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terça-feira, 20 setembro 2022 06:55

Terrorismo pode ser resultado de “oligarcas” moçambicanos criados pelo FMI – defende Joe Hanlon

“A culpa da maldição dos recursos [naturais] e, portanto, da guerra em Cabo Delgado pode ser atribuída, em parte, à má governação e à ganância de uma nomenklatura da Frelimo que beneficia do seu controlo político de minerais e outros bens e ganha rendas ao fornecer esses bens ao capital estrangeiro”.

 

Esta é a tese defendida por Joseph Hanlon, cientista social britânico, especialista em assuntos de Moçambique, na sua mais recente comunicação científica apresentada esta segunda-feira, em Maputo, durante a VI Conferência Internacional do IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos), subordinada ao tema “Conflito, Violência e Desenvolvimento”.

 

Segundo Hanlon, os ataques terroristas que se verificam na província de Cabo Delgado desde 05 de Outubro de 2017 podem resultar das acções dos oligarcas moçambicanos, criados pelas políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI), no quadro da liberalização da economia moçambicana.

 

De acordo com o pesquisador, durante a reconstrução do país após a guerra de 16 anos entre a Frelimo e a Renamo, os Estados Unidos da América e as instituições da Bretton Woods, com destaque para o FMI, impuseram uma “terapia de choque” a Moçambique, caraterizada pela transformação repentina de socialistas em capitalistas, o que abriu espaço para o surgimento de oligarcas no seio do partido Frelimo.

 

Um dos oligarcas “criados” pelo FMI, afirma Hanlon, é Raimundo Pachinuapa, membro sénior da Frelimo e antigo combatente da luta de libertação nacional, que controla uma das maiores minas de rubi do mundo.

 

“Em 2009, Raimundo Pachinuapa ouviu dizer que os mineiros artesanais estavam a encontrar rubis e ele reivindicou uma licença para 35.000 ha. Todos os ocupantes foram expulsos, tanto agricultores como garimpeiros. E, no modelo oligárquico, como não podia dirigir uma mina de rubi, vendeu três quartos à Gemfields [mineradora britânica que detém 75% das acções da Montepuez Ruby Minning]”, afirma.

 

Para Joe Hanlon, este facto, associado à descoberta de gás na bacia do Rovuma e que levou ao reassentamento de pouco mais de 2.500 pessoas, causou revolta junto da população, que nada ganha com a exploração dos recursos naturais. Hanlon recorda que Cabo Delgado é a província mais rica do país em recursos naturais e minerais, mas é a mais marginalizada.

 

O Editor do Boletim do Processo Político de Moçambique defende que, em Cabo Delgado, há reclamações suficientes que colocam as pessoas em prontidão para entrar na guerra e o Estado Islâmico tem sabido explorar esses factores.

 

Sem citar nomes, Hanlon diz que outros oligarcas ainda se beneficiam do tráfico de madeira, drogas, bem como de ajuda humanitária e do dinheiro de reconstrução. “Para eles, não se trata de uma maldição de recursos”, diz, sublinhando que estes representam o sucesso da “terapia de choque” aplicada pelas instituições da Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) à economia moçambicana.

 

“Os oligarcas têm impunidade e podem roubar e matar em nome do mercado livre. Os oligarcas podem manter parte do dinheiro proveniente de contratos estrangeiros em contas bancárias estrangeiras”, sentenciou.

 

No entanto, o pesquisador reconhece haver outros factores que influenciam o terrorismo na província de Cabo Delgado, como são os casos da exclusão social e do desemprego. Por isso, entende que a solução do conflito passa pela resolução dos problemas levantados pela população.

 

Refira-se que os ataques terroristas em Cabo Delgado duram há cinco anos, tendo causado a morte de mais de quatro mil pessoas e obrigado a deslocação de mais de 850 mil cidadãos, para além da paralisação dos projectos de exploração do gás natural. (A. Maolela)

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