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BCI
segunda-feira, 20 maio 2019 07:46

Os ataques e o silêncio da sociedade civil em Cabo Delgado

Há quase 19 meses que alguns distritos da província de Cabo Delgado (Macomia, Mocímboa da Praia, Palma, Nangade, Quissanga Muidumbe e Meluco) vivem um verdadeiro terror, com os ataques militares protagonizados por um grupo de insurgentes, cuja motivação é desconhecida, assim como ainda não se conhece a data do “cessar-fogo”, apesar dos esforços do governo de Filipe Nyusi.

 

 

Neste período, já são contabilizados mais de 200 óbitos, vítimas desta situação, para além da destruição de diverso património público e privado, com destaque para casas e bens da população daqueles distritos do norte do país.

 

Entretanto, diferentemente das organizações da sociedade civil baseadas em Maputo, que clamam pela paz e retorno da normalidade naquele ponto do país, as organizações da sociedade civil de Cabo Delgado continuam a ignorar a triste situação, que coloca a província e o país na lista das regiões inseguras do mundo.

 

Sabe-se apenas que algumas organizações, sobretudo religiosas, condenaram, no princípio, estes ataques, porém, de lá a esta parte pouco ou nada fazem.

 

Numa altura em que os insurgentes estendem o seu raio de actuação, a sociedade civil desta província também tem vindo a intensificar o seu silêncio. Nem sequer uma marcha pacífica, muito menos cartas de manifestação pública de repúdio, em relação ao assunto, são conhecidas como esforço deste grupo, do qual se esperava mais.

 

A única tentativa de manifestação contra os ataques fora ensaiada, ano passado, na cidade de Pemba, poucos dias depois do ataque à aldeia de Naúnde, no Posto Administrativo de Mucojo, e algumas comunidades do distrito de Nangade.

 

Entretanto, depois de a manifestação ter sido, incompreensivelmente, abortada pela Polícia, a sociedade civil de cabo Delgado nunca mais se dignou a dar cara em protesto contra esta “catástrofe humanitária”.

 

Em Pemba,  “Carta” ouviu algumas pessoas que consideram não fazer sentido o silêncio das organizações da Sociedade Civil em relação aos ataques que têm vindo a ceifar vidas humanas. Acrescentam ainda que o papel das organizações da sociedade civil de Cabo Delgado tem sido substituído por organizações similares da cidade de Maputo.

 

As fontes de “Carta” dizem também que a sociedade civil, em Cabo Delgado, despistou-se do seu papel e, tal como alguns órgãos de comunicação social, está amarrada à vontade política do partido no poder, ignorando por completo as dificuldades que a população daqueles distritos atravessa.

 

É entendimento de algumas correntes de opinião que as organizações da sociedade civil de Cabo Delgado deviam assumir, em primeiro lugar, o papel de condenação e repúdio das atrocidades que são cometidas naquela província. Refira-se que o Fórum das Organizações da Sociedade Civil, em Cabo Delgado, é composto por mais de 10 agremiações. (Carta)

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