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sexta-feira, 04 outubro 2024 13:55

Comemoramos PAZ na GUERRA!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

"O dia 04 de Outubro é e sempre será um dia importante, por se ter assinado, nesta data, acordos para colocar o fim à guerra dos 16 anos em Moçambique. Entretanto, comemorar esta data como dia da Paz, numa altura em que os nossos concidadãos morrem na guerra contra o terrorismo em Cabo Delgado, acho um absurdo. Cabo Delgado é Moçambique. É preciso lembrar aos dirigentes actuais da Frelimo que foi Cabo Delgado que acolheu o início da Luta contra o colonialismo Português. Foi a população de Cabo Delgado que transportou o material de guerra, que deu a alimentação aos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique, mas hoje se esquecem e comemoram a paz de cá, quando lá há guerra. Façam uma introspecção e revejam o sentido de Moçambique".

 

AB

 

Nós moçambicanos somos um povo especial, conseguimos comemorar a Paz numa altura em que o terrorismo, no norte de Cabo Delgado, intensifica-se, com chacina e destruição de bens privados e públicos. Conseguimos gritar PAZ, numa altura em que parte de nós moçambicanos vivemos um verdadeiro terror. Que PAZ estranha é esta, novo legado?

 

Sim porque, na procura de somar legados, esquecemo-nos que Cabo Delgado é Moçambique. Na procura de mais um legado, esquecemo-nos do papel histórico que esta província desempenhou, na luta de libertação de Moçambique, do sofrimento a que estiveram sujeitas as populações desta província, o apoio incondicional que deu à luta da Frente de Libertação de Moçambique. Hoje, os moçambicanos que vivem do lado de cá se esquecem daqueles moçambicanos que vivem do lado de lá, tão longe que não parece Moçambique. 

 

Mas o que nos faz assim, um povo de memória fraca? Ou são os dirigentes que nos movem em função das conveniências? Serão os dirigentes da Frelimo que perderam a memória ou mudaram do objecto da sua causa, que era ou é o bem-estar da sociedade moçambicana em todos os sentidos. Não precisamos de fazer uma grande introspecção, fazermos uma reflexão profunda e redefinir a nossa luta, a Frelimo foi criada por gente de bem, gente que deu o melhor de si por Moçambique. Agora, quem são estes que dirigem Moçambique? Sim, quem sois?

 

Eu estou em casa porque sozinho não posso ir trabalhar, mas recuso-me a comemorar a dita “Paz Definitiva” enquanto os meus irmãos em Cabo Delgado morrem de guerra do terrorismo, enquanto nossos filhos, irmãos e familiares, são mandados para aquela parcela do país para morrerem por uma causa que desconhecemos. Faz agora sete anos do terrorismo em Cabo Delgado, se considerarmos que a Luta de Libertação Nacional durou 10 e, porque não se vislumbra o fim, sou tentado a considerar que o terrorismo em Cabo Delgado pode durar mais que a luta contra o colonialismo Português, com um agravante: o terrorismo circunscreve-se àquela região, enquanto a luta de libertação nacional se estendia pelo país. A própria guerra civil, que teve a diferença de começar do centro, não estagnou, movimentou-se pelo país inteiro. Haverá uma estratégia oculta para dizimar aquela população?

 

O norte, parcialmente, está sob controlo das forças ruandesas que vão granjeando simpatia porque constroem escolas, reassentam as populações e protegem-nas, perante o olhar sereno e impávido das nossas autoridades que, deste modo, passam o certificado de incapacidade às nossas Forças de Defesa e Segurança. A questão é: o que terão as forças ruandesas que as nossas não têm? A resposta, por especulação, eventualmente, pode ser a seguinte: As nossas Forças de Defesa e Segurança não possuem logística à altura do inimigo que combatem, não possuem incentivos para encarrar a guerra, não têm alimentação adequada para a guerra, por isso não têm moral combativa, ao contrário dos ruandeses que possuem recursos até para partilhar com as populações e, deste modo, comprarem a fidelidade.

 

Definitivamente, não me revejo nas comemorações do dia da PAZ de hoje. Vejo sim um dia que me marca de forma indelével, por ser a data que coloca o fim de 16 anos de guerra civil, que praticamente destruiu Moçambique. Vejo nesta data, enquanto o terrorismo continua, uma data de reflexão sobre as guerras que este Moçambique tem vivido, algumas das quais absurdas e difíceis de entender. Para onde nos leva oh Moçambique?

 

Adelino Buque

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