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Juma Aiuba

Juma Aiuba

segunda-feira, 28 janeiro 2019 07:25

Se eu fosse a Buchili

Se eu fosse a Biatriz, a digníssima dona procurad(or)a, saía um pouquinho do ar condicionado, descia uns passitos ali ao mercado central e comprava uma sebenta (caderno) daquelas de capa dura, de cor preta, escrita "caderno escolar". Aproveitava esse tempo em que país e encarregados de educação estão a comprar material escolar para os seus filhos e afins para fazer também minhas compras lectivas. Dizia, comprava uma sebenta de capa dura, preta, com letras brancas a frente "caderno escolar" e três esferográficas "Bic": azul, preta e vermelha. Um kit de apontamentos. Escrevia o meu nome naquele quadradinho branco que vem na capa. Ali onde é para pôr "escola", ia escrever "Kempton Park Magistrate", na "disciplina" seria "Princípios Básicos de Direito" e na "turma" ia escrever "Pé-Gê-Ere de Moz". Então, ia começar a passar apontamentos da professora Elivera Dreyer, aquela senhora magnífica que está a dar aulas de Direito, de borla, ali na casa vizinha. Ficava bem quietinha e muito atenta às aulas dela. 



Convenhamos, pessoal, aquela forma de argumentar uma acusação para matrecar um gatuno diplomático, imune e com altos níveis de glicemia, cercado por advogados caros e reputados da máfia, são autênticas lições gratuitas de Direito para a dona Bia e seus apaniguados. Não é brincadeira! Nem o mancar, nem a palidez, nem a diabetes mellitos, consegue salvar o homenzinho das garras da senhora. Na Pé-Gê-Ere aquelas audições deviam ser assistidas em tela gigante, num anfiteatro, com direito a apontamentos e tudo. Que "granda" aula, meu Deus! Chiiiça! 



Continuando, eu ia aproveitar essas audições de Joannesburg para fazer meus apanhados para enfrentar os 17 arguidos que ainda me sobram na lista. Podia usar essas cabulas para, pelo menos, assustar aqueles gatunos da lista que não são diplomáticos nem imunes e marcava alguns pontos neste meu pobre e insignificante mandato. Pelo menos teria alguma coisa para contar aos meus netos. Um dia talvez estaria escrito na história do judiciário moçambicano como uma menina atrevida que tentou destruir um ninho de marimbondos de luxo. Podia não conseguir, mas ia tentar. 



Ao invés de estar aí atrapalhanda em resgatar um lesa-pátria confesso, ela devia já estar a fazer algo mais interessante, como por exemplo, deitar fora aquele relatório encriptado e começar a trabalhar seriamente com o original da Kroll que chama os gatunos pelos seus próprios nomes de registo, sem alcunhas nem pseudónimos. Não devia gastar tempo fazendo parcerias com o Tribunal Supremo e o Parlamento, que só vai somar mais vergonhas. Devia fazer algo mais palpável e visível. É preciso aproveitar algumas oportunidades que a vida nos oferece. As vezes é preciso nos olharmos no espelho e termos um pouco de vergonha na cara. É preciso sentirmos pena do nosso travesseiro a noite. Isso de ir trabalhar enquanto o cérebro ainda está em Bilene de férias não é uma coisa para habituar. 



Daqui a pouco, o Chang e seu pâncreas vão embarcar, a palestra da doutora Elivera vai terminar e vocês vão continuar aqui com a vossa dúzia e meia de surrupiadores de luxo e um monte de comunicados, convocatórias e cartas de pedido de resgate que não deram em nada. Aproveitem cabular ao menos. O tempo é esse. 

