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terça-feira, 24 agosto 2021 09:52

África deve ser estudada - Ortega Teixeira

Escrito por

Roubo para título deste texto o genérico das crónicas do grande jornalista e cronista da Rádio Moçambique (Emissor Provincial de Manica) Ortega Teixeira. Para os que podem ter dúvidas, nem todo o jornalista é cronista e vice-versa; mas o Ortega é as duas coisas - e craque em qualquer delas - África deve ser estudada. Uso-o para enaltecer a sociedade apoteótica de irracionalidades e ou mediocridades em que vivemos e aplaudimos, na nossa mãe África - obviamente ou sobretudo incluindo a Pérola do Índico!

 

Absurdo dos absurdos, que até merece um guinness book é o protagonizado pelo doutorado Presidente do Malawi, há dias! Difícil compreender como é que um teólogo e acadêmico possa ter realizado tamanha monstruosidade! Lazarus Chakwera viajou para Londres para participar, VIRTUALMENTE, isto é, via videoconferência, na Cimeira Global sobre Educação, alegando que a Internet não tinha qualidade no seu país! Ele, que acaba de indicar uma filha para primeira secretária na embaixada malawiana em Bruxelas, levava uma delegação de 10 pessoas, entre as quais a esposa, a filha e o genro!... todos para irem participar virtualmente na cimeira! Referir que a delegação inicial tinha 60 pessoas; não fosse a recusa do governo britânico em receber essa quantidade de pessoas em pleno período de COVID-19, lá teríamos nós assistido a uma delegação de 60 pessoas a ir participar numa videoconferência no Reino Unido!…

 

E a questão que se coloca é: afinal ele não foi eleito presidente para desenvolver o Malawi, resolvendo todos os problemas daqueles país? E quanto custa fazer um upgrade do sinal de internet senão para todo o Malawi e todos os malawianos, pelo menos para o seu gabinete?…

 

África nossa… precisa de verdade de ser estudada!

 

Mas, costuma dizer-se que é falta de sabedoria rir-se de desgraças alheias, quando você tem as suas próprias, aos magotes e não são de somenos importância.

 

Esta tendência geral africana de preterir a ciência, a racionalidade em favor do empirismo que o líder malawiano personalizou campeia e muito também entre nós. São inúmeros os exemplos de atitudes, práticas, decisões e empreendimentos que contrariam toda a racionalidade humana. Quantas não são as iniciativas que são encetadas entre nós puramente com base em decisões políticas? Estudos de viabilidade, entre nós, quando feitos, são meramente para anexar aos processos para a obtenção de licenças, não o fundamento para levar a cabo determinados investimentos. Muito provavelmente, o valor que a delegação malawiana gastou na viagem a Londres era bastante para fortificar o sinal de internet no seu gabinete! Incompreensível!

 

No nosso solo pátrio, absurdidades sucedem-se anos após anos! Absurdamente, mais um elefante branco vai ser, em breve, inaugurado em Chongoene. Precisamos saber onde e o que estudaram os que fizeram o estudo de viabilidade deste empreendimento; se é que existe, como ninguém nunca o cita publicamente! 

 

Somos aquilo que o Professor Noa uma vez chamou de ‘apoteose da mediocridade’, uma sociedade que aplaude apoteoticamente, histericamente, venera a mediocridade. E fazemos pouco esforço para sairmos dessa nobre posição. Para nós, a lógica, a ciência, é apenas para obter diplomas e guardá-los em casa!

 

Exataqualmente como um ilustríssimo ‘phi-etx-dii’ que virou administrador de distrito. Não que ser administrador de distrito não seja uma grande posição; é, mas nós ainda não a consideramos como tal. Em crônica recente, eu destacava a necessidade de olharmos para a posição de administrador de distrito com mais seriedade e responsabilidade e, por conseguinte, não mandarmos para lá qualquer pessoa. Mas, convenhamos, também, quando dizemos não qualquer pessoa, não estamos a dizer para se mandar um phi-êtx-dii (como escreveria o saudoso Juma)! Alguém que atinge a mais alta posição na academia; altamente habilitado a estudar, a compreender e a explicar os problemas sociais e a apresentar propostas de soluções; a produzir conhecimento de forma independente… arruma o diploma encasa..! e submete-se a uma posição cinzenta... alguma coisa errada não está certa!

 

África precisa ser estudada!

 

Não menos intrigante é o caso do jovem músico especialista em imitar músicas de outros semanalmente, numa das nossas grandes televisões privadas. É bastante mais conhecido como músico imitador do que como intérprete das suas próprias músicas… faz muito furor imitando músicas de todo o mundo, desde nacionais a internacionais: imita de tudo! E nós, sociedade moçambicana, apoteoticamente, aplaudimo-lo; estendemos-lhe o tapete; veneramo-lo! Mesmo ele fazendo de tudo para promover outros jovens imitadores. Domingo após domingo, lá nos é apresentado mais um ou uma imitador/a!

 

Não que imitação não seja um acto de arte, aliás, um filósofo grego disse, uma vez, que a arte é a imitação da natureza! Mas ‘imitação da natureza’ não é imitação da imitação!

 

Precisamos de ser estudados! África precisa de ser estudada!, bem apregoa Ortega Teixeira.

 

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