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segunda-feira, 20 maio 2019 07:26

Ainda sobre o CC: Guebuza diz que tribalismo está forte na Frelimo

O ex-Presidente da República e do partido Frelimo, Armando Emílio Guebuza, disse, na última reunião do Comité Central daquela formação política, que “o tribalismo está forte” na sua organização política e que se não for combatido, “estaremos a voltar para 1962 (antes da formação do movimento militar que, mais tarde, se transformaria em político)”, somente com a diferença de termos um país independente.

 

 

Guebuza fez este pronunciamento numa das sessões de debate do encontro, que teve lugar entre os dias 03 e 05 de Maio, na cidade da Matola, quando o presidente do partido, Filipe Nyusi, concedeu-lhe a palavra para fazer comentários em torno dos relatórios apresentados e responder às questões colocadas por alguns “camaradas”, em relação às decisões que tomou quando era Chefe de Estado (2005-2014).

 

Numa intervenção a que a “Carta” teve acesso, através de um áudio de 14:19 minutos, Armando Guebuza, a quem se atribui a paternidade do termo “Apóstolos da Desgraça”, que tinha como alvo todos os críticos da sua governação, reiterou que a “unidade nacional”, sobretudo naquele partido, era um assunto sério, numa mensagem interpretada como sendo um sinal de que ele sente na pele o "isolamento" a que foi submetido.

 

De modo a não deturparmos o conteúdo da sua intervenção, transcrevemos, a seguir, o que Armando Emílio Guebuza disse durante a III sessão ordinária do Comité Central da Frelimo. 

 

Tribalismo na Frelimo

 

“Eu vim aqui para colocar algumas questões. Pequenas, mas são questões. A primeira tem a ver com o que está no relatório da Comissão Política. É que tem uma coisa que tenho dito várias vezes, que devemos valorizar o pensar diferente. Eu penso que devíamos pensar em encontrar outra formulação. O que nós estamos a dizer é que o bom militante é aquele que pensa diferente de nós: Valorização do pensar diferenteAquele que pensa igual, como nós pensamos, não deve ser valorizado. Devíamos encontrar outra formulação, que acomodasse e não recusasse ouvir com atenção necessária mesmo aquele que pensa diferente de nós”.

 

O segundo ponto, observou o presidente honorário da Frelimo, “tem a ver com aquele parágrafo que diz que os membros da Comissão Política foram afastados das brigadas centrais e as brigadas passaram a ser compostas por membros do Comité Central. Eu penso que a Comissão Política, antes de tomar esta decisão, certamente teve tempo para tal. O que terão feito os camaradas, membros da Comissão Política, que deixaram de estar nas brigadas? Qual é reflexão que foi feita?”

 

Prosseguindo, Armando Guebuza disse:“há um outro assunto que foi colocado, que tem a ver com a questão da unidade nacional. Quero dizer aquilo que foi dito também por uma camarada que, de facto, nós não estamos unidos. Sim não estamos, como devia ser. O tribalismo está forte, ainda fraco para a dimensão e tamanho da Frelimo, mas também deixarmos que ele continue, estaremos a voltar para 1962, somente com a diferença de termos um país independente, comparou o antigo dirigente.

 

Daí que “penso que a questão da unidade nacional é absolutamente fundamental manter-se sempre presente em todos nós. E já agora, que falamos disso, também é claro que devemos compreender que a Frelimo é nossa. A Frelimo é nossa, igualmente de cada um de nós que está aqui, e de cada um dos quatro milhões de membros e militantes”, recordou aos presentes.

 

Dirigindo-se aos membros do órgão máximo do partido entre os congressos, Guebuza destacou: “a nossa responsabilidade é exactamente trabalhar para que esta Frelimo continue a ser cada vez mais nossa, mais forte e que integre cada vez mais moçambicanos na gestão dos seus elementos como iguais”.

 

No entanto, o presidente honorário do partido chamou a atenção dos membros do Comité Central para entenderem que o facto de “a Frelimo ser nossa, não quer dizer que a Frelimo não deve ter direcção. Pelo contrário, a direcção é nossa como o Comité Central também, assim como a Frelimo é nossa. Então, posso compreender que há uns que pensam ser mais da Frelimo do que os outros. Não faz sentido… não faz sentido! Todos nós devemos defender esta Frelimo e, naturalmente, nos regermos pelos estatutos do nosso partido e todos nós devemos obedecer aos estatutos do partido”.

 

Quanto ao terceiro elemento, “somente vou fazer uma observação ligeira de que as populações moçambicanas residentes nas regiões fronteiriças com Malawi influenciam a orientação do voto contra a Frelimo. É com muita pena que isto acontece, mas primeiro dá a impressão que Malawi é contra a Frelimo, para começar, e depois que os malawianos estão mais organizados do que nós a Frelimo na nossa própria terra. É muita pena que isso aconteça. E se isso acontece, devemos fazer o esforço para que nós estejamos mais organizados na nossa própria terra” (Carta)

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