Uma mulher nua caminha trôpega pela estrada e é acossada à paulada por soldados armados até aos dentes. Ela tem o ventre inchado e as mamas descaídas quando se dobra para se defender das impenitentes vergastadas. Batem-na violentamente e ela é traída pelo esfíncter e um jacto de fezes, quase impercebível, quando atalha fora do asfalto. Continuam a batê-la e mandam-na voltar para a estrada. Os próprios soldados filmam a cena. A mulher não tem como defender-se e volta à estrada. Um deles dispara e ela cai. Os outros metralham-na, seguidamente. Impiedosamente. Cada um deles vomita tiros sobre a mulher caída no asfalto. Mesmo quando persuadidos há ainda disparos sobre a mulher morta. Quantos tiros? Impossível contar. São rajadas esfuziantes. O vídeo é rápido e a cena demasiadamente chocante. Abandonam o cadáver e exultam, ufanos: “Matámos o Al Shabab!” Um deles faz um V, de vitória, com os dedos e aparece em primeiro plano no vídeo. Dizem impropérios enquanto se afastam. Vejo isto e estou incrédulo. Não consigo pensar. Tenho náuseas. Não entro na discussão sobre quem são verdadeiramente aqueles homens. O que está em causa aqui é a barbárie, sejam eles quem forem. Não pode haver justificação para isto. Para uma execução intrémula. Para esta personificação do mal. É isso que nós estamos a viver e muitos de nós continuamos sem perceber. Estamos costas voltadas. Não nos apercebemos de nada? Aqui está a barbárie no seu esplendor. Para os incautos, relembro a sinonímia. Barbárie significa: selvajaria, incivilidade, bestialidade, estupidez, ignorância, crueldade, atraso.
Olhem pró Marcos, o Tuto! Ele anda foragido da Justiça no Brasil. É parceiro do Fuminho no PCC (o Primeiro Comando da Capital), facção criminosa envolvida no tráfico de drogas. O Fuminho foi preso em Abril no Montebelo, lugarejo elitista na Sommerschield, em Maputo. Ontem, o Ministério Público de São Paulo revelou que o Tuto é "adido" no Consulado de Moçambique no Belo Horizonte, Minas Gerais. O quê? Isso mesmo! Por essa via, não espanta que tivesse passaporte diplomático moçambicano! Vejam...até onde tráfico brasileiro penetrou em Moçambique: até o tutano do Governo, traficante recebendo honrarias de diplomata. É de esperar que a Ministra Verônica Macamo venha urgentemente destrançar as linhas com que se coseu este Tuto. E dizer quem são seus parceiros locais. Finja, pelo menos, e convoque um inquérito...uma comissãozinha. Assim, evita embaraçar a AR (em país normal, já o parlamento a tinha convocado. Mas, aqui, o compadrio da maioria obsoleta não ajuda).
O Estado deve resgatar o seu papel de fonte credível e privilegiada de informação sobre o teatro das operações de Cabo Delgado. Quando o assunto é a guerra de Cabo Delgado, a opinião pública deve recorrer a fontes governamentais e estatais, assim como o faz com a Covid-19. Quem quiser saber algo sobre a Covid-19 sabe que é só esperar a hora do jornal da noite para se informar. Ou seja, há um esquema informativo criado (caracterizado pela rotina, legitimação, tipificação e profissionalização) que dá credibilidade a informação anunciada. Essas características criam aquilo que se chama de 'contrato social' com o povo.
Este 'contrato social' faz com que, por exemplo, as pessoas vejam a senhora Rosa Marlene, o senhor Samu-Gudo, o senhor Ilesh, etecetera, como os detentores de informação credível e legítima. Por exemplo, se você disser que hoje houve mil casos positivos e disser que foi a doutora Marlene que disse, ninguém vai perguntar mais nada. Significa que a informação veio de uma fonte credível e legítima.
