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quinta-feira, 12 novembro 2020 06:30

Terrorismo em Cabo Delgado: Académico entende que era “previsível” ataque a Muidumbe

Os últimos ataques testemunhados em algumas aldeias do distrito de Muidumbe, na região central da província de Cabo Delgado, já eram previsíveis. Quem assim entende é Rufino Sitoe, docente e pesquisador da Universidade Joaquim Chissano, autor da obra “Terrorismo em África – a presença da ameaça em Moçambique”, em entrevista à “Carta”.

 

Segundo o académico, os golpes de artilharia aplicados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), em alguns distritos afectados pelos ataques terroristas, no último mês de Outubro, onde se destaca o abate de 270 terroristas, já faziam prever uma retaliação, por parte dos insurgentes.

 

“Porque a dimensão de retaliação é uma dimensão presente em qualquer forma de conflito. Isto não serve só para repor ou gerar equilíbrio a nível destas organizações. Mas, também para moralizar outro grupo, para mostrar que tem alguma força. É uma mensagem para o Estado (...). É uma forma de incentivar as pessoas que estão a combater no grupo. Mostrar que se pode vingar as suas mortes e que se pode retaliar a qualquer momento, qualquer um que se colocar a caminho pode estar vulnerável a eles”, explica Rufino Sitoe.

 

Aliás, o pesquisador entende que a situação afecta, de alguma forma, os esforços empreendidos pelo Estado para combater o terrorismo naquele ponto do país, pois, a dimensão moral fica comprometida.

 

“Se as nossas forças não conseguirem dar uma resposta à altura, pode comprometer até a confiança da população nas forças. É preciso gerar uma resposta à altura. (...) Devem dar a entender que quem exerce o controlo do Estado são as FDS”, defendeu a fonte, para quem os recentes ataques têm uma forma de violência estranha.

 

Questionado sobre a possível tomada do distrito de Muidumbe, pelos insurgentes, após estes terem ocupado o distrito de Mocímboa da Praia, Rufino Sitoe respondeu: “o que não se pode permitir, em nenhuma circunstância, é perda de território, porque perder território é perder uma parte da nossa soberania, é perder a integridade territorial, porque o território é uno e indivisível. Portanto, o principal desafio destas forças é manter as conquistas de territórios. É importante que não se permita que este grupo se expanda para outras regiões (...) porque gerir uma região cria vários desgastes para os grupos. Esta sabotagem deve parar. Este grupo não pode estar a sabotar aldeias, povoações e vilas”.

 

Em relação aos recentes pedidos de ajuda externa para combater o terrorismo, na província de Cabo Delgado, em particular à União Europeia, a fonte defendeu que os mesmos são sinónimo de “reconhecimento” de falta de capacidade interna para lidar com o fenómeno, o que, na sua óptica, “não é verdade”.

 

“Ainda se pode explorar a inteligência militar e capacitação dos militares que estão na linha de frente. A aceitação disso vai abrir portas para negócios de guerra, pelo que, o Estado pode pedir apoio logístico e de treinamento, mas não abrir espaço para entrada de contingentes militares”, anotou. (Omardine Omar & Carta)

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