosso país, que poderão, por serem pólvora latente, queimar o futuro inteiro. O rastilho está aceso.
Mas eu precisava de aliviar a minha dor, foi assim que dirigi-me ao proprietário da banca que, ao contar-lhe o sucedido, disse aquilo que não me surpreendeu. “você tem que ter cuidado com esta rapaziada, eles andam drogados e frustrados. Se não respeitam os seus próprios pais, como é que vão respeitar às outras pessoas?”
A cannabis sativa e outras drogas desconhecidas andam em todo o lado. Quanto mais as autoridades tentam combater os seus consumidores, mais elas – as drogas – ressurgem. Até porque podemos não estar perante um problema criminial em si, mas um problema social, os jovens estão sem rumo, estão a degenerar, vê-se isso pelo seu comportamento, pela sua tendência a serem agressivos e pior do que isso, abstenidos, já não se importam com nada.
Depois de desabafar com o homem da banca, procurei ali mesmo na Mafurreira, uma barraca onde podesse beber cerveja e esquecer aquilo. Mas o que aconteceu foi encontrar outra situação ainda mais dolorosa. Degradante. Ou seja, quatro jovens bebiam “Soldado”, uma bebida extremamente agressiva que o nosso governo tolera e deixa que prolifere no mercado, destruindo uma geração inteira de adolescentes e jovens que no lugar de estar ali a consumir esse veneno, devia estar em lugares mais saudáveis como a escola, por exemplo.
Saudei-os, porém estes, diferentemente do primeiro que pelo menos parou e olhou para mim, nem sequer reagiram. Continuaram na conversa alimentada por palavras obscenas e gestos obscenos também. Estavam visivelmente “tocados” pelo efeito do “Soldado” com os rostos envelhecidos, desidractados. E eu não podia continuar ali assistindo a um grupo que está-se matando devagar sem que ninguém possa fazer nada para travar a derrocada. Nem eles próprios, por isso fui-me embora. Não podia fazer nada. Não podia dizer nada, sob o risco de ser agredido, ou com palavras ou com as mãos ou ainda com aquela garrafinha adorada pela juventude, não porque é boa coisa, mas porque é relactivamente barata e sobe à xabeça muito rapidamente. E vicia. Mas é bebida do dia.
Há muito que corre o debate público informal sobre a relevância da proibição da produção, uso e venda da cannabis sativa, vulgarmente conhecida por suruma, no Estado moçambicano. Esta planta é classificada como droga, substância psicotrópica, pela Lei n.º 3/97 de 13 de Março, que define e estabelece o regime jurídico aplicável ao tráfico e consumo de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, Precursores e Preparados e outras substâncias de efeitos similares e cria Gabinete Central de Prevenção e Combate à Droga. O artigo 34 da presente Lei determina o seguinte:
Quem, sem se encontrar autorizado, cultivar a planta “Cannabis Sativa”, vulgarmente conhecida por suruma, será punido com a pena de 3 dias a 1 ano de prisão.
Moçambique apresenta vastíssima terra fértil propícia ao cultivo da suruma e vezes sem conta as autoridades policiais desmantelaram várias e extensas plantações da suruma a nível nacional para além de terem apreendido e incinerado várias quantidades da mesma planta, em cumprimento da supracitada Lei.
Nos termos do n.º 1 do artigo 103 da Constituição da República de Moçambique, a agricultura é a base de desenvolvimento nacional.
Alguns estudos científicos no domínio público revelam a importância da Cannabis Sativa tanto para fins medicinais, como para a produção de óleos, tecidos, loção ou cremes para tratamento da pele humana, chás, etc. Por essa razão, a produção, utilização e comercialização da Cannabis Sativa é largamente permitida e impulsionada para o desenvolvimento da economia de vários países, incluindo os integrantes da SADC, de que Moçambique é parte integrante. A lei não especifica de forma exaustiva, esclarecedora e convincente em que medida a planta Cannabis Sativa deve ser considerada droga maléfica à sociedade e contrária à prática da agricultura, entanto que base do desenvolvimento nacional, conforme preconizado na Constituição da República.
