A Hidroeléctrica de Cahora Bassa realiza, as II jornadas Técnico-científicas sob lema “Inovação e Sustentabilidade: Desafios da Manutenção nos Sistemas Electroprodutores”. Com estas jornadas pretende-se valorizar o conhecimento Técnico e Científico existente no sector, para além de partilhar a informação técnica com as entidades relacionadas, em prol das acusações inovadoras e de desenvolvimento do capital humano nas áreas mencionadas.
(De 27 a 29 de Março, no Centro Cultural da HCB em Songo)
“O Mundo Não Sabe o Que Quer” trata-se de uma reedição da obra poética do mesmo autor, lançada em Dezembro de 2016, em Maputo, com o título “Pedido da Madrinha de Guerra”, que, em parte, assume um olhar crítico e profundo da sociedade moçambicana, na expectativa de exaltar o dever ser, ainda que de forma pedagógica, mas humilde e consequente. O livro foi lançado em Lisboa (Portugal), no âmbito de uma parceria entre a editora Chiado Books e o MOLIJU, Movimento Literário Juvenil que desde 2005 congrega jovens escritores e estudantes do bairro de Hulene e circunvizinhos da cidade de Maputo. Esta é a primeira publicação no estrangeiro da MOLIJU que visa, essencialmente, divulgar a literatura e os seus autores; incentivar os jovens a cultivar o gosto pela leitura; acompanhar o seu crescimento literário e lançar novos valores da literatura moçambicana. Realizam actividades em diversas escolas secundárias da cidade de Maputo.
(28 de Março, às 17Hrs no Centro Cultural Português)
Em celebração do dia Mundial do Teatro e do mês da Mulher, estão todos convidados a assistir à estreia do “(Des)marcarado”, uma peça sobre as rivalidades na relação de género e entre a tradição e a modernidade. O texto é de autoria de Venâncio Calisto e é resultado de um trabalho colaborativo com as actrizes Rita Couto e Lucrécia Paco.
Ficha técnica:
Encenação e Dramaturgia: Venâncio Calisto
Interpretação: Sufaida Moyane e Rita Couto
Figurinos: Sara Machado
Músicos: Robath Estevão e Carlos Ebu.
Fotografia: Adelium Castelo
(27 de Março, às 19Hrs no Centro Cultural Franco-Moçambicano)
Teofilo Nhangumele, Bruno Tandane, Cipriano Mutota, Ndambi Guebuza, Gregório Leão, António Carlos Rosário, Ângela Leão, Elias Moiane, Fabião Mabunda, Sidónio Sitoe, Crimildo Manjate, Mbanda Anabela Buque (irmã de Ângela Leão), Khessaujee Pulchand, Simione Mahumane, Naimo Quimbine, Sérgio Namburete, Márcia Biosse de Caifaz Namburete (mulher de Sérgio Namburete), Mária Inês Moiane Dove, Manuel Renato Matusse e Zulficar Ahmad. Para além destes 20, o Ministério Público absteve-se de acusar 4 pessoas e abriu processos autónomos contra outras quatro figuras, incluindo o antigo Ministro das Finanças, Manuel Chang. (Carta)
A tormenta do IDAI tirou do anonimato a localidade de Grudja, nos confins do Buzi. Por razões trágicas, como já se adivinha. Mas também produziu heróis anónimos, que não tiveram mãos a medir para ajudar quem estava impotente, abeirando-se lentamente da morte. O sul-africano Nicky Gagiano é uma dessas figuras, um verdadeiro herói anónimo como muitos outros moçambicanos cujas estórias ainda não foram contadas (e muitas delas ficarão bem cravadas, sem serem ditas, nas memórias dos seus actores).
Nicky Gagiano chegou a Moçambique nos anos 2000 atraído pela febre da “jatropha”, que se dizia uma planta mágica cuja produção era como que plantar “sementes” de ouro. Gagiano, com 10 mil hectares no interior do Buzi, não conseguiu render com a “jatropha”. Mas permaneceu em Moçambique e, nos últimos anos, mudou-se para a celulose. Na vastidão das terras molhadas das baixas de Grudja, a 70 km da Estrada Nacional número 1, a partir de um desvio localizado a 50 km ao sul do Inchope, ele plantou um milhão de eucaliptos.
E tudo o vento levou, quando no dia 14 veio a tormenta!
Nicky Gagiano tinha-se literalmente precavido, evacuando a família para longe. Os boletins hidrológicos dos dias anteriores e a informação sobre a chuva intensa carregada na volúpia infernal do ciclone faziam antever o desastre e…muita água. Gagiano estava avisado, mas nunca podia imaginar que a enchente chegaria à altura da viga de cobertura de um casebre. Mas foi isso o que aconteceu.
