A coordenadora da Organização das Nações Unidas (ONU) em Moçambique disse ontem que existe uma “oportunidade de mudar completamente a situação em Cabo Delgado”, através de “um esforço conjunto” na província afetada por um ciclone e por violência armada. “Precisamos de muito mais recursos, porque é muito importante investir agora na ajuda humanitária e também no desenvolvimento na zona de Cabo Delgado. É uma prioridade que todas as autoridades ao mais alto nível em Moçambique devem ter em vista”, sublinhou à Lusa Myrta Kaulard.
A coordenadora residente da ONU acrescentou que “existe uma oportunidade de mudar completamente a situação em Cabo Delgado”, através de “um esforço conjunto de desenvolvimento, criação de emprego e utilização das oportunidades que há em Cabo Delgado”, numa alusão à exploração de gás natural.
Para Myrta Kaulard, esta oportunidade pode ser aproveitada se houver uma contribuição rápida de todos os parceiros do país para um reforço da ajuda humanitária, um ano após a destruição provocada pelo ciclone Kenneth e dois anos e meio depois do início de ataques de grupos armados contra aldeias.
O apoio à população da região está incluído num apelo total de 120 milhões de dólares (106 milhões de euros) de que o sistema da ONU precisa “urgentemente”, referiu, para manter o apoio a cerca de um milhão de pessoas em Moçambique - abrangendo também vítimas de ciclones no Centro e de seca no Sul.
O número de beneficiários do sistema das Nações Unidas em Cabo Delgado, cerca de 150.000, coincide com o total que o Governo moçambicano diz já ter sido afetado de alguma forma pela violência armada, com morte de familiares, ferimentos, perda de bens ou abandono forçado das suas terras e habitações.
A ONU trabalha em articulação com outras organizações e está a entregar ajuda alimentar, a prestar serviços de saúde, água potável, saneamento, proteção social e educação.
Questionada sobre se faz sentido falar de um reforço de ajuda humanitária numa altura em que se sucedem ataques por parte de grupos armados com vítimas mortais e aldeias destruídas, Myrta Kaulard nota que há zonas seguras. “De momento há segurança na sede dos distritos e é muito importante preservar esta segurança”, referiu.
A coordenadora da ONU em Moçambique salientou: “Muitas pessoas estão nas sedes [de distrito] e é aí que podemos ajudar as pessoas”, ou seja, apostar no “desenvolvimento do lado humanitário” da resposta ao conflito armado em Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados que organizações internacionais classificam como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fez, pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 pessoas afetadas com perda de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros. (Lusa)