Em bom rigor, atendendo às suas qualidades para a vida humana e economia do País, bem como o facto de haver milhões de hectares de terra fértil para a produção, comercialização, exportação e industrialização da Cannabis Sativa em Moçambique, dúvidas não restam de que o cultivo desta planta constitui também matéria bastante para responder e materializar o desiderato constitucional de que a agricultura é a base do desenvolvimento nacional.
Do acima explanado, é fácil perceber sinais de que a Lei n.º 3/97 de 13 de Março, sobre o tráfico e consumo de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, está em contradição com a Constituição da República no que diz respeito à proibição e criminalização do cultivo, produção, comercialização, exportação da Cannabis Sativa. Trata-se, pois, de uma Lei que prevê normas que impedem e criminalizam determinada forma ou tipo de cultivo ou de agricultura como a base de desenvolvimento nacional, sem, no entanto, explicar em que medida a planta em questão é prejudicial a ponto de ser banida e a sua prática criminalizada nos tempos contemporâneos da Constituição da República.
Ora, se a Cannabis Sativa é uma planta que pode ser cultivada a bem da sociedade e do desenvolvimento nacional e para fins lícitos que se coadunam com a dignidade humana incluindo a saúde e o bem-estar e, ainda, harmónico com determinados objectivos fundamentais do Estado definidos nos artigos 11 e 103 da Constituição da República, então é manifesta a contradição entre a Lei n.º 3/97 de 13 de Março, sobre o tráfico e consumo de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas para com Constituição.
Tanto o objectivo fundamental do Estado que consiste na promoção do desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do País e o objectivo fundamental que se traduz no desenvolvimento da economia e o progresso da ciência e da técnica, conforme resultam, respectivamente, das alíneas d) e h) do artigo 11 da Constituição da República, não deixam margem de dúvidas de que a proibição e criminalização do cultivo da Cannabis Sativa constitui uma das barreiras à materialização desses objectivos fundamentais do Estado e de que o Estado moçambicano está de certa maneira a negar priorizar a agricultura como a base de desenvolvimento nacional, por razões ora desconhecidas.
Mais do que isso, é que o n.º 2 do artigo 103 da Constituição, ao tratar da agricultura, determina que: O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para a satisfação crescente e multiforme das necessidades do povo e o progresso económico social do País. O cultivo da Cannabis Sativa pode ser um bom ponto de partida para a industrialização e comercialização da agricultura em grande escala. Mas até que ponto a proibição e criminalização do cultivo da Cannabis Sativa materializa esta norma constitucional? Não estará o Estado a fazer o contrário?
Portanto, sendo Moçambique rico na cultura da Cannabis Sativa há muitos anos e o facto da mesma ser, indubitavelmente, fonte de produção de material benéfica à sociedade, à vida humana e para desenvolvimento nacional no quadro do previsto na Constituição da República, urge a revisão e harmonização da Lei n.º 3/97 de 13 de Março, que define e estabelece o regime jurídico aplicável ao tráfico e consumo de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, Precursores e Preparados e outras substâncias de efeitos similares e cria Gabinete Central de Prevenção e Combate à Droga para com a Constituição da República e, sobretudo, por não haver matéria bastante para a referida criminalização. No mesmo sentido, há espaço para interposição de acção de inconstitucionalidade das normas que proíbem e criminalizam o cultivo e comercialização da planta em questão.
Por: João Nhampossa
Human Rights Lawyer
Advogado e Defensor dos Direitos Humanos
A Vice Ministra da Economia e Finanças, Carla Louveira, disse ontem e bem:
“A limitada penetração de agências e agentes bancários fora das áreas urbanas devido, entre outros factores, a questões de viabilidade comercial e falta de infraestrutura essencial (estradas, energia elétrica e serviços de telecomunicações), contribui para o atraso na extensão dos serviços bancários”.