- Co'licença!

sexta-feira, 25 janeiro 2019 07:42

"Síndrome de Deus"

Depois que Manuel Chang foi preso e foram, igualmente, revelados o esquema e os valores do calote, muitos são os moçambicanos que se perguntam: Mas, o que deu no Manuel Chang e seus comparsas para roubarem tanto dinheiro assim e da maneira que roubaram? O que se passou nas suas cabeças? Será que não tiveram um pingo de medo? Roubar um país daquela maneira? E eu respondo: Não estavam nem aí. Não se passou nada na cabeça deles naquele momento, a não ser levarem o dinheiro, ficarem ricos e viverem numa boa. Não tiverem medo nenhum. Roubar é o que você diz, para eles é levar o que lhes é de direito. 


Mas porquê? Por nossa culpa. Nós confundimos respeito com medo. Para nós, os nossos governantes são DEUSES. São intocáveis. Podem tudo. Tudo gira em torno deles. Tudo depende deles. Nunca erram. Nunca se enganam. São os mais sábios entre nós. O país ou o ministério é do dirigente.

 
Tudo começa com os adjectivos e alcunhas que atribuímos a eles: o visionário, o filho mais querido, o enviado de Deus, etecetera. Para nós, sua excelência, excelentíssimo, senhor, doutor, presidente, ministro, e afins, não são suficientes. Nós veneramos o governante e ultrapassamos os limites humanamente admissíveis, o que acaba criando nas pessoas aquilo que eu vou desde já chamar de "síndrome de Deus". Ou seja, a pessoa acaba se achando "O Deus Todo Poderoso": aquele que está acima de tudo e de todos, incluindo a Lei. Nós endeusamos exageradamente que o governante acaba perdendo a ética e o cuidado de gerir a coisa pública. Perde a noção do perigo. Acaba assumindo que aquilo tudo é dele e ele pode fazer e desfazer e passa a ver o país, a província ou o ministério como sua capoeira. Aliás, como todos sabem, nesse famigerado calote os dinheiros eram tratados por "galinhas".


Não nos passa pela cabeça que o Presidente da República, o Primeiro-Ministro, o ministro, o vice, o governador, deputados, e quejandos, são também "funcionários públicos". O salário deles vem dos nossos impostos. Temos de monitorá-los. É a nós que eles devem prestar contas. Ser governante não é profissão, é missão. Não é eterno, é passageiro. Subordinação não é vassalagem. 


Na verdade, nós é que criamos os nossos próprios Changs, Cambazas, Cetinas, e companhia. Outros vão também criando os seus Obiangs, Salva Kiirs, Bongos, Mugabes, Dos Santos, e por aí fora. A culpa é nossa. A quantidade e qualidade de sentinelas de prontidão que defendem parvoíces dos nossos governantes é preocupante. Nós não temos gestores públicos, temos Messias. Nós não temos governantes, temos pessoas escolhidas por Deus, temos profetas. Nós somos governados por pessoas que podem fazer tudo o que lhes apetece. Pessoas que podem até levar dinheiro do povo para fins particulares sem que ninguém os impeça. Parece que não, mas Manuel Chang não está a acreditar que aquilo que ele está a passar hoje é realidade. Nunca imaginou. Para ele, aquilo não é normal. Ele ainda não se considera gatuno. Ainda não está curado da "síndrome de Deus" que nós criamos nele. E pior, alguns de nós também não estão a acreditar, incluindo o nosso judiciário. A nossa Pé-Gê-Ere, outra incubadora desses deuses, está desnorteada. 


Chang e companhia orquestraram aquela fraude muito fresquinhos e nunca consideraram a possibilidade de serem encontrados e muito menos de serem responsabilizados. Dai que o homem não sente remorso nenhum, e tenta convencer a Justiça a viver numa casa alugada perto da Ressano para "dar gás" e continuar a viver à francesa como está habituado. Mas o que mais me preocupa é que nós também ainda não estamos preparados para apontar o dedo àquele feitio de gatunos. Para nós, a prisão do Deus Chang é um teste a nossa fé: "síndrome do crente devoto".

