Os utentes da Yango, sobretudo do sexo feminino, acusam os condutores de assédio a algumas clientes, tentativa de violação a uma mulher grávida e assalto a uma passageira. Os actos, alegadamente perpetrados pelos motoristas, estão a causar medo e repúdio. A Yango é uma plataforma digital para empresas e operadores de transporte, que visa facilitar o transporte seguro para o cidadão.
Em causa está o relato de uma das clientes que diz ter pego o carro da Yango em Setembro do ano passado e que sofreu sevícias porque não tinha dinheiro destrocado. Segundo a vítima, o motorista também não tinha como destrocar o dinheiro e, como já estava atrasada para os seus compromissos, procurou saber se o motorista poderia dar-lhe o dinheiro num outro momento, uma vez que já tinha o seu contacto.
“Enquanto eu colocava o bilhete na bolsa, o motorista se dirigiu a mim já com as calças abertas e agarrou-me pelo braço e tentou me forçar a voltar para dentro do carro. Estou grávida e embora estivessem pessoas ao nosso redor, não fizeram nada”, contou a vítima.
Ela explicou que no local havia três agentes da polícia que, depois de ouvir as duas versões sobre o incidente, deram razão ao motorista, mesmo com as mãos e os tornozelos da lesada a sangrar. Posteriormente, a Yango pediu desculpas à vítima, mas não deu nenhuma garantia sobre se o motorista iria ou não continuar a trabalhar.
Outro caso foi relatado por uma cidadã que compartilhou há dias nas redes sociais. Ela conta que solicitou o Táxi da Yango na zona do Jardim. Chegada ao local, ela percebeu que se tratava de um motorista de pouco mais de 50 anos e, sem desconfiar, entrou no carro convicta de que chegaria ao seu destino sem nenhum problema.
“Solicitei o carro para levar-me à casa, no bairro do Alto-Maé, mas, pouco tempo depois, o motorista fingiu ter recebido uma chamada de uma cliente que sempre solicita os seus serviços. Acreditei e não vi nenhum problema que ele passasse para levar a suposta cliente e que dividisse o táxi com a mesma. No meio do caminho, o motorista usou uma rua escura e, chegando lá, usou uma máscara e levou tudo que eu tinha: dinheiro, celular, entre outros bens", contou a vítima.
Depois destes episódios, “Carta” conversou com o Director da Yango, Mahomed Zameer Adam, para ouvir a sua versão em relação a essas queixas. Adam explicou que, sobre o primeiro caso, mesmo tendo recebido a informação através das redes sociais, a vítima e o motorista foram contactados para esclarecerem o que teria acontecido e os dois contaram versões diferentes.
“Quando ouvimos as duas versões, a do motorista e da passageira, sentimos que alguma coisa não estava a bater. Sendo assim, não tendo como provar o que a passageira contou porque não tínhamos muitos dados, não podíamos sancionar o motorista”, explicou Adam.
Em relação ao segundo caso, a fonte explicou que também recebeu a queixa através das redes sociais e, das diligências feitas, ainda não foi possível ouvir a vítima.
“Apesar deste caso ter muitos dados estranhos, como por exemplo o facto de a vítima ter sofrido um assalto perpetrado por um dos motoristas da Yango, e ter optado por chegar a casa e fazer um vídeo com o celular do esposo e, posteriormente, colocar nas redes sociais, ao invés de reportar às autoridades policiais, até hoje não conseguimos localizá-la. Felizmente conseguimos o contacto do marido e vamos abordá-la para que nos possa contar o que aconteceu e nos ajude a identificar o motorista”.
Segundo o Director da Yango, este é um dos serviços que oferece vários mecanismos de segurança ao próprio cliente e ao motorista. O aplicativo possui uma central de segurança onde o cliente pode reportar, de forma rápida, qualquer acto indesejável que esteja acontecendo durante a viagem.
“O nosso aplicativo permite ainda que o passageiro compartilhe com algum familiar ou amigo toda a informação do carro. A rota que o mesmo toma, as vias que usa, até chegar ao destino. Inclusive, pode partilhar toda a informação sobre o motorista para que este seja sancionado”, garantiu.
Questionado sobre o facto de alguns motoristas se apresentarem com viaturas sujas, a fonte disse que existem casos em que o motorista leva um passageiro numa zona onde as condições não são muito agradáveis e o carro acaba sujando, entretanto, porque o mesmo recebe uma outra viagem, pode não ter tempo para limpar o seu veículo.
“É difícil para nós controlarmos cada motorista que trabalha com o aplicativo da Yango porque os mesmos não trabalham directamente connosco. Os motoristas da Yango são pessoas filiadas a alguma associação de táxis que, estando inscritos, podem baixar o aplicativo e se tornarem motoristas da Yango”, frisou.
Sobre as queixas de trocos, a fonte anunciou que a Yango está neste momento a desenvolver novas formas de pagamento para evitar "barulho" entre o condutor e o cliente. Em relação às queixas de alteração do valor no fim da viagem, Adam disse que nem sempre isso acontece.
“Neste tipo de casos, há imprevistos na estrada. Por exemplo, se o motorista pega um passageiro e, no meio do caminho, acontece um acidente e eles são obrigados a ficar no trânsito por alguns minutos, é claro que o valor vai alterar. Existem também algumas taxas de espera que são aplicadas se o cliente chama um táxi e o faz esperar por algum tempo. O aplicativo sanciona tudo isso”, disse. (M. Afonso)