A cidade de Maputo, especificamente o bairro da Maxaquene, nas proximidades da avenida Vladimir Lenine, enfrentou ontem momentos de terror, com a Polícia disparando balas reais e lançando gás lacrimogéneo, inclusive nas residências, bem como recorrendo a cães para amedrontar a população indefesa.
Veículos Mahindras circulavam de um lado para o outro e disparos de balas verdadeiras eram ouvidos, enquanto barricadas e pneus queimados se espalhavam durante as manifestações de repúdio contra o duplo homicídio dos apoiantes de Venâncio Mondlane e dos resultados das eleições do dia 9 de Outubro.
O cenário caótico persistiu até às primeiras horas da noite no bairro da Maxaquene. A população continuava a incendiar pneus para impedir a passagem dos automobilistas. Desde as primeiras horas do dia, os jovens do bairro demonstravam determinação em não cessar e a Polícia teve de fazer uma permuta: os agentes que estavam de serviço durante a tarde recuaram e, ao cair da noite, outro grupo entrou em acção no local.
Ainda de manhã, blindados rugiam e os agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) estavam a atacar a população indefesa de forma indiscriminada. Os populares ganhavam ânimo ao cair da noite, continuando a queimar pneus na avenida Milagre Mabote até ao início das avenidas Joaquim Chissano e Vladimir Lenine.
O comércio neste bairro ficou completamente encerrado e houve também vandalização de algumas infra-estruturas, painéis publicitários e bloqueio de várias vias. Os jovens do bairro iam arremessando pedras e garrafas por cima da Polícia, sem demonstrar nenhum medo. A coragem pairava sobre eles e criava mais raiva da Polícia que ia entrando dentro do bairro a tentar perseguir um por um.
Em termos globais, o bairro da Maxaquene destacou-se ontem em termos de violência e desordem. Havia cenas de postes de energia queimados, garrafas quebradas e arremessadas no meio da estrada, culminando numa escalada de violência sem precedentes, o que fez com que o helicóptero da polícia sobrevoasse continuamente o bairro.
Alguns jovens do bairro foram feridos pela Polícia e alguns jornalistas também sofreram durante escaramuças entre a população e os membros da PRM. Num autêntico filme de terror, a Polícia invadiu alguns becos daquele bairro de lata, onde até crianças não escaparam ao gás lacrimogêneo, provocando desespero em muitas mães que tentavam proteger os seus filhos.
Recorde-se que a Polícia da República de Moçambique já havia lançado um aviso de que havia de abortar qualquer acto de violência que pudesse surgir. Por outro lado, a Comissão Nacional de Eleições tem, até esta quinta-feira, o prazo para anunciar os resultados finais das eleições de 09 de Outubro, contestados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que defende ter ganho o escrutínio. (Marta Afonso)