O ministro prontamente se insurgiu contra estas declarações, que considerou “não poder deixar passar em claro”. De acordo com Augusto Santos Silva, a questão não levanta quaisquer dúvidas: estamos perante “um bando de pessoas que sabemos constituírem uma tentativa de penetração e contaminação de toda a África Austral pela lógica fundamentalista, islamista, ligada ao chamado Estado Islâmico”. Portanto, para o governante, não está em causa, de forma alguma, o descontentamento e oposição face à ação do governo moçambicano e à delapidação dos recursos naturais em Cabo Delgado.
Augusto Santos Silva foi perentório: “É falso que haja grupos de insurgentes entre a população civil. É um insulto aos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas, que, esses sim, tinham enraizamento na população civil, que eram protegidos pela população civil, sugerir que em Cabo Delgado agora o que há é oposição, que conta com o apoio da população civil e que se opõe a um governo opressor ou outras designações”. E acrescentou que está devidamente informado, mantendo-se em estreito contacto com o presidente moçambicano Filipe Nyusi.
Senhor ministro, não creio que seja entre as paredes do escritório de Nyusi que melhor se pode inteirar sobre todos os meandros deste conflito.
O governo e o próprio Partido Socialista mantêm boas relações com o governo moçambicano e questionam, à partida, qualquer informação que o Bloco de Esquerda apresente, por mais bem fundamentada que seja. Mas, senhor ministro, ouça o que têm a dizer as populações, as organizações, os investigadores e ativistas que estão no terreno.
Pode começar com a análise pertinente de um dos mais conceituados investigadores em Moçambique, João Feijó, coordenador técnico do Observatório do Ambiente Rural (OMR), sobre o discurso do presidente Filipe Nyusi à nação, “lido a partir de teleponto e sem direito a perguntas”, no passado domingo.
João Feijó explica as debilidades deste comunicado, em que não foi abordada “a complexidade do problema, nomeadamente a capacidade de mobilização e capitalização, por parte dos grupos violentos, do descontentamento local em relação ao Estado”. O representante do OMR lembra que “inúmeros relatórios de pesquisa vêm apresentando evidências de fenómenos de exclusão social num cenário de penetração agressiva do capital, onde situações de pobreza extrema coexistem com uma emergente sociedade de consumo”.
Aproveite para se inteirar das preocupações levantadas pela intervenção militar da tropa ruandesa, liderada pelo temível Major General Innocent Kabandana, conhecido por “exterminar opositores de Kagame”, e o recurso a empresas mercenárias.
Para um conhecimento mais detalhado da situação no terreno, tem ainda disponíveis vários estudos do Observatório do Mundo Rural, nomeadamente sobre a caracterização e organização social dos insurgentes e sobre as origens do conflito.
O fundador e diretor do Centro de Integridade Pública(link is external), Edson Cortez, também explica o elevado grau de recrutamento interno, apontando que “a pobreza e falta de oportunidades que se sentem na região norte podem ter funcionado como catalisador para que jovens fossem aliciados e se juntassem a estes grupos”.
O alerta do diretor Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique vai exatamente nesse sentido: O Al Shabaad aproveita-se de jovens em situação de desespero e sem perspetivas. Não se pode negar isso”, diz Sergio Chichava.
Mas o senhor ministro nega.
O briefing do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CCD) sobre como “Negociar com Extremistas Violentos em Cabo Delgado" também é de extrema utilidade. O CCD clarifica que a Organização Extremista Violenta (OEV) em Cabo Delgado está mais alinhada “com um grupo criminoso violento do que com um grupo terrorista/insurgente - particularmente dadas as suas fontes de influência e financiamento, e a falta de uma estratégia política, religiosa ou de base ideológica clara”. E enfatiza que, “se as negociações com a OEV em Cabo Delgado forem bem concebidas e geridas, serão um instrumento vital para reduzir a violência e os abusos de direitos humanos”.
Senhor ministro, não ignore as advertências dos Médicos Sem Fronteiras, que denunciam “restrições significativas” à resposta humanitária e apontam que “o atual enfoque no ‘terrorismo’ serve claramente os interesses políticos e económicos daqueles que intervêm em Moçambique”, à custa de “salvar vidas e aliviar o imenso sofrimento” do povo. Acompanhe as declarações do diretor executivo da Amnistia Internacional em Portugal, que assinala que a região é marcada pela pobreza extrema, apesar da riqueza dos recursos naturais atualmente explorados por multinacionais, e que “esta injustiça social, esta revolta, é terra fértil para fenómenos como o terrorismo”.
