A entrada, no país, da Heineken, gigante holandesa da cerveja, está agitar o mercado nacional. Para já, dois fenômenos são perceptíveis. Um “abandono”, pelos consumidores, da 2M, o maior produto da CDM, Cervejas de Moçambique, agora detida por outra gigante mundial Ab Inbev, que resulta da fusão da belga Interbrew e da brasileira Ambev. Há uma migração de consumidores da 2M, a tradicional marca da CDM (que descontinuou a emblemática “Laurentina”) para a “Txilar” o primeiro sabor colocado pela Heineken no mercado, produzido na sua nóvel fábrica de Bobole.
O segundo fenômeno decorrente da entrada da “Txilar” no mercado nacional é uma campanha de marketing negativo contra a Heineken, com uma guerra comercial como pano de fundo. Desde que a Heineken Moçambique lançou, em Janeiro último, o seu único produto fabricado em Moçambique, denominado “Txilar”, muitas estórias negativas sobre as duas empresas têm sido partilhadas nas redes sociais, mas com maior destaque para os produtos da Heineken.
Num dos vídeos postos a circular, há dias, vê-se um consumidor da “Txilar” a proferir palavras “injuriosas” contra alguns camiões da CDM que passavam à sua frente. Outra situação ilustrada, através de uma fotografia, é a de uma aparente disputa de espaço entre dois camiões das duas empresas, na zona do Benfica, ao longo da Avenida de Moçambique (EN1). Esta semana, dois textos foram partilhados nas redes sociais, um abordando a “escassez” da “Txilar” no mercado e o outro convidando os consumidores da cerveja a regressarem à “casa (consumo da ‘2M’)”.
Nesta terça-feira, a “Carta” saiu à rua para perceber a quantas anda o mercado depois da entrada da nova cervejeira, no país. Visitámos alguns estabelecimentos comerciais, entre os maiores depósitos de venda a grosso de bebidas alcoólicas e retalhistas. Há grossistas (Sondela Comercial, localizada na Avenida Acordos de Lusaka, e Agnel Comercial, na Avenida de Moçambique), que não vendem a “Txilar, alegadamente porque têm contratos de exclusividade com a CDM, através do qual a produtora da 2M proíbe a venda de cerveja da concorrência.
Mas, nos últimos dois meses, os dois grossistas registaram quedas substanciais nas suas vendas. Há cada vez uma menor procura da 2M. A exclusividade na venda dos produtos da CDM não se verifica apenas em armazéns de distribuição mas também no retalho. Pequenos comerciantes só podem vender 2M. Nos bairros periféricos de Maputo, a situação é quase que generalizada. A explicação dada pelos comerciantes abordados foi a de que, ao pintarem seus estabelecimentos com as cores dos produtos da CDM, foram instruídos no sentido de não venderem marcas de outra firma, para o que teriam uma recompensa mensal pelo “trabalho”.
Alguns retalhistas contaram-nos terem rejeitado propostas iguais das duas empresas, designadamente a ideia de pintaram suas fachadas com as cores de uma marca e venderem apenas essa marca. Os comerciantes em causa justificaram tal recusa com argumento de que não queriam ser dependentes nem duma nem doutra cervejeira.
Um dos comerciantes disse à “Carta” que a Heineken enfrenta dificuldades na distribuição da “Txilar” devido à elevada procura daquele produto, problema que a empresa não consegue resolver. “Se eu tivesse aceitado vender apenas a ‘Txilar’, neste momento não ia vender nada. O mesmo acontece com a ‘2M’, que, ultimamente, não é comprada”, disse a nossa fonte.
Dos seis estabelecimentos comerciais de venda à retalho visitados pela “Carta”, nas avenidas Acordos de Lusaka, 19 de Outubro e de Moçambique, apenas quatro vendiam produtos das duas empresas. Dois estavam pintadas com as cores da Heineken Moçambique e da CDM. Os outros dois vendiam somente produtos da CDM.
Contactada pela nossa reportagem, fonte relevante da Heneiken Moçambique recusou-se a falar destas questões alegando não ser vocação da empresa entrar em “polémicas”. Entretanto, “Carta” sabe que a Heineken está a trabalhar no sentido de normalizar a distribuição da “Txilar” que, nestes dias, tem escasseado, devido à elevada demanda. Algumas fontes crêem que a gigante holandesa não estava à espera desta situação, principalmente, depois da desconfiança que reinou em torno do produto nos seus primeiros dias. Actualmente, a “Txilar” é distribuída somente zona sul do país. A CDM prometeu responder às nossas questões, tendo solicitado que elas fossem colocadas por escrito. Continuamos a aguardar. (Abílio Maolela)