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sexta-feira, 06 maio 2022 07:53

As lições que a COVID-19 nos deixa

Escrito por

MoisesMabunda

Pelos dados de (não) contaminação, (não) internamentos e (não) óbitos, que vão sendo reportados nos últimos quatro a seis meses, tanto internamente no país, como internacionalmente, assim como pelas decisões que diferentes Estados vão tomando pelo mundo fora, comumente de relaxamento das medidas (muitas vezes drásticas) anteriormente tomadas, parece claro que a pandemia do coronavírus está em sentido regressivo - cada vez menos contaminações, menos internamentos e menos ocorrência de óbitos; menos pressão social.

 

Trata-se de um colossal alívio nas nossas mentes, da nossa sociedade e da comunidade mundial em geral, tendo em conta o que se viveu no planeta nos últimos dois anos e meio a três! Nunca nos passara pela cabeça que um dia passaríamos por aquilo que passamos. Melhor, nem tínhamos ideia que tal coisa existisse ou pudesse ser possível no mundo. A nossa geração dos 100 anos de idade - os que têm 110, 100 anos para cá - praticamente não conhece/eu uma verdadeira pandemia como esta que estamos vivenciando, afectando humanos. A gripe espanhola remonta a 1918, cerca de cem anos atrás, tendo tido, segundo relatos, entre 40 a 50 milhões de mortes. Pouco registo tem entre nós em África e particularmente em Moçambique.

 

Na quarta-feira passada, 20 de Abril, foi a vez do Estado moçambicano praticamente relaxar as medidas de segurança que tomara quase desde o início do terror da COVID-19. É, digamos assim, o retomar da vida interrompido em Janeiro/Fevereiro de 2020 que o Presidente Filipe Nyusi proclamou aos moçambicanos, ao levantar o Estado de Calamidade Pública.

 

Não que a terrível doença tenha chegado ao fim, nem pouco mais ou menos! Ninguém autorizado, seja OMS, ou outra instituição especializada com reputação internacional, disse semelhante coisa. Até porque a própria China, a… progenitora da catástrofe, regista numa das suas regiões, estes dias, mais uma onda de ressurgimento da doença, com contaminações crescentes; e na África do Sul há igualmente uma nova espiral de números… esta semana houve relato de mais de quatro mil contaminações num determinado dia. Bastante preocupante ainda!

 

Para trás ficam as muitas más memórias de um pandemônio mundial total. Fica a imensa dor da perda de nossos familiares directos e não directos; a perda de muitos amigos íntimos e não íntimos; a perda de conhecidos e desconhecidos; a perda de vizinhos; a perda de compatriotas, ilustres e não ilustres. Conosco fica, em nossas mãos - e não para trás, esquecido, arquivado - este terrível legado: uma sociedade amputada, meio decapitada, profundamente ferida. Muitas famílias completamente destroçadas, mutiladas; que jamais se reconstituirão da perda de membros queridos. Perdemos uma parte de nós próprios!

 

Não é, esta, nem se pretenda como tal, uma mensagem pós-hecatombe, de consolação depois de uma tragédia. A hecatombe que se abateu sobre nós ainda não pertence ao passado. Amanhã, podemos ser infectados; amanhã, podemos ser encaminhados para uma unidade sanitária. Não devemos, nem podemos e nem estamos autorizados, por enquanto, a considerar esta tragédia como “algo que passou"!

 

Temos, isso sim, que continuar a observar zelosamente todas as medidas que as autoridades de saúde nos recomendam. Observar todas as recomendações que nos deram, dão ou que nos venham a dar. A começar pelas aglomerações sociais.

Evitarmos aglomerações, sobretudo as desnecessárias - mesmo até as necessárias, cerimônias fúnebres, casamentos, aniversários, comemorações e coisas que tais, temos que ver como as fazemos e gerimos. Evitarmos provocar enchentes.

Temos que desafiar o nosso sentido de festa. Para nós, festa é aquela para a qual convidamos todo o mundo, enchente total. Temos que rever esta nossa tradicional forma de fazer festa. Temos igualmente de rever o nosso sentido de ‘colectivo’ - um desafio bastante colossal. É contrário ao espírito da nossa tradição, o comunitarismo. Para nós, a vida é estarmos em colectivo, juntos, bem apertadinhos! Certo. Mas temos que rever. Ou revemos, ou… morremos! Menos sábia é aquela sociedade que não consegue ir-se adaptando às mudanças que a natureza vai impondo.

Temos, igualmente, que tomar como legado algumas das recomendações que temos em mãos. EVITAR O APERTO DE MÃOS! É, também, difícil. Mas é necessário. Muito necessário. Diz o ditado, que nós bem conhecemos, mas olvidamos, que pela boca morre o peixe! O que leva as bactérias à boca não é a própria boca, são as mãos! Muitas vezes, levamos o alimento da mão directamente para a boca e aí… ficamos propensos a sermos contaminados! As mãos! As mãos são a chave de muita coisa: de sucesso, de riqueza, de bem estar; mas também, de insucesso, de fracasso e de… morte!

 

Vamos continuar a abstermo-nos de abraços. Abraços efusivos. Também é difícil para a nossa cultura. Mas é uma questão de optarmos: ou aderimos (abstermo-nos de apertar as mãos, abraçar), ou pomos em risco a nossa própria vida. Dizem os experts que o coronavírus veio para ficar!

 

A máscara. Vamos continuar a pôr a máscara. Como disse o Presidente Nyusi, “a máscara não dói”!

 

É o legado que a COVID-19 nos deixa!

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