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quarta-feira, 16 janeiro 2019 06:26

O Presidente que se “ponha a pau”!...

A 15 de Janeiro 2015, Filipe Jacinto Nyusi tomava posse como (quarto) presidente da República de Moçambique. O seu discurso, na cerimónia de investidura, na Praça da Independência, surpreendeu a tudo e todos. Dizia ele que em Mondlane buscaria a visão da unidade nacional e a certeza de que as diferenças entre os moçambicanos não os poderiam dividir na sua aspiração comum de construir uma Nação mais unida e coesa. Que se inspiraria em Samora, na determinação para a edificação de um Estado mais forte, com instituições cada vez mais íntegras e democráticas ao serviço do povo. E, finalmente, que buscaria em Chissano o espírito de tolerância e de reconciliação da família moçambicana. 

 

Mas, mais do que isso, o PR dizia e reiterava que “o povo era o seu patrão” e que o seu compromisso era o de servi-lo, prometendo, para isso, “respeitar e fazer respeitar a Constituição e as Leis de Moçambique”. Para FJN a paz era a condição primária para a estabilidade política, desenvolvimento económico, harmonia e equidade social. Na verdade, este terá sido o seu grande “ponto de honra”. Principalmente quando prometeu que tudo faria para que, em Moçambique, jamais, irmãos se voltassem contra irmãos, fosse a que pretexto fosse. Aí terá residido a sua atitude arrojada, ao longo destes quatro anos.  Pois “trepou” à serra da Gorongosa para conversar com Afonso Dhlakama, o (falecido) líder da Renamo… E, graças a isso, o país passou a viver um clima de paz e reconciliação.  Para a opinião pública, esse é o maior – e provavelmente o único –  trunfo de Nyusi.



Porque noutras vertentes, os seus quatros anos de governação deixaram muito a desejar. 
Por exemplo: disse que queria que Moçambique fosse referenciado como um dos países com uma das taxas de crescimento mais elevadas do mundo. Não conseguiu! Que queria planos de desenvolvimento orientados para a redução das assimetrias regionais e locais. Também não conseguiu!  O tal combate cerrado à corrupção ficou aquém das expectativas. Aliás, o “dossier” das dividas ocultas e a impunidade que ainda persiste, é disso um exemplo crasso. No entanto, quatro anos volvidos, Nyusi veio hoje reafirmar o compromisso assumido (nesse 15 de Janeiro de 2015) de servir o seu povo com humildade, dedicação e objectividade. E também de dedicar-se ao combate à corrupção por saber dos “efeitos nefastos” desta, na sua agenda de desenvolvimento sustentável e inclusivo.



Como se isso não bastasse, o Chefe de Estado ainda nos vem com a “cantiga” de promover a segurança alimentar e nutricional, um maior acesso à energia, a viabilização do desenvolvimento da economia, o aumento de rendas das famílias moçambicanas, o desenvolvimento humano através de maior acesso à educação, saúde, água e saneamento, entre outras. Muito “blá blá blá”. Porém, é quando reafirma o seu empenho no combate à criminalidade e a eliminação dos ataques protagonizados por malfeitores no norte da província de Cabo Delgado que a sua mensagem se torna mais risível. Porque uma coisa é reafirmar e outra é fazer. São quatro anos e as pessoas já não estão para ouvir (e acreditar) em “discursos”.  Até porque para o ano vai haver eleições. Por isso, o presidente que se “ponha a pau”!…

terça-feira, 15 janeiro 2019 16:58

Jaco Maria, meu irmão de sangue

 Em 1973 Jaco Maria gravava o seu primeiro disco (um single) onde consta o tema Hana nga nyi haladza. Uma elegia. Um apelo ao amor de uma mulher que se calhar nem existia. Provavelmente imaginada. Mas também toda aquela poesia emotiva, comovente, podia ser real, quem sabe! A verdade é que o disco era um foguetão preparado para lançar uma nave que ainda está em órbita. Quase quarenta e seis anos depois. E uma nave que fica esse tempo todo levitando, não pode voltar à atmosfera terrestre.