Nicky Gagiano decidiu que não sairia dali, recusando-se a ‘deixar ao Deus dará’ os seus funcionários, familiares e população circunvizinha da sua farma em Grudja. Eram cerca de 70 pessoas, e todas subiram ao tecto da administração da localidade. No domingo, dia 16, quando a chuva torrencial amainou, Nicky conseguiu comunicar com um amigo em Maputo: o empresário Dino Foi, cuja quinta em Grudja ficara completamente inundada. Dino moveu ‘mundos e fundos’. Era mesmo preciso um autêntico SOS. No domingo, Nicky e o resto dos sitiados continuavam aflitos. A esperança era que o salvamento acontecesse por helicóptero. Na segunda-feira, o gigantesco pássaro chegou mas não pousou (também não tinha mantimentos). Os pilotos comunicaram que viriam barcos. Mas não vieram. Afinal, não eram só eles os que estavam sitiados no cimo de árvores e casebres. Como eles, havia milhares de outras pessoas. E o resgate só podia ser aleatório.
Nicky percebeu isso. E decidiu meter mãos à obra. Ele e sua equipa improvisaram canoas, logrando tirar do telhado da administração e de outros (telhados) das redondezas todas as cerca de 300 pessoas que lá se encontravam. Num esforço titânico, Nicky Gagiano tentou também levar as crianças que estavam desidratadas e com fome para o hospital rural de Grudja. Algumas sucumbiram. Depois do resgate veio o risco das doenças. E da fome.
Com apoio de alguns funcionários, Gagiano conseguira acolher todos os sitiados na sua fábrica, e também numa escola. Na terça-feira faltava comida, cobertores e comprimidos para malária. Nos pedidos de ajuda que enviava para Dino Foi, Nicky Gagiano fazia questão de realçar o grau de urgência. A partir de Maputo, Dino partilhava a informação com as autoridades de emergência. “Mantas e comprimidos vão ajudar”, gritava Nicky para Dino.
Cá na capital, Dino Foi já tinha planeado uma deslocação à Beira, de avião, para tentar dar também a sua mão no salvamento geral. Mas…em vez disso, e como não tinha a certeza de que os sitiados de Grudja teriam apoio em mantimentos, ele enviou uma “pick up” dupla cabine, carregada de comida e medicamentos.
Na imaginação de Dino Foi havia muita gente a precisar de ajuda em regiões do interior, no sul. Ele gostaria de ver as viaturas da emergência que partiam de Maputo para a Beira a pararem nas zonas mais ao sul de Sofala, pois a estrada EN6 ainda estava cortada. “Pensem em Grudja. Neste momento os mantimentos para Beira que já foram enviados por estrada não podem chegar. Então pensemos em quem pode ter acesso. Não deixemos produtos na estrada enquanto outros irmãos estão à espera noutros sítios. Tem de se chegar à Mutindire, 50 quilómetros de Inchope”, escrevia Dino, espalhando o alerta pelas redes sociais, tentando complementar o esforço hercúleo do amigo Gagiano.
E Dino Foi fez mais do que imaginara. Juntou 10 toneladas de arroz, 200 camas desmontáveis, 200 mantas, 50 caixas de água mineral de 1.5L e 500 redes mosquiteiras da Fundação Tzu Chi, de que ele é representante para Moçambique, tendo enviado tudo para Buzi, onde Nicky Gagiano estava com mais de 500 pessoas. Os bens foram recolhidos de muitos cidadãos anónimos de Maputo. Dino tratou de encontrar um camião de 15 toneladas que levasse tudo em 24 horas para Buzi: farinha de milho, comida para bebés, peixe seco, sal e mantas.
Gagiano conseguiu uma façanha notável, sem apoios, contando com as suas próprias forças e das de meia dúzia dos seus colaboradores. Muitos dos que foram retirados do telhado e de outros pontos conseguiram escapar à morte. Um belo exemplo de heroísmo desinteressado no meio de uma tragédia com riscos para si próprio. Como Nicky Gagiano há muitos heróis anónimos! (Marcelo Mosse)
Uma semana depois do Idai, as lágrimas vão secando, mas a luta pela vida continua nas zonas afectadas e nos centros de acolhimento na Beira.
Aqui (Praça do Munícipio da Beira) chegaram chorando, porque não havia mais casa para chorar sozinho. Contamos 172 pessoas e não estavam todas no local. “Alguns foram procurar comida. Aqui não chega nada”, conta-nos Dina José, 43 anos, que perdeu a casa e ficou com três filhos para cuidar. São, na grande maioria, residentes da Praia Nova, mas também há do Esturro e da Manga. Dina e as filhas, que não podem frequentar a escola desde o dia da tragédia, não encontraram espaço no interior da loja onde vendia produtos de beleza e que ficou sem os vidros.