Definitivamente, esses novos sentinelas do regime estão a sabotar o partido Frelimo, o seu presidente e o governo do dia. São "grandas" incompentes. Não têm capacidade de puxar-saco de ninguém. Só sabem ter línguas grandes e desparafusadas, mas lamber bota que é bom, nada. São miúdos. Pensam que o que importa é o tamanho da língua simplesmente. Não sabem que é preciso também desenvolver a arte de linguajar. Não sabem que não se pode polir por polir. Não sabem que esse job faz-se no momento e no lugar certos, e cada escova com a sua graxa. Não sabem que não é qualquer assunto que merece polimento. O partido devia começar a vigiar esses anãos intelectuais que estão a colocar o partido em saia justa.

 

Poxa! As coisas que estamos a ver nas redes sociais nesses últimos dias são vergonhosas, meus irmãos. Nem para rir, nem para chorar. É com cada texto! Cada teoria, cada argumento, não val'apena! A nova equipa perdeu o foco, ou mesmo sem foco, e não pediu os termos de referência à equipa cessante. Esses novos não podem ser equiparados, nem de longe, aos verdadeiros Gê-40. Esses novos ganham apenas na arte de insultar, da devassa alheia e da arrogância. Quando lhes lanças uma pergunta sobre as dívidas ocultas, começam a falar do teu casamento. Quando lhes pedes um argumento sobre a sustentabilidade do pedido de resgate de Chang feito pela Pé-Gê-Ere, te falam das hérnias, gastrites, diabetes e tosses que tiveste há cinco anos. Só pode ser sabotagem. É greve. Devem estar a pedir mais regalias também. Só pode!

 

Não é para menos. São os verdadeiros inimigos da paz e da reconciliação nacional, pilares da governação do Presidente da República. São contrários ao desenvolvimento socio-económico e ao futuro melhor, slogans do partido Frelimo. São perversos à inclusão e ao direito à razão, alicerces do governo do dia. Querem fechar o coração do camarada Filipe Nyusi, onde cabem todos moçambicanos. Talvez até querem começar a fazer bolada de portagem de acesso ao coração do Presidente ou querem começar a cobrar dízimos aos que já lá estão. Querem dividir o coração do Presidente em classes sociais.

 

Este país já não é o mesmo, irmãos. Perdemos a qualidade de puxar-saco. Nós já fomos uma referência regional e, quiçá, mundial nesse quesito. Os cotas do Gê-40 já foram o nosso maior orgulho. Esses eram organizados. Tinham uma doutrina. Até tinham uma lista. Funcionavam como uma autêntica Ordem, com Bastonário e tudo. Falavam merdas, mas de forma organizada, eloquente e estudada. Os Gê-40 falavam bujardas cientificamente. Havia uma coerência discursiva nas maluquices que falavam. Não eram baralhados. Todos falavam das mesmas merdas da mesma maneira merdosa. Era incrível! Até, com um pouco de azar, podiam te convencer. Faziam-se confundir entre pessoas sérias.

 

O que mais gosto dos Gê-40 é o facto de nunca terem escondido, enquanto vigoraram, que os gajos eram uns grandes bostas. Não fingiam. Nunca esconderam, por exemplo, que eram pagos para falarem absurdices. Os Gê-40 vestiam-se bem, recebiam bem e até alguns eram empresários de (in)sucesso. No fundo até dava uma invejinha ser um gê-quarentado. Infelizmente, esses novos contratados vulgarizaram a figura do puxa-saco. É caso para dizer que a classe dos beija-mão foi invalidada por paraquedistas. Já pululam puxa-sacos sem carteira profissional.