 

Quando ouvi pela primeira vez a voz de Jaco naquele disco de vinil, eu não tinha estrutura para perceber que estava diante de um anjo concebido por Deus para cantar no cume.  Das montanhas de pedra onde se ensoberbecem as águias. Com a nota de que este músico não se envaidece. Ele embevece. Aliás foi no Hokolókwè, uma banda de cristais puros, onde Jaco Maria retumbou humildemente, parecendo ele quem ia à frente. Então aí eu já tinha alguns elementos no intelecto para ficar assustado com o vulcão que já estava em erupção. 

 

Hokolókwè também não parecia daqui.

 

Eventualmente não percebíamos que os rapazes daquela banda eram possuídos por demónios de outro planeta. Jaco também. Quer dizer, do lugar onde se encontrava, o autor de Hana nga nyi haladza já não podia voltar para trás. O que lhe restava era continuar a avançar. Como os gnus. Feitos para avançar como o próprio mundo. As naves sagradas não retrocedem. E o homem mostrou-nos isso quando cantou o ressonante Sengue, acompanhado ao mais alto nível por aqueles rapazes que buscaram o funk para hastear um tema com letra simples. Profunda. Jaco Maria é meu irmão de sangue. No sentido de que nascemos no mesmo chão.

 

Ele no bairro Santarém, eu na Fonte Azul. Mas todos nós daqueles dois conglomerados parecíamos feitos da mesma massa. Dos mesmos grãos da terra que vestíamos com os pés. O que nos unia era a euforia de sermos crianças. Jogávamos à bola no “bángwè”, de onde me lembro de duas “estrelas” aos pés das quais nos rendíamos. Vencidos: Chumbo Lipato e Nando Guihoto. E talvez Papato. Lembras-te, Jaco? Claro que te lembras! Foram tempos. Bons. Vividos sem recalques. E o músico estava lá. Incubado naquele miúdo que nos intervalos da Escola Industrial e Comercial Vasco da Gama dava uns toques na bola de básquete. Mas Jaco não nasceu para “aquilo”.

 

Sentados frente à frente com Arão Litsuri, nos princípios do ano 2000, eu disse assim para ele: “Arão: tens uma das vozes masculinas mais bonitas de Moçambique! E o Arão respondeu-me assim: mas a voz mais bonita mesmo, é do Jaco Maria. Liguei para Salimo Muhamed, nesta segunda-feira (14.01.2019) e disse-lhe que a estava a escrever um texto sobre Jaco. Salimo disse-me assim: aquele manhambana canta para caramba! Pois é: Jaco Maria chama-se Angélico, de seu nome oficial. Angélico significa puro como os anjos. E com este nome, Jaco não podia seguir outro caminho que não fosse o da luz

terça-feira, 15 janeiro 2019 08:20

A quem interessa a desestabilização em Palma?

Quando o primeiro ataque da insurgência teve como alvo uma esquadra de Polícia em Mocímboa da Praia em Outubro de 2017, todo o mundo pensava que era uma pequena brincadeira de ocasião. Passageira. Uns gatos pingados haviam decidido brincar ao extremismo falsamente rotulado de islâmico. As autoridades chamaram-lhe de banditismo, um caso de polícia. Nesse ataque inaugural, os bandidos levaram armas e mataram. O simbolismo desse roubo era estratégico: dar a impressão de que eram um bando de maltrapilhos sem logística, uma malta errática à busca de um lugar ao sol. Um ano depois, num balanço que ‘Carta” fez, o número de vítimas era aterrador. Mais de cem mortos, a maioria por decapitação, e milhares de casas populares queimadas.

 

Não, não podia ser banditismo normal.

