“Mas também cobras. Não suporto cobras. Fujo delas como o diabo da cruz”. Ratos e cobras, pois, foram a motivação única para uma escapada da primeira família de Nampula para um Hotel de luxo. “Não vimos outra saída. A situação estava insustentável, com risco de doenças. Tive mesmo que sair do palácio por causa dos ratos e das cobras. Antes de abandonar a residência tentamos combater os ratos, espalhando veneno pela casa, mas a cada dia pareciam estar a aumentar. As cobras também me tiravam o sossego”.
A estadia no Plaza foi entretanto interrompida no sábado passado, depois de o caso ser despoletado na comunicação social. Na sexta-feira (10 de Maio), o Diário de Moçambique deu estampa à “estória”, que foi logo retomada pelo Ikweli, um jornal digital de Nampula. O caso quase que viralizou. Nas redes sociais, os comentaristas populares não pouparam críticas ao Governador. Foi acusado de “despesismo”, pois uma nota do Gabinete de Borges, vazada para as redes, denunciava que o Governo tinha feito atempadamente a reserva do hotel, garantindo que arcaria com as despesas.
Mas Victor Borges diz que a nota foi apenas para assegurar os aposentos do Plaza e que a sua consciência manda que seja ele próprio a pagar a conta. “É verdade que fui viver com a minha família no Hotel. Fui lá por opção própria. Fiquei lá 33 dias e vou pagar as despesas da acomodação com os meus próprios fundos. Não posso forçar o Estado a arcar com as despesas. Vou fazer um crédito na banca para poder pagar, pois, a factura está acima de 1.2 milhão de Mts. Vou pagar de forma parcelada”.
Apesar da polémica gerada, Borges diz-se de consciência tranquila. “Decidi sair porque temia pela minha segurança. Os ratos e as cobras circulavam por toda a casa. Era normal eu sentado na sala com a minha família vermos os ratos e as cobras a circularem. Era mesmo uma situação difícil e muito assustadora. Eu tenho pavor a cobras. Não consigo olhar para cobras nem mesmo quando passam na televisão”.
Ele regressou ao palácio no passado sábado (11 de Maio). As instalações, uma construção com mais de 60 anos, são descritas como estando degradadas, sobretudo no exterior, com tampas de drenos e caixas quebradas ou mesmo inexistentes. Na sua ausência, houve reparações. Alguns buracos foram tapados dentro e fora da casa. “Decidi financiar com os meus próprios fundos a reabilitação do palácio, que esteve a cargo de uma empresa privada que contratei porque vi que não havia outra alternativa”.
Borges reconhece que a publicação do assunto na comunicação social foi instrumental para lhe fazer repensar na decisão que havia tomado. “Fiz um exame de consciência e acabei recuando da decisão. Regressei ao palácio e vou pagar a conta do hotel com dinheiro próprio”. (M.M.)