Foi violenta e embaraçosa para Filipe Jacinto Nyusi, a manhã do dia 20 de Dezembro de 2023, data que estava reservada para a apresentação, na Assembleia da República, do Informe sobre o Estado Geral da Nação, o nono e penúltimo do actual Presidente da República.
Numa sessão solene em que era suposto assistir-se o brilharete do Chefe de Estado no pódio do Parlamento, acabou sendo a Renamo, o maior partido da oposição, a roubar a cena, ao boicotar o discurso do Presidente da República, do primeiro ao último minuto.
O boicote, caracterizado por assobios, cânticos, gritarias e apitadelas, forçou Filipe Jacinto Nyusi a interromper, por diversas vezes, o seu discurso, a pedir assessoria dos membros do Governo e da Presidente do Parlamento, a pronunciar erradamente algumas palavras e a elevar o tom da sua voz, num esforço de abafar o audível e ensurdecedor barulho dos deputados da Renamo.
“Queremos justiça eleitoral”, “abaixo os ladrões de voto”, “abaixo Frelimo”, “aldrabão e mafioso, rua” e “povo no poder” são algumas das mensagens deixadas pelos deputados da Renamo, que intercalavam os seus gritos com cânticos, a destacar o famoso “mas, quem ganhou? É Renamooo”, que marcou as marchas da Renamo em todo país, sobretudo na autarquia de Quelimane, província da Zambézia, durante os protestos aos resultados eleitorais de 11 de Outubro.
A Presidente da Assembleia da República, Esperança Bias, chegou a tomar o microfone para pedir decorro aos deputados da Renamo, porém, o pedido foi imediatamente rejeitado com assobios e novos cânticos. Aliás, 40 minutos depois do início do discurso do Chefe de Estado, a transmissão televisiva começou a censurar as imagens das manifestações da Renamo e abafar o ruidoso som dos cânticos, assobios e apitadelas dos deputados da “perdiz”.
Trajados de camisetas pretas e em pé, em demonstração da morte da democracia, os deputados da Renamo foram gritando “os ladrões”, obrigando Nyusi a beber água a cada cinco minutos e a explicar, mais de uma vez, por que razão não abandonaria o discurso: “o povo disse-me que está a ouvir”.
Refira-se que este foi o maior boicote sofrido por Filipe Jacinto Nyusi na Assembleia da República, desde que tomou o poder em 2015 e sucede ao boicote verificado em Covô Gêr-Gêr, povoação do distrito de Nacala-à-Velha, província de Nampula, no dia 08 de Novembro, onde um barulho ensurdecedor obrigou o Chefe de Estado a interromper o seu discurso, durante a inauguração de um sistema de eletrificação rural. (A. Maolela)