 

A teoria da insurgência extremista foi estudada. A da instrumentalização da desordem, cara a Patrick Chabal, repetida como tese inabalável. Mas, para quem, como este jornal, dedica muitas das suas linhas ao assunto, o traço islâmico da coisa era muito forçado: um islamismo arcaico, de aprendiz. Os atacantes são, mais do que milícias importadas, jovens da terra, recrutados em troca de dinheiro e futuros de abastança. 

 

Nas últimas semanas, o Governo reforçou a zona de contingentes militares. Em resposta, bandidos abraçaram outra táctica de terror: incendiar viaturas civis nas rodovias que vão dar a Palma. E, também, aproximarem-se dessa região, onde já estão implantados os acampamentos das ENI, Anadarko e Exxon Mobil, perto donde as duas últimas multinacionais preparam-se para construir 4 trains de produção de gás natural liquefeito, num investimento que vai catapultar Moçambique para o estatuto de principal “player” global no fornecimento do produto. 

 

A aproximação do banditismo a Palma, como a nova característica de queima de viaturas civis nas estradas que vão dar à vila, tornou mais claro agora o objectivo de que lhe financia: inviabilizar o gás. Afinal quem está interessado que nosso gás não aconteça? Qual é o país que ganha com o atraso do gás moçambicano? A resposta a esta pergunta está-nos na ponta, mas não ousamos mencionar sem termos evidências palpáveis do envolvimento desse país numa conspiração para desestabilizar Moçambique.

 

O efeito imediato do caos que se está a criar à volta de Palma levará a que a ENI, Anadarko e Exxon contratem empresas de mercenários para protegerem seus investimentos, criando-se pequenos estados dentro de Moçambique, “compounds” de acesso altamente restrito, condições suficientes para que o nosso gás seja exportado sem o devido controlo por parte do INP. O cenário que se está a montar é o mesmo que o da SASOL, que bombeia o gás de Temane a rodos sem qualquer tipo de controlo por parte das autoridades. Moçambique está e vai viver mais uma era de saque de rapina aos seus recursos.

 

Depois, a aparição dessa figura sinistra de Erick Prince, um homem que só actua em lugares de desordem. O Governo tem a obrigação de clarificar quais são as actividades deste senhor em Moçambique. E por que é que ele anunciou uma entrada na Ematum (mudando seu nome para Tunamar), quando seu "core business" nunca foi a pesca de atum e quando esse anúncio não passava afinal de um golpe teatral abrindo caminho para a presença da sua empresa de segurança, a Lancaster 6, em Palma? Quem lhe dá guarida cá dentro? Que acordos o Governo fechou com a Lancaster 6? E o que é que esta empresa tem a ver com a disseminação da insurgência em Palma? 

 

Nos apetites empresariais de Prince em Palma poder estar também uma parte da explicação para o crescimento da desestabilização em Cabo Delgado que, agora é mais claro, não tem nada a ver com gatos pingados. Tem a ver com bilhões e bilhões de USD em disputa entre actores globais com o beneplácito da nossa elite política. Mesmo que não nos dêem respostas a estas questões, tal como no caso do calote da dívida oculta, a verdade um dia há-de cair de madura, como o caju do Juiz Paulino.

segunda-feira, 14 janeiro 2019 06:25

O estatuto do preso e a casa temporária de Chang

Tendo em conta que, ao abrigo do TRATADO DE EXTRADIÇÃO entre os EUA e a RSA já se saiba, à partida, que Manuel Chang poderá vir a ficar até 60 dias sob custódia, nas unidades correccionais sul-africanas, deve-se automaticamente inferir que se está perante um preso? O que é que isso muda? Porquê foi transferido para a Prisão de Modderbee? Vamos à uma conceptualização básica: DETIDO é aquele que está sob averiguações, inquéritos, etc., portanto, sem sentença transitada e PRESO é aquele que já tem a situação reclusão definida em tempo, lugar e as razões de tal privação de liberdade (o crime ou infracção cometida).