Ela falava durante uma reflexão sobre as perspectivas de investimento e financiamento da economia.
Ela disse uma coisa que contraria, e bem, a lógica da política de bancarização da economia e inclusão financeira em curso: Um Banco Um Distrito.
O distrito pode ser dos mais pobres do país, sem qualquer dinâmica económica e penetração de serviços do Estado, que atrairiam uma agência bancária com rentabilidade, mas como já foi politicamente decretado, a banca comercial deve seguir os ditames.
E nisso, o banco central dorme maritalmente com o Governo na mesma cama de um pensamento completamente perverso e anti-economia: ninguém investe para perder dinheiro.
Mas a banca comercial, politicamente condicionada nos negócios, segue tal política da carroça na frente dos burros, reclamando em surdina e apenas quando o Xefire lhes atira com multas e uma política monetária asfixiante, como foi o recente caso da subida dos coeficientes para as reservas obrigatórios.
A feira das vaidades que essa bancarização atípica encerra vai certamente continuar. Está no ADN do nyussismo e de uma Frelimo que, protelando uma efectiva descentralização fiscal, continua a tratar os distritos como territórios de instrumentalização política, na lógica da reprodução do poder.
Se Guebuza distribuía os famosos 7 milhões pelos caciques do Partido, Nyusi apostou em construir edifícios de prioridade e sustentabilidade duvidosa. Para além de agências bancárias às moscas pagas pelos bancos, o Governo constrói Tribunais onde não há escolas, nem hospitais, nem estabelecimentos prisionais decentes. Quem paga?: nossos bolsos.
A carroça vai comandando os burros numa viagem pelos atalhos sinuosos e lamacentos do despesismo, com um horizonte final de acumulação de dinheiro. Pura e simplesmente. Cinicamente.
Cartamz.com
Entramos já em Junho. Faltam praticamente quatro meses para o 11 de Outubro, a data em que os residentes de autarquias irão votar nas figuras que gostariam que estivessem à frente dos municípios onde residem nos cinco anos subsequentes. Nas próximas semanas, vamos ter dos partidos políticos e ou instituições da sociedade civil - já que a lei permite que estas apresentem - os candidatos a candidatos a presidentes e a membros das assembleias dos vários municípios do país, num total de 65. Como vão ser eleitos internamente nas suas organizações, é matéria de outro texto, sabendo como sabemos que cada uma delas tem procedimentos próprios. Uns, mais coerentes, lógicos, bem estruturados; outros, “de desenrasca”, arbitrárias, sem critérios claros e coerentes, intransparentes, nepotistas e menos democráticos.
Quatro meses não é muito tempo. Primeiro, nem são bem quatro meses porque ainda não temos sequer os tais candidatos a candidatos a cabeças de lista eleitos ou apontados… ao que tudo indica, só vamos tê-los dentro de 15 dias a um mês, por aí em Julho. E, portanto, aí estaremos a falar de… apenas três meses. O que piora o cenário. Alguém precisa de ser gênio para, em três meses, preparar, apresentar e divulgar um manifesto eleitoral bem elaborado, estruturado, inclusivo e abrangente, até para com os seus camaradas. É certo que a eleição já não é directa, não se elege directamente o candidato a presidente de município, mas o partido e este formalmente endossa o seu cabeça de lista; e, por causa disso, os partidos ou as organizações já devem estar a preparar os manifestos, ou tê-los prontos. Mas… mas… o cabeça de lista tem - deve ter - muito envolvimento na elaboração do manifesto eleitoral de cada autarquia, afinal, é ele que vai estar à frente e lidar directamente com os munícipes, prestar-lhes contas, dar-lhes satisfação, implementar e zelar pelo cumprimento do manifesto. Ai daquele candidato a candidato que não for o protagonista do manifesto eleitoral que a organização de que é cabeça de lista está a preparar (ou vai preparar)! Corre o risco de ser aquele menino a quem mandam ir somente ler um documento, mas que não sabe de que se trata, o que foi prometido aos eleitores, o que está no manifesto e, por conseguinte, não passa de um papagaio.
