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terça-feira, 22 dezembro 2020 07:08

Os anseios de uma sonhadora militante: Farida Gulamo

As histórias de superação de vida, em Moçambique e no mundo, se sucedem. Algumas se mediatizaram, porém, a maioria, continua anónima e reservada. Vencer faz parte do ser humano. A maior beleza da superação tem sido o positivismo, as acções de fé, esperança e a auto-estima. Farida Gulamo, a mulher que veste o rosto e espírito do associativismo, em Moçambique, faz parte desse distinto grupo dos que demonstram tenacidade e sagacidade, muito para além do comum. Uma trajectória de dificuldades e privações, contudo, de requintadas e memoráveis vitórias.

 

A superação pode ser entendida como uma opção. Não importa o estado de saúde ou físico. As pessoas podem escolher entre dar importância as decepções e enfatizar as falhas e deficiências, vivendo com amargura e tristeza ou, pelo contrário, lidar com os problemas e encarar esses momentos como aprendizagem e tempos de responsabilidade para sua própria felicidade. Assim tem sido a Farida Gulamo. Por vezes, incompreendida e desacreditada, ela tem liderado processos e associações que lutam pela equidade, pelos direitos humanos e pelo respeito institucional, de forma incontestável, ao longo de mais de 50 anos.

 

Com a história do maior génio do século XX, o criador da teoria da relatividade, Albert Einstein, que foi considerado um mau aluno e completamente inútil, pela maioria dos seus professores, se aprende a lição da persistência, do valor da luta pelos sonhos. Farida Gulamo nasceu no Ilhéu, na primeira capital de Moçambique, naquele célebre hospital que, em 1952, foi tido como a maior estrutura hospitalar da África ao sul do Sahara. Depois, a vida lhe ensinou a lutar pelos seus sonhos, nunca virar a cara à luta, nem depender de quem quer que seja.

 

O associativismo e a luta pela inclusão social dos grupos excluídos, em Moçambique, certamente, possuem várias motivações e rostos. Alguns, mais visíveis e outros menos. Diferente das histórias das epopeias ou das grandes batalhas, das lutas emancipatórias e das vitórias sobre a dominação estrangeira, o associativismo se respalda em cidadãos de boa vontade, com forte capacidade de liderança, com pendor de agregar valor às suas pretensões e, sobretudo, com essa facilidade mobilizadora, modificando as percepções e os preconceitos.

 

Tal como os escritores, os principais líderes associativistas transportam, no seu DNA, a responsabilidade de transmitir, à sociedade, valores fundamentais de luta e persistência, bem-estar social, convívio salutar, equidade, igualdade de direitos e a melhoria das condições dos grupos excluídos e minorias. Os nomes por detrás destes movimentos são marcantes e fundamentais nas mudanças de políticas públicas, postura governativa e uma resposta às suas demandas.

 

A génese do associativismo e da luta pelos direitos humanos e pelos direitos das minorias é diversificada, remonta ao período de ocupação estrangeira colonial que, inclusivamente, condicionou o seu surgimento. Eduardo Mondlane foi associativista e, à semelhança de tantos outros, corporizou os movimentos incipientes, no país. Nos últimos anos, o associativismo abarca, grosso modo, redes de indivíduos e pequenos círculos sociais nas igrejas, escolas e bairros, liderados por jovens. Se é verdade que todos pretendem institucionalizar e obter reconhecimento governamental ou das ONGs, elas são, ainda, dependentes de apoios financeiros de organizações internacionais, apesar de suas agendas e dos grupos que representam.

 

Farida Gulamo que, em 2020, colheu as suas 75 risonhas Primaveras, esteve na base da criação da Associação dos Deficientes de Moçambique (ADEMO). Assumiu o cargo de secretária executiva e, apoiada pelo governo, expandiu a associação para todos os cantos do país. Fê-lo, na época, 1989, com o apoio de um outro cadeirante, o saudoso Jorge Tinga, persistente e multifacetado, que este ano nos deixou e, com muita saudade. Portanto, eles fazem parte dos anais do associativismo moçambicano.