E não se esqueça de ler a carta que foi endereçada ao seu governo, em janeiro deste ano, por 30 organizações da sociedade civil, entre as quais Amnistia Internacional, Cáritas Portuguesa, CIDAC, Comissão Nacional Justiça e Paz, Conferência Episcopal Portuguesa e Conselho Português para os Refugiados, em que é deixado um apelo aos meios de comunicação social, pedindo que “informem sobre a crise humanitária de Cabo Delgado e investiguem as diferentes causas desta violência, evitando leituras parcelares” e é realçado “o papel da sociedade civil moçambicana e, em particular a de Cabo Delgado”, com quem trabalham.
Já agora, leia também a declaração dos bispos católicos de Moçambique(link is external), que sublinham que o “estado de coisas faz crescer e consolidar a perceção de que por de trás deste conflito há interesses de vária natureza e origem, nomeadamente de certos grupos de se apoderarem da nação e dos seus recursos”. E que afirmam que “é fácil aliciar pessoas, cheias de vida e de sonhos, mas sem perspetivas e que se sentem injustiçadas e vítimas de uma cultura de corrupção, a aderirem a propostas de uma nova ordem social imposta com a violência ou a seguir ilusões de fácil enriquecimento que conduzem à ruína”.
Ouça os alertas do bispo Alberto Arejula, presidente da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, que lança “um olhar crítico aos projetos de gás e petróleo” e destaca que “a vitória militar não seria uma resposta à complexidade da situação de Cabo Delgado”. E tenha em consideração a opinião do ex-bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, que, questionado sobre o que está a acontecer em Cabo Delgado, foi perentório: “Recursos, multinacionais e guerras”.
Peço-lhe ainda que não silencie as vozes de Quitéria Guirengane, presidente da Rede de Mulheres Jovens Líderes, de jornalistas como Fátima Mimbire, de jovens ativistas como Cídia Chissungo, que há muito tentam contrariar a campanha de desinformação sobre a situação em Cabo Delgado. E a de quem nasceu, cresceu e trabalha em Pemba, como Abudo Gafuro Manana, membro fundador da Kuendeleya, uma associação inter-religiosa de jovens de Pemba que ajudou no desembarque e assistência aos primeiros deslocados que chegaram à capital da província; ou de Fidel Terenciano, professor e investigador da capital de Cabo Delgado, cujo estudo demonstra que a maioria dos jovens que saíram do garimpo ilegal de Montepuez aliaram-se aos grupos de insurgentes. Ambos traçam o retrato de uma província mergulhada na pobreza, onde os jovens não têm futuro, não têm oportunidades, onde não existem espaços de participação democrática e onde as populações, as organizações da sociedade civil, os investigadores não são tidos nem achados no que respeita à resolução dos seus próprios problemas.
Aconselho vivamente a que subscreva o boletim informativo Mozambique News Reports and Clippings, da responsabilidade do jornalista e investigador Joseph Hanlon, que foi repórter da BBC em Moçambique entre 1979 e 1985 e continua a escrever sobre o país. Ficará com um panorama bastante detalhado no que respeita aos interesses em jogo em Moçambique e às consequências da “cultura de impunidade” que se instalou no país. Recomendo-lhe também que dedique algum tempo a ler e ouvir as análises do historiador moçambicano Yussuf Adam, que aponta caminhos que não passam por responder ao terror com terror.
Se todo este manancial de informação não lhe despertar qualquer interesse, se optar ficar pelas letras gordas da imprensa, garanto-lhe que também encontra facilmente títulos muito sugestivos nos media: Moçambique: Polícia retém 15 pessoas por suspeita de recrutamento pelos insurgentes; Insurgência em Cabo Delgado: Como travar o recrutamento em Nampula?; Moçambique: padre e investigador alerta para recrutamento de crianças pelos combatentes; Insurgência em Cabo Delgado: Niassa continua local de recrutamento dos grupos terroristas; Guerra em Cabo Delgado e jovens sem futuro, entre as preocupações da IMBISA(link is external)
De qualquer forma, senhor ministro, o que nós não podemos deixar passar é que um legítimo representante da República Portuguesa integre a campanha de desinformação sobre o que se passa em Cabo Delgado. Que procure silenciar as vozes da população, das organizações da sociedade civil, de investigadores e jornalistas.
