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segunda-feira, 26 novembro 2018 03:00

Patinhas do raio

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Sentado, no estabelecimento do Zefas Guambe - um dos mais concorridos de Mumemo - deliciava-me com a minha terceira cerveja. Quando estava meio que consumido aproximou-se um jovem e pediu um peixe grande.

- Quero um peixe, mas dos grandes.

A balança indicou o peso do carapau e o respectivo preço. Eram 74 meticais. O jovem contou as moedas que tinha. Voltou a contar na expectativa de deparar-se com algum milagre da multiplicação. Debalde. Mesmo depois de contar nove vezes as moedas não chegavam. Pediu que colocassem dois peixes pequenos na balança. Deu 58 meticais. Ainda assim não chegava. Colocaram o menor dos peixes na balança e ela registou 24 meticais. Eu já nem conseguia olhar. Senti-me impotente. Não sabia se parava de beber e ia fazer alguma coisa útil ou me deixava embriagar diante daquele quadro de miséria e impotência. Não pensei tanto porque vi o jovem partir ao encontro de uma mulher que o aguardava um pouco mais distante do estalecimento. Estava com um recém-nascido nas costas e uma criança de mais ou menos cinco anos. Voltou e pediu patinhas de galinha. Foram seis patinhas no total. Custaram 22 meticais. Todo dinheiro que o jovem tinha naquele dia. Caminhou em direcção aos familiares que o aguardavam. São seis patinhas, talvez duas para o chefe do agregado, duas para a criança que já anda e duas para mãe. Muito possivelmente tudo aquilo pode ser transformado em dois jantares. Uma patinha para cada um.

Pois,  há muita pobreza neste país e isso é que nos vai matar. Não porque seja injusto beber três cervejas por 100 meticais, mas porque um dia aquele pai vai se revoltar por ser injusto que a sua família tenha de se virar com derivados de frango. Vida do raio.

Sir Motors

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