Coube-lhe um espaço reservado à entrada do Conselho Municipal, que terá de ser abandonado nas primeiras horas de segunda-feira (hoje). Dina vivia na Praia Nova, numa casa com três quartos, mas nunca pensou que o ciclone fosse capaz de destruir o que levou duas décadas para erguer. Desempregada e viúva, Dina não só perdeu a casa, mas também os escombros. “Quando voltei para recuperar as coisas não encontrei nem os barrotes e nem as chapas... estou mal, perdi tudo e não esperava que fosse ficar aqui no município sentada, como quem parece estar a vir do distrito”, refere. De entrevistado em entrevistado, as histórias repetem-se e algo é comum: “aqui nunca chegou comida”.
No interior da loja da “darling” e em menos de 50 metros quadrados ‘habitáveis’, sem casa de banho e sequer uma latrina, convivem 82 pessoas. A maior distância que se pode percorrer dentro do espaço são 10 passos, de um extremo ao outro. Um percurso impossível de fazer sem contornar pessoas deitadas em caixas ou chapas de zinco à guisa de esteiras. Cada vez que alguém se cruza com uma pessoa, seja criança ou adulta, há uma história de perda e sobrevivência.
As paredes estão repletas de tigelas e cada família usa um fogão a carvão para preparar a única refeição do dia. Jaime António, saiu da Praia Nova para o Esturro e nos dois lugares veio-lhe a desgraça. No primeiro a maré empurrou-lhe para fora do bairro com uma esposa e três crianças. Esturro pareceu-lhe, então, há três anos, um porto seguro até o Idai vir provar o contrário, subtraindo-lhe primeiro as chapas de zinco e em seguida as paredes, uma por uma. “Mal Afastei as crianças, a primeira parede ruiu”, conta. Conferiu os filhos uma e outra vez para ter certeza de que estavam completos.
É tudo que se lembra do momento. Quando deu por si estava com duas cadeiras plásticas, uma bacia, a pasta escolar da filha e as roupas do corpo “num lugar com muita gente”. Também conseguiram levar umas capulanas. Colchão para dormir nem pensar. “São feitos de coqueiro e pesam demais”, justifica assim o facto de terem ficado para trás. Jaime ficou dois dias sem andar até que as pessoas lhe obrigaram a arrastar-se ao hospital. Uma vacina reduziu as dores e pouco a pouco recuperou o equilíbrio para caminhar. Algo que precisa para procurar alimentos para sua família.
Jaime vive outro dilema: o amor da sua filha mais velha pelos livros. Zinha não largou a pasta desde a tragédia, tentou cuidar dos seus livros e mesmo num local onde a desgraça é a palavra de ordem ela cuida dos livros, seca-os, organiza-os na pasta como se ao acordar tudo fosse voltar à normalidade. Chama-se Rosinha e frequenta a segunda classe. É orgulho dos pais e apenas quando seguro os livros é que se pode observá-la compenetrada e com o rosto fechado, como se ruminasse uma mágoa. Com olhar perdido no horizonte, ela cuida dos livros e dos cadernos, mas depois disso abre um sorriso e corre como uma criança descomprometida com tudo que ocorre ao seu redor.
Outros locais
Nos Centros de Acolhimento, espalhados um pouco por toda cidade da Beira, no Buzi e em Nhamatanda a ajuda chega apenas para uma refeição diária com base em arroz e/ou farinha de milho e feijão. Enquanto o apoio não chega e a maior preocupação continua a ser resgatar pessoas com vida, os que sobreviveram prosseguem na sua luta habitual contra todos elementos. Ademais da sua batalha diária com a falta de infraestruturas, de escolas para crianças e dos problemas de saúde. Ao cair da noite, surpreendentemente, os gritos de desespero se convertem em muitos casos em cantos e rezas, segundo coincidem vários testemunhos. “Um som comovedor em meio a uma tragédia horrível”, segundo comenta uma idosa que vive numa casa em cima da loja.
A Praia Nova, de onde vem a maioria dos “residentes” da Praça do Município, não é um bom lugar para viver, mas ainda assim 6000 pessoas tentam construir um bairro que apenas possui uma montanha de escombros e o cadáver de um e outro familiar enterrado numa vala comum. Mesmo na rua, que separa um bairro que foi destroçado literalmente, da cidade de cimento, há um grupo de jovens a fabricar um caixão com estacas de madeira.