 

O certo é que a 09 de Janeiro, dia em que Chang recebeu o chumbo da Juíza no pedido de libertação fundamentada na tese de que a prisão era ilegal, ele já havia sido transferido para Modderbee e, na sessão de audição que desenrolava, foi pedido que se oferecessem melhores condições ao Manuel Chang por parte dos seus defensores. Denunciou-se que ele, em Modderbee, partilhava a cela com mais 20 reclusos, indisciplinados e fumadores (talvez estivessem a ser moderados, para dizer: drogados). Sendo Chang, neste momento, o peixe que está na rede dos milhões de moçambicanos, que tanto querem pescar “a quadrilha toda”, choveram comentários tendentes a negar que Chang tivesse “condições melhores” pois ele é co-obreiro da pobreza extrema que se vive em Moçambique e, portanto, devia provar do seu próprio veneno. Certo é que no fim das sessões desse dia, a Juíza determinou que Chang passasse a ter uma cela privada. Está correcto ou não essa decisão? É justa ou não?

 

Confesso que “não vou fingir que sinto muito (que ele fique 60 dias ou no meio de 20 drogados), até porque não sinto nada. E não sinto nada porque ele é parte daquele grupo de pessoas que ao longo de anos recusou o nosso progresso como colectividade para encher os seus bolsos” – parafraseando Fátima Mimbire, em 2.01.2019 no seu mural do Facebook. Todavia, apesar de haver todas estas emoções, é preciso atermo-nos ao que é correcto fazer com ele (Chang) neste momento e a seguir encontrar a justiça. Sendo que ele não foi julgado e condenado (nem sabemos se será mesmo), não pode ter as mesmas condições de um condenado.

 

Já desde 2013 que se vem denunciando que as prisões sul-africanas estavam lotadas e, nessas alturas, a superlotação rondava os 30%. Em Modderbee, um site, citando o Ministro da Justiça e Serviços Correcionais, Michael Masutha situou que estava em 135% em 2018. Hoje, 2019, mais abaixo mostrarei que está muitíssimo mais. É a situação que os presos devem conviver com ela e não o Chang pois ainda é detento.

 

O princípio de Presunção de Inocência, pesou imenso para a Juíza dar esse direito de Cela Privada e ainda, conjugado com o “Estatuto do Preso”, um documento a que tive acesso via Google, entregar ao Chang condições para que ele conserve boa saúde. Este “Estatuto do Preso” determina que “o prisioneiro mantém todos os direitos pessoais, salvo aqueles resumidos ou proscritos por Lei”. E assim sendo os direitos que Chang goza são: (i) Igualdade; (ii) Não ser Torturado; (iii) Não ser punido cruel, desumana ou degradantemente (insultuosa); (iv) Dignidade; (v) Exercícios; (vi) A uma Adequada (quiçá) Acomodação Satisfatória; (vii) Nutrição Adequada; e (viii) Tratamento Médico Adequado. [vocês podem ver esse documento em: https://section27.org.za/wp-content/uploads/2010/04/15Manual.pdf]

 

Acredito que o facto de se saber que há o potencial de ele ficar até 60 dias, o coloca numa situação intermédia (é detento, mas deve estar numa unidade prisional – sem ser Preso tacitamente). A situação de “conforto” a que foi conferida a ele, é a que muitos outros sul-africanos, já presos, deviam ter, todavia com o Chang isso traz vantagens enormes ao se executar. É que, sendo ele, em simultâneo com o Jean Bostany – o da PRIVINVEST, figuras centrais do calote, interessa-nos imenso que estejam de boa saúde para contribuírem para o “sucesso” do processo. Não estou a dizer que é para se descartar a seguir ao fecho do processo (meter numa cela com 30 animais).

 

Todavia, sendo racional, não temos lucro nenhum em "quebrar" Chang (física e psicologicamente). E com a eminência de ele ser o “nosso delator” deve ter o prémio de ser gratificado com excelentes condições prisionais após o fecho do processo. Chang, pelas acusações, corre o risco de apanhar mais de 45 anos de cadeia, porém, pode muito bem reduzir isso para menos de 15 anos e ainda cumprir metade disso. Sairá sem aqueles mais de 2.2 Biliões de dólares.

