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sexta-feira, 28 junho 2019 08:28

Maior “dividendo digital” de África encontra-se nas áreas rurais, defende Fórum MaMo

As inovações digitais poderão ser responsáveis pela transformação das áreas rurais e da agricultura, nas próximas décadas, no continente africano, de acordo com o quarto Relatório do Painel de Malabo Montpellier (MaMo), que versa sobre Digitalização na Agricultura Africana.

 

O Painel Malabo Montpellier é um grupo de especialistas em agricultura internacional, que orienta as escolhas políticas que aceleram o progresso em direcção à segurança alimentar e melhoria da nutrição em África. A organização fornece pesquisa de alta qualidade para equipar os tomadores de decisão a fim de implementar, efectivamente, políticas e programas que beneficiem os pequenos agricultores.

 

De acordo com o estudo, divulgado na última terça-feira (25 de Junho), em Kigali, capital ruandesa, durante o Fórum Malabo Montpellier, cerca de 60 por cento da população africana tem 24 anos de idade e um, em cada quatro africanos, continua vivendo na insegurança alimentar, tornando-se na maior taxa do mundo.

 

“Essas condições apresentam uma oportunidade perfeita para a agricultura digital para ampliar-se em toda a África rural”, disse o professor Joachim Von Braun, co-Presidente do Painel e Director do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento (ZEF) da Universidade de Bonn, na Alemanha, durante a apresentação do Relatório.

 

“São as ferramentas digitais muito focadas na agricultura e serviços, que irão gerar empregos atraentes no continente, nas próximas décadas”, sublinhou.

 

Denominado “Byte by byte: Inovação Política para Transformar o Sistema Alimentar de África com Tecnologias Digitais”, o estudo prevê investimentos, visando a chamada infra-estrutura de “última milha”, de modo a colmatar o fosso digital urbano-rural, incluindo conexões com a rede eléctrica, telecomunicações confiáveis e ligação à internet.

 

O documento, de 80 páginas, recomenda ainda o estabelecimento de centros de inovação digitais, bem como incentivos fiscais, incluindo os direitos de importação mais baixos, na fase inicial, para facilitar a entrada no mercado e a importação de tecnologias até que os mercados locais estejam desenvolvidos.

 

“Estes (incentivos) incluem financiamento de longo prazo, preços acessíveis dos objectos tecnológicos com acesso à internet, normas de concorrência leal e preços mais baixos em geral para os consumidores”, detalha o estudo.

 

O Relatório dá o exemplo do governo do Ruanda, liderado por Paul Kagame, que está a construir o “Kigali Innovation City”, no valor de dois mil milhões de dólares, que vai reunir universidades de classe mundial, empresas de tecnologia e jovens empresários, de todo o continente.

 

“Digitalização feita de forma inteligente e em grande escala oferece oportunidade aos países africanos de superarem os obstáculos infra-estruturais, institucionais e tecnológicos, que têm dificultado o crescimento e a transformação da economia agrícola e rural”, afirma Ousmane Badiane, também co-Presidente do Painel MaMo e Director do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares.

 

“As tecnologias digitais podem ser implantadas para melhorar as competências, prestar serviços, de modo a alcançar uma massa crítica de operadores, em áreas geográficas muito dispersas, no tempo muito mais curto e com menor custo”, acrescentou Badiane.

 

Um dos pontos abordados na pesquisa está relacionado com as perdas após a colheita. De acordo com a pesquisa, trata-se de uma questão crucial na agricultura africana e cita os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que apontam para uma perda total na ordem dos 37 por cento.

 

Sublinha ainda a necessidade de se enfrentar as habilidades dos técnicos informáticos, para além de reduzir a lacuna existente em relação à literacia digital, especialmente, entre agricultores, agentes de extensão e empresários da área de agricultura.

 

Refira-se que, durante o Fórum Malabo Montpellier, decorrido, no Ruanda, os participantes discutiram, igualmente, o nível crescente de adopção móvel da tecnologia, em África, nos últimos anos, bem como suas limitações actuais e prioridades para a acção futura. (Carta)

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