...de volta à praça
Um pouco por toda cidade, menores vagueiam pelas ruas duma urbe onde só no sábado foi restabelecido parcialmente o fornecimento de água, sem nada que comer e sem protecção contra a violência e os abusos sexuais. A linha entre o inferno e o purgatório pode depender de algo tão simples como chover ou não. Há dezenas de milhares de pessoas nos centros de acolhimento, nas ruas e nos bairros alagados. Quando entrevistados quase todos dizem o mesmo: “que não chova mais”. Mas a chuva não dá tréguas. Vem e vai. Podia ser pior, claro, tudo poderia ser pior. Queríamos entrevistar os jovens a fabricar o caixão, mas não quiseram. Porquê há raiva? Uma raiva mansa, a que, todavia, se deve mais a resignação de cidadãos acostumados ao infortúnio. Como a raiva duma mulher acompanhada pela sua filha, apenas coberta por um trapo.
Responde as perguntas de rigor, onde te surpreendeu o ciclone?, perdeu algum familiar?, qual é o seu nome?, mas logo, quando vê que isso era tudo, pergunta com um tom incipiente de raiva: “isso é tudo? Só queriam conversar? Quando virá aqui para a Praça do Município alguém que não só queira conversar, que nos traga um pouco de ajuda?” (Rui Lamarques)
Há mais de dois meses que os funcionários do Município de Nampula, dirigido por Paulo Vahanle, da Renamo, não recebem os seus honorários. Tal cenário não só se deve às dificuldades financeiras que aquela Autarquia continua a enfrentar, mas também devido ao aumento do número dos seus trabalhadores nos últimos meses.
O efectivo de funcionários no Conselho Autárquico de Nampula começou a registar um estranho aumento quando aquela Autarquia ficou "desgovernada" na sequência da morte do então edil Mahamudo Amurane. O malogrado deixara um efectivo de 1.187 trabalhadores, que no global ‘consumiam’ mais de 12 milhões de Meticais em salários.
Mas durante o período de gestão da transição, sob administração interina do presidente Américo Iemenle, do Movimento Democrático de Moçambique, o número de trabalhadores aumentou para 1200. Nessa fase registou-se uma admissão alegadamente estranha e pouco clara de trabalhadores.
Já com a eleição de Paulo Vahanle nas eleições intercalares de Março de 2018, e respectiva investidura a 18 de Abril do mesmo ano, o número de trabalhadores passou para cerca de 2500. E a factura em salários chegou a atingir pouco mais de 22 milhões de Meticais, de acordo com fontes da “Carta”. Com esta situação, a capacidade financeira do Conselho Autárquico de Nampula reduziu, apesar de conseguir colectar mensalmente pouco mais de 12 milhões de Meticais em diversos sectores de actividade, principalmente nos mercados e estabelecimentos comerciais.
Alguns funcionários da edilidade nampulense que falaram na condição de anonimato consideram ‘preocupante’ a situação do Município da terceira maior cidade moçambicana, e dizem não saber como sustentar-se e às respectivas famílias.
O Conselho Autárquico de Nampula já havia anunciado em Fevereiro passado que estava a enfrentar problemas financeiros para pagar salários, na sequência da falta de canalização dos Fundo de Compensação Autárquica (FCA) e de Investimento por parte do Governo Central. Nessa altura, o vereador do pelouro de Finanças disse que a sua instituição possui verbas insuficientes das receitas locais, e que não podia pagar a uns e deixar outros de fora, daí ter optado por esperar pelo desembolso dos fundos em causa.
Hoje inicia pagamento de salários
Entretanto, contactado pela “Carta” o director do departamento de Comunicação e Imagem do Conselho Autárquico de Nampula, Nelson Carvalho, afirmou que o executivo municipal vai começar a pagar salários dos dois meses em atraso a partir desta segunda-feira (25). De acordo com a fonte, a edilidade pediu apoio aos seus “parceiros de cooperação”, que já responderam positivamente.
“Job for the boys”
Depois que Paulo Vahanle venceu as eleições de Outubro do ano passado, ele tratou de dispensar mais de 200 trabalhadores, maioritariamente varredores de rua do sector de Salubridade e Gestão Funerária. Quando já se pensava que a medida era uma forma de contenção de despesas por causa do elevado número de funcionários, a edilidade começou a contratar pessoas ligadas ao partido Renamo. Actualmente, o efectivo ultrapassa os 2500 trabalhadores. Até Janeiro deste ano, o vereador do pelouro de Cooperação e Desenvolvimento Institucional, Alfredo Alexandre, havia garantido que a edilidade não iria contratar novos funcionários, e que dali em diante tudo seria feito mediante concurso público.