 

Farida Gulamo, esta persistente e dotada mulher, destemida e de fortes convicções, tem sido um exemplo de uma activista social que virou referência, obrigatória e incontornável e que contribuiu, de forma abnegada e exemplar, na luta dos deficientes por uma integração e reconhecimento. Ela se desdobra entre os activistas da educação, do género e dos deficientes. Nessa condição, participou em diferentes fóruns mundiais, visitou vários países e ergueu bem alto a bandeira de Moçambique, em conferências especializadas.

 

 

Este ano, com sua entrega e de todos seus colegas, voltou a realizar a assembleia-geral da ADEMO, depois de mais de 14 anos de inactividade. Fê-lo em momentos de pandemia da COVID-19, quando o mundo parece ter virado as costas à humanidade. Diante do resguardo e ausência de apoios, ela quis provar aos colegas que a vida tem de continuar e, sobretudo, que eles não estavam esquecidos. Farida veio para o mundo numa condição física normal. Por conseguinte, tem um chip que a faz pensar em normalidade, de forma permanente. Assim, decidiu sair à rua, solicitar apoios e reactivar a ADEMO. Remar na contramão da inactividade e ajustar o seu mindset às novas normalidades. ADEMO terá de funcionar descentralizada, com eleições democráticas dos seus gestores, mas, ao mesmo tempo, com maior diversificação de suas fontes de receita e financiamentos.

 

Recentemente, ela abriu sua alma e falou-nos nessa trajectória de luta e afirmação de identidade, de sofrimento e exclusão. Reviu os difíceis tempos da Namaacha, onde fez uma das dezenas de formações, como monitora. Não se esqueceu da rigorosidade do Inverno que debilitou ainda mais seus músculos locomotores. Recordou-se de memórias salutares, dos tempos de infância nos quais, mesmo com as muletas, jogava à bola e participava de outras brincadeiras com seus amigos de bairro. Sem exclusão e total solidariedade. Aliás, foi assim como cresceu, como frequentou os liceus, o magistério primário, a faculdade de ciências de educação e outras.

 

O seu sonho foi sempre de seguir medicina. Mas, os condicionalismos forçaram a seguir a carreira de educação. De uma família de enfermeiros, teve dois irmãos e três filhos, um deles já falecido. Trabalhou em diferentes instituições e províncias. Ministério da Educação e no Instituto Nacional de Desenvolvimento de Educação (INDE), em escolas em Quelimane, Inhambane, Chokwé e Maputo. Sua luta tem sido a de não aceitar a discriminação e o preconceito. Este é o sentimento que passa aos seus colegas e amigos, de todo o mundo. Ela levanta, com orgulho, a ADEMO e todas as associações de cegos e amblíopes de Moçambique.

 

Uma das suas maiores alegrias pode ter sido à de chegar a independência deste país, que ama, já com 30 anos de idade, amadurecida e com sonhos. Sonhava num novo estágio na sua vida. Sonhava com um país sem discriminação e com tolerância.  Um país de oportunidades, de paz e de fraternidade.

 

Ainda vai viver para ver um novo arco-íris e, sobretudo, um país reconciliado e com uma educação moderna e utilitária, uma juventude responsável e com empregos, casa e com seus direitos respeitados. Um país sem fome e onde todos serão tratados da mesma forma e com o mesmo respeito. Um pais de todas as utopias e reconciliações. Estes são os sonhos de uma sonhadora militante. (X)

quarta-feira, 16 dezembro 2020 09:17

A trágica história dos “irmãos Liphiody”

Os irmãos Liphiody já viviam em constante tensão, muito antes da chefe de família perder a vida. Rabeca Liphiody era o nome da mãe, a protectora dos cincos irmãos Liphiody. Desempregados, e apenas uma com formação superior no estrangeiro, sendo que os restantes, quatro, possuem uma vida turbulenta, tanto no amor como financeiramente. 
 
Discussões banais e insultos eram constantes. A dona Rabeca Liphiody, que logo cedo se tornou solteira, e posteriormente viúva, cuidou da educação dos seus filhos, experimentando tudo de mau e bom.
 
