Alves Calane da Silva, mas mais conhecido por Calane da Silva (Maputo, 20 de Outubro de 1945), poeta, escritor e jornalista, morreu hoje Maputo, de causas relacionadas com a Covid 19. Ele dedicou sua vida às artes e letras.
Foi licenciado em ensino de língua portuguesa pela Faculdade de Línguas da Universidade Pedagógica de Maputo, Mestre e Doutorado em linguística portuguesa, vertente lexicologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Começou a fazer jornalismo em 1969, tendo atingido o topo de carreira em 1991, tendo sido, durante a sua vida profissional, redator e editor-chefe dos principais órgãos de informação em Moçambique.
Foi co-fundador e Chefe de Redação da Revista Tempo, Chefe de Redação do matutino Notícias, do semanário Domingo, publicados em Maputo, e ainda Diretor de Informação e Administrador da Televisão de Moçambique. Foi também Delegado-Adjunto da Agência Lusa e correspondente, em Moçambique, do Jornal Notícias, do Porto, Portugal.Foi professor na Escola de Jornalismo, em Maputo, e da Escola Portuguesa de Moçambique. Foi monitor-finalista de literatura portuguesa e brasileira e é, neste momento, professor de literaturas africanas em língua portuguesa e de didática da literatura na Universidade Pedagógica, em Maputo.
Ocupou o cargo de Diretor do Centro Cultural-Brasil-Moçambique. É membro fundador da Associação dos Escritores de Moçambique e membro também do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, um órgão da CPLP.
Calane da Silva participou em diversos congressos, conferências, seminários e publicou vários livros, várias obras literárias e acadêmicas de investigação. Prefaciou inúmeras obras de escritores moçambicanos e textos de apresentação de obras de artes plásticas de artistas nacionais e estrangeiros.
Dádiva de palavra
Deram-me água e fogo
para fazer vida.
Deram-me a palavra
para construir o sonho
Calane da Silva, em "Lírica do imponderável e outros poemas do ser e do estar". Maputo: Imprensa Universitária, 2004.
PRÊMIO
2010 - Prémio José Craveirinha, da Associação Moçambicana dos Escritores e pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa, pela contribuição para o desenvolvimento das artes e letras do nosso país.
“ (…) Aprendi que a palavra, o tal Verbo, é, afinal, o Ser, a palavra Ser, que é Amor dentro de cada um de nós, onde cabe o todo poderoso “Posso”, acção criativa e criadora, autêntica palavra-milagre, que nos faz desapegar do ego, da mente egóica, que permite ultrapassar todos os obstáculos e que nos liberta dos liames egóicos e que, por isso, pode e é também Luz curadora. (…) “
Calane da Silva, em "Gotas de Sol: a manifestação da palavra".
OBRAS DE CALANE DA SILVA
Poesia
Dos meninos da Malanga. Maputo: Cadernos Tempo, 1982.
Lírica do Imponderável e outros poemas do ser e do estar. Maputo: Imprensa Universitária, 2004.
Conto
Xicandarinha na lenha do mundo. [Capa de Chichorro]. Colecção Karingana. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 1988.
Romance
Nyembêtu ou as Cores da Lágrima. Romance. Lisboa: Texto Editores. 2008.
Infantil (poesia e prosa)
Gotas de Sol: a manifestação da palavra. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 2006.
Pomar e Machamba ou Palavras. Maputo: Imprensa Universitária, 2009.
O João à procura da palavra poesia. Maputo: Imprensa Universitária, 2009.
Tese
Do léxico à possibilidade de campos isotópicos literários. (Tese Doutorado em Linguística). Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009. Disponível no link. (acessado em 13.9.2015).
Ensaio
Olhar Moçambique. Maputo: Centro de Formação Fotográfica, 1994.
Gil Vicente: folgazão racista? (O riso e o preconceito racial no retrato de algumas minorias na obra vicentina). Maputo: Imprensa Universitária, 2002.
A Pedagogia do Léxico: O Estiloso Craveirinha. As escolhas leixicais bantus, os neologismos luso-rongas e a sua função estilística e estético-nacionalista nas obras Xigubo e Karingana wa Karingana. Maputo: Imprensa Universitária, 2002.
Tão bem palavra: estudos de linguística sobre o português em Moçambique com ênfase na interferência das línguas banto no português e do português no banto
[textos de António Rui de Noronha, António Sopa, Calane da Silva, Olga Iglésias Neves]. Lisboa: Texto Editores, 2006. Antologia (participação)
Nunca mais é sábado: antologia de poesia moçambicana. [organização e prefácio Nelson Saúte; revisão tipográfica Álvaro B. Marques; gravuras Miguel César]. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2004, 426p.
A arqueologia da palavra e a anatomia da língualink
Abro-me
E quando simplesmente
me liberto
há algo indefinido
a solidão da minha liberdade...
Calane da Silva, em "Lírica do imponderável e outros poemas do ser e do estar". Maputo: Imprensa Universitária, 2004.(Adaptado do blog de Elfi Kürten Fenske)