 

Informação que pode ser útil: A Prisão de Modderbee (vide a foto da entrada principal) está em Benoni, Johannesburg e dista a 28.4Km (no trajecto mais rápido e 38.7km no trajecto mais longo, porém mais fluído) do Tribunal de Kempton Park aonde estão a decorrer as audições. Tem uma capacidade oficial para 2231 presos, mas, segundo o site de estatísticas prisionais sul-africanas (CORRECTTIONAL SERVICES IN GAUTEND PROVINCE) a superlotação da cadeia é de 193%, correspondente a 4300 presos. Está praticamente com o dobro (vide em: http://pmg-assets.s3-website-euwest1.amazonaws.com/docs/1999/minutes/991117correctGauteng.htm).

 

Por acidente entrei no WIKIMANIA (http://wikimapia.org/3422591/Modderbee-Prison) e vi este tipo de comentários sobre Modderbee:

 

West (Visitante); A Prisão de Modderbee é para animais. Meu Deus, ninguém merece estar naquele lugar. Tudo o que se vê ali é insano. Por favor irmãos e irmãs, vamos lá tentar estar longe do crime e dar as nossas vidas a Cristo.

 

Sorry (visitante): Moderbee definitivamente não é um local para se visitar e é muito difícil ver pessoas dentro da prisão. Mas, tu te perguntas “é por culpa própria que eles acabaram presos e eu sinto pena eles. Eu só gostaria de descobrir se haverá Dia para a Família na Prisão de Moderbbe como acontece em Zonderwater. Terão eles Dias para a Família? Definitivamente, Chang tem que sair da África do Sul….

segunda-feira, 14 janeiro 2019 05:50

Torcendo pelos nossos gatunos

Hoje, a partir das 10 horas, no palacete da Ponta Rocha, a conversa será mais ou menos assim: 

 

- Puto, ouvi dizer que tens uma ou duas listas enormes de 16-18 gatunos, sei-lá. 

 

- Ya, na verdade, mô cota, não são listas de verdade. É só para distrair um pouquinho. Como esses dias a brincadeira que está a bater aqui na zona é essa de gatunos não-gatunos, então, inventamos essa cena aí. 

 

- Mas, posso ver essas listas?... Quem sabe encontre aqueles gajos que os gringos estão a procurar. 

 

- Ééééé não, mô cota!... Não posso fazer isso. Alguns estão nessas listas, mas não posso fazer isso. Não posso trair o meu povo. Como te disse antes, esses gatunos são nossa relíquia. É uma coleção. Foram anos de muito trabalho. Eu apenas (de)lapidei, mas o trabalho arqueológico já vinha sendo feito faz tempo. É um kit completo, mô cota. 

 

- Poxa, então a coisa é séria mesmo!?! 

 

- Nem me fales, cota... Nem me fales... Muito séria mesmo. É por isso que te chamei... Preciso daquela peça chinesa aqui de volta, mô cota. 

 

- Eiii, puto... Vai ser difícil. Os gringos já sabem que aquela m*rda está comigo. Antes do dia 22 tenho de entregar aquilo. 

 

- Cota, em nome da nossa amizade, não faz isso. Não vamos estragar anos e anos de muita amizade por causa desses gringos... Anos de muito companheirismo. Meus cotas disseram que vos ajudamos maningue no tempo dos "waites". 

 

- Poxa, miúdo... Estás a me colocar em saia justa, puto. 

 

- Tens que ver, tio. Esse tabuleiro não vale nada sem aquele chinês. É a peça fundamental do kit todo. Digamos que é o gatuno-chave. E pior: assim que os restantes gatunos viram vocês fazendo dançar o gajo daquela maneira para cima para baixo, ora no solo ora no subsolo,  os gajos desapareceram, sumiram, ficaram mudos... Têm medo até de atender chamadas. Assim corremos o risco de perder a coleção toda. Vão fugir. Vão se esconder. 