Rabeca Liphiody, natural de Mutarara, situado na região nortenha da província de Tete, é uma mulher guerreira e famosa por ter participado da Luta de Libertação Nacional, de onde viria a ter a patente de capitã, fruto da sua entrega na defesa da pátria durante a sua mocidade. Para além de ser empreendedora e curandeira, a dona Rabeca chegou a dirigir a organização da mulher do Partido Frelimo, no Chiveve.
 
Na busca pela vida, de burlas sofridas aos problemas de saúde, dona Rabeca caiu doente, e foi parar, primeiramente, em Malawi e, posteriormente, em Maputo, no Instituto do Coração (ICOR). Após recuperar da trombose, por ordem dos médicos, Rabeca acabou fixando sua residência na “Cidade das Acácias”, para dar seguimento ao tratamento médico. Anos passaram, e a família Liphiody vivia em meio a certos dilemas envolvendo alguns dos seus filhos, que mergulharam no mundo da droga e gravidezes indesejadas.
 
O carácter dos filhos da dona Rabeca levou-os a serem expulsos e acusados de roubar na empresa de construção, em Gaza. O filho mais velho, Jacaranda, envolvido num casamento dedicado a discussões e traições, viu a sua viatura sabotada e incendiada pela esposa, que já não queria continuar no matrimónio.
Além disso, a droga consumia a alma do filho mais novo da senhora Rabeca, o Titino. Ele era um jovem tagarela, confuso, oportunista e sabotador. Estes atributos levaram-no a nunca permanecer em nenhum emprego que conseguiu, mesmo com as especializações em condução de viaturas. 
 
Titino, quando trabalhava na empresa de construção, desviava diariamente quantidades de material de construção da empresa. Em três meses, ele conseguiu comprar uma viatura, passou a vender cocaína, heroína e suruma. Também, ele frequentava os corredores dos grupos vocacionados ao abate e venda de troféus de animais protegidos por Lei. O jovem Titino tinha uma vida boémia. “Gajas boas para ali, mulatas fogosas para acolá”. Vivia uma vida inteiramente de aparência. Nessa altura, Titino havia oferecido 100 mil meticais à sua mãe, a qual pretendia construir uma casa para a família.
 
Repentinamente, os escândalos dos filhos da dona Rabeca rebentaram. Os dois foram expulsos e caíram no desemprego. Titino tentou ser narcotraficante, mas tudo viria a desmoronar. Sem soluções, a oferta feita à mãe transformou-se em dívida e uma via de extorsão para a dona Rabeca. Mensalmente, dona Rabeca tinha que descontar do seu pargo subsídio de antiga combatente da Luta de Libertação Nacional uma quantia de 5 mil meticais.
 
A situação prevaleceu durante algum tempo. O jovem, sem alternativas, decidiu mudar para casa da sua mãe, contudo, em pouco tempo, envolveu-se com uma rapariga da zona, engravidou-a, sendo que Titino viu-se obrigado a juntar-se a ela. Sem emprego, e a família da jovem pressionando-o a se juntarem, Titino teve que levar a companheira para a casa da mãe, onde, de choque em choque, teve que procurar por outro abrigo, porque a dona Rabeca já estava farta de tudo que se passava na sua casa.
 
O tempo foi passando, e a filha da dona Rabeca, a Judite, regressou dos estudos no estrangeiro, onde fizera uma licenciatura em Engenharia de Processos. Com ar refugado, voz aportuguesada e asas levantadas, Judite sentia-se a mais inteligente e o orgulho da família. Contudo, a realidade era diferente com a irmã Alda Liphiody, que estava no lar em Maputo, e a Cisca, a mais nova, que já tinha dois filhos e residia em Tete. Nisto, a vida da família seguia embrenhada de problemas que se acumulavam na cabeça da dona Rabeca, mãe e pai dos cincos filhos, com um neto problemático, ladrão, confuso, drogado e ignorante.
 
Entretanto, as confusões não acabavam. Ameaças e expulsões eram constantes. A esquadra do Bairro Jonasse, na Matola-rio, em Maputo, virou um local de constante queixas e resoluções de problemas familiares. Os agentes cansaram-se. As igrejas existentes nas redondezas recebiam visitas da família, de semana em semana, ao ponto de não se saber o que a mesma realmente procurava naqueles espaços de amor e caridade.
 