Marginalização de antigos vereadores do MDM
Actualmente, há funcionários com nomeação definitiva, mas desde que tomou posse o novo Conselho Autárquico de Nampula eles não foram afectados em qualquer posto de trabalho. Um desses funcionários é o antigo vereador da Polícia Municipal e Fiscalização, Assane Raja. O outro é Reginaldo Pinto, antigo vereador da Obras e Manutenção. Ambos pertenceram ao elenco do falecido Mahamudo Amurane. Conforme apurou o nosso jornal, Assane Raja não recebe salários desde Dezembro do ano passado, quando a equipa governamental de Paulo Vahanle decidiu cortá-los.
O antigo vereador da Polícia Municipal e Fiscalização continua à espera que lhe sejam atribuídas novas funções. Há outros na mesma situação, cuja identidade não conseguimos apurar, mas seguramente trata-se dos poucos antigos chefes do reinado de Mahamudo Amurane, agora marginalizados.
A título de exemplo, o ex-director do Departamento de Transporte, que também já desempenhou as funções de director de Salubridade e Gestão Funerária, Gamito Carlos, foi colocado como controlador de lixo (um agente sensibilizador e orientador de boas práticas no depósito de lixo), numa das lixeiras algures em Nampula.
Por sua vez, um antigo administrador da Empresa Municipal de Água e Saneamento de Nampula (EMUSANA) foi transferido para a morgue do Hospital Central de Nampula (HCN), onde faz registo de óbitos. Entretanto, Faizal Ibramugy Abdul Raimo, antigo chefe do gabinete do edil, escapou da lixeira e foi colocado na Secretaria do Posto Administrativo Municipal de Namicopo. (Rodrigues Rosa)
O Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), Standard Bank e Moçambique Telecom (Tmcel) fizeram na semana finda as suas doações às vítimas do ciclone IDAI que afectou as províncias do centro de Moçambique, com maior gravidade em Sofala e sua capital provincial, Beira.
Como seu contrubuto para as vítimas do IDAI, o INSS entregou na quinta-feira (21) ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) um cheque no valor de 350 mil Mts. “Através deste acto de solidariedade, o INSS espera contribuir para aliviar o sofrimento das vítimas do ciclone Idai, e garante que o gesto será replicado ao nível das delegações provinciais”, lê-se no comunicado enviado por aquela instituição.
Por sua vez e para idêntico fim, o Standard Bank doou na última sexta-feira (22) em Maputo, através do INGC, bens alimentícios, material de higiene, entre outros. Na ocasião, o administrador delegado do Standard Bank, Chuma Nwokocha, disse haver mais acções que o Standard Bank ainda está a coordenar para ajudar as vítimas do ciclone IDAI, e deste modo salvar vidas. Entre as acções do Standard Bank inclui-se a mobilização dos colaboradores do banco, para abraçarem a causa.
Como forma de facilitar a comunicação e capacitar as equipas que nas zonas afectadas pelo IDAI trabalham arduamente, a Moçambique Telecom (Tmcel) entregou na sexta-feira em Maputo ao INGC, um kit de meios de comunicação. Trata-se de 50 telemóveis para comunicações de voz e mensagens, contendo crédito no valor de cinco mil meticais cada, recargas no valor de 100 mil meticais, destinadas às equipas operativas do INGC posicionadas nos locais da tragédia.
Adicionalmente, a operadora pública de comunicações disponibilizou uma linha verde gratuita através da qual os cidadãos podem contactar o INGC para reportar ocorrências ou solicitar assistência e informações. (Evaristo Chilingue)
A Beira está aos poucos a soerguer-se dos escombros. Dez dias depois de ter sido interrompida a circulação rodoviária, devido aos estragos provocados pelo Ciclone IDAI, a cidade da Beira voltou a estar acessível ao país e a região austral por terra, após a reabertura, esta tarde, da Estrada Nacional nº 06, que liga aquela cidade ao resto do país e ao hinterland. A ligação ficou completa esta tarde, depois de ontem, ter-se aberto o desvio de Lamego, onde uma das quatro pontes ficou destruída.
Ontem, nove dias depois ter ficado completamente às escuras, a capital provincial de Sofala voltou a ficar iluminada com energia eléctrica da rede nacional. Para além de ter ceifado, até ao momento, 446 vidas humanas, o IDAI arrasou infra-estruturas, incluindo postes de energia, Postos de Transformação (PT) e a Subestação da Munhava.
