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segunda-feira, 18 janeiro 2021 05:44

Takdir é o país

Imagine que amanhã a gerência do Takdir convoque uma conferência de imprensa para anunciar que tudo está resolvido porque contratou novos cozinheiros. Ou, então, imagine que o gerente diga que a imundície continua na mesma, mas que houve remodelações: aquele que fritava batatas vai passar a grelhar frangos, o que grelhava frangos vai pilar piri-piri, o que tratava do piri-piri vai temperar frangos e o temperador de frangos vai passar a receber os dinheiros. E prontos! Já está! O chão, o moedor de carnes, as frigideiras e os bidões não foram lavados e não precisam de ser higienizados. O piri-piri continua ali mesmo ao relento. O carvão continua aos molhos ao lado do papel de cáqui.
 
Pois é! Acho que estaremos felicíssimos porque é isso que temos visto na Cê-Ene-É. Só muda o maestro. Mudam os membros, mas a porcalhada institucional continua na mesma. A orquestra continua cada vez mais desafinada, com as trombetas entupidas, os pianos roucos, os violoncelos constipados e os microfones gagos. Para piorar, existe uma pauta, mas a orquestra não a segue. Não há harmonia. Cada membro vem do coral de uma igreja diferente e faz de tudo para que sejam cantadas as suas sinfonias. E nesse fusuê todo, a música que se canta de forma esmagadora, retumbante, asfixiante, qualquerizante e pequenizante é a do coral maioritário. E como o pentagrama desta orquestra filarmônica é simples enfeite, o maestro faz gestos que o Pastor da igreja maioritária manda. O maestro faz gestos a remoto controlo.
 
A Cê-Ene-É é um autêntico Takdir onde a ordem e a regra escasseiam. Uma cozinha imunda onde a culpa recai para o cozinheiro. Um Takdir onde o povo se contenta com uma simples mudança do 'Chef'. Uma cozinha com ingredientes, mas sem receitas. Um avião avariado que, ao invés de levarmos à oficina, mudamos de piloto a cada novo vôo. 
 
O problema da Cê-Ene-É não são as pessoas. Não são os membros. O problema não são os presidentes que ali passaram e irão passar. O problema não é a fé, a altura da túnica ou o tamanho da toga do presidente. O problema da Cê-Ene-É é ela própria: a Cê-Ene-É. O seu modelo. A sua constituição. A sua génese que faz com que os seus objectivos, missão, visão e valores sejam meros enfeites. O presidente da Cê-Ene-É é o elo mais fraco desta jogada toda. É um saco de pancada colocado ali para relaxar os nervos do povo. É um espantalho colocado na machamba para atrapalhar macacos pouco experientes. O modelo não lhe permite que exerça o poder na sua plenitude, nem ao menos lhe permite que seja ético. 
 
Com esta configuração da Cê-Ene-É mesmo com Cristo, Maomé, Buda, Sadhu, Dalai Lama, Abraão, etecetera, as urnas vão continuar a sair pela janela, a É-Dê-Eme vai continuar a promover apagões deliberados, Gaza vai continuar 20 anos a frente, os votos dos soutiens e os de baixo dos cajueiros vão continuar a ser validados. O actual modelo da Cê-Ene-É só agrada aos próprios partidos políticos que a constituem. É uma boa forma de garantir tacho. Não será o presidente da Cê-Ene-É quem vai acabar com isso. O debate não é impor regras. Não! Os partidos parlamentares rezam para que os assentos sejam aumentados para conseguirem colocar mais membros. Os extra-parlamentares rezam para que os assentos da Cê-Ene-É sejam expandidos para a periferia para eles também conseguirem o tacho. Todos têm consciência que este modelo é obsoleto, mas ninguém fala. Preferem responsabilizar o bobo da corte.
 
Não há dúvidas que o Bispo Dom Carlos Matsinhe é mais um cidadão de boa fé, de reconhecida boa índole e bem intencionado que foi colocado como capitão de um barco sem rumo. Se não chegar a bom porto, não será por sua culpa, assim como também não foi culpa de Mazula, Taimo, Litsure, Leopoldo e Carimo. É o barco que foi construído propositadamente sem leme... para não atracar em porto algum. É um barco pilotado a remoto a partir de uma torre de controlo. O capitão só serve para assinar documentos. Enquanto não colocarem leme neste navio, enquanto não entregarem os binóculos, a bússola e a carta hidrográfica ao capitão, nada feito. Continuaremos à deriva nessas tempestades democráticas, onde todo o vento não nos será favorável, e trocando de capitão a cada maré.
 
