Depois de vários adiamentos, devido à pandemia do novo coronavírus, o Comité Central (CC) da Frelimo reuniu-se, finalmente, no último fim-de-semana, na cidade da Matola, província de Maputo, na sua IV Sessão Ordinária, a fim de discutir a vida do partido que governa Moçambique desde a independência, assim como o estágio político, social e económico do país.
Numa Sessão aguardada com muita expectativa, na qual muitos críticos perspectivavam duras críticas à liderança de Filipe Jacinto Nyusi, assim como o início dos debates sobre a sua sucessão, a direcção da Frelimo tratou de afastar quaisquer fantasmas, limitando, primeiro, o número de participantes e, depois, os aglomerados durante os intervalos, assim como a troca de “recados” na sala durante as sessões de debate.
Diferentemente das outras sessões em que, para além dos membros do CC, tomavam parte da reunião alguns convidados, com destaque para as figuras históricas do partido, no último fim-de-semana, a Sessão contou com a presença de 192 membros efectivos (dos 202 que constituem o órgão), os nove suplentes e dois convidados (Isaura Nyusi e Armando Guebuza). Ou seja, “figuras incomodas” como Óscar Monteiro, Jorge Rebelo, Sérgio Vieira, entre outros, não marcaram presença.
Alcido Nguenha, Secretário do Comité Central Para Área da Organização, afirmou que a direcção do partido não convidou ninguém, como forma de evitar a propagação do novo coronavírus, até porque a Sessão decorre num período em que o país continua sendo assolado pela pandemia. Entretanto, a “catedral” da Frelimo tem capacidade para colher mais de 3.000 pessoas e Filipe Nyusi anunciou, em finais de Abril último, que o Governo autorizaria a realização de reuniões e conferências com um número de participantes não superior a 300 pessoas, após prévia avaliação do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.
Aliás, como forma de evitar a propagação do novo coronavírus, a organização garantiu o distanciamento entre os membros, tendo reduzido de cinco para dois o número de pessoas que sentavam em cada mesa que compunha a sala de sessões da Escola Central do partido Frelimo. Ou seja, não abriu espaço para troca de palavras e nem olhares entre os vizinhos de cada mesa. Também se procedeu à testagem (do novo coronavírus) de todos os membros efectivos e suplentes do CC e os respectivos convidados ao evento.
Para além destas medidas, a liderança da Frelimo proibiu a circulação de papelinhos entre os membros, usados normalmente para o alinhamento de posições a favor ou contra algumas medidas. Sublinhe-se que os papelinhos são o único “veículo” de comunicação entre os membros do CC durante as Sessões, devido ao sistema de segurança introduzido na Escola do partido Frelimo, que inclui o bloqueio das comunicações no interior da sala.
Com as regras já “definidas” e anunciadas, Filipe Nyusi deu o “xeque-mate”, durante o seu discurso de abertura. Disse, aos membros do CC, que o debate só teria reprodução sobre a vida do partido e do país, se estes estivessem focados e inspirados “nas mais prementes aspirações do povo moçambicano e não no tratamento de assuntos de grupos, descontextualizados do nosso foco comum e bem-estar de cada moçambicano”.
Isto é, qualquer assunto que não constasse da agenda previamente definida não seria objecto de discussão. Com a directiva, morria assim o debate sobre a sucessão, tal como morria o debate sobre a penalização ou não de Samora Machel Júnior, cujo processo disciplinar continua arquivado nos armários do Comité de Verificação, depois de ter sido deixado em “banho-maria” em 2019, devido às Eleições Gerais.
“Hoje, todos os ouvidos e olhos dos nossos concidadãos e do mundo inteiro prestam a sua atenção a esta sessão. Queriam que a nossa sessão tivesse lugar no meio de incertezas, pressão, dor e morte dos nossos compatriotas. Hoje estamos aqui para fazer a nossa agenda, a agenda da Frelimo e não uma agenda forjada”, sublinhou, explicando as razões dos constantes adiamentos daquele encontro. (Carta)