Ora, o ano 2020 começou em meio a tanta euforia e projectos. O ambiente aparentava dos melhores. Em Fevereiro do mesmo ano, Alda deu à luz a uma linda menina. Devido ao mau tratamento no Hospital de Mavalane, a jovem teve que fazer confusão para ter alta. A menina nasceu prematura, porém forte.
 
Tristemente, em Fevereiro, a dona Rabeca Liphiody começou a ter falhas de memória, falando coisas sem sentido e registando sinais de memória invertida. 
 
A situação foi piorando. Consultas feitas diziam que a mesma estava com a tensão alta e precisava de repouso. Mas era um diagnóstico errado! Levou-se para diversas clínicas, em Março, mas o filho mais velho, o Jacaranda, decidiu esconder os resultados dos exames. Um mês depois, diante de tanta pressão das irmãs, Jacaranda apresentou os exames os quais revelaram que ela tinha dois tumores instalados na cabeça.
 
Diante da situação de saúde deteriorada e a mensagem errada que recebia nos hospitais, em Moçambique, devido à pandemia da Covid-19, e com o estado clínico da dona Rabeca Liphiody, que já padecia de outras doenças complicadas. Durante o Estado de Emergência (EE), a combativa e forte dona Rabeca Liphiody foi perdendo a força, pelo que nem um prato vazio conseguia tirar da mesa. Ela precisava de alguém para que tudo lhe fosse feito. Passando algum tempo, ela já não conseguia levantar da cama.
 
Nisto, a única solução foi levar a dona Rabeca para o Hospital Central de Maputo (HCM), onde os filhos, em vez de rezar e fazer de tudo para que a saúde da sua mãe melhorasse, passavam a vida a competir, e a gabar-se sobre quem era o melhor filho ou quem melhor cuidava da mãe. De Abril a Junho, o estado clínico da dona Rabeca deteriorou-se, tendo perdido a vida no dia 29 de Junho. Em meio a uma semana turbulenta, a sua filha Alda, viu o seu esposo detido três dias antes de a mãe perder a vida.
 
Ora, na tarde de segunda-feira, 29 de Junho de 2020, dona Rabeca Liphiody deixou de respirar, após ter “combatido um bom combate”, quanto na vida social, política, económica, cultural e familiar. Entretanto, a tragédia da família viria a recomeçar com o desaparecimento físico da chefe da família. Dias antes, o filho mais novo, Titino, foi, na calada da noite, acompanhado da esposa, na casa da mãe, semear objectos estranhos no terreno da mãe.
 
Desde a morte da dona Rabeca, a confusão instalou-se. Os cincos irmãos Liphiody já não conseguiam se encarar por muito tempo. Em causa, estavam três casas e terrenos deixados pela dona Rabeca Liphiody, nas cidades da Beira, Matola e distrito de Mutarara, na província de Tete. Enquanto os dois irmãos pensavam em vender tudo e comprar uma frota de viaturas para fazer táxi, as três raparigas pensavam em vender tudo, dividir as moedas para cada uma e seguir com as suas vidas.
 
A raiva era tanta que, mesmo com um testamento deixado pela dona Rabeca Liphiody, os dois filhos alegaram que o mesmo foi rabiscado num momento em que a mesma não gozava de boa memória. A família Liphiody demonstrou estar dividida, mesmo no momento das cerimónias fúnebres, que foram tão apressadas, não tendo respeitado as vontades da dona Rabeca. No dia da despedida, os ânimos de todos foram tão elevados que terminaram em discussão e promessas de vingança.
Por conseguinte, os irmãos Liphiody destruíram o cordão umbilical. 
 
Semearam o ódio e mataram a irmandade que os unia um com o outro. A fonte de fácil enriquecimento fez-lhes vender tudo que a mãe conquistara a ferro e fogo. Os irmãos Liphiody não pensaram num futuro de continuidade da família Liphiody, e permitiram que o diabo vencesse a vontade divina e o sacrifício de uma grande mulher. (I) 
quarta-feira, 16 dezembro 2020 07:14

Afinal: ainda trocamos ouro por missangas?

quarta-feira, 16 dezembro 2020 07:02

Senhores empresários, tenham uma boa votação!