É isso aí! Se o dono do Takdir fosse um gajo que quer desenvolver o país, amanhã mesmo anunciava a contratação de novos empregados, com novo uniforme, e mantinha o resto como está. Chamava a imprensa e apresentava o novo 'Chef' grifado de novo dólmã bem engomado, caprichado e perfumado. O gajo ia jurar, ao vivo, dedicar todas as suas energias e sabedoria para oferecer o melhor frango da praça. Acredito que todos iam gramar. É assim que as coisas funcionam aqui: arranjar novo personagem, fazer juramento, manter o resto e o país vai andando. 
 
Pois é! Takdir é o país. É patriótico ser Takdir.
 
- Co'licença!
 
 
 
 
 
quinta-feira, 14 janeiro 2021 08:41

Carta de mortos aos ladrões de caixões

"A vida má, sem moderação, desprovida de entendimento e de respeito pelo sagrado não é uma vida má, mas um morrer lentamente." Demócrito de Abdera – 460 a.C. – 371 a. C. Filósofo grego

 

Não vos devíamos saudar, mas a realidade espiritual obriga-nos a fazermos. Esperamos que a vossa vida no mundo dos seres vivos e visíveis esteja a correr devidamente, porque nós por cá nada vai bem, pelo menos, no que concerne ao descanso eterno dos nossos corpos. As nossas almas ainda contemplam o mundo e o além.

 

Escrevemos num momento em que os nossos dias já não são os mesmos; tornaram-se amargos. Quando deixamos o mundo dos vivos e descemos à cova tínhamos um fardo de certeza: teremos um bom descanso. Nenhum de nós queria estar aqui. Gostaríamos de continuar vivos, a viver do pouco que tínhamos ou mesmo à francesa. Talvez estaríamos, agora, murmurando com máscaras nas ruas como pessoas. Mas o anjo da morte carimbou-nos os passaportes sem o nosso consentimento; e atravessamos a fronteira; cá estamos: mortos.

 

As nossas famílias, visando garantir um repouso eterno para os nossos corpos deitados, adquiriram caixões em função do nosso status social, político e financeiro; embora a areia que nos cobre seja a mesma para qualquer um que tenha nascido e morrido. O que elas não sabiam é de que o caixão adquirido na funerária foi desenterrado de um vizinho de campa e colega da vida espiritual.

 

Os ladrões perderam a "honra da ladroagem" e violaram todos códigos da classe dos gatunos. Já não bastava o roubo de rosas, de quinquilharias, lápides com datas e nomes e quadros prateados ou bronzeados com fotografias! Eles agora levam também o caixão e sepultam corpos indignamente.

 

Os ladrões e os proprietários das funerárias vivem como se fossem imortais. Roubam até a cama de um ser indefeso e o pior, inanimado, sem vida! A busca pelo dinheiro fácil os faz acreditarem que o luto de uma família é negócio para as gangs da Lhanguene, Michafutene, Mahotas, Texlom, Saudade, Muxará, Quichanga, Manga ou Coalane. Os ladrões de caixões vivem para além dos limites da (in)moralidade. De uma coisa temos certeza: todo ser-vivo, um dia, morrerá e a terra tornar-se-á o local onde todos os corpos serão sepultados como lixo humano. O que adianta assaltar um defunto e ainda sentir orgulho disso?

 

Que espécie de seres humanos actualmente habitam no mundo? No nosso tempo não era assim. Uma espécie que vê a maldita morte como uma oportunidade para abrir uma multinacional que gere caixões desenterrados em nossas casas! A imoralidade social e financeira atingiu os píncaros da decadência. Ontem roubavam flores, vasos e hoje roubam caixões. Quantas cerimónias fúnebres foram realizadas usando-se os mesmos caixões? E amanhã o que venderão? Com certeza os nossos restos ósseos ou mesmo a areia do cemitério…

 

Acreditem que devido a demanda no negócio de vendas de caixões muitas famílias devem estar a prestar homenagens ou a visitar campas com corpos de outros defuntos. A estupidez é tanta que até existem grupos criados para tal.

