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sexta-feira, 30 julho 2021 18:52

João (Augusto) Matola: quando a COVID-19 mata também os vivos!

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Definitivamente, a COVID-19 veio para nos matar de verdade e tornar-nos também vivos mortos, matar-nos enquanto vivos! É que, enquanto seres vivos, temos no nosso interior um mundo. Um mundo que vive verdadeiramente dentro de nós. E esse mundo é composto de tudo que vemos no mundo exterior à nossa volta: paisagens, objectos, pessoas, cenários, cenas, eventos, factos… um milhão de coisas. É um facto que temos dois mundos: um, o nosso ‘eu’ interior, nas nossas cabeças; o outro, o verdadeiro, o tangível, à nossa volta!

 

Como nos sentimos quando perdemos a memória de um simples objecto, pessoa, evento, cenas e cenários; quando não nos lembramos de seja o que for? Um grande vazio dentro de nós! E o que acontece quando perdemos, ou nos é roubado, aquele nosso objecto de estimação? Um simples chapéu, um relógio… para não falar do nosso telefone celular… que acontece? Quase morremos, ficamos… down, deeply down! Por fim, o que acontece quando nos morre uma pessoa querida, um familiar, um amigo, ou uma simples pessoa conhecida? Morre uma parte de nós também!

 

Quando morre uma parte do nosso mundo, interno ou externo, somos nós que morremos! É o que a COVID-19 está a fazer: matar-nos verdadeiramente, ou matar uma parte de nós.

 

Morreu o João Augusto Matola. Foi-se mais um amigo! Foi-se mais uma parte do nosso mundo, interior e exterior. Mais do que uma desolação, mais do que estarmos deeply down, é uma parte de nós que morreu.

 

 

Já se disse muito sobre o João Matola, da faceta profissional ou de vida privada: grande profissional, formador, editor, que gostava de puxar pelos colegas, educador, formador, etc. E os seus colegas directos na Rádio Moçambique o disseram com mais e melhor propriedade. E nada do que disseram é questionável. Porém, mais uma ou duas coisas sobre este homem alegre não fazem mal. Amigo de todos, como um seu colega da Delegação de Nampula melhor o disse. Um homem de coração muito aberto, que não sabia fazer maldade a outrem. Um João Matola de energias positivas, como dizemos hoje, alegre. Um homem de riso exuberante, fácil e contagiante; conversador, piadeiro. Boa pessoa. Era sempre prazeroso estar com ele!

 

João Matola faz parte da minha turma na Escola de Jornalismo em 1987, a primeira que inaugurou o ciclo de cursos médios de jornalismo naquele estabelecimento de ensino. Da nossa turma, faziam parte o Adolfo Semente (ex-DM), falecido, Deus o tenha, Marcelino Silva (RM), João de Brito Langa (RM), Simião Pongwana (TVM), o Simão Anguilaze (TVM), o escritor Nelson Saúte, o Leonardo Júnior Sabela (ex-Notícias), o Vasco da Gama (AIM), o Marcelo Machava (DM), o Rui Machango (ex-Notícias), entre outros.

 

No ano e meio em que frequentámos a Escola de Jornalismo, a turma foi quase que uma família, tendo como “pai” o Fernando Couto, pai de Mia Couto, e “mãe”, a esposa daquele! Tratavam-nos, verdadeiramente, como filhos. Tudo fizeram para que fôssemos bons profissionais, mas, antes disso, para que fôssemos grandes humanos. Não me lembro de ter havido querelas de registo durante este tempo todo. O velho poeta Fernando Couto, já falecido, Deus o tenha, estava sempre conosco, ou com quem estivesse na Escola. Conversava, contava histórias e estórias, ria-se (leia-se brincava) connosco.

 

O Matola, como o tratávamos, sobressaía pela sua simplicidade, lidava com todos. Como dizia aquele seu colega da RM, era amigo de todos. Ria com todos, conversava com todos, contava piadas para com todos. Irradiava a sua energia para todos os colegas. Numa palavra: era um grande humano para todos os seus colegas! Mas também jogava futebol. Era um bom jogador de futebol. Muitas vezes, nos fins-de-semana e feriados, íamos jogar ali na ex-Escola Secundária da Maxaquene (agora Universidade São Tomás). Bom centro campista e com boa capacidade de drible e boa visão de jogo! Gostava de jogar com ele, não contra ele...

 

Quando terminamos a formação, fomos colocados em diferentes órgãos de informação. Ele foi para a Rádio Moçambique; pouco tempo depois, foi estudar em Portugal. Mas a irmandade, amizade e o companheirismo, gerados, criados e patrocinados pelo casal Couto na Escola de Jornalismo permaneceram até hoje. Nem o ter ido estudar em terras lusas fez dele um vaidoso! Ficava zangado quando alguém dos seus ex-colegas fosse a Nampula, onde ele foi delegado da RM, e voltasse sem o procurar! Queixava-se nos outros ex-colegas quando os encontrasse!...

 

Vezes sem conta, eu e ele encontrávamo-nos, confraternizávamos, batíamos copos, papos e copos, fazíamos tudo! Mesmo quando terminou a sua casa, há bons anos atrás, fez questão de me fazer saber. Não fomos “phahlar” a casa, mas brindamos no restaurante do Clube de Ténis, ali no jardim Tunduru, tarde adentro!

 

Vá em paz, Irmão, Amigo e Companheiro. Repouse em paz e até sempre! A sua memória ficará para sempre em nós!

 

(ME Mabunda)

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