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Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 28 março 2019 06:34

Reactivação da economia na Beira poderá custar acima de 500 milhões de USD, diz Maleiane

Na recuperação do tecido empresarial da Beira poderão ser precisos mais de 500 milhões de USD, disse ontem o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, falando à margem de um seminário de “alto nível” sobre Fundos Soberanos, organizado pelo Banco Central em parceria com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele acautelou que aquela era apenas uma estimativa ainda não baseada em uma aferição detalhada do impacto da destruição.

 

O Ministério da Economia e Finanças iniciou já a recolha de informações sobre o impacto do recente desastre natural no sector produtivo na Beira. A iniciativa enquadra-se numa hipotética criação de um pacote governamental de emergência para ajudar o sector privado local a reerguer-se. Cerca de 90% dos negócios na Beira, Buzi, Muanza, Dondo e Nhamatanda, foram afectados.

Ontem na Beira, o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, teve um primeiro encontro com empresários, arregimentados na tradicional sala de debates da centenária Associação Comercial da Beira (ACB). Ele ouviu dos empresários o que esperam que o Governo faça: redução do IVA e do IRPC, pagamento das dívidas atrasadas, financiamento barato (com períodos de graça de pelo menos 5 anos), mobilização de financiamentos a fundo perdido.

 

Ragendra disse que o Governo estava sensibilizado e que poderá decidir “aliviar a carga fiscal e alargar prazos”, mostrando-se, no entanto, completamente contrário à concessão de donativos, como alguém tinha pedido. O encontro de ontem foi o primeiro. O Governo ouviu histórias comoventes de investimentos destruídos, numa multiplicidade de sectores, nomeadamente a construção civil, a panificação, o comércio, a hotelaria, a restauração, as pescas, a logística, os serviços e a agro-pecuária. 

Ragendra anunciou que, hoje, o mesmo sector privado terá a chance de apresentar suas histórias ao Presidente Filipe Nyusi, que se sentará à mesma mesa que os empresários, ladeado de alguns ministros dos sectores económicos (Ragendra de Sousa, Adriano Maleiane e Carlos Mesquita). Será mais um encontro de auscultação.

 

Ontem, Ragendra foi algo reticente em indicar um “deadline” para o Governo finalizar o instrumento que orientará a intervenção do executivo neste plano de emergência empresarial em Sofala. Ele disse que o ideal era que “ontem” mesmo, o instrumento já estivesse definido.  O ambiente geral na sala era, no entanto, um misto de comoção e receio. As perdas arrasaram o tecido empresarial e sua recomposição vai levar tempo.

 

O receio decorre de uma coisa: quem mesmo vai comer do bolo da reabilitação? As habituais empresas de Maputo ou empresas locais? Esta questão foi se calhar a mais focada nas diversas intervenções. Os empresários beirenses gostariam que eles tivessem a preferência nos contratos de reparação das infra-estruturas públicas destruídas. Houve até quem sugerisse a criação de uma Lei de Economia Local, que seria na verdade uma espécie de lei de “Local Content Provincial”.

 

A expectativa do encontro com Nyusi, hoje, é grande. Mas, por aquilo que observamos, os traços de resiliência no ADN do sector privado de Sofala são enormes. Habituados a uma sempre abominada macrocefalia sufocante de Maputo sob o ponto de vista de ambiente de negócios (inspecções e multas em espiral), eles já arregaçaram as mangas e estão a trabalhar. Aliás, na Beira, o desimpedimento das ruas foi um trabalho levado a cabo pelo sector privado. Ragendra enalteceu essa entrega dos empresários, sem decreto, na reparação do que é seu. E se Maputo não ajudar? A Beira parece que não vai deixar-se levar por novas ondas para um mar de inércia e das promessas vãs. (Marcelo Mosse, com Evaristo Chilingue)

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