O que não podemos deixar passar, senhor ministro, é que, mais uma vez, as relações diplomáticas e os interesses económicos e geoestratégicos se sobreponham aos direitos humanos. E que a comunidade internacional continue a assobiar para o lado.
“Alguma novidade de Kigali?”. Foi assim que esta manhã, à mesa do café, fui recebido pelos amigos. Pelos vistos será a praxe dos próximos tempos - contrariamente ao habitual – a luz da chegada da tropa ruandesa, sobretudo depois do primeiro briefing, a partir de Kigali, a capital do Ruanda, alusivo a evolução da luta contra o terrorismo em Cabo Delgado. Antes a pergunta, sobre a mesma matéria, dirigida ao último a chegar à mesa e cabendo-o o voto de qualidade, era um tímido “ouvimos dizer que…! Confirmas?”
O intróito lembra-me que no quadro da ajuda ocidental ao desenvolvimento de Moçambique, e parte considerável tida como doação (grátis), eu cresci a ouvir que o país não podia fazer determinadas coisas (e soberanas) porque “o Fundo Monetário Internacional (FMI) não deixa”, que “o FMI vai repreender” e que desta instituição, a fonte de informação segura sobre as novidades e contornos do desenrolar dessa ajuda e de outras relações financeiras como fora o caso das chamadas “dívidas ocultas”.
Hoje, face aos contornos da presença da tropa ruandesa em Moçambique, para citar um exemplo, oiço/vejo em “reply” o mesmo filme com o FMI, mas actualizado. Na sua comunicação à nação, o Chefe de Estado moçambicano disse que no quadro da ajuda estrangeira (ruandesa), que é solidária (grátis), o comando no teatro de operações continuaria em Maputo. Não se esperou tanto, menos de uma semana, para que os sinais do briefing ruandês, pelo menos por enquanto, indicassem que Kigali será o palco das novidades (e o comando?) e, na senda, o provável destino dos ganhos. Infelizmente, da experiência com a versão original do filme, não se tirara a devida lição de que “a ajuda não é caridade” tal como dissera um antigo e então PM do Canadá, um país doador ocidental, nos primórdios do corrente século, a propósito da ajuda ao desenvolvimento.
Do dito, e para terminar, auguro (oxalá erradamente) que decorrente da caridade de Kigali, ou de uma outra capital que parta a ajuda militar, os nossos filhos cresçam a ouvir de que “Kigali não deixa”, “ Kigali não vai gostar” que “Kigali quer assim” e de que “são ordens de Kigali”. E assim, e em jeito de resposta à pergunta que me fora colocada à chegada para o café matinal, é caso para dizer de que a novidade (da ajuda) que nos chega de Kigali é a de sempre (velha, conhecida e rabugenta) e que só difere o samaritano, Kigali. Alguém confirma?
Definitivamente, a COVID-19 veio para nos matar de verdade e tornar-nos também vivos mortos, matar-nos enquanto vivos! É que, enquanto seres vivos, temos no nosso interior um mundo. Um mundo que vive verdadeiramente dentro de nós. E esse mundo é composto de tudo que vemos no mundo exterior à nossa volta: paisagens, objectos, pessoas, cenários, cenas, eventos, factos… um milhão de coisas. É um facto que temos dois mundos: um, o nosso ‘eu’ interior, nas nossas cabeças; o outro, o verdadeiro, o tangível, à nossa volta!
Como nos sentimos quando perdemos a memória de um simples objecto, pessoa, evento, cenas e cenários; quando não nos lembramos de seja o que for? Um grande vazio dentro de nós! E o que acontece quando perdemos, ou nos é roubado, aquele nosso objecto de estimação? Um simples chapéu, um relógio… para não falar do nosso telefone celular… que acontece? Quase morremos, ficamos… down, deeply down! Por fim, o que acontece quando nos morre uma pessoa querida, um familiar, um amigo, ou uma simples pessoa conhecida? Morre uma parte de nós também!
Quando morre uma parte do nosso mundo, interno ou externo, somos nós que morremos! É o que a COVID-19 está a fazer: matar-nos verdadeiramente, ou matar uma parte de nós.
Morreu o João Augusto Matola. Foi-se mais um amigo! Foi-se mais uma parte do nosso mundo, interior e exterior. Mais do que uma desolação, mais do que estarmos deeply down, é uma parte de nós que morreu.