 

O anjo da morte é impiedoso na hora que dita que o corpo deve parir a alma. As funerárias são impiedosas com as famílias que procuram pelos seus serviços no momento em que um parente se vai. A saga dos ladrões de caixões revela que a busca por alternativas de sobrevivência, em Moçambique não tem limites, até alguns podem mentir que vendem a "imortalidade"…

quarta-feira, 13 janeiro 2021 08:27

A minha pequena península em derrocada

Recebi uma chamada telefónica de alguém que me acompanhava no facebook, pelos vistos de forma muito particular, ele dizia que já não me via naquela plataforma, o quê que se passa, ilustre? O interlocutor que me abordava nem sequer teve tempo de se identificar e eu não me importei, não lhe perguntei quem era, achei isso supérfluo. É uma figura que fala de forma afável, com o nível mais alto de educação, sentia-se até certo ponto alguma angústia na forma como articulava as palavras. Era voz de um homem a quem eu fazia falta, e isso comoveu-me. Parecia que ele tinha falta de oxigénio, e o oxigénio sou eu. Então é preciso encontrar a melhor resposta para não decepcionar o meu seguidor.

 

Mais do que tudo, esta ligação renova-me, significa que estou sendo valorizado por um desconhecido, e é embaraçoso quando somos colocados numa situação destas. Vacilei várias vezes até encontrar aquilo que achei ser a resposta mais adequada, embora ambígua. Disse-lhe mais ou menos assim, a vida é inesperada, meu caro!

 

Depois houve um silêncio tanto do lado de lá, como do lado de cá, parecia que tudo estava sintentizado nesta expressão, “a vida é inesperada, meu caro”! Sim, a vida é inesperada! Ele percebeu esta verdade de modo que não restou outra coisa que não fosse agradecer os momentos agradáveis que lhe proporcionei durante uma temporada, e eu nem sabia que estava alimentando com as minhas intervenções, o coração de um ser humano que agora enconsta-me à parede, não segurando uma espada, mas um pequeno vaso cheio de flores. Aliás, antes de desligar o celular, eu ainda disse mais, talvez um dia volte, quem sabe!

 

Agora preencho uma grande parte do meu tempo descendo à pequena península que fica aqui perto da minha casa, onde outrora era o paraíso da juventude. Fico neste lugar desordenadamente ocupado por ávidas construções, quase todas elas frágeis, durante horas e horas assistindo ao mar que vai devorando aos poucos a terra incapaz de resistir.  Sinto pena dos moradores que já perceberam tudo, ou seja, a destruição das suas casas é inevitável, isso vai acontecer mais dia, menos dia.

 

Chama-se Mabananeni este espaço que já foi um esplendor, presentemente cercado do lixo rejeitado pelo mar que canta a música do aplocalipse. Nas noites, em dias de marés enquinociais, as ondas, cansadas de se esbaterem nas margens, entram pelas habitações adentro molhando tudo e as próprias pessoas que serão fustigadas até ao interior do ser. Depois a maré vai vazar para esperar outros enquinócios que já se tornaram ferozmente cíclicas.

 

Já não tenho dúvida de que a minha pequena península um dia desaparerá, engolida pelo mar determinado, e eu acompanho esta dura realidade sem poder fazer nada. Resigno-me como estes poucos moradores trazidos pela desgraça. Assisto impotente, as ondas avançando de triunfo em triunfo, ao encontro da nossa derrota colectiva.

terça-feira, 12 janeiro 2021 11:41

Se vai um cálice? Não, obrigado!

Para os que apreciam conversas de café sabem que é bem normal que apareçam por lá algumas figuras que são apelidadas de inconvenientes salvo melhor qualificação. Entre as várias categorias de inconvenientes falo dos da espécie que arrasta a conversa para a propria brasa,  embaraçando o sossego dos demais ou de parte destes. A inconveniência reside no conteúdo e no tom alto da fala.  Também sabem  que uma das formas para debelar esta espécie passa por pedir ao garçom  que o abasteça. A fórmula é simples: enquanto ele estiver convenientemente abastecido é o mesmo que abatido ou que  no mínimo o conteúdo e o tom da fala passassem para o campo romântico.    