O Hospital Central da Beira (HCB) foi dos primeiros beneficiários da energia eléctrica, ficando assim aliviado da pesada factura de 100 mil Meticais diários na aquisição de “diesel” para alimentar o gerador eléctrico que era a fonte da electricidade de que aquela unidade hospitalar necessitava. Falando aos jornalistas por ocasião da visita do Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, ao HCB, o director daquele Hospital disse que foram gastos quase 1 milhão de Meticais na compra de combustível para alimentar o gerador eléctrico.
É verdade que está ainda longe de estar normalizada a situação na Beira, mas quem nela circule à noite poderá notar o resultado do esforço e trabalho das equipas da Electricidade de Moçambique (EDM), que neste momento não têm tido mãos a medir para que a segunda cidade moçambicana volte ao que era dantes, pelo menos em termos de iluminação artificial. Para além do HCB, o Centro de Tratamento e Bombeamento de Água, a Maternidade da Munhava, o Aeroporto Internacional da Beira, bem como outros edifícios públicos e privados e algumas residências da cidade voltaram a estar ligados à energia eléctrica da rede nacional.
Fonte da EDM disse que tudo está sendo feito para que o mais rapidamente possível seja reposto o fornecimento de energia aos seus clientes. O maior desafio, segundo a mesma fonte, não passa apenas pelo restabelecimento da corrente eléctrica, mas também, e sobretudo, por evitar mortes por electrocução. Durante a sua visita ao HCB, Tonela sublinhou que a reposição da corrente eléctrica à cidade da Beira deve ter em conta a segurança das pessoas e das instalações, “para evitarmos situações indesejáveis”.
Com o restabelecimento da corrente eléctrica, as cidades da Beira e Dondo voltaram a ter água potável, conforme anunciou o FIPAG (Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água) na sexta-feira. Apesar de o sistema de abastecimento registar zonas com baixas pressões, a verdade é que Beira voltou a ter água potável, nove dias depois. O regresso à normalidade naquela urbe não se verifica apenas nas acções a que se fez referência.
Dinheiro do BCI de volta, comunicações repostas
Na quinta-feira (21), o Banco Comercial e de Investimento (BCI) anunciou a reabertura dos seus balcões na cidade da Beira, assim como o restabelecimento do funcionamento da maioria das ATMs (das 38 existentes, na província, 21 estavam operacionais). No mesmo dia, as operadoras de telefonia móvel ‘Moçambique Telecom’ e ‘Vodacom’ restabeleceram completamente o tráfego de voz e dados. A Movitel foi a primeira a repor, em alguns bairros daquela cidade, o sistema de comunicações.
O retorno paulatino da cidade da Beira à normalidade começou no passado domingo (17), dois dias após o Ciclone, com a reabertura do tráfego aéreo.
Os números que ainda assustam!
Enquanto a vida vai lentamente regressando à normalidade, não deixa de haver más notícias que ainda assustam o país e o mundo. A pior dessas notícias é o constante aumento do número de mortos que o Ciclone IDAI deixou atrás. Até este domingo de manhã falava-se de 446 óbitos no total. Nos centros de acolhimento ainda existem 110 mil pessoas, e o número de afectados pelo IDAI é de 531 mil. O número de mortos tende a subir exponencialmente, devendo ultrapassar mil dentro de pouco tempo. Em algumas regiões costeiras de Sofala há corpos que estão a ser ‘devolvidos’ pelo mar. Só em Nhamatanda, o administrador deste distrito disse que até este sábado tinham sido contabilizados 114 mortos e 69 desaparecidos.
Cargueiro da Força Aérea Portuguesa na Beira
Na tarde da passada sexta-feira (22) aterrou na Beira um cargueiro da Força Aérea Portuguesa com 40 homens e dois cães para operações de salvamento. A equipa lusa incluía dois médicos, idêntico número de enfermeiros, um farmacêutico, 25 fuzileiros, engenheiros e outro pessoal de diferentes ramos. Na ocasião, o Governador de Sofala, Alberto Mondlane, manifestou a sua satisfação pelo gesto de Portugal, considerando-o demonstrativo de que as relações entre aquele país europeu e Moçambique são boas. Através de um avião fretado pelo Estado português, Portugal vai repatriar seis cidadãos lusos que viviam na Beira, que manifestaram o desejo de regressar ao seu país. (Carta)
“Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”, Marquês de Pombal
Começo com esta lapidar frase, porque ela ilustra uma circunstância e tempo trágicos, do terramoto de Lisboa. Ela aplica-se no contexto da Beira. Em tempos antigos, Lisboa foi arrasada. A Beira vive momentos dolorosos. Está um caos. A Beira é uma das cidades que goza do privilégio de ter infra-estruturas monumentais, agora enfermiças, escancaradas, detrás da cortina sórdida deixada pelo ciclone. A Beira só não é morta ainda, se não ajudarmos a enterra-la. A inércia humana e negligência só a podem enterrar. A Beira, essa placa giratória que liga o porto local ao hinterland (Congo, Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Burundi e Uganda) é um problema, não apenas moçambicano, mas da humanidade, porque ela é parte contribuinte e activa das economias desta África Sub-equatoriana.