 

Essa equipa de lambe-botas da actualidade nem nome tem, nem lista no "Ekicel". Acho que nem se conhecem. É que, as vezes, se contradizem, se insultam e depois se pedem desculpas no mesmo debate (já vi isso). São uns falhados. Mas também não podia ser diferente. Não se podia esperar outra coisa de gajos que foram recrutados na Renamo e no Eme-Dê-Eme as pressas. Gajos que, a bem pouco tempo, rotularam Afonso Dhlakama de Messias, o Salvador. Gajos que, há poucos anos, chamaram o "boss" da Ó-Jota-Eme de velhote. Gajos que não gaguejavam para dizer que a Frelimo era um partido de ladrões, antiquado e moribundo. Gajos que não tinham preguiça de ir aos banquetes do Daviz. Gajos que eram "consultores" de Manuel de Araújo. Gajos que beberam muita sura e comeram muita mucapata nas bandas de Zalala. Gajos que insuflaram bochechas e ganharam aparência de gente nos workshops, seminários e retiros das mesmas organizações que hoje fingem hostilizar. Não se podia esperar outra coisa. É por isso que andam nervosos a toa, custa-lhes falar o que falam porque não lhes sai do fundo do coração. É como se diz por aqui: saíram do mato, mas o mato ainda não lhes saiu da cabeça (da alma).

 

Eu prefiro os Gê-40. Eram gajos bons no que faziam. Esses recrutas não têm graça, são muito quadrados. Nem dá para serem lambe-botas estagiários. A sério, já não se puxa saco como no passado. Até isso perdemos.

- Co'licença!

segunda-feira, 21 janeiro 2019 06:21

O mercado especulativo dos esquadrões da morte

Hoje as pedras estão a ser arremessadas contra o Centro de Integridade Pública (CIP). Hoje os alvos são jovens, malta Fátima, Borges, Cortez e afins. Ontem foi contra malta Cardoso, Siba-Siba, Cistac e companhia. Os Castel-Brancos, Matias, Macuanes, Salemas, Aunícios, etecetera, também já viram as suas laringes, tíbias, tarsos, metatarsos, carpos e metacarpos em leilão na bolsa de valor dos esquadrões da morte. 



Portanto, há lobistas que manipulam as informações nos corredores do poder no sentido de encontrarem um inimigo político para justificarem o dinheiro que recebem. Quando não há inimigo, criam-nos. A ideia é que o sistema tenha inimigos para que a sua existência se justifique. Quanto mais inimigos houver, mais trabalho, mais salário, mais ajudas de custo e, obviamente, mais reconhecimento da sua importância na sociedade. Criam bodes expiatórios a partir das redes sociais. 



São esses lobistas que definem os alvos a abater e entregam-nos aos operativos. Você descobre que já tem valor para esses esquadrões quando, de repente, tudo o que você pensa, fala ou escreve começa a ser especulado a uma fasquia muito alta. Quando o que você escreve é carapuça que vai servir alguém; quando o que você diz é indirecta para alguém; quando o que você pensa é conspiração contra o governo, partido, presidente, ministro ou deputado. Quando você começa a ser confundido como sendo "deles". Aí você já está especulado: as ações começam a ser negociadas e começam a fazer as ofertas de compra e venda. Quando a informação especulativa chega à contra-inteligência com o mesmo valor especulativo, o negócio é fechado, e são acionados os "orangotangos" do sistema. A partir desse momento, tudo o que for acontecer contigo é justificável e todos vão dizer "sabíamos que ia acabar assim", "mereceu ter aquele fim", "falava muito", "confundia liberdade com libertinagem". A opinião pública já foi manipulada e a sua morte justifica-se. 



Então, dizia eu, hoje as pedras vão ao telhado do CIP. Hoje o mau da fita é o CIP, em conluio com os seus doadores estrangeiros. Todos os adjectivos pejorativos cabem neles, tudo por conta da sua campanha contra o pagamento das dívidas ocultas que tem angariado fãs a cada dia. O CIP é das pouquíssimas organizações da sociedade civil em solo pátrio, talvez ao lado do Parlamento Juvenil, que tem pressionado o executivo, o legislativo e o judiciário a não reconhecerem as dívidas dos Changs como públicas. É das poucas instituições que se tem engajado no "influencing" de modo a livrar o Povo/Estado/Governo dessas famigeradas dívidas. 