 

Contudo, nem sempre a estratégia de abastecimento funciona para debelar um dito inconveniente dos salões de café, pois este, o dito inconveniente,  pode até pertencer a uma estirpe resiliente e o efeito da estratégia sair pela culatra, ou seja: quanto mais abastecido, mas desprendido. Perante o aguçar da inconveniência, aos afectados restam apenas duas saídas:  a mudança de café ou de estratégia.  Tirei a dúvida este final de semana. Estava, entre amigos, num afamado café da cidade. E lá também estava um dito inconveniente e em plenas funções.  Depois de algum tempo alguém pediu a um dos garçons que deixasse um cálice (de vinho amargo) na mesa dele. Uns minutos depois, e bem audível, ouviu-se: “Garçom, afasta de mim este cálice”. (já ouvi algures uma  frase parecida).

 

Era o dito  inconveniente. Em diante ele passou  a ser conhecido por poeta, pois ocupava o seu dia em salões de café declamando poesias (decifráveis para poucos) que dizia, e com euforia, serem da sua autoria.  E pelo jeito que as coisas andam - por conta da vaga de salões de café em tempos de pandemias – a previsão aponta ( e a História confirma) para a chegada de uma vaga de poetas. Oxalá, e para fechar, que esta vaga também não paute  pela súbita ausência tal como a da pomposamente anunciada vaga de calor da passada quarta-feira.   

quinta-feira, 07 janeiro 2021 08:19

Sumbi Mahenhane

Tudo o que ela diz parece uma renovação, pela maneira como dá sentido às palavras. Vibra em todo o ser quando diz, por exemplo, que a linha férrea passava por aqui. Aqui perto da minha casa. É como se ela própria fosse o comboio à vapor puxando em tempos de história e cumplicidades e amizades desinteressadas, longas carruagens repletas de gente em feliz algazarra. Rebusca passados esquecidos e transforma-os em fonte de água nos dias de canícula. Desdenha as muletas e o andarilho, mesmo sabendo que aquelas pernas precisam de ajuda.

 

Sumbi Mahenhane é a lembrança das frenéticas execuções de zorre, em noites vertiginosas nos subúrbios da cidade de Inhambane. Era a raínha sobre quem tudo gravitava, incluindo o batuque tocado por Mafanele, o “King”. Sumbi puxava os instrumentistas para o ritmo do seu corpo, desenhado pela Mão do próprio Deus para enlouquecer. E quando ela não estivesse nesse dia, as estrelas do Céu recusavam-se a brilhar. A lua também.

 

Hoje ficaram as palavras que lhe ressurgem da boca e do espírito. São elas – as palavras – que dançam debaixo do rufar imaginário dos tambores que outrora eram os fundamentos da vida desta mulher. Só a dança lhe dá o sentido da existência. O sonho só pode prevalecer com o som do ritmo. Nada é mais importante, senão a dança. E o amor. É por isso que continua a dançar, agora com as palavras. Retumbantes.

 

O que mais impressiona em Sumbi Mahenhane é a inabalável vontade de viver. Ela fala com esperança, como se o corpo esperasse  nova oportunidade de pisar os palcos e balançar em  liberdade. Espanta a memória deste pássaro. Ela lembra-se de todas as noites em que a luz era o seu corpo. E na verdade, Sumbi era o encanto da própria vida. Ou seja, o óleo derramado em Arone, desde a ponta dos cabelos até à ponta dos pés, foi inoculado também sobre esta mulher que brilhava em todo a esfinge. E agora reluz  em toda a alma que ainda mora neste corpo em derrocada.

 

O que move Sumbi Mahenhane  não é o presente, mas o passado de glória. Passado do qual nunca recebeu medalhas. Nada! Ela nem sabe o que é isso. Bastam-lhe os ecos da alegria que dava ao povo. As galardões são as pessoas do vulgo, algumas das quais ainda demandam a sua casa para falar desse passado. Com a mesma verve com que o corpo se entregava à dança. É essa presença humana que a faz  acreditar no futuro.

 

Completou noventa anos no dia 15 de Junho passado. Festejou com a família e amigos, num ambiente em que não faltaram batucadas leves,  para celebrar o passado de alguém que continua a falar com alegria. Com esperança.

