O grupo de atacantes que invadiu a 12 de Agosto o porto de Mocímboa da Praia, norte moçambicano, continua na sede da vila, que está actualmente isolada, disseram hoje à Lusa fontes das Forças Armadas de Moçambique.
"Eles continuam em Mocímboa da Praia desde o assalto ao porto. Muitas forças nossas tiveram de recuar. Por exemplo, a minha unidade, uma das que estavam em Mocímboa, recuou até Mueda [a pouco mais 100 quilómetros de Mocímboa da Praia]", declarou à Lusa uma fonte do exército que está no teatro de operações em Cabo Delgado, através de um contacto telefónico.
A invasão ao Porto de Mocímboa da Praia ocorreu na madrugada do dia 12 e os confrontos deixaram um número desconhecido de mortos, incluindo elementos da Força Marítima, segundo a fonte.
"Nós tivemos muitas baixas. Tenho notado que há esforços para que cheguem mais reforços, mas a situação está muito séria e complicada porque não dá para contar com o porto de Mocímboa da Praia", declarou.
O ataque ao porto seguiu-se a vários outros que os insurgentes realizaram, entre 05 e 12 de Agosto, às aldeias de Anga, Buji, Ausse e à vila sede e, segundo dados do Ministério da Defesa avançados no dia 11 de Agosto, pelo menos 59 "terroristas" morreram em operações de resposta das forças governamentais.
Várias infra-estruturas foram vandalizadas e, neste momento, as linhas de comunicação também estão interrompidas em Mocímboa da Praia.
Outra fonte do exército moçambicano em Maputo disse à Lusa que "está claro que, a partir de Mocímboa da Praia, eles vão voltar a atacar".
"A estratégia deles é atacar e recuar para se abastecer. Eles também tiveram várias baixas nestes últimos ataques. Mas sabemos que eles vão voltar a atacar", disse a fonte, que está ligada ao departamento central que regista ocorrências no exército moçambicano.
Na última semana, o bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, informou que a diocese de Pemba estava há dias a tentar, sem sucesso, contactar duas religiosas da congregação que estão em Mocímboa da Praia a prestar ajuda aos afectados pela violência armada.
"Continuamos sem saber sobre a situação delas e são agora três semanas. Estamos em contacto permanente com as Forças de Defesa e Segurança, mas ainda não temos qualquer informação sobre elas", disse à Lusa o padre Latífo Fonseca Mateus, da diocese de Pemba.
Mocímboa da Praia é uma das principais vilas da província de Cabo Delgado, situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projecto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.
A vila tinha sido invadida e ocupada durante um dia por rebeldes em 23 de Março, numa acção depois reivindicada pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, e foi, em 27 e 28 de Junho, palco de longos confrontos entre as forças governamentais e os grupos insurgentes.
A Lusa contactou também o Departamento de Comunicação do Ministério da Defesa, que remeteu um "pronunciamento oficial" para o Comando Conjunto das Forças de Defesa e Segurança "logo que for oportuno".
A violência armada já causou a morte de, pelo menos, 1.059 pessoas em quase três anos, além da destruição de várias infra-estruturas em distritos de Cabo Delgado.
De acordo com as Nações Unidas, a violência armada levou à fuga de 250.000 pessoas de distritos afectados pela insegurança, mais a norte da província. (Lusa)