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segunda-feira, 25 janeiro 2021 08:08

A Beira das nossas desgraças

A menos de dois meses de completar dois anos da última tragédia – o famigerado e avassalador Idai – eis que outra hecatombe se abate sobre a martirizada cidade da Beira e outros distritos da Província de Sofala: o ciclone Eloise.

 

Eloise – nome tão lindo para fenómeno tão perverso. Aliás, estas designações costumam ser sempre assim.

Para os beirenses, que viveram os dois trágicos fenómenos neste espaço de quase dois anos, as opiniões dividem-se.

 

Para uns, a maioria, o Eloise, que se iniciou na última sexta-feira e se espera tenha terminado ontem, não foi tão terrível como o Idai, em 2019. No entanto, outros há que acham o contrário.

 

Ao que parece, enquanto o Idai levou menos tempo e se caracterizou por ventos aterradores, o Eloise foi mais demorado e caracterizado essencialmente por níveis de pluviosidade semelhantes aos de um dilúvio.

 

A verdade é que, estando ainda em tempo de balanço do Eloise, é difícil fazerem-se comparações e análises assertivas. Agora, uma coisa é verdadeira, o Eloise surge num período muito particular, em que vivemos uma pandemia, a Covid-19, o que de alguma maneira baralha ainda mais as contas. Além disso, é inegável que causou estragos inenarráveis: antenas de comunicação derrubadas, postes de energia deitados abaixo, telhados de casas arrancados, entre outros bens completamente arrasados.

 

Desses estragos resultaram naturalmente corte nas comunicações, no fornecimento de energia eléctrica, no abastecimento de água e na interrupção de várias vias de acesso em diversos pontos da cidade, com particular incidência para as zonas ribeirinhas – como por exemplo Macuti, Palmeiras e Ponta-Gêa – para além, naturalmente, dos bairros periféricos da cidade, os quais, dada a precaridade das respectivas infra-estruturas, são sempre as maiores vítimas em situações desta natureza. Nestes casos podemos dar exemplo dos bairros da Munhava, Vaz, Chipangara, Muchatazina, Chota, entre outros.

 
A nível de mortes até agora contabilizadas, por consequência directa deste ciclone Eloise, os números que se adiantam são díspares, mas por sinal já ultrapassam a dezena. Aliás, estando-se neste momento em fase de rescaldo pós-ciclone, é natural que nos próximos dias possamos ter números actualizados.

 

Ainda assim…

 

Apesar da perversidade do Eloise, o fenómeno acabou sendo menos agressivo do que se esperava.

 

Não há dúvidas que as chuvas torrenciais que se abateram sobre a capital sofalense, por quase 72 horas consecutivas, causaram os estragos supramencionados, mas (por exemplo) esperavam-se ventos na ordem dos 140 a 160 quilómetros horários, porém, tanto quanto se reporta, os mesmos estiveram bem abaixo dos 120 Km/h.

 

Recorde-se que o ciclone Idai, em 2019, teve ventos acima dos 180 km/h, sendo que, na trágica madrugada em que tudo aconteceu, registaram duas rajadas de dimensões épicas – em direcções opostas – num espaço de tempo inferior a 30 minutos.

Na altura (estávamos nós no terreno) ouvimos o relato de uma cidadã que descrevia o fenómeno – com aquele típico sentido de humor que caracteriza os beirenses – da seguinte forma: «… Lá para as zero horas veio a primeira rajada, que soprou para este lado. Nós pensávamos que já era fim do mundo, mas afinal era apenas a “esposa”, porque 30 minutos, quando apareceu o “marido” dela, já a soprar muito mais forte, para aquele lado, aí que é sim, vimos o que era fim do mundo de verdade!»

Aliás, a propósito dessa mudança de direcção dos ventos, na época também se contou outro conto: o de que o telhado de um armazém, nos Pioneiros, teria sido arrancado pela primeira rajada, tendo o mesmo (telhado) caído junto de um dos muros daquela infra-estrutura. No entanto, quando veio a segunda rajada, a mais forte e na direcção oposta, levantou o referido telhado e “colocou-o” exactamente onde ele estava originalmente – no topo do armazém.

 

Enfim, histórias que se contaram na época...

Sobre o Eloise ainda haverá muito por se contar nos próximos tempos.

 

Mas para já importa salientar que, apesar de tudo, a rede Movitel foi a única que se manteve activa ao longo destes dias, uma vez que nem a estatal Tmcel e nem a Vodacom resistiram aos efeitos do vendaval.

 

É também de destacar que (ao que nos constou) a EDM desligou, preventivamente, o fornecimento de energia eléctrica à cidade, que é feito a partir da subestação da Munhava.

 

Da mesma maneira que, também preventivamente, o edil Daviz Simango mandou encerrar todas as actividades da urbe, às 11H00 de sexta-feira.

Nós cá estaremos para seguir os desenvolvimentos do que se irá passar na “Beira das nossas desgraças”…(Homero Lobo)

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