Um guia da destruição da Beira
A Beira não se insinua, mas ao percorrer as suas “escombrosas” ruas, levantam-se várias mãos, do seu património histórico derruído. Começo o meu roteiro ao rasto de destruição no Cais Manarte: Aqui está um agoniante edifício da Capitania/Administração Marítima estendendo a mão de pedido de ajuda. A imponente e majestosa muralha de protecção da Beira Terrace, aqui onde se veem os mais lindos pores-de-sol, a montante do Rio Púnguè, está feita em destroços. O recém-inaugurado Beira Terrace não escapou ao flagelo.
A Beira tem, ao longo do rio Chiveve, infra-estruturas imponentes que compõem o seu portefólio turístico de heranças portuguesa e inglesa. As casas coloniais avarandadas e as casas de madeira-e-zinco não escaparam ao ímpeto de destruição do ciclone IDAI. Cito o caso da Casa Infante de Sagres, o edifício do Tribunal Provincial de Sofala, além de outras que ladeiam o edifício do Consulado de Portugal.
Apetece-me chorar, quando vejo o edifício do Millennium BIM (antigo Clube dos Ingleses) destroçado. Antigamente serviram de escritórios e tinha lá uma barbearia. Depois de ter sido abandonado, o BIM reabilitou-o. Preservou o seu toque clássico e as fachadas foram banhadas de um rosa, que luzia no seio dos edifícios desbotados, sem cor e deprimidos, característica da maioria dos prédios da Beira, sobre o qual o Governo central tem a gestão, não facilitando quaisquer planos do município, de os colorir, e até dissuadindo as grandes empresas de telefonia e de gestão portuária, de deitar mão sobre eles e conferir cor e beleza.
A beira dói por isso. A Beira não sofre só do ciclone. A Beira sofre de muitas outras intempéries. O mundo acordou para a Beira pelo ciclone que a devastou, mas a Beira está a braços com o isolamento do Governo central. As suas esburacadas estradas viram-se mais expostas nas últimas duas semanas, com o ciclone, porque as equipas do município que vinham fazendo manutenção, ocupam-se de remoção de um sem número de árvores tombadas por toda a cidade.
Os edifícios elevados do centro da cidade, da gestão do Governo central, estão sem cobertura e chovem a cântaros. O Prédio Emporium, que ameaça ruir, manteve-se irredutível ao temporal. Mas as suas pobres e tristes fachadas exibem apartamentos com janelas cobertas de plásticos e contraplacados. Esta imagem sombria estendem-se pelos prédios Tâmega, Zuid, Carlota, Cavadas, Brito, A Luta Continua, Adamastor, Vasco da Gama, Branco. A força do vento não poupou os vidros e deixou-os escancarados. A Cadeia Central, que devia ser museu, não escapou. A sua cobertura está afectada e os presos vivem debaixo de condições sub-humanas.
Eu adoro passear pela Ponta-gêa..
A cada dia, a Ponta-gêa, diferentemente, do velho Maquinino, símbolo na inércia e a anarquia devido as construções desordenadas e foco de mercados informais e de passeio, oferecia um leque de encantamentos, pelas casas particulares que começavam a ganhar cor e tratamento. A maioria delas ficou sem cobertura. Ao percorrer a Ponta-gêa perpassa-me um sentimento de inquietação. A Ponta-gêa, o Macúti, o Matacuane oferecem-me a imagem de uma Beira, idêntica a Paris, a Praga, a Varsóvia, depois de um bombardeamento aéreo da aviação hitleriana.
A Beira vem sofrendo isolamento desde Março de 1976, quando Samora Machel declarou sanções à Rodésia do Sul. Esta cidade, que foi eleita a mais e melhor cidade iluminada de África nos anos 60 do século passado parece ter sido destinada a carregar o peso da pedra de Sísifo. A pesada pedra da factura política pelas suas idiossincrasias estão agora visivelmente expostas, pois, do mais belo que havia restam ossos. Estão expostas nas feridas dos edifícios ex-libris, visivelmente a sangrar. Os emblemáticos Monte Verde e “Golden Peacock Hotel” sofreram.
