Farto de proferir ameaças, como processos disciplinares, afastamento de médicos grevistas pela contratação de novos e numa altura em que a dor, ranger de dente e mortes se agravam nos hospitais, o Governo muda de discurso e afirma que a crise no sistema nacional de saúde provocada pela greve dos médicos e outros profissionais de saúde é uma situação lamentável e anuncia novas medidas.
“O Governo avaliou a situação da greve dos médicos e profissionais de saúde e, neste quadro, lamenta em primeiro lugar os prejuízos causados às populações”, afirmou o porta-voz da 30ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, que também ocupa o cargo de vice-ministro da Administração Estatal e Função Pública.
Além de lamentar a situação, em briefing a jornalistas, Impissa anunciou que o Primeiro-ministro, Adriano Maleiane, vai liderar uma nova comissão para resolver a greve dos médicos e dos profissionais de saúde. “No contexto da abertura ao diálogo, não obstante os encontros realizados continuamente, o Governo destacou um novo grupo de trabalho chefiado pelo Primeiro-ministro para continuar a aprofundar as questões ainda pendentes neste processo”, afirmou o porta-voz do Governo.
Na mesma ocasião, Impissa disse que, esta quarta-feira (23), o vice-ministro da Saúde, Ilesh Jani, vai conceder uma conferência de imprensa para dar mais detalhes sobre o impacto das greves bem como das medidas que o Executivo pretende, doravante, levar a cabo para acabar a crise no sistema nacional de saúde.
O anúncio de uma nova comissão a ser liderada pelo Primeiro-ministro acontece dois dias depois de os profissionais de saúde retomarem a greve de 21 dias prorrogáveis por melhores condições salariais e de trabalho. No mesmo dia (20 de Agosto), os médicos decidiram aprovar um novo período de greve de 21 dias, o terceiro consecutivo desde 10 de Julho de 2023 corrente, pois, durante os primeiros 42 dias, o Governo, para além de ameaçar, não mostrou interesse em resolver as reivindicações apresentadas pela classe, com destaque para melhorias salariais.
Trata-se de uma renovação que acontece num clima de ameaças de morte, por anónimos, principalmente aos dirigentes da Associação Médica de Moçambique (AMM). “Nos últimos dias, o tom da ameaça aumentou, nós recebemos uma informação de que foi dada uma ordem superior, aquelas ordens superiores que não têm rosto nem nome, para que os três membros da direcção da AMM fossem abatidos. Estamos a falar do Presidente, eu, do vice-presidente, o doutor Paulo Augusto, e do secretário-geral, o doutor Napoleão Viola”, denunciou, no último domingo, o presidente da Associação, Milton Tatia.
Além disso, o anúncio do Governo vem depois de a Ordem dos Médicos informar que decidiu criar uma comissão independente, composta por Dom Dinis Sengulane, Brazão Mazula, Dinis Matsolo, Rodrigues Dombo, Severino Ngoenha, Jorge Ferrão, Jorge Matine e Angelina Magibire, para ajudar a aproximar o Governo e os médicos e encontrar soluções para as tensões entre as duas partes. (Evaristo Chilingue)