O CIP quer apenas responsabilização dos autores e, por causa disso, caiu no fluxo transacional dos lobistas. Dizem que a campanha "Eu Não Pago as Dívidas Ocultas" é uma conspiração contra a reeleição do presidente Filipe Nyusi. Dizem que o CIP é dos americanos e os americanos estão metidos nas decapitações de civis em Cabo Delgado. Dizem isto e aquilo sem um pingo de tino. Tudo especulação para justificar o amanhã. Está em marcha uma campanha para desacreditar uma organização jovem, vigorosa e destemida. 



Acreditem, não há publicações ou comentários inocentes nas redes sociais. Até o "laike" ou o emoji é colocado à medida da intenção. Alguns cidadãos aparentemente cultos e estudados estão metidos ingenuamente nessa bolada. Quando não querem ajudar, atrapalham. Quando não querem fazer, também não deixam os outros fazerem. E assim vamos plantando bananeiras em cada esquina desta república. 



- Co'licença!

Como pode um Estado e suas entidades de assessoria jurídica confundirem dois conceitos tão diferentes e divergentes?



EXTRADIÇÃO: Processo oficial pelo qual um Estado solicita e obtém de outro a entrega de uma pessoa condenada ou suspeita da prática de uma infração criminal. Esses actos normalmente são celebrados através de tratados bilaterais (Direito Internacional). 



RESGATE: Acto ou efeito de libertar ou reaver alguém que esteve em cativeiro, prezo ou sequestrado. Operação de salvamento ou libertação de indivíduos que sofrem maus tratos ou humilhações. 



O que a nossa Pé-Gê-Ere está a pedir é RESGATE do seu amigo que, para eles, está a ser humilhado. Moçambique não pode pedir EXTRADIÇÃO. EXTRADIÇÃO é coisa séria... de países também sérios. 



EXTRADIÇÃO não se trata com essa leviandade, não. Como se pode extraditar um "Indivíduo" para um país onde ele goza de imunidade? Se querem brincar de extraditar, por quê não "extraditam" os restantes gatunos para as celas? 



Não nos confundam as cabeças, faz favor! Deixem o gatuno viajar na paz do Senhor Jesus Cristo! Deixem de ser patéticos! Vamos ser sérios um pouco só! 



- Co'licença!

Nem o próprio Afonso Dhlakama, nem Joaquim Chissano, nem Armando Guebuza, nem Filipe Nyusi, nem Yaqub Sibindy, nem Raul Domingos, nem Daviz Simango, etecetera, foram algumas vez eleitos democraticamente, e de forma genuína, em qualquer congresso. Ou seja, nunca houve um pleito eleitoral interno verdadeiro a nível dos partidos políticos neste chão chamado Moçambique. Normalmente, as eleições à presidência dos partidos, que têm decorrido nos congressos, são simplesmente um teatro, nalgumas vezes bem ensaiados, noutras nem por isso. 

 

Ossufo Momade é, a partir de hoje, o primeiro presidente de um partido político nacional a disputar votos de verdade. Por isso, a Renamo escreve mais uma página na História Universal como o primeiro partido político moçambicano a eleger democrática e genuinamente o seu presidente. Este VI Congresso da Renamo é histórico. Não quero aqui incluir os congressos da Frelimo socialista. Não sei, ao certo, se Mondlane e Samora, por exemplo, foram eleitos de verdade. É que a história deste partido tem sido revisada a cada dia que já nem se sabe distinguir a verdade da mentira. 

 

Olha, não quero com isso dizer que os outros congressos, deste e daquele partido, não foram democráticos. Nada disso. Estou a falar da democracia de disputa de votos na urna, onde os votos são divididos entre os concorrentes. Aliás, neste VI Congresso houve concorrentes, houve candidatos. Houve votação de verdade. Na hora de anúncio dos resultados, o coração de cada concorrente bateu rápido, os concorrentes roeram as unhas, houve ansiedade, houve nervosismo, houve aquele friozinho na barriga. Não foi um daqueles eventos de aleluias e hosanas ao Delfim e de legitimação de acordos dos bastidores. Ninguém tentou oferecer tractor e suas alfaias aqui. 

