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terça-feira, 02 maio 2023 07:28

Celso Correia pode ajudar a Frelimo a retomar os municípios da oposição?

O homem por detrás da espectacular mas controversa vitória da Frelimo em 2019, o Ministro da Agricultura Celso Correia, foi nomeado chefe nacional da campanha eleitoral municipal da Frelimo. A Frelimo ganhou em todos os distritos, em 2019, e o Presidente Filipe Nyusi aumentou o seu voto em 1,8 milhões em relação a 2014 - amplamente visto como impossível.

 

Os observadores da UE, no relatório de 12 de Fevereiro de 2020, deixaram claro que não acreditavam nos resultados: "Houve uma espantosa inversão de resultados nas províncias do baluarte da oposição, Sofala, Nampula e Zambézia, e nos distritos da oposição dentro das províncias de Manica, Tete e Niassa. (...) Tais mudanças súbitas, direccionadas e significativas nas preferências de voto, estritamente limitadas aos distritos da oposição e contraditórias com os resultados das eleições municipais de 2018, são altamente improváveis".

 

O sucesso de Correia deve-se ao seu estilo de gestão, o que é invulgar para a Frelimo. Ele dá objectivos às pessoas, mas não lhes dá instruções detalhadas sobre como devem ser atingidos. Ele não faz micro-gerência. Este estilo tornou-o popular primeiro no Ministério do Ambiente e agora no Ministério da Agricultura. Os seus colaboradores acreditam que lhes é dada confiança para completar tarefas. A sensação no ministério é também diferente. Quando Correia passa por uma sala de trabalho, as pessoas não se levantam mas continuam a trabalhar. Parte do protocolo da Frelimo foi abolido com o objectivo de fazer fluir o trabalho.

 

As eleições eram normalmente controladas a partir da sede do partido na Sommerschield, mas Correia mudou, em 2019, a sede eleitoral para os escritórios de uma das suas empresas privadas na Av Julius Nyerere. Ele queria nomear o seu próprio pessoal e, aparentemente, não queria que os manda-chuvas da Frelimo entrassem no escritório dando ordens.

 

O passo seguinte foi ir para os distritos onde ele deu aos órgãos locais da Frelimo dois alvos simples: “ Nyusi deve ganhar em cada distrito com pelo menos 10.000 votos a mais do que em 2014”. A forma como isso seria feito foi deixada ao pessoal distrital. Evidentemente, teria sido melhor se eles tivessem realmente mobilizado mais 10.000 eleitores em todo o distrito. Mas ficou claro que a meta tinha de ser cumprida, independentemente da forma ou do método usados. E, de facto, foram utilizados métodos diferentes em locais diferentes. Em Gaza, que vota esmagadoramente na Frelimo, foram registadas 1.166.001 pessoas, ou seja, mais 329.430 pessoas do que a população em idade de votar de Gaza, 836.581, de acordo com o censo nacional da população de 2017. Tanto o chefe do Instituto Nacional de Estatística como o chefe do censo foram demitidos por se recusarem a distorcer os números do censo para corresponder ao recenseamento. Na Zambézia, que normalmente vota a favor da oposição, os números de registo foram suprimidos.

 

Noutros locais, os votos para a oposição foram invalidados. Em Nampula, Zambézia, Tete e Gaza, a observação eleitoral foi bloqueada.

 

Nas nossas newsletters, de 10 de Novembro de 2019 e 26 de Janeiro de 2020, identificámos pelo menos 557.000 votos indevidamente dados a Nyusi ou retirados à oposição, uma vez que o pessoal das mesas de voto tentou - e conseguiu - cumprir com os objectivos de Correia.

 

E houve, a nível nacional, uma intervenção desconfiada. A Comissão Nacional de Eleições alterou os resultados repetidamente, facto descoberto por este boletim informativo e por outros meios de comunicação social, pelo menos quatro vezes. 

 

Por exemplo, a CNE encontrou mais 152.000 votos para o parlamento (AR) do que as comissões eleitorais distritais relataram, mas nunca admitiu ter acrescentado estes votos ou ter dito porquê ou onde.

 

Até o Conselho Constitucional esteve envolvido, publicando três versões diferentes dos resultados oficiais finais, sem nunca ter dito que tinham sido alterados - e a versão final teve erros. As alterações só foram captadas por este boletim - as três versões foram publicadas no website da CIP Elections.

 

Correia também esteve envolvido nas eleições municipais de 2018, onde a iniciativa local foi clara. Em Moatize, Alto Molocue e Matola a maioria da Frelimo na comissão eleitoral local fez uma recontagem secreta que deu vitória à Frelimo, e que foi aceite pela CNE e pelos tribunais. Em Marromeu, a polícia levou urnas que foram contadas em segredo. Foi ordenada uma recontagem parcial e os votos deram 2406 de eleitores "fantasmas". Esse número era suficiente para ter exigido filas nessas mesas de voto durante todo o dia. Entretanto não houve filas de espera.

 

Assim, o chefe de eleições da Frelimo tem um historial impressionante. Mas o seu problema vai ser mais difícil desta vez. Em 2018 havia 53 municípios, e a Frelimo ganhou a maioria dos lugares em apenas 39. A Renamo ganhou uma maioria em 7 e o MDM em 1.Em 6 assembleias nenhum partido teve maioria. A oposição ganhou quatro grandes cidades do norte e do centro: Nampula, Nacala, Quelimane e Beira.

 

Nampula é o maior problema para a Frelimo - de 7 municípios, a Renamo ganhou 4. Não houve maioria em 3, e a Frelimo teve a maioria em apenas um. A Frelimo está suficientemente preocupada ao ponto de ter dado a Correia uma segunda oportunidade, como chefe da sua máquina eleitoral na província de Nampula. Mas, em 2019, foi bem-sucedido lá. Na província de Nampula, a Frelimo ganhou três municípios-chave nas eleições nacionais de 2019, que os tinha perdido nas eleições municipais de 2018:

 

+ Em Nampula, o voto da Frelimo duplicou e o voto da oposição diminuiu para metade,

 

+ Em Nacala Porto, 9000 votos da oposição desapareceram e a Frelimo ganhou 4000, passando por uma maioria de 600 votos, e

 

+ Na Ilha de Moçambique, o voto do MDM caiu de 1800 para 300, enquanto o voto da Frelimo saltou de 6000 para 10.000 (a Renamo manteve a sua quota-parte).

 

A Renamo fez protestos oficiais sobre a invalidação dos boletins de voto da Renamo tanto em Nacala Porto como em Ilha de Moçambique. Agora a ordem é que a Frelimo deve ganhar todos os municípios. Será que Celso Correia vai conseguir?(CIP Eleições)

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