Por Edna Juga
Onde estás Filosofia?
com as tuas mãos descascas bananas,
transforma-as em catanas,
que cortam machambas,
e, afugentam cobras mambas.
Ondes estás Sabedoria?
com as tuas verdades cruas,
despimo-nos de ideias nulas,
dás-nos tolerância,
para viver sem implicância.
Onde estás Sapiência?
com a tua ciência,
desenvolvemos o dom da resiliência,
compreendemos que todos somos um,
mesmo não havendo nada em comum.
Na nossa vida cotidiana, depois de vivenciarmos - como dizemos ultimamente, no lugar de ‘vivermos’, ‘passar por certa experiência’, ‘sentirmos na pele ou na carne determinado facto ou fenômeno, etc. - costumamos relatar para os outros e, quase em todas as vezes, fazemos recomendações. Recomendamos aos nossos interlocutores, muitas vezes amigos, conforme tenha sido para nós a experiência passada. Recomendamos que passem por ela ou tentem passar, se tiver sido bastantemente boa, se tivermos gostado verdadeiramente do que passamos, se tivermos gramado, curtido a valer! Recomendamos “assim, assim”, isto é, moderadamente, se não tivermos gostado muito. E não recomendamos absolutamente se aquilo por que tivermos passado for ou tiver sido uma experiência terrível, horrível! Não desejamos a ninguém tal coisa. “Não desejo a ninguém aquilo”, dizemos de viva voz.
Pois bem, numa das últimas semanas, por razões profissionais, vi-me na contingência de ir a Hati Hati (os nativos pronunciam e escrevem assim, mas na grafia prostrada no edifício da sede vem Hate Hate), a norte do distrito de Chibuto, quase a ir para o distrito de Chigubo. E o trajecto, de cerca de 170 quilómetros, é Chibuto-Mohambe-Maqueze-Nlhanganine-Hati Hati… e mais para lá, até Chigubo! Chibuto-Mohambe, é o que sabemos, uma estrada muito bem asfaltada, somente há que ter cuidado com as curvas e contracurvas perigosas, mas é um tapete! Pesadelo, verdadeiro pesadelo, é quando viras à direita e tomas a direcção de Maqueze… yoweyoweeee!
Uma pontequinha partida dá-te as boas vindas maiores, porque as menores, essas, logo ao deixar o alcatrão, tem-nas, imponentes e exuberantes. Covas, covinhas e covinhinhas desde o primeiro centímetro! E, à medida que vais progredindo, passas ou navegas entre covinhinhas, covinhas, covas, buraquinhos, buracos, com buracões à espreita na berma da estrada. Qualquer distração no volante, excesso de velocidade, imprudência ou xikwembo… é o precipício, que pode ser fatal!
E é nesta plataforma - ngwendjengwendje, ngwendjengwendje, ngwendjengwendje - que tens que navegar até… Maqueze! Bem, bem, não só até Maqueze, mas até ao destino. Mas, até Maqueze é que é pior. Todo o tipo de reentrâncais… cruzas toda a localidade de Tlhatlhene, onde tem o desvio à esquerda para a lagoa de Bambeni, e vais até à… “vila” de Maqueze, neste grande zigue-zague! Impossível andar a… 50!, 20, 30 é a moda, para quem se lembra da linguagem estatística… muitas vezes os 10 km/h. Neste preciso momento, há uma empresa que está a montar painéis solares em Maqueze, mas não tem como trazer contentores de materiais devido à péssima estrada!…
É a este sofrimento que está sujeito quem, por alguma razão, tiver que se fazer para aquela estrada. Com boa “fobana” em ngwendjengwendje, ngwendjengwendje, saindo de Chibuto às 6, 6:30 horas, só conseguimos chegar a Maqueze, cerca de 90 km, por aí 9:30, 9:40, depois de vencer os imensos e desagradáveis solavancos! Três horas queimadas. Mas, só é fim se o destino final for este. Mas se for Nlhanganine ou Hati Hati… o mergulho no calvário prossegue por mais dias, duas horas e meia. Se bem que ligeiramente menos ngwendjengwendje, à medida que se vai indo mais para frente!
Alternativa… neste momento, não existe! Digo neste momento, porque é só nos períodos que correm que inexiste alternativa, que é o trajecto Chibuto-Alto Changane-Maqueze… num trajecto de cerca de 58 quilómetros até Alto Changane, mais apenas 7 até Maqueze, bem melhor do que o actual. Mas… entre Alto Changane e Maqueze não há ponte para atravessar o rio Changane, que está bastante cheio de água. ESTE É O BUSÍLIS DA QUESTÃO! Em anos de antanho, houve uma ponteca de paus, que ninguém mais melhorou! Nos tempos de seca, poucas águas no rio, chega-se a atravessar… a pé, ou mesmo de carro, a muito risco!
Há três anos, tive que… fazer as duas vias numa única manhã. Saído de Maputo cerca das 5, a caminho de uma missa em casa de um amigo em Maqueze, por volta das 8:30 horas estava eu e os que iam na viatura a esfregar as mãos, porque pensávamos que já estávamos a chegar… mas, quase a mergulhar o focinho da viatura do lado do Alto Changane, sem saber que não há travessia por ali. Ligando para o amigo, só foi quando despertamos para a triste realidade, que a ponte prometida e com fundos garantidos em Alto Changane nunca chegou a nascer! Até hoje, já estamos a caminho de dez anos. E nunca ninguém foi responsabilizado.
Em crónica a que intitulei O SOFRIMENTO DOS MAQUEZIANOS, relatei a triste experiência de estar, da margem do Alto Changane, a ver Maqueze, que era o destino, mas depois ter que dar a volta por Chibuto, Mohambe e… aquele terrível troço.
E a pergunta que não cala é: o que é que os maquezianos, nlhanganinenses, hati hatenses, etc. fizeram para merecer tamanho martírio. Ou por outra, o que é que os gazenses fizeram, ou não fizeram, para serem submetidos a tamanho sacrifício, sofrimento e inferno. Cônscio ainda de que os utentes da nossa EN1 têm o mesmo calvário em muitos troços, até uma companhia de transporte desistir, a questão pode ser aperfeiçoada para os seguintes termos: afinal, o que fizemos (ou não fizemos) nós para tamanho castigo!?…
Não desejo a ninguém ‘ir a Maqueze’!
ME Mabunda
O dia 5 de Maio foi oficializado em 2009, com o propósito de promover o sentido de comunidade e de pluralismo dos falantes do português na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Desde então, esta data celebra este idioma como parte da identidade de todos estes países e povos. Num dia comemorativo tão especial como o de hoje, gostaria de fazer uma menção especial a dois feitos extremamente marcantes.
O primeiro, de efeito extraordinário, é o da premiação da escritora moçambicana Paulina Chiziane, a vencedora do Prémio Camões 2021, escolha unânime anunciada no dia 20 de Outubro de 2021 e que só hoje, dia 5 de Maio de 2023, finalmente, chegou às mãos da legítima dona. Este prémio reconhece a vasta produção e recepção crítica da Paulina Chiziane, como também o reconhecimento académico e institucional da sua obra, sobretudo a importância que dedica nos seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana.
Esta escritora, a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, tem desenvolvido uma relação muito próxima com a UP-Maputo, a quem já atribuímos, num passado muito recente, um título Honoris Causa e que tem tido presença regular nos eventos científicos e culturais organizados pela nossa universidade. A Paulina Chiziane escreve em português, língua que aprendeu a falar na escola de uma missão católica como muitos outros moçambicanos da sua geração o faziam pela primeira vez. Ela é, indubitavelmente, a prova viva de que, mesmo sendo de origem humilde e sem nenhum arcaboiço linguístico de berço, é possível fazer grandes coisas e chegar a tão destacado reconhecimento no espaço lusófono global. Hoje celebramos, mais uma vez, este feito que projecta e faz brilhar todo o nosso país e o nosso povo na arena internacional.
O segundo feito, não menos importante e também de efeito extraordinário, é o da Ludmila Bata, estudante do 2° ano do curso de Jornalismo, ministrado pela Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes (FCLCA) da UP-Maputo, que foi declarada vencedora do Prémio Eloquência Camões do ano 2023. Esta vitória tem um sabor especial para a UP-Maputo, especialmente se se tomar em consideração que a Ludmila Bata, nossa estudante, destacou-se num universo extremamente competitivo de 49 estudantes pertencentes a 6 universidades nacionais. É importante frisar que o Prémio Eloquência Camões, organizado, em parceria, pelo Camões – Centro Cultural Português em Maputo e pelo Camões – Centro de Língua Portuguesa em Maputo, pretende ser uma alavanca institucional para a descoberta de novos talentos na redacção e na oralidade em língua portuguesa.
A Ludmila Bata demonstrou, com a sua vitória, que é possível fazer história, ainda em tenra idade e sendo também mulher, como a Paulina Chiziane. Num dia especial como o de hoje celebramos, também, este feito que projecta e faz brilhar os nossos estudantes e a nossa comunidade universitária na arena nacional.
Destacar estes feitos, num dia que exaltamos a língua portuguesa, como nosso património cultural e histórico, faz a nossa celebração mais especial e simbólica. Aliás, tornou-se uma tradição – uma boa tradição, diga-se! – que nos juntemos na UP-Maputo, no dia 5 de Maio de cada ano, para comemorar o dia Mundial da Língua Portuguesa e, igualmente, para celebrara amizade entre os povos que partilham esta língua.
A língua portuguesa é uma das mais ricas e influentes línguas do mundo e, como Reitor desta universidade, tenho orgulho em fazer parte de uma comunidade académica que valoriza e celebra a sua riqueza e diversidade. Nestas salas e corredores revisitamos a língua portuguesa como factor de unidade nacional.
A língua portuguesa é uma língua viva, dinâmica e em premente transformação, falada por mais de 265 milhões de pessoas em todo o mundo. É a língua oficial de 9 (nove) países e de organizações como a CPLP, a SADC, a União Europeia, o Mercosul e a Organização dos Estados Ibero-americanos.
Mas, a língua portuguesa é muito mais do que uma língua falada ou escrita. É um património cultural e histórico que representa a rica herança e a diversidade das sociedades e culturas que a falam, cantam, dançam, escrevem e declamam poesia. Na essência, em português se comunicam. É, por isso, necessário que olhemos para a língua portuguesa sem preconceitos. Que assumamos esta língua como nossa! Nenhum angolano, cabo-verdiano, português ou brasileiro fala a língua portuguesa como nós. O nosso português moçambicano é único. Nós, moçambicanos, soubemos tornar o português numa língua melodiosa, poética e sensual. Neste momento, a língua portuguesa não pode ser mais vista como a língua do outro. O outro não consegue falar um português tão belo como o nosso!
Neste simpósio, debatemos a especificidade do Português de Moçambique na diversidade da língua portuguesa. Temos, hoje, a oportunidade de conhecer melhor a língua em que nos comunicamos diariamente e de compreender o contributo de Moçambique para a afirmação da língua portuguesa no Mundo, mas, não menos importante, temos também uma oportunidade para perceber de que modo o Português de Moçambique pode contribuir para o nosso desenvolvimento individual e colectivo.
A propósito das empresas (LAM e TMCEL) recentemente alvos de intervenção, e que há anos são a imagem da asfixia em que se encontram as empresas públicas participadas e superiormente orientadas pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), conto abaixo dois episódios e as respectivas lições para a devida consideração de quem de direito.
Episódio 1: há uns anitos eu estava em casa da “Avó Maria”, por sinal a minha mãe, e na TV passava uma entrevista à então presidente do Fundo de Fomento de Habitação em que se queixava do facto da principal fonte financeira do fundo ter secado. E nesse instante ouço a “Avó Maria” dizer: “Quando a fonte estava a jorrar não veio informar”.
Episódio 2: no lançamento recente do livro “Crónicas dum Insubmisso” do médico Hélder Martins, o comentador do livro, o escritor Luís Bernardo Honwana, abriu um parenteses e contou que em miúdo, na Moamba, os seus pais apontavam para o Hélder Martins como um miúdo e aluno exemplar e de que eles, o Luís e companhia, deveriam seguir as peugadas dele, o ora “insubmisso”.
Agora o ponto: à luz de todo o enredo que culminou com a intervenção na LAM e na TMCEL, chego a conclusão de que destes dois episódios, no mínimo, duas lições podem ser extraídas para o futuro.
A primeira lição: que a tutela das empresas públicas não venha a terreiro apenas quando a fonte seca. Espera-se dela que também venha, alto e em bom-tom, anunciar que as torneiras estão a jorrar. Certamente que a “Avó Maria” agradeceria bastante.
A segunda lição: seria igualmente de bom-tom que os governantes da tutela quando viessem a público aos gritos, por conta da crise de uma e outra empresa, também fizessem o mesmo que o pais de Luís Bernardo Honwana, apontando a essas empresas uma e outra de sucesso como bons exemplos a seguir. Pelo menos o Luís Bernardo Honwana não se arrepende.
Dito isto, o ponto de fundo: já se sabe de tudo sobre as empresas públicas sufocadas e algumas já estão em fase de medicação. O que ainda não se sabe de tudo é sobre as empresas públicas que (ainda) respiram. Existem? Se sim, quais são? Quanto custam e jorram para o Estado?
Em jeito de fecho, o ministro dos transportes e comunicações até que podia dar o pontapé de saída, anunciando as empresas do seu sector que se encontram de boa saúde e que se recomenda. A seguir o dos recursos minerais e energia e assim sucessivamente. Quiçá o IGEPE faça por todos.
PS: por falar do IGEPE - que é quem assegura as boas práticas de gestão e a assistência técnica necessária ao denominado sector empresarial do Estado - certamente que lhe cabe um quinhão de responsabilidade no estado geral de asfixia em que se encontra o sector. Sendo assim, quem a priori deveria merecer uma intervenção (internacional), e para o bem de todo o sector, não seria o próprio IGEPE? Ou estarei equivocado?
Seu nome renovou-se semana passada com o lançamento do seu livro – Poder tradicional no distrito da Maxixe. Se calhar pode ser uma grande surpresa, talvez um espanto para muitos, se tomarmos em conta o estado de saúde de um homem que implantou fundamentos sólidos visando um reordenamento territorial posteriormente aplaudido, depois de incompreensões e tumultos, durante a vigência do seu mandato como presidente do Conselho Municipal. Foi preciso arrojo para que os objectivos fossem alcançados, e os resultados estão aí. À vista de toda gente.
Narciso Pedro parecia esquecido depois da aposentação, no sentido de que aparentemente já não se esperava muito dele devido ao estado de saúde que lhe apoquenta, está paraplégico. Mas a força de espírito que lhe vai dentro contrariou o pessimismo, moveu a mente e trouxe “cá fora” uma obra que pode levantar um debate, aliás ele próprio questiona: “os cabos de terra indicados no distrito da Maxixe são daqui ou vieram de onde vieram? Poucos esperavam este contributo grafado em papel que vem nos mostrar o inconformismo do ex-edil.
Narciso Pedro reaparece de moto próprio, não esperou que lhe fossem buscar como a um fracassado, nem ficou de braços cruzados mamando do leite das vacas do passado. Ele ainda acredita no futuro e o futuro não se faz apenas com fé, é preciso amanhar novos pilares e deixar outros testemunhos como agora que o faz com “Poder tradicional do distrito da Maxixe”.
Narciso Pedro ressurge e com ele renovam-se os elogios do povo, que serão uma ode à audácia. Era imperiosa a coragem de se ir contra a superstição e os tabus para que se reorganizasse uma cidade que estava aos frangalhos em termos urbanísticos, e este homem teve essa coragem. Enfrentou as barricadas da população, agrediu os costumes com determinação e lanças da modernidade, ignorou os choros e os lamentos daqueles que viriam a ver as suas casas demolidas, as suas benfeitorias. Mas o edil fazia isso a bem de todos, e hoje esses todos aplaudem em unanimidade o trabalho feito por alguém que sabia muito bem o que estava a fazer.
“Poder tradicional no distrito da Maxixe” serviu também para isso, lembrar-nos que Narciso Pedro é o tipo de dirigentes que Moçambique precisa. Não será a paraplegia que vai apagar um dos nomes mais queridos numa cidade-entreposto que carece de alguém com capacidade e visão para que os fundamentos deixados não sejam em vão. Se há coisas que foram mal direccionadas depois , como as construções desaconselháveis em quase toda a marginal, então urge um dirigente para vestir o fato-macaco deixado por Narciso Pedro e reorientar tudo, a bem da beleza paisagística da Maxixe.