 

Isto é, de facto, inédito. Normalmente, os congressos são meros encontros de confirmações de cargos. Ninguém concorre com ninguém de verdade. Não há disputa. Os candidatos costumam ser únicos, ou porque os outros desistem à última hora ou porque apanham disenteria ou porque recebem, nos bastidores, uma iluminação divina de apoiarem um só concorrente. As vontades dos congressistas, normalmente, são por aclamação. Isto é, todos acordam e decidem gostar de um gajo só. Os congressos costumam ser "show de talento" de hipócritas. 

 

Neste VI Congresso da Renamo os congressistas distribuíram o seus votos para todos os concorrentes e venceu quem conseguiu a maioria. E democracia é isso mesmo: liberdade de expressão e de manifestação. Só espero que esse espírito prevaleça na Renamo e que os demais partidos imitem. Isso é importante para a nossa democracia interna e externa.

segunda-feira, 14 janeiro 2019 05:50

Torcendo pelos nossos gatunos

Hoje, a partir das 10 horas, no palacete da Ponta Rocha, a conversa será mais ou menos assim: 

 

- Puto, ouvi dizer que tens uma ou duas listas enormes de 16-18 gatunos, sei-lá. 

 

- Ya, na verdade, mô cota, não são listas de verdade. É só para distrair um pouquinho. Como esses dias a brincadeira que está a bater aqui na zona é essa de gatunos não-gatunos, então, inventamos essa cena aí. 

 

- Mas, posso ver essas listas?... Quem sabe encontre aqueles gajos que os gringos estão a procurar. 

 

- Ééééé não, mô cota!... Não posso fazer isso. Alguns estão nessas listas, mas não posso fazer isso. Não posso trair o meu povo. Como te disse antes, esses gatunos são nossa relíquia. É uma coleção. Foram anos de muito trabalho. Eu apenas (de)lapidei, mas o trabalho arqueológico já vinha sendo feito faz tempo. É um kit completo, mô cota. 

 

- Poxa, então a coisa é séria mesmo!?! 

 

- Nem me fales, cota... Nem me fales... Muito séria mesmo. É por isso que te chamei... Preciso daquela peça chinesa aqui de volta, mô cota. 

 

- Eiii, puto... Vai ser difícil. Os gringos já sabem que aquela m*rda está comigo. Antes do dia 22 tenho de entregar aquilo. 

 

- Cota, em nome da nossa amizade, não faz isso. Não vamos estragar anos e anos de muita amizade por causa desses gringos... Anos de muito companheirismo. Meus cotas disseram que vos ajudamos maningue no tempo dos "waites". 

 

- Poxa, miúdo... Estás a me colocar em saia justa, puto. 

 

- Tens que ver, tio. Esse tabuleiro não vale nada sem aquele chinês. É a peça fundamental do kit todo. Digamos que é o gatuno-chave. E pior: assim que os restantes gatunos viram vocês fazendo dançar o gajo daquela maneira para cima para baixo, ora no solo ora no subsolo,  os gajos desapareceram, sumiram, ficaram mudos... Têm medo até de atender chamadas. Assim corremos o risco de perder a coleção toda. Vão fugir. Vão se esconder. 

 

- Chiça! A coisa tá preta heim. 

 

- E depois, veja só, tio: aquele gajo lá sozinho vão vale grande coisa também. O gajo já perdeu o brilho... Ficou todo murcho, amuado, matreco. O melhor sorriso dele não convence nem a pior puta do semáforo. Nem com sumo de maracujá vocês conseguiram ressuscitar o gajo. É depressão aquela cena. 

 

- Valer vale, sobrinho. Os americanos querem o gajo assim mesmo e pagam bem. Acho que querem colocar o gajo numa outra coleção de gatunos internacionais com nomes de artistas de cinema lá em Nova Iorque. 

