Pelo menos duas pessoas morreram e outra foi raptada, no distrito de Macomia, norte Moçambique, num novo ataque realizado por extremistas na província de Cabo Delgado, disseram ontem à Lusa fontes locais.
O ataque aconteceu por volta das 07:00 (de ontem), na sede do posto administrativo de Chai, região central do distrito de Macomia, avançaram à Lusa fontes da comunidade, que pediram para não ser identificadas.
“Isto colheu-nos de surpresa, são pessoas que estavam a trabalhar nas suas machambas (campos agrícolas). Como sabe, ninguém anda distante das aldeias aqui, por medo de novos ataques, mas mesmo assim os terroristas vieram e mataram duas delas e raptaram outra”, disse uma fonte a partir da sede de Macomia.
Segundo a fonte, desde dezembro, o posto administrativo de Chai tem sido alvo de sucessivos ataques dos terroristas, uma situação que considera estranha, uma vez que, no local, estão duas posições militares. “Ultimamente, o posto de Chai sofre muitos ataques e invasões dos terroristas”, acrescentou.
No princípio do mês de janeiro, os rebeldes atacaram aquele posto administrativo, onde destruíram e saquearam culturas das populações em campos agrícolas. “Eu perdi comida por causa dos terroristas, entraram nas nossas machambas e estragaram as culturas”, lamentou à Lusa outra fonte a partir da sede de Macomia, para onde se refugiu após os ataques.
“Irei a Chai só se as autoridades permitirem, caso ao contrário, prefiro morrer de fome aqui, em Macomia”, acrescentou.
Localizado na estrada nacional N380, uma das poucas asfaltadas da região, ligando aos distritos do norte de Cabo Delgado, o posto administrativo de Chai tem duas posições militares, nomeadamente a de forças ruandesa e moçambicana.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.
Após um período de relativa estabilidade, nas últimas semanas, novos ataques e movimentações foram registados em Cabo Delgado, embora localmente as autoridades suspeitem que a movimentação esteja ligada à perseguição imposta pelas Forças de Defesa e Segurança nos distritos de Macomia, Quissanga e Muidumbe, entre os mais afetados.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED. (Lusa)