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terça-feira, 20 agosto 2024 15:02

Gás do Rovuma: onde falhamos? E porque a Exxon-Mobil atrasou-se?, escreve Marcelo Mosse

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O Presidente Filipe Nyusi fala hoje à Nação sobre as Conquistas e Desafios da Indústria Extractiva na celebração dos 20 anos da Instituto Nacional de Petróleo (INP). 
É de antever que Nyusi tente vender uma narrativa de sucesso. Sua disposição para a autocrítica é extremamente nula. Na verdade, seu consulado fez pouco nesta matéria, para além de ter arrastado, barricado na negação, uma guerra que se tornou no principal empecilho do negócio do gás do Rovuma. 
Há dias, quando a ExxonMobil anunciou, a partir do gabinete presidencial moçambicano, que sua primeira produção de gás do Rovuma apenas sairia em 2030, e diante de nossa tendência de atirar as culpas aos outros, um amigo leitor de “Carta”, conhecedor da indústria por dentro, partilhou-me sua leitura sobre as razões do arrastamento do investimento do gigante americano. 
Na véspera do discurso do PR hoje sobre a matéria, faz sentido publicar estas linhas do leitor, que pediu anonimato: 
“Caro Marcelo, gostaria de responder a essa mensagem que expressa a frustração de quem não conhece o histórico da indústria do gás no nosso país, e não conhece as conjecturas do mercado global do gás. 
Nós perdemos o comboio em 2014, quando o preço do barril precipitou e não fomos inteligentes o suficiente para acelerarmos o processo de produção do gás da bacia do Rovuma. 
Desde então, quatro factores entraram em jogo:  
1- As eleições do novo Governo, que foi incapaz de mostrar segurança e continuidade política (veja-se a quantidade de tribunais internacionais envolvidos nos processos da nossa pátria amada). 
2- Os islamistas de CD que são patrocinados pelos traficantes de droga ligados a alguns funcionários moçambicanos. 
3- A guerra na Ukraine, que alterou por completo a geopolítica do gás mundial, onde os EUA tornaram-se no maior produtor de hidrocarbonetos do mundo, lugar precedentemente detido pela Rússia. 
4- Hoje, todos os países da OECD alteraram por completo as suas políticas de financiamento. Entrou em vigor algo chamado ESG, ou seja, todos os financiamentos devem obrigatoriamente respeitar alguns critérios firmes de "E" (environment), "S" (social) e "G" (governance). 
Desses três critérios, o projecto da ExxonMobil só tem 2 garantidos, nomeadamente “Environment” e “Governance”, faltando a parte “Social” por causa da instabilidade na região e por causa do alto nível de corrupção que temos em Moçambique. 
Por isso, não podemos chamar os americanos da ExxonMobil de “bandidos”; eles seguem regras internacionais com as quais nós, moçambicanos, fomos incapazes de ficar alinhados. 
É preciso rever toda a política moçambicana se queremos resolver e acelerar o processo da produção de gás, pois ainda é possível. Mas é preciso mudar de mentalidade, pois estamos sempre a culpar o chão por não sabermos dançar”. 

Sir Motors

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