 

Parabéns, Sumbi Mahenhane!

quinta-feira, 07 janeiro 2021 05:47

"Os Cowboys da boi-village"

Ser um saqueador de bois nas terras onde eles são maioria relativamente às pessoas que cuidam deles é uma certidão de óbito garantida; principalmente quando o larápio é um indivíduo que vem de uma família em conflito com algumas "bem influentes figuras" no seio das autoridades locais e da associação que protege os interesses dos grandes criadores dos bovinos.

 

Na boi-village não existe piedade e nem regras excepcionais na hora de pegar na matemática e acertar as contas. As autoridades atiram casos similares para o balde de lixo que estiver mais próximo. O estilo de vida e a actuação relembram os velhos tempos das cowboiadas americanas. A bala soa mais alto que a sensatez humana. Em caso de fuga do infractor, as sessões de tortura são activadas no estilo da "Cosa Nostra na Itália".

 

Em boi-village "matar é um acto profético". Lá onde o animal é tratado nos moldes indianos. Em caso de furto de um bovino, se o mesmo não for devolvido, o ladrão vê a sua caminhada na terra colocada um ponto final. Se a quantidade infinita de socos não resolve as longas horas de agonia, a bala ou o combustível são chamados ao terreno. É uma situação que, pelo modus operandi, revela uma protecção de alto nível aos locais; chegando mesmo a bófia a preferir que o infractor vá para os corredores da tortura e da morte das associações que numa esquadra.

 

É o que se verificou, recentemente, na "vila dos bois" quando duas famílias duelaram tendo deixado um rasto de mortes e de dores em ambos lados. Quatro homens jovens foram enterrados, sendo que dois eram irmãos e com muita energia e com projectos pela frente. A paixão excessiva pelos bovinos alheios fez um cair, com rapidez, na cova. Na hora de apurar-se a veracidade dos factos todos sabem contar, mas ninguém diz o certo. De tantas versões, o acto acaba virando uma equação inexplicável; no dia em que a vila dos bois caiu na tragédia que alimentou rumores, fofocas, conversas de barraca em tempos de pandemia, ressuscitou velhas feridas da busca pelo xibedjane e deixou a justiça pelas próprias mãos a imperar - provou-se que o ovo nasceu antes que a galinha/galo.

 

A cowboiada da boi-village ficou ardilosa e cataclísmica quando o povo viu um pai com o filho mortos por uma bala de ajustes de contas, correndo de um lado para o outro nas instituições locais pedindo justiça. Mas ninguém estava aí para ele... Frustrado e decepcionado pela inoperância das autoridades policiais e judiciais carregou o corpo para casa. Accionou os membros da associação e saíram a cavalgada à caça dos sapiens-sapiens que haviam regado a terra com o sangue real da localidade.

 

A família e a cowboiada partiram para a casa dos assassinos do filho "shot man". Chegado lá, pegou na mulher de um dos visados e começou um longo período de tortura e de interrogatório. A mulher resistiu, mas foi traída pelas constantes chamadas e mensagens que seu amado fugitivo fazia. Mas a resistência da jovem mulher acabou esgotando, sem alternativa, ela começou a cooperar e a revelar o local onde estava o seu cônjuge, até ser encontrado e levado para "a mata certa e da morte".

 

Não houve piedade e nem orações de pedido de perdão para o anjo da morte, o ajuste foi protagonizado. Os dois irmãos foram assassinados. A raiva havia sido amainada de um lado e instalada. O modus operandi das famílias provou que os cowboys existem também em Moçambique.

 

Nas margens das lindas terras de Marracuene um outro acto, hediondo, gelou as comunidades locais. Quando um homem foi linchado por ter roubado algumas cabeças de gado bovino. A ferocidade que os criadores usam para desincentivar o roubo de gado relembra as peripécias da saga "Django Libertado", interpretado por Jamie Fox, onde os caçadores de recompensa percorriam longas distâncias para deter ou matar os ladrões de gado.

 

Embora roubar seja um pecado no mundo religioso. Crime segundo as Leis de todos os Estados. É um peso moral e ético. Penso que os criadores deveriam ser mais pela legalidade e confiar nas autoridades policiais e judiciais, porque do modo como fazem as coisas demonstram ser os senhores da terra, dos bois, das vidas que tiram, da lei e do céu. Ou seja, sentem-se deuses na terra...(O.O)