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segunda-feira, 26 novembro 2018 03:39

Governador do Banco de Moçambique “não ouve ninguém”

O economista moçambicano que o FMI ofereceu ao Governo para dirigir o banco central, Rogério Zandamela, é tido como um “one man show”.  Raramente reúne os Conselhos de Administração (CA) do banco. O grosso das suas decisões são tomadas individualmente e faz também um “uso abusivo” do seu voto de qualidade enquanto governador. Esta é a súmula de uma caracterização da atuação de Zandamela, partilhada à “Carta”.  O nome de Zandamela esteve no centro do debate público na semana passada por causa da sua gestão errática do apagão do sistema financeiro nacional. Uma contestação contra a atuação do governador ganhou corpo. Quatro destacadas organizações da sociedade civil local exigiram a sua demissão.

 

Internamente no Banco de Moçambique começam a surgir vozes “agastadas” com a forma como ele conduz o barco. A principal crítica é a um estilo de liderança alegadamente autocrático. Para além de não considerar a opinião dos seus pares do CA, Zandamela não respeita os pareceres dos vários órgãos de gestão, sobretudo os do departamento jurídico, dizem as nossas fontes. De facto, nos últimos meses ele mudou radicalmente a imagem de colegialidade e sintonia que o CA dava nas suas coletivas de imprensa. Os principais gestores do banco surgiam nos holofotes ao lado de Zandamela, um estilo herdado do anterior Governador Ernesto Gove. Mais recentemente, os administradores foram retirados do palco central, deixando a cena para um único ator.


Um exemplo para a alegada desconsideração dos pareceres jurídicos envolve a gestão do caso do Moza Banco. O parecer elaborado por quadros do banco central era contra a nomeação do Dr. João Figueiredo, para a posição de PCA do Moza após a decisão da entrada da Kuhanha no banco. O parecer alegava que, por Figueiredo deter uma participação acionista de 10% no Banco Único, ele estava em situação de conflito de interesses. Outro caso: a recente divulgação de sanções do Banco de Moçambique aos bancos comerciais em falta no que diz respeito a coleta de informações sobre transações cobertas na prevenção do branqueamento de capitais foi, alegadamente, precipitada.  Quadros do banco entendem que a sanção só podia ter sido publicada depois de uma decisão judicial transitada em julgado, em virtude de a maior parte dos bancos visados ter recorrido.  "Carta" sabe que a decisão do Banco de Moçambique em não consolidar as suas contas para 2017, recebendo uma reprimenda grave do auditor, a KPMG, foi suscitada unilateralmente pelo governador, através do seu voto de qualidade. Na semana passada, no auge da crise do apagão, alguns administradores tentaram demover Zandamela de aplicar suas propostas draconianas mas ele terá imposto o seu martelo. Acabou indo sozinho ao parlamento, no seu registo “orgulhosamente só” na condução de uma das mais relevantes instituições da economia (M.M.)

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