Ainda ontem tive de dar uma resposta longa à uma pergunta de um primo meu que vive em Inhambane, que era: mas, primo, por que te interessam as eleições da Cê-Tê-A? Eu: ora, primo, nós fazemos parte de uma sociedade. Essa sociedade é composta por médicos, engenheiros, professores, chapeiros, banqueiros, estudantes, prostitutos, atletas, empresários, advogados, políticos, mukheristas, governantes, contabilistas, etecetera. Ou seja, é um corpo constituído por vários órgãos que devem comunicar e interagir, sem importância hierárquica entre si. Se um órgão falha, o resto não vai funcionar como deve ser. 
Engana-se, pois, quem pensa que eleições da Ordem dos Advogados devem interessar apenas ao doutor Timbana; da Cê-Ene-É, ao Muchanga; da Efe-Eme-Efe, ao Tico-Tico; da Cê-Tê-A, ao Salimo... Abdula, neste caso. Engana-se mesmo! Uma presidência da Cê-Tê-A arrogante não cria empregos seguros e, muito menos, empregados prósperos. Lembre-se que a estrutura do I-Ene-Esse-Esse (lá onde guardamos as nossas poupanças) é composta por pessoas oriundas da Cê-Tê-A. Aliás, o actual Pê-Cê-A do I-Ene-Esse-Esse é um empresário proposto pela Cê-Tê-A em cumprimento aos mandatos periódicos e rotativos. Sem contar que o sector privado emprega milhões de moçambicanos e participa daquelas negociações anuais do aumento de salário. É escusado dizer que a Cê-Tê-A é uma agremiação lobista da naipe empresarial nacional e um interlocutor válido e legítimo junto do governo. 
Então, primo, ainda pensa que Cê-Tê-A é coisa de malta Prakash, Kekobad, Buque, Vuma, Massinga e companhia? Quer queiramos quer não, a Cê-Tê-A faz parte das nossas vidas. Então, eu não gostaria de ouvir de novo que o presidente da Cê-Tê-A aconselhou o governo a não pagar décimos terceiros, a não promover progressões nas carreiras do funcionários, a não aumentar salários mínimos, etecetera. Não gostaria de ouvir de novo que um empresário levou as nossas já desnutridas poupanças para comprar seus aviões. Não gostaria de ouvir de novo que um empresário em comissão de serviço no I-Ene-Esse-Esse quer comprar bilhete turístico para a sua amante com o dinheiro que estamos a poupar com infernal sacrifício. Isso dói!
Eu até nem queria falar mais deste processo eleitoral. Mas, agora, com essa novidade que nos chega, segundo a qual um dos candidatos a presidência da Cê-Tê-A distribuiu cheques 'mal passados' que os bancos não conseguem engolir nem com água nem com vinho, podemos dizer que a casa caiu de vez. A ser verdade, é muito triste e constrangedor. Não conheço os estatutos da Cê-Tê-A, mas não acho razoável que um cidadão supostamente em conflito com a Justiça esteja a concorrer à presidência de uma instituição séria. Isso pode não ser bom para ele, mas também para o colectivo. Como é que os associados vão escolher um presidente que supostamente corre o risco de tomar posse na prisão. É bastante embaraçoso.
Resta saber se excelentíssimos senhores empresários estão interessados e engajados em mudar o rumo e a imagem da vossa casa. Se querem continuar a ser vistos como arrogantes e insensíveis. Se ainda preferem ser conhecidos como caloteiros, burladores e mafiosos. Se gramariam de ser dirigidos directamente da Bê-Ó. Sei lá, vocês é que sabem que pessoas podem melhorar o ambiente de negócios e a relação com os trabalhadores. Vocês se conhecem. A bola está do vosso lado.
Isto não é campanha. É observação. Depende de vocês, empresários, apenas! Nós 'os povos' estamos aqui dhuuuuu... a vos olhar. Tenham uma boa votação!
- Co'licença!
 
Este espaço é oferecido pela:  

   

No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

M´saho é essa grande festa dos chopes, organizada anualmente para esconjurar os espíritos que têm trazido ventos infaustos por aqui. O próprio mwenje, árvore de onde se vai extrair a madeira para produção da timbila, está sendo varrido por poeiras invisíveis que se instalaram em mãos humanas para destruir. De ano para ano a sensação que nos fica é de que o remoinho provocado pelo toque e dança e canto desta tribo do sul de Moçambique está a desvanecer. E para agravar o cenário sombrio, veio a COVID-19  impedir a realização – que teria sido em Agosto – do festival cujo palco entra em consonância com as Lagoas de Quissico.

 

Warethwa! (Cuidado!). Na verdade quando a xipalapala retumba, é preciso ter-se cuidado com o que vem das mãos e do corpo inteiro dos chopes. Da alma deles. Inabalável. Revolta. Insaciável. Quer dizer, Quissico - o vilarejo eleito - ressurge. Engrandece-se. Embevece. E é projectado para o mundo inteiro, de onde depois traz as pessoas do planeta para este lugar insignificante na sua geografia. Todos querem estar aqui para se embebedarem com a loucura da timbila. Delirarem com as diabruras esvoaçantes da mathchatchulani, que vai parecer uma gazela dançando livre nas savanas, nas manhãs, agradecendo à Deus pelo sol que raia com esplendor no crepúsculo..

 

Mas hoje em dia  eu não sei se o M´saho ainda tem verve. Não sei se esta festa continua a resguardar o unguento dos tempos para amassajar as almas sedentas da secular música vertiginosa  dos chopes. Não sei! Tenho as minhas dúvidas. Parece ser urgente e inadiável que se tenha em grande consideração o facto de estarmos perante um Património Cultural da  Humanidade. Não que não haja esse respeito, mas a sensação que tenho é de que está-se a fazer pouco, começando pelo palco que acolhe as orquestras.  Ou seja, para quem chega antes de começar o M´saho, e antes de chegarem as pessoas da assistência, regra geral o que se vê são pequenos sinais como dísticos  apelativos com pouca chama  em termos de imagem. E pior do que isso, olhando-se para o palco, a pergunta que vai surgir imediatamente  será: é aqui onde vamos assistir às loucuras dos chopes? Na verdade o palco instalado não é de forma alguma digno de receber uma manifestação de tão elevado porte cultural.

 

É aqui provavelmente onde começa, ou se agudiza a contrariedade.  Talvez a decepção.  Os executantes são acolhidos naquilo que tende mais para um alpendre carrancudo, do que propriamente para um palco. Quem construiu aquilo provavelmente não tem sensibilidade sobre o que é um festival desta dimensão, sobre a grandeza da timbila no mundo. Não só temos na obra os irritantes pilares múltiplos, como também o tecto atarracado, sufocando os artistas e aqueles que estão sentados nas bancadas.

 

Em conversa oportuna com Filimone Meigos (director do ISARC) e Rufas Maculuve, músico e professor de música na mesma instituição, eles também indignaram-se com o palco que deve ser repensado urgentemente para os próximos festivais. O lugar tem um tesouro invejável que são as Lagoas de Quissico, esplendorosas, algo que não pode passar despercebido durante o evento. As Lagoas de Quissico devem fazer parte do Festival. E fazer com que aquela paisagem seja pertença do M´saho, passa necessariamente por repensar o palco.

 

É imperioso e urgente levar as coisas mais a sério, porque aqueles que vão à Quissico pelas alturas do M´saho, querem ver a beleza em si estampada em todo o lado. Os estrangeiros em particular, vão para ali  porque já ouviram falar desta manifestação cultural e sabem que é Património Cultural da Humanidade. Sabem que a festa da timbila é elevada, então os organizadores precisam de corresponder à todas as expectativas, tornando o festival num importante eixo que deve passar também pela capacidade de fazer a comunicação e imagem. O Marketing. E espreitar aquilo que se faz noutros eventos pelo mundo fora, porque o M´saho tem dimesão mundial. E em tendo uma dimensão universal, é preciso fazer algo que justifique isso.