 

- Chiça! A coisa tá preta heim. 

 

- E depois, veja só, tio: aquele gajo lá sozinho vão vale grande coisa também. O gajo já perdeu o brilho... Ficou todo murcho, amuado, matreco. O melhor sorriso dele não convence nem a pior puta do semáforo. Nem com sumo de maracujá vocês conseguiram ressuscitar o gajo. É depressão aquela cena. 

 

- Valer vale, sobrinho. Os americanos querem o gajo assim mesmo e pagam bem. Acho que querem colocar o gajo numa outra coleção de gatunos internacionais com nomes de artistas de cinema lá em Nova Iorque. 

 

E a lenga-lenga continua. E nós cá deste lado, pelo amor que nutrimos pelos nossos ladrões e pela nossa pátria, vamos torcendo pelo regresso do nosso gatuno. O gatuno-chave do nosso tabuleiro de gatunos de estimação. É uma relíquia nacional. É um jogo completo. Deve ser bem guardado, tudo junto. Levou anos a (de)lapidar. Fruto de trabalho árduo. Deve ser bem conservado no nosso museu. As futuras gerações têm de conhecer. São nossos gatunos! Muito nossos!

 

#Wewantourgatuno

 

#Queremosonossogatuno

 

#Nãoqueremosdiscutircomninguém

sexta-feira, 11 janeiro 2019 05:20

Nós não somos burros!

Depois da liberdade frustrada do nosso gatuno diplomático e imune na diáspora, estamos a vibrar de felicidade. Estamos a rir a toa. Se existe espírito natalício, então, é isto, fizemos ponte. Pelo menos vincou a vontade popular. Mas quem não está a gramar mesmo deve ser a Procuradoria e o Tribunal Administrativo com as suas resmas de arguidos. Do tipo: essa alegria toda por causa de um gatuno?! E nós com dezoito e dezasseis arguidos ninguém diz nada?! Como assim? Se nós temos mais arguidos do que os nossos vizinhos! De facto, não estão a perceber mais nada. 

 

Então, antes que isso termine em confusão, é imperioso explicar àqueles nossos irmãos de toga e sotaina preta o seguinte: NÓS NÃO SOMOS BURROS! E nunca fomos! Não estamos contra ninguém... Apenas contra a impunidade. E não estamos a favor de ninguém... Apenas a favor da justiça. Para nós, um bandido na cela é "muito melhor" que dezasseis na rua. Um gatuno acusado é "muito melhor" que dezoito num comunicado. Os gringos têm apenas um gatuno na mão (a bater sumo de maracujá, enquanto aguarda pelo visto), e vocês têm dezasseis e mais dezoito a voarem. O NOSSO gatuno já está no xilindró, e os vossos estão nas suas casas, nos bares, nas praias, nos gabinetes, nas piscinas, na baixa-a-noite, nas massagistas, no Glória, etecetera. 

 

Antes que nos acusem de tráfico de felicidade, eis os motivos da nossa alegria: ACÇÃO. Antes de dizerem que a nossa alegria não pagou imposto na fronteira de Ressano, entendam-nos. Não é em vão que hoje somos todos mukheristas e estamos a importar esta alegria contagiante até com excesso de bagagem. Sempre que possível, iremos buscar alegria onde houver tomates. 

 

Ontem, era a Procuradoria que tinha dezoito arguidos, hoje é o Tribunal Administrativo que tem 16, mas que são os mesmos. Um único Estado, duas listas com os mesmos suspeitos, nenhum acusado. Aliás, os próprios arguidos nem sabem são arguidos. De longe dá para ver que não vai dar em nada. Será uma montanha que vai parir um rato. 

 

Organizem-se! Organizem bem a peça! Para prender gatuno não precisa de muito bla, bla. NÓS NÃO SOMOS BURROS! Se pensam que somos, enganam-se. 

 

- Co'licença!