Já se disse muito sobre o João Matola, da faceta profissional ou de vida privada: grande profissional, formador, editor, que gostava de puxar pelos colegas, educador, formador, etc. E os seus colegas directos na Rádio Moçambique o disseram com mais e melhor propriedade. E nada do que disseram é questionável. Porém, mais uma ou duas coisas sobre este homem alegre não fazem mal. Amigo de todos, como um seu colega da Delegação de Nampula melhor o disse. Um homem de coração muito aberto, que não sabia fazer maldade a outrem. Um João Matola de energias positivas, como dizemos hoje, alegre. Um homem de riso exuberante, fácil e contagiante; conversador, piadeiro. Boa pessoa. Era sempre prazeroso estar com ele!
João Matola faz parte da minha turma na Escola de Jornalismo em 1987, a primeira que inaugurou o ciclo de cursos médios de jornalismo naquele estabelecimento de ensino. Da nossa turma, faziam parte o Adolfo Semente (ex-DM), falecido, Deus o tenha, Marcelino Silva (RM), João de Brito Langa (RM), Simião Pongwana (TVM), o Simão Anguilaze (TVM), o escritor Nelson Saúte, o Leonardo Júnior Sabela (ex-Notícias), o Vasco da Gama (AIM), o Marcelo Machava (DM), o Rui Machango (ex-Notícias), entre outros.
No ano e meio em que frequentámos a Escola de Jornalismo, a turma foi quase que uma família, tendo como “pai” o Fernando Couto, pai de Mia Couto, e “mãe”, a esposa daquele! Tratavam-nos, verdadeiramente, como filhos. Tudo fizeram para que fôssemos bons profissionais, mas, antes disso, para que fôssemos grandes humanos. Não me lembro de ter havido querelas de registo durante este tempo todo. O velho poeta Fernando Couto, já falecido, Deus o tenha, estava sempre conosco, ou com quem estivesse na Escola. Conversava, contava histórias e estórias, ria-se (leia-se brincava) connosco.
O Matola, como o tratávamos, sobressaía pela sua simplicidade, lidava com todos. Como dizia aquele seu colega da RM, era amigo de todos. Ria com todos, conversava com todos, contava piadas para com todos. Irradiava a sua energia para todos os colegas. Numa palavra: era um grande humano para todos os seus colegas! Mas também jogava futebol. Era um bom jogador de futebol. Muitas vezes, nos fins-de-semana e feriados, íamos jogar ali na ex-Escola Secundária da Maxaquene (agora Universidade São Tomás). Bom centro campista e com boa capacidade de drible e boa visão de jogo! Gostava de jogar com ele, não contra ele...
Quando terminamos a formação, fomos colocados em diferentes órgãos de informação. Ele foi para a Rádio Moçambique; pouco tempo depois, foi estudar em Portugal. Mas a irmandade, amizade e o companheirismo, gerados, criados e patrocinados pelo casal Couto na Escola de Jornalismo permaneceram até hoje. Nem o ter ido estudar em terras lusas fez dele um vaidoso! Ficava zangado quando alguém dos seus ex-colegas fosse a Nampula, onde ele foi delegado da RM, e voltasse sem o procurar! Queixava-se nos outros ex-colegas quando os encontrasse!...
Vezes sem conta, eu e ele encontrávamo-nos, confraternizávamos, batíamos copos, papos e copos, fazíamos tudo! Mesmo quando terminou a sua casa, há bons anos atrás, fez questão de me fazer saber. Não fomos “phahlar” a casa, mas brindamos no restaurante do Clube de Ténis, ali no jardim Tunduru, tarde adentro!
Vá em paz, Irmão, Amigo e Companheiro. Repouse em paz e até sempre! A sua memória ficará para sempre em nós!
(ME Mabunda)
Soube esta manhã que o Jornalista João Matola da Rádio Moçambique (RM) partiu. Soube-o ao ler o texto de despedida/homenagem lavrado pelo seu colega da RM, Arão Cuambe e publicado no Jornal Carta. Enquanto lia, invadia-me a memória de um certo dia de Agosto em 2006. Foi um dia de reunião do Conselho de Administração da RM. Eu e um colega, na qualidade de organizadores do I Fórum Social Moçambicano (que teria lugar em Outubro de 2006), participávamos na dita reunião e que definiria as linhas da parceria entre a RM e a organização do Fórum Social Moçambicano, nomeadamente na divulgação e cobertura integral deste evento pela RM.