Toda a gente fala do ciclone, mas há edifícios dos mais belos do mundo e do país que tem sofrido um ciclone progressivo da mente humana, da sua incapacidade de convivência na diferença: A Casa dos Bicos é um deles. Só há um edifício do género da Austrália. O ciclone intelectual da macrocefalia de Maputo não tem planos para a Casa dos Bicos.
E como tudo está nas mãos da macrocefalia de Maputo os beirenses são cépticos.
Não crêem que o actual estado deplorável do Palácio dos Casamentos, um dos mais belos do país, com uma impressionante escultura de Shikani, possa ser poupada do desleixo, da incúria e da intriga política que o transformam numa ruina, com este ciclone que veio acrescer a sua desgraça.
A incerteza agora é sobre qual dos ciclones, o da fantasiosa mente humana ou da natureza mãe, continuará curtindo, castigando a Beira. É o que deparo a olhar para a Casa da Cultura de Sofala. A sua reabilitação custou cerca de uma década. Agora totalmente a descoberto poderá passar outra década de travessia no deserto, antes da reabilitação.
A Avenida Mártires da Revolução era um esplendor todo, que se prolongava até ao Aeroporto Internacional da Beira. Vale que os seus proprietários pouco endinheirados abriram cordões às bolsas para cobrir as suas vivendas com lonas. Todavia, um donativo de lonas gigantes foi distribuído entre membros do partido FRELIMO que ocupam parte das residências. O Hotel Luna Mar e as casas ao redor sofreram os efeitos dos estilhaços que deitaram quase abaixo a Paróquia Sagrada Família, do Macúti.
O Restaurante Nhumba Yathu mostra uma cicatriz do ciclone na sua singular cobertura de capim. O Clube Naútico da Beira, que tem prolongado a sua coma “erosânica”, cedeu ao ciclone e pode ruir. O Naútico é o equivalente a Waterfront ou o Clube Naval, para a gente cá do burgo. O Complexo Tropicana não resistiu. A cadeia de barracas do Estoril não escapou ao efeito devastador do ciclone.
Quem conhece a Avenida das FPLM terá certamente a noção do condomínio aberto das Casas Municipais, do Macúti House, e das demais na primeira linha depois do Índico. Outrora eram uma imagem de ternura e felicidade. Hoje são o espelho da agonia de uma cidade que precisa de ser repensada. Talvez este ciclone seja um alerta para um momento de inflexão. Há situações que tornam a cidade fruto de rebeldia, da teimosia. Foi esta a teimosia que levou os seus fundadores a erguerem-na sobre um pântano.
Ciclones mentais
A teimosia de erguer a cidade na antiga praia dos Pinheiros, que se estende do Palácio dos Casamentos até nas imediações da Praia Nova, deve ser repensada pelo Município, que vem autorizando a ocupação de terrenos sobre o pântano, sem a observância de um plano antigo a que se sujeitavam os construtores da Ponta-gêa: casas elevadas com uma cave, evitando-se a submersão nas águas. Esse plano devia ser imposto em zonas como Macurungo 2, Estoril, Chota, porque os ciclones são cíclicos e, daqui a tempos, os moradores dos mesmos estarão sujeitos a efeitos colaterais. O ciclone desalojou os moradores do novo bairro de casas precárias da Praia Nova, alguns desses que tomaram de assalto os zincos que voaram de alguns edifícios e obras urbanas, para mitigar o seu sofrimento.
Infelizmente, o ciclone mental continua a fustigar a Beira. As famílias que deixaram as suas casas inundadas são afectadas adicionalmente por ondas de roubo e saque que tomou a Beira. Quadrilhas de assalto arruinaram a Minerva da Beira e o Xima Sorvetes, no primeiro não despojando livros, mas televisões, telemóveis, computadores, e no segundo congeladores, maquinaria de bar e restauração. Depois de ceder ao ciclone, a cidade está a ser fustigada por uma onda de assaltos.
A Polícia está impotente. As altas hierarquias da PRM e das FADM não acordaram para a dimensão colossal deste problema. Noutros países, os polícias e soldados assomam-se às campanhas de defesa, solidariedade e limpeza. Há que salvar o pouco que resta. O edifício do ARPAC, antigo Clube Chinês da Beira, merece toda a atenção da humanidade, porque a Beira é também património histórico universal.
Não fecho esta crónica sem me referir aos pinheiros que tombaram ao longo das dunas da praia. Eram relíquias. A areia das dunas que tomaram as ruas e de locais ermos está sujeita ao saque. Os estabelecimentos de ensino primário, secundários e universitários não escaparam. Os belos Pavilhões de Desportos e do Ferroviário não foram poupados. Por cima disso tudo, a cidade está entregue ao salve-se quem poder. (José Francisco)