 

E a lenga-lenga continua. E nós cá deste lado, pelo amor que nutrimos pelos nossos ladrões e pela nossa pátria, vamos torcendo pelo regresso do nosso gatuno. O gatuno-chave do nosso tabuleiro de gatunos de estimação. É uma relíquia nacional. É um jogo completo. Deve ser bem guardado, tudo junto. Levou anos a (de)lapidar. Fruto de trabalho árduo. Deve ser bem conservado no nosso museu. As futuras gerações têm de conhecer. São nossos gatunos! Muito nossos!

 

#Wewantourgatuno

 

#Queremosonossogatuno

 

#Nãoqueremosdiscutircomninguém

sexta-feira, 11 janeiro 2019 05:20

Nós não somos burros!

Depois da liberdade frustrada do nosso gatuno diplomático e imune na diáspora, estamos a vibrar de felicidade. Estamos a rir a toa. Se existe espírito natalício, então, é isto, fizemos ponte. Pelo menos vincou a vontade popular. Mas quem não está a gramar mesmo deve ser a Procuradoria e o Tribunal Administrativo com as suas resmas de arguidos. Do tipo: essa alegria toda por causa de um gatuno?! E nós com dezoito e dezasseis arguidos ninguém diz nada?! Como assim? Se nós temos mais arguidos do que os nossos vizinhos! De facto, não estão a perceber mais nada. 

 

Então, antes que isso termine em confusão, é imperioso explicar àqueles nossos irmãos de toga e sotaina preta o seguinte: NÓS NÃO SOMOS BURROS! E nunca fomos! Não estamos contra ninguém... Apenas contra a impunidade. E não estamos a favor de ninguém... Apenas a favor da justiça. Para nós, um bandido na cela é "muito melhor" que dezasseis na rua. Um gatuno acusado é "muito melhor" que dezoito num comunicado. Os gringos têm apenas um gatuno na mão (a bater sumo de maracujá, enquanto aguarda pelo visto), e vocês têm dezasseis e mais dezoito a voarem. O NOSSO gatuno já está no xilindró, e os vossos estão nas suas casas, nos bares, nas praias, nos gabinetes, nas piscinas, na baixa-a-noite, nas massagistas, no Glória, etecetera. 

 

Antes que nos acusem de tráfico de felicidade, eis os motivos da nossa alegria: ACÇÃO. Antes de dizerem que a nossa alegria não pagou imposto na fronteira de Ressano, entendam-nos. Não é em vão que hoje somos todos mukheristas e estamos a importar esta alegria contagiante até com excesso de bagagem. Sempre que possível, iremos buscar alegria onde houver tomates. 

 

Ontem, era a Procuradoria que tinha dezoito arguidos, hoje é o Tribunal Administrativo que tem 16, mas que são os mesmos. Um único Estado, duas listas com os mesmos suspeitos, nenhum acusado. Aliás, os próprios arguidos nem sabem são arguidos. De longe dá para ver que não vai dar em nada. Será uma montanha que vai parir um rato. 

 

Organizem-se! Organizem bem a peça! Para prender gatuno não precisa de muito bla, bla. NÓS NÃO SOMOS BURROS! Se pensam que somos, enganam-se. 

 

- Co'licença! 

Meu irmão, antes de surrupiar algo deve-se informar suficientemente sobre o que é ser gatuno. Deve-se informar melhor sobre as condições de ser gatuno, particularmente sobre como honrar o nome "gatuno". Ora, acabo de saber agorinha mesmo que os advogados do nosso brada reclamaram à Juíza sobre o estado da cela do seu cliente. Alegam eles que o nosso brada está numa cela deplorável. Dizem que dorme com mais de vinte colegas, que são muito indisciplinados e até fumam gandja na cela. E eu cá com o meu umbigo: E daí!? Qual é a novidade aí!? E ainda disseram que o seu cliente teve que subornar o chefe da cela para não ser agredido. Ora essa! Isso é o normal das cadeias. Temos visto nos filmes. E já que vai à Nova Iorque, é melhor ir-se habituando; afinal, dinheiro é o que não falta. 