Ora, o que o nosso Estado tem feito em relação a Cabo Delgado é aquilo que eu chamaria de emboscada comunicativa. O Estado lança uma informação e foge; manda uma indirecta e desaparece; responde a uma informação veiculada nas redes sociais e some; dá uma meia-informação e baza. O Estado não comunica; ele ataca as comunicações dos outros e desaparece. O Estado não informa; ele dispara contra as informações dos outros e foge. O Estado não criou ainda o seu próprio esquema de comunicação com o povo. Não há um fluxo de informação claro, credível e legítimo. Ou seja, o Estado especializou-se em fazer guerrilha contra a opinião pública. Especializou-se em fazer emboscadas comunicativas e esconder-se no segredo do Estado. O Estado assalta o que os outros dizem. O Estado virou o bandido da história.
Sobre o vídeo que viralizou ontem nas redes sociais o Estado não sabe o que dizer. Só sabe dizer que aquilo é condenável e que o povo deve se manter vigilante. Não assume nem desmente as atrocidades cometidas contra aquela pobre mulher. Neste momento, deve estar a decorrer uma conferência dos 'cabeças de repolho' para prepararem uma emboscada contra o vídeo. A estratégia, desta vez, será de ameaçar e culpar as pessoas que partilharam e comentaram o post. Aqueles que colocaram 'laike' serão todos notificados pela dona Buchili. Com um pouco de azar, vão dizer que o celular que filmou é do Bispo Dom Luíz Fernando Lisboa e aqueles jovens fardados são acólitos da diocese de Pemba.
Manter as pessoas informadas não significa publicar informações classificadas ou secretas. Não significa publicar esquemas, tácticas ou estratégias militares. Não! Significa disponibilizar uma equipa de técnicos e profissionais para sanarem as dúvidas sanáveis, para responderem as perguntas respondíveis. Sempre tendo em conta a sensibilidade da informação, evidentemente.
Hoje em dia, sobre Cabo Delgado, o Estado moçambicano passou de vítima para suspeito devido ao seu descaso. O silêncio deliberado faz do Estado/Governo um cúmplice. Assim parece que o Governo tem algo a esconder e os insurgentes têm alguma razão de se insurgir. Morreu a verdade. A cada informação veiculada e a cada vídeo publicado morre a verdade por asfixia. E com a verdade morre também a confiança e a esperança do povo.
Eu estudei Jornalismo com gajos do Ministério da Defesa, até do SISE. Haviam até gajos do Quartel General. Sei também que alguns se especializaram dentro e fora do país. É hora de chamar esta gente. O Estado deve rever a sua forma de se comunicar com a opinião pública... sem arrogâncias. O Estado deve parar com esta guerrilha informativa. O Estado deve parar com estas emboscadas comunicativas. O Estado deve parar de se confundir com o bandido da história.
- Co'licença!
Faz algum tempo que eu contei a saga sobre a “Revolta dos Beneficiários” cujo epicentro é a “Lista dos Participantes”, vulgo de presenças, e que circula nos seminários para o seu preenchimento e assinatura. Foi graças à assinatura desta lista que os beneficiários de potenciais apoios de projectos ou programas de combate à pobreza e/ou de promoção do desenvolvimento chegaram a uma lista geral de cidadãos, entre nacionais e estrangeiros, a serem punidos com a pena máxima, uma sentença decorrente da alegação de que os beneficiários, o potencial grupo alvo de tais projectos, foram usados no lugar de apoiados. Daí a “Revolta dos Beneficiários”.
Com a Covid-19 e por força da proibição de aglomerações e do fecho de fronteiras , a“ Lista dos Participantes” foi uma das principais vítimas e também uma salvadora da Covid-19. A sua ausência impactou negativamente na economia, sobretudo na indústria hoteleira e de transportes, e ainda evitou contactos de alto risco, atendendo que os seminários, pelo menos os ditos bem sucedidos, constituem um cocktail de participantes provenientes de diversos locais a nível nacional assim como internacional.