Não há muito tempo para a elaboração de um documento consequente sobre a vida dos munícipes, envolvendo-os estratégica e metodologicamente. Assim como não há muito tempo para o cabeça de lista socializar o manifesto da sua organização com as pessoas que pretende governar. Não há muito tempo igualmente para a divulgação do manifesto e para as tentativas de convencimento dos eleitores sobre o seu manifesto. Teremos, sim, as campanhas eleitorais; mas aí estaremos mais num cenário de exposição de ideias do que propriamente de discussão.
Muito provavelmente, uma vez mais, o que vai acontecer não será a eleição de uma determinada formação por ter apresentado o melhor manifesto. Mas… votar por votar, votar pelo seu histórico político, pela simpatia ou alinhamento político do eleitor. E assim vai a nossa democracia.
Ainda que este seja o quadro, em que essencialmente o cabeça de lista não tem tempo suficiente para elaborar um manifesto coerente e consequente e depois socializá-lo satisfatoriamente, permito-me lançar um apelo às formações/organizações que vão entrar em campo - e muito particularmente aos cabeças de lista. O apelo é muito simples e claro: não sejam como o músico Avelino Mondlane, que prometeu tudo à namorada a troco de não ser traído: carro, avião, casa, tudo, tudo. Não prometam mundos e fundos, sonhos que não vão conseguir realizar, ou concretizar. Ainda que o manifesto seja da organização a que pertencem, quem vai ser cobrado pela sua implementação ou não, pelo seu sucesso ou não, são as vossas pessoas. São as vossas cabeças que estarão em jogo.
Lembremo-nos de uma experiência muito recente na nossa história de governação municipal. Em grande parte dos municípios, senão em todos, os edis que vão substituir, aproximadamente um ano ou meses depois de terem sido eleitos e se instalarem nos gabinetes, desencadearam uma guerra sem quartel jamais vista no nosso panorama político, nas nossas urbes, nas nossas estradas. A guerra contra os vendedores de rua! Em muitas cidades municipais, vimos e ouvimos ao vivo uma guerra desenfreada, sem quartel, uma autêntica caça aos vendedores de rua, como se de criminosos se tratasse; em algumas cidades, vimos autênticas batalhas campais em grandes avenidas, praças ou locais que há muito estavam tomados por vendedores de rua. Em muitas estradas, vimos polícias caninas acompanhadas de akm’s e bastões a escorraçar os vendedores de rua das bermas das estradas. Houve batalhas raramente vistas pelo mundo. E temporariamente lograram os propósitos, aparentemente os vendedores abandonaram as ruas. No entanto, hoje, volvidos dois, três anos, podemos dizer numa única linha que foi simplesmente uma guerra inglória e perdida. Os vendedores de rua, hoje por hoje, e em quase todo o país, voltaram a passear a sua classe. Num ou noutro ponto, ainda se vislumbra um ou outro policial… mas, grosso modo, os vendedores da praça dos combatentes, Estrela, Guerra Popular… etc. e etc. voltaram a campear!
A questão é: será que aquela guerra foi bem pensada? Terá havido uma estratégia desenhada antes de se ir à tal guerra? Qual era a sua essência? Estava-se a combater o quê e a quem? Quem são os vendedores de rua? Conhecemo-los? Aquela era a melhor forma de abordar o assunto? Não haveria outras alternativas? Quem ganhou a guerra?
Pouco importa se a tal guerra estava ou não inscrita nos manifestos eleitorais. Quer estivessem inscritas, quer não, certo é que os edis que combateram esses combates saíram a perder. Ficou o registo de que combateram uma guerra para a qual não estavam devidamente preparados, não a conheciam e nem lhes ocorrera sequer que seria… uma guerra prolongada e que precisava de uma abordagem estrutural, mais do que bélica! E que a perderam.
Não façam como o Avelino Mondlane!…
ME Mabunda