 

 Eu acho que o camarada deputado está a brincar de ser gatuno, sabe! Afinal, pensava que ia dormir como, com quem e onde? Pensava que gatuno quando é apanhado vai dormir no Glória ou no Polana ou nas Torres Rani? Assim quando ouve Bê-Ó pensa que é no Humula ou no Plaza? Porquê não pergunta ao primo Cambaza? Assim pensava que ser gatuno é só mamar tako, ostentar o título e ficar numa "wella" para sempre? Ahhhhh... Vamos ser sérios camarada!  Assim o senhor envergonha a classe. 

 

Ademais, as condições que o senhor encontrou aí são das melhores. Fique sabendo que o senhor está a ser muito bem tratado. O senhor é um Lord por aí. Isso chama-se reclamar de bucho cheio. Pois fique sabendo que se fosse aqui em Muahivire, o senhor já estaria com hematomas e muito mais parecido com um chinês de verdade. Se tivessem te deixado na Munhava, hoje estaríamos no sétimo dia de eterna saudade, paz à sua alma. Será que esse tempo todo que estava a orquestrar a fraude nunca ouviu falar de superlotação das cadeias cá da zona ou de prisioneiros que morrem asfixiados? Não exagera também né, mano!  Para terminar: vinte prisioneiros numa cela é moleza; indisciplinados na cadeia é normal (afinal, cadeia é exactamente para esse tipo de pessoas) e fumar na cela não é nada (aliás, fumar suruma é legal aí na África do Sul... Imagina, então, na cadeia). Deixa de ser chiliquento, camarada! Ou o senhor é gatuno ou é um bom samaritano. Se é gatuno, então age como tal! Respeite a vossa ética e deontologia, faxavor! 

terça-feira, 08 janeiro 2019 17:14

O que sobrou do Chang?

As imagens do nosso ex-ministro e deputado camarada Manuel Chang que me foram chegando, ontem, do Kempton Magistrate Court, em Kempton Park, Joannesburg, África do Sul, são de uma pena arrepiante. Confesso que fiquei, em algum momento, comovido. Afinal sou humano. 

 

Por falar em humano, o Chang que vi ontem não tinha atingido o estatuto de pessoa, muito menos de humano. Era simplesmente de um Chang biológico. Um organismo vivo que pertence a nossa espécie. Aquilo que o vulgo chama "ser vivo". Um espécimen de raça humana. Uma amostra de células vivas. Um amontoado de carnes e ossos envolto em tecidos. 

 

Há uns dias, Manuel Chang era Manuel Chang. Pessoa. Ser humano. Super-ministro. Candidato à Presidente da Efe-Eme-Efe. Intelectual. Deputado. Camarada. Quadro. Compatriota. Senhor. Doutor. Excelência. Excelentíssimo. Digníssimo. Prezado. Respeitado. Um homem. Um ser moral e consciente, com arbítrio próprio. Uma grande personalidade. 

 

Hoje tudo desmoronou. Uma carreira profissional e política de fazer inveja caíram perante uma ambição inconsequente. É difícil de compreender. O homem enfiou centenas e milhares de hospitais, escolas, bibliotecas, pontes, quilómetros de estradas, medicamentos, livros, furos de água, latrinas, etecetera, na sua conta. 

 

E, hoje, o que sobrou dele? Um monte cheio de nada. Esteja ele cá ou lá, preso ou livre, extraditado ou não, Chang nunca será o mesmo. Não irá a tempo de recuperar "a pessoa" que ele construiu em mais de 60 anos de vida. O Chang que vi ontem, as calças lhe caem. O casaco nem parece dele. O Rolex treme. Este Chang não é o mesmo. Não é o "nosso". Este perdeu a alma. Empalideceu. Um aborto ambulante.

 

Mas, enfim, diria Robert Musil, "uma pessoa faz o que é, e se torna o que faz".

 

- Co'licença! 

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