Para a História, fora o bom do lado salvador, creio que será pelo lado das vítimas que a História lembrará a “Lista dos Participantes” em tempos da Covid-19. Numa outra perspectiva, e a fechar, a ausência da “Lista dos Participantes” reduziu a possibilidade de alguns ( os mais assíduos) ocuparam os lugares cimeiros de cidadãos a abater ou, no mínimo, a constarem na lista da “Revolta dos Beneficiários”.
PS: Na retoma dos seminários é possível que os dados a preencher da “Lista dos Participantes”, nomeadamente o nome, organização, função, proveniência, contactos bem como a respectiva assinatura ou rubrica, sejam acompanhados por outros sobre a Covid-19, tais como: “Positivo ou Negativo”, “Positivo Activo ou Recuperado”, “Sintomático ou Assintomático”, “Quarentena Domiciliar ou Hospitalar” e por ai adiante.
Eu sou apoiante de qualquer cidadão que manifesta intenção ou interesse em concorrer à qualquer posição política, seja presidente da república, edil, governador, e por aí além, etecetera, e mais. Para mim, a eleição é o êxtase da cidadania. É o tal orgasmo da democracia.
Eu respeito e admiro por demais a vontade de Henriques Dhlakama, filho de Afonso Dhlakama. Ele quer candidatar-se a Presidência da República nas eleições de 2024... e eu tiro o chapéu. Democracia é isso mesmo. Está no seu direito. É maior de idade, é nacional, não é condenado e não tem cabeça de repolho, ou seja, está dentro das suas faculdades mentais. Deixêmo-lo! Ele sabe o que faz. Mas também eu não sou a pessoa mais indicada para ensinar o filho mais velho de Dhlakama a fazer política. Não me vejo com tomates para tal.
Henriques manifestou a intensão nas redes sociais e foi logo esquartejado digitalmente. O homem foi logo julgado e condenado. O homem foi antecipadamente derrotado. Dizem que não vai vencer a FRELIMO porque o seu pai também nunca venceu. Dizem que vão lhe roubar os votos e vai chorar como o seu pai. Dizem que não pode se candidatar porque não é conhecido. Só se fosse o seu irmão Billal. Dizem que Billal é mais bonito que ele (mas governar não é concurso de beleza!). Dizem que não pode se candidatar porque nunca foi a tropa (xeee!). Dizem que vai vender o país aos colonialistas. Dizem que não tem agenda própria. Dizem que devia ficar calado a comer a fortuna que o seu pai deixou. Dizem que a sua agenda é destruir a RENAMO. Dizem etecetera, etecetera.
Xi!!! Já rendi! Essa democracia dele é qual já?! O homem ainda nem é oficialmente candidato, só mostrou vontade, e já está a ser abortado. Ninguém quis saber da sua ideia para o país, do seu manifesto, da sua visão. Yaaa, rendi, juro!
Possas!!! Os gajos que nos enfiaram ananás foram a tropa, libertaram o país, são bonitos, tinham agenda nacionalista, são conhecidos, são ricos, são experientes, são estudados, e tudo mais. O Henriques só escreveu no 'feici' um dos seus desejos nesta vida. Só isso. Se não temos tomates não precisamos de estragar o tomateiro do vizinho.
É bem possível que o Henriques destrone o Ossufo e seja candidato da RENAMO em 2024. Não irei me surpreender tanto. Não é algo impossível. Também é bem possível que o Henriques crie o seu próprio partido e destrua a RENAMO. É também bem possível que esse partido consiga mais deputados que a RENAMO e Eme-Dê-Eme juntos. Afinal, é um Dhlakama! Leiam a história do Dhlakama-Pai.
Até hoje não vi um só argumento plausível de porquê o Henriques não se deve candidatar. Só vi preconceito só. Caranguejismo.
- Co'licença!