“Temos interesse e queremos ser um parceiro estratégico deste evento”. Assim concluiu Botelho Moniz, que dirigia a reunião que terminara, no ponto de agenda atinente ao Fórum Social Moçambicano, com a indicação do João Matola, convidado a propósito à reunião, para que este fosse o ponto de ligação da RM na parceria com o Fórum Social Moçambicano. Desde esse dia e por 03 meses o João Matola foi mais do que um ponto de ligação - um amigo, conselheiro, assessor, activista social – tendo o seu empenho traduzido numa divulgação e cobertura do evento comparável e de fazer inveja com a de grandes eventos oficiais e privados deste país.
Lembro-me, para dar uma ideia do compromisso e entrega de João Matola, que na manhã do dia seguinte ao da reunião do Conselho de Administração da RM, enquanto preparava-me para entrar no ar no programa de Emílio Manhique, outro saudoso jornalista, este pergunta-me para quando é que era o evento. Depois da minha resposta ele ficara espantado pois ainda faltava muito tempo, o que não era normal no seu programa.
Da leitura do texto do Arão Cuambe, ressaltou-me o seguinte trecho: “ …Ao final do dia, o João, como um bom “marronga”, com passagem pelas escolas portuguesas, actuava como meu enólogo fazendo-me provar desde a Casa de Insua, de casta agradável, e um bom Borba, entre outros vinhos Portugueses”. Mal ainda terminara a leitura enviei, por Whatsapp, o link do texto a um amigo que também participara na organização I Fórum Social Moçambicano. Com o link foi a seguinte mensagem: “Thomas. Este é quem ficara encarregue pelo Conselho de Administração da Rádio Moçambique para cobrir integralmente o I Fórum Social Moçambicano tendo cumprido com sucesso. De lá até hoje ficamos por tomar um copo e quem sabe nesse dia eu teria tido uma aula sobre vinhos.” Do Thomas, a resposta: “Não repita isso de ficar a dever alguém uma sessão de copos”.
“Um copo de balanço” por tomar com João Matola é a sessão em dívida desde os finais de Outubro de 2006 e que desde então, eu e o João Matola, sempre que nos cruzássemos, era recordada como um pendente. E ainda continua um pendente. Saravá João Matola!
Vi uma peça na STV, que também foi veiculado pelo Diário da Zambézia, que me deixou estarrecido, na qual colaboradores do BCI, que não foram flagrados com a mão na massa, foram transportados aos montes no Mahindra como ladrões de créditos e reputação firmada.Inclusive, o acto, lembrou-me um episódio no qual um jovem foi assaltado num carro e disse, aos polícias, que o acto tinha sido cometido por alguém com uma camiseta vermelha.
Alguns metros depois um jovem, que vinha do seu trabalho, foi cercado, recolhido, encarcerado é espancado. Motivo: tinha uma camiseta vermelha. Recolhido aos calabouços, mesmo com a vítima afirmando que não tinha sido aquele jovem a pessoa que lhe tirou o telefone, ele ficou detido, mesmo com testemunhos de pessoas que tinham estado com ele naquele dia ele permaneceu detido até que teve de ser libertado por uma procuradora.
Portanto, é regra da nossa polícia é deter sempre, pois qualquer pessoa acusada por eles é naturalmente culpada. Voltando ao assunto do BCI e a forma como os seus colaboradores foram recolhidos diz mais do banco do que da polícia. Ainda que todos jovens ali estejam envolvidos no crime, aquela forma indigna de transportá-los, diz muito dos valores do BCI enquanto empresa.
Há algo que se chama dignidade e o BCI deveria ter criado meios para garantir isso aos seus trabalhadores. É importante também que os jornalistas não se limitem a reproduzir o que a polícia diz? Não se pode transformar a suspeita na culpa de forma alguma. Nenhum colaborador ali foi surpreendido com dinheiro fruto do roubo, foram simplesmente recolhidos por serem trabalhadores do BCI e por terem estado na agência na hora em que deviam trabalhar. Ou seja, aquele era o único lugar onde deveriam estar naquele momento, suspeito seria estarem em outro lugar sem justificação.
O pior é que até prova em contrário são inocentes e, por regra, há grandes probabilidades de que sequer tenham antecedentes criminais. Se todos ali forem culpados a polícia falhou, o BCI falhou e o jornalismo perdeu a oportunidade de questionar os métodos da polícia e os valores que o banco preza no que diz respeito aos seus colaboradores. Devia ser regra, quando se faz jornalismo, avaliar se as pessoas que são classificadas como supostas criminosas são tratadas com dignidade ou não. Isso sequer é um valor do jornalismo, mas um princípio